ONU reagiu a 'crime humanitário' no Congo, diz general brasileiro:
- Author, Luis Kawaguti
- Role, Da BBC BrasilSão Paulo
Em meio à escalada da violência na República Democrática do Congo, o general brasileiro que comanda as tropaspaz da ONU no país, Carlos Alberto dos Santos Cruz, afirmou que os rebeldes cometeram um crimeguerra ao bombardear ao menos três vezes a cidadeGoma desde a semana passada.
"Bombardear população civil é crime humanitário", disse Santos Cruz,entrevista à BBC Brasil. "População civil não é objetivo militar. (Os ataques são) só pra causar o caos e o pânico. (Os rebeldes) querem se tornar importantes no processo político atravésuma chantagem humanitária."
"Isso são coisas inadmissíveis. E a ONU reagiu dentro do mandato", acrescentou. "Ela tem que proteger a população civil e também se defender. Principalmente os civis da cidadeGoma."
As tropas da ONU entraram no combate entre rebeldes e forças do governo na última sexta-feira - após os ataques a Goma, que deixaram ao menos cinco moradores da cidade mortos.
Nesta quarta-feira, os capacetes azuis voltaram a atacar o grupo rebelde M23 no distritoKibati (a 15 kmGoma) com um esquadrãohelicópterosataque e artilharia e infantaria mecanizada. A ofensiva é realizadaconjunto com as forças congolesas.
Ao menos um militar das forçaspaz foi morto na ação, e outros dois ficaram feridos. Não há estimativas oficiais sobre o número totalbaixas entre os rebeldes e forças do governo.
Fontes médicas locais disseram que só no fimsemana aproximadamente 60 rebeldes e 20 soldados congoleses morreram nos combates. Mais700 pessoas teriam sido feridas. Os combates chegam ao sexto dia consecutivo.
"Estamos tomando todas as ações e usando todos os nossos meios para eliminar a ameaça ou ao menos empurrar os rebeldes para longe da cidade (de Goma), fora do raioalcance dos canhões deles", disse o general.
Dinâmica da missão
O M23 é o maior dos cerca50 grupos rebeldes que atuam na região dos Kivus, no leste do Congo. Ele é formado por ex-militares congoleses, a maioria da etnia tutsi, contrários ao governo central. A ONU e os Estados Unidos suspeitam que eles recebam ajuda militar do país vizinho Ruanda.
Os rebeldes chegaram a capturar Gomanovembro do ano passado e só deixaram a cidade após forte pressão diplomática e negociaçõespaz.
Porém, no dia 14julho, o governo e o M23 voltaram a se enfrentarum combatelarga escala.
O general Santos Cruz, que havia assumido o comando da missão pouco maisum mês antes, decidiu não interferir na campanha – enquanto a população e as tropas da ONU não vinham sendo alvo da violência.
Mas a situação mudou com os bombardeios a Goma. "A dinâmica da missão mudou porque a missão foi atacada e porque a população civil foi atacadamaneira indiscriminada", afirma o militar brasileiro.
BrigadaIntervenção
Depois que Goma foi invadida no ano passado, o ConselhoSegurança da ONU aprovou um mandato sem precedentes para as forçaspaz no Congo. Alémembasamento jurídico para atacar os rebeldes, a operaçãopaz foi autorizada a montar uma unidade militar especial chamadaBrigadaIntervenção – com o objetivoatacar os grupos armados.
Ela será composta por 3 mil militares e contará com forçasartilharia, blindados pesados, helicópterosataque Mi-24 e unidadesforças especiais.
Santos Cruz disse à BBC Brasil que a brigada ainda está incompleta, à esperamilitares do Malauí.
"Nós estamos esperando, e dentroum mês vai chegar o terceiro e último batalhão. A brigada está a dois terços daforça total, um pouco mais, mas ainda falta aí 25%. É um bom reforço que a gente está precisando", afirmou o brasileiro.
Inquérito
No último sábado, um grupomanifestantes tentou invadir uma base da ONU dentroGoma. Eles protestavam contra o que alegavam ser a incapacidade dos capacetes azuisproteger a cidade.
Na ocasião, militares uruguaios da missãopaz mataram dois manifestantes na tentativaimpedir a invasão.
A ONU abriu uma investigação sobre o caso. Santos Cruz afirma que as circunstâncias e responsabilidades devem ser apuradas.
O brasileiro acrescenta que há suspeitasque gruposmoradoresGoma estejam sendo "manipulados" por pequenos grupos supostamente ligados aos rebeldes, para se voltar contra a ONU.
O general diz ainda que a ONU continuará apoiando o Exército congolês na campanha contra o M23. Ele afirma, porém, que os rebeldes ainda têm tempo para abandonar o confronto e optar por uma solução política para o conflito – retornando à mesanegociaçõesKampala, Uganda.