Confrontos acirram debate sobre métodos e cultura da polícia do Rio:betano na fazenda
- Author, Júlia Dias Carneiro
- Role, Da BBC Brasil no Riobetano na fazendaJaneiro
betano na fazenda Pouco depoisbetano na fazendao papa Francisco ter sido saudado calorosamente por autoridades no Palácio Guanabara na segunda-feira ─ e ter partido para uma noite sossegada na residência da Arquidiocese do Rio, no bairro do Sumaré ─ a situação no ladobetano na fazendafora desandou.
Houve fortes confrontos entre a polícia e manifestantes que protestavam na rua Pinheiro Machado contra o governador Sérgio Cabral e os gastos públicos para sediar a Jornada Mundial da Juventude.
Pelo menos oito pessoas foram feridas ─ uma atingidabetano na fazendaperto com um tirobetano na fazendabalabetano na fazendaborracha. Policiais prenderam dois repórteres da Mídia Ninja, o grupobetano na fazendaativistas que tem feito coberturas ao vivobetano na fazendadentro dos protestos. Eles foram libertados poucas horas depois.
Este foi o mais recentebetano na fazendauma sériebetano na fazendaconfrontos entre polícia e manifestantes que têm marcado os protestos no Rio. Eles têm levado defensoresbetano na fazendadireitos humanos e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a criticar forçasbetano na fazendasegurança pelo uso excessivo da força e por prisões arbitrárias.
Átila Roque, diretor da Anistia Internacional no Brasil, afirma ter testemunhado o uso "totalmente indiscriminado"betano na fazendagás lacrimogêneo, spraybetano na fazendapimenta e balasbetano na fazendaborracha, "orientados não contra as pessoas que estivessem oferecendo alguma ameaça, mas simplesmente para dispersar todo mundo".
"Vimos policiais perseguindo as pessoas, encurralando-asbetano na fazendaruas, bares e atébetano na fazendaum hospital, e atacando-as com gás lacrimogêneo e balasbetano na fazendaborracha", diz Roque. Ele próprio disse ter sido atingido por borrifadasbetano na fazendaspraybetano na fazendaconfrontos que chegaram à Praça São Salvador, próximo ao Palácio Guanabara, onde fica a sede da Anistia.
Na semana passada, a cúpulabetano na fazendasegurança do Rio convocou uma reunião emergencial após o protesto que acaboubetano na fazendaatosbetano na fazendavandalismo no Leblon, próximo à casa do governador Sérgio Cabral. A polícia condenou a "açãobetano na fazendavândalos" ─ mas foi criticada pela OAB por cruzar os braços e não preveni-las.
O secretariobetano na fazendaSegurança Pública José Mariano Beltrame afirma que as manifestações são algo novo, com "requisitos e ingredientes novos", e que a polícia está fazendo ajustes.
"Estamos buscando um caminho intermediário, um caminho entre muitas vezes a prevaricação (crime cometido por um servidor ao não exercerbetano na fazendafunção) e o abuso da autoridade", diz.
Para a socióloga Julita Lemgruber, a atuação da polícia nas manifestações evidencia uma culturabetano na fazendaconfronto que está arraigada na Polícia Militar e que moradores das favelas cariocas conhecembetano na fazendalonga data.
"Se você faz o policiamento das ruas com uma mentalidadebetano na fazendaguerra, vai lidar com as pessoas nas ruas como inimigos", diz Lemgruber, que é diretora do Centrobetano na fazendaEstudosbetano na fazendaSegurança ebetano na fazendaCidadania da Universidade Cândido Mendes.
Um estouro e um clarão
A publicitária Renata Ataíde,betano na fazenda26 anos, afirma ter experimentado essa inversãobetano na fazendapapéisbetano na fazendaprimeira mão no dia 20betano na fazendajunho, quando foi à primeira manifestaçãobetano na fazendasua vida ─ e voltou gravemente ferida.
Renata foi uma das 300 mil pessoas que lotaram a avenida Presidente Vargas na caminhadabetano na fazendadireção à prefeitura. A marcha começou pacífica. "O clima erabetano na fazendatotal euforia, parecia Copa do Mundo", diz. Mas acabou sendo a mais violenta da ondabetano na fazendaprotestosbetano na fazendajunho.
Gruposbetano na fazendavândalos deixaram uma trilhabetano na fazendadepredação na avenida Presidente Vargas, quebrando semáforos, pontosbetano na fazendaônibus, vitrines e ateando fogo a pilhasbetano na fazendalixo.
Tropas do Batalhãobetano na fazendaChoque usaram bombasbetano na fazendagás lacrimogêneo e balasbetano na fazendaborracha para dispersar a multidão, que recuoubetano na fazendavolta para a Igreja da Candelária, onde a manifestação havia começado.
Ali, diz Renata, a polícia não fazia distinção entre os vândalos ─ "aqueles caras escondendo os rostos, jogando pedra, bomba caseira" ─ e a maioria pacífica. Ela e um amigo ficaram sem saber para onde fugir nas ruelas do Centro, apavorados.
"Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. É como se eu estivesse sendo perseguida pela polícia sem entender por quê, sem saber o que fiz para ser perseguida."
Ela diz se lembrarbetano na fazendater visto dois policiais da Tropabetano na fazendaChoque da Polícia Militarbetano na fazendauma ruela. Algo foi lançado embetano na fazendadireção. Ela tentou desviar, mas depoisbetano na fazendaum estouro e um clarão, seu rosto estava cobertobetano na fazendasangue.
Desde então, Renata já foi a diversos médicos mas o diagnóstico é o mesmo: ela perdeu a vista do olho esquerdo. A publicitária está entrando com uma ação indenizatória contra o Estado para tentar recuperar os milharesbetano na fazendareais que vai ter que gastar com cirurgias.
"Eu me sinto realmente triste por isso ter acontecido no meu país, por a gente ainda questionar a açãobetano na fazendaum grupo que é para nos proteger", diz. "É algo que nunca vou poder esquecer. Vou ter que lidar com isso pelo resto da vida."
Herança da ditadura
Cercabetano na fazenda50 advogados da OAB/RJ vêm atuando durante os protestos para monitorar violaçõesbetano na fazendadireitos humanos e evitar prisões arbitrárias.
O advogado Gustavo Proença, da Comissãobetano na fazendaDireitos Humanos e Acesso à Justiça da OAB-RJ, diz que os voluntários são enviados para as delegacias ou ficam à margem das manifestações para intervir caso seja necessário.
"Em algumas situações ocorrem prisões arbitrárias, ilegais, às vezes com excessobetano na fazendaviolência por parte da policia", diz Proença.
"Estão prendendo pessoas indiscriminadamente. Já prenderam dois moradoresbetano na fazendarua, um cadeirante e até vendedores ambulantes que estavam seguindo as manifestações para ganhar um dinheiro."
Julita Lemgruber afirma que a polícia brasileira tem uma culturabetano na fazendaviolência herdada da ditadura militar (1964-1985).
Após o restabelecimento da democracia, a Constituiçãobetano na fazenda1988 manteve a estruturabetano na fazendasegurança pública do regime militar, com duas forças policias separadas: a Polícia Civil, responsável pelas investigações, e a Polícia Militar, que faz o policiamento das ruas.
Relatosbetano na fazendatruculência policial ebetano na fazendapessoas feridasbetano na fazendaprotestos reavivaram o debate sobre uma reforma da polícia e sobre abetano na fazendadesmilitarização.
"A questão central é que precisamosbetano na fazendauma única força policial, e que não seja militarizada", diz Lemgruber.
"Temos a Polícia Civil fazendo as investigações, a Polícia Militar fazendo o policiamento. Elas não trabalham juntas, elas competem uma com a outra, elas escondem informações uma da outra. Isso nunca vai funcionar."
'Bem treinados'
A polícia afirma estar fazendo o seu melhor para responder a situações difíceis, buscando coibir a açãobetano na fazendavândalos que usam as manifestações para promover a desordem.
Juliana Barroso, subsecretáriabetano na fazendaEducação, Valorização Profissional e Prevenção da Secretariabetano na fazendaSegurança Pública, afirma que a polícia está constantemente reexaminandobetano na fazendaatuação e vem buscando se aperfeiçoar e respeitar a proporcionalidadebetano na fazendasuas ações.
"O Batalhãobetano na fazendaChoque é bem treinado, eles estão munidosbetano na fazendatécnicas, estão munidosbetano na fazendaequipamentos. O que está faltando, talvez, é essa reflexão sobre o limite. Estamos trabalhando esse processo decisório. Onde devo parar e onde devo continuar?"
Barroso destaca que a unidade policial tem participadobetano na fazendasessõesbetano na fazendatreinamento com forças policiais da Espanha, dos Estados Unidos e da Alemanha ─ com oficinas sobre como lidar com multidões e sobre investigação, por exemplo.
Mas os soldados e cabos com menor especialização também vêm engrossando as linhas policiais nas manifestações sem contar com o mesmo treinamento.
A BBC Brasil conversou com um grupobetano na fazendaPMsbetano na fazendaplantão à margembetano na fazendaum protesto no Centro do Rio. Eles disseram que a rotina desde o início das manifestações tem sido exaustiva e que muitas vezes não são compreendidos pela população.
"As pessoas se revoltam, mas a culpa não é nossa. Elas esquecem que somos pessoas como qualquer outra", disse uma jovem policial.
"Tanto os manifestantes quanto os policiais são seres humanos, então há falhas dos dois lados. Não dá para dizer que a culpa é dos manifestantes que vieram fazer baderna ou dos policiais que fizeram a coisa errada."
Umbetano na fazendaseus colegas disse que o Choque é treinado para lidar com multidões ─ mas eles, não.
"Nós da tropa (não especializada) não somos preparados para manifestações. Estamos aqui muitas vezesbetano na fazendaenfeite, a verdade é essa. Porque se vier uma turba, nós vamos correr. É só para dizer que tem polícia na rua."