Um mês depois, manifestantes avaliam legadoslot bravomegaprotestos:slot bravo
"Essa geração, que já é a maior parcela da população brasileira, assumiu um novo tiposlot bravoprotagonismo, e acho que isso é irreversível", opina à BBC Brasil o cientista político Paulo Baía, da UFRJ.
"Eles não têm a obrigaçãoslot bravoserem gratos pelo fim da hiperinflação como a geração anterior. Demandam reconhecimento, respeito, participação no processo decisório", diz Baía.
"Mas as instituições comuns não os representam neste momento. São pessoas que sabem o que não querem e estão abertas a possibilidades" - mesmo que essas possibilidades ainda não estejam totalmente claras, acrescenta o acadêmico.
A BBC Brasil conversou com cinco jovensslot bravodiferentes perfis e grausslot bravomilitância política,slot bravoSão Paulo, Rioslot bravoJaneiro, Belo Horizonte e Brasília, e perguntou como os protestos mudaram suas expectativasslot bravorelação ao país - bem como suas próprias vidas. Confira:
Denis, do RJ: 'Estou respirando política'
A ondaslot bravoprotestos acabou transformando Denis da Costa Neves,slot bravo27 anos,slot bravouma liderança na favela da Rocinha (RJ), onde mora.
"Fui nos dois primeiros protestos (de 17 e 18slot bravojunho), no Centro do Rio, mas depois resolvi fazer algo diferente: um protesto com a pauta (das reivindicações) da Rocinha", diz o estudanteslot bravoDesign na PUC-RJ.
Da ideia saiu a caminhada que levou milharesslot bravopessoas da Rocinha a um protesto diante da casa do governador Sérgio Cabral, no Leblon,slot bravo25slot bravojunho. "Com amigos, criei o evento no Facebook e fiquei surpreso quando 2 mil confirmaram presença. Quando a favela desce pro asfalto o pessoal acha que vai dar problema, mas a caminhada foi pacífica", conta.
O grupo conseguiu se reunir com Cabral e com o prefeito Eduardo Paes, levando demandas específicas: "O principal é o dinheiro do PAC (Programaslot bravoAceleração do Crescimento), do qual um terço é previsto para ser gasto com um teleférico. A comunidade se divide quanto a se quer o teleférico, mas é unânimeslot bravouma coisa: temos outras prioridades, como saneamento, saúde", conta.
Denis conta que Cabral se comprometeu a finalizar obras do PAC 1, que ele diz estarem paralisadas, antesslot bravodebater o teleférico. Outro passo concreto foi a criaçãoslot bravouma comissãoslot bravofiscalização das obras, formada pelos próprios moradores da Rocinha.
"Valeu a pena protestar, porque estamos conseguindo ser consultados, mas estamosslot bravoolho", prossegue Denis, que se diz neófito no jogo da política.
"Passei a receber telefonemaslot bravodeputados, sofri pressão política enorme, foi muita exposição e minha mãe ficou até preocupada. Mas quero me manter apartidário. Estamos aprendendo a quem recorrer (no casoslot bravodemandas populares), com quem conversar."
Denis diz que no momento tem "respirado política", mas não pensaslot bravovirar candidato e mantém seus planosslot bravotrabalhar na áreaslot bravojogos eletrônicos. Ao mesmo tempo, suas perspectivas quanto ao Brasil mudaram.
"Antes dos protestos, não imaginava que isso pudesse acontecer. As pessoas veem os brasileiros como um povo acomodado, então dá orgulhoslot bravolutar pelos nossos direitos."
Bruno,slot bravoBH: 'Não sei se melhorou, mas algo mudou'
O educador e jornalista Bruno Vieira, 27,slot bravoBelo Horizonte, se descreve como um "militanteslot bravomovimentos, mas nãoslot bravopartidos" desde 2010. Participou dos protestosslot bravojunho com seus colegas do coletivo jornalístico Conexão Periférica e, desde então, vê mudanças no dia a dia da capital mineira.
"Eu já vivia próximoslot bravopessoas politizadas, mas vejo agora rostos novos (participando das discussões), o que me faz crer que era gente que não tinha interesse por política antes disso", diz.
"Isso não quer dizer que aumentou o diálogo", agrega, opinando que o prefeitoslot bravoBelo Horizonte, Marcio Lacerda, tem se mostrado "inacessível" às demandas populacionais.
"Não sei se melhorou, mas algo mudou. As pessoas estão se posicionando mais. Não sei avaliar se é certo ou errado, mas é algo real."
Um avanço concreto, segundo ele, é o estabelecimentoslot bravo"assembleias populares horizontais", grupos cidadãos constituídos após os protestos e que continuam se reunindoslot bravoBelo Horizonte.
"Havia movimentos dispersos que, com os protestos, encontraram pautasslot bravocomum, como meio ambiente ou o passe livre no transporte. Isso abriu um camposlot bravodiscussão entre pessoas que já eram militantes mas não se conheciam entre si, ou mesmo entre não-militantes."
Lucio, do RJ: 'Minha geração se redimiu'
A primeira participaçãoslot bravoLucio Amorim, 29, nos protestosslot bravojunho foi com uma foto que ele fez da janelaslot bravoseu escritório, mostrando a av. Rio Branco, no Rioslot bravoJaneiro, completamente tomada por manifestantes,slot bravo17slot bravojunho. A imagem foi compartilhada 28 mil vezes no Facebook.
Depois, ele também foi para as ruas participar dos protestos seguintes – os quais, segundo ele, "redimiramslot bravogeração", por tirá-la da inércia política.
"Souslot bravouma geração que pegou o fim da década perdida (anos 1980) da hiperinflação, mas minha realidade foi a do plano real. A gente cresceu com grande liberdade social e estabilidade, eu comecei a votar aos 16 anos. Criou-se uma certa sonolência", opina o jovem, que é consultorslot bravomarketing.
"Tive sorteslot bravome conscientizar (politicamente) ao estudarslot bravoescola federal, mas muitos não. Os protestos oferecem a realidade das ruas, e até quem não tinha acesso à informação viu que a coisa é importante. Então, acho que a grande vitória dos protestos é simplesmente o fatoslot bravoeles terem acontecido."
Ele acha que até o atoslot bravocompartilhar mensagens no Facebook tem ampliado a consciência política das pessoas, mesmo que mudanças concretas demorem mais para acontecer.
"Dizer apenas 'a culpa é (da presidente) Dilma' não adianta, temos que entender quem manda no quê (na política). E as pessoas começaram a entender o que é uma PEC (propostaslot bravoemenda constitucional), a saber o que faz o STF (Supremo Tribunal Federal)."
Maitê,slot bravoSP: 'Foi bacana ver tanta gente se mexer'
Os protestosslot bravojunho foram os primeirosslot bravoque a paulistana Maitê Peres, 21, participou emslot bravovida.
"Sempre fui do lado do PT, e minha mãe foi uma cara-pintada na época do (impeachment do ex-presidente Fernando) Collor, mas até então eu nunca havia sido muito ligadaslot bravopolítica", diz a redatora publicitária. "Achei bacana ver tanta gente se mexer."
Maitê se diz "mais otimista", passado um mês desde que saiu às ruas para participar dos protestos.
"Era tanta gente querendo mostrar que estavaslot bravosaco cheio. Todo o mundo viu que as pessoas estão se preocupando. Até mesmo pessoas (amigas) que eu nunca imaginei estão discutindo política."
Maitê diz que se acha "mais atenta" às decisões sendo tomadasslot bravoBrasília para dar respostas aos manifestantes, mas reclama mais conscientização popular.
"Tem muita gente que ainda vota por brincadeira, como os que votaram (no deputado) Tiririca porque era engraçado. (As mudanças) têm que partir dos cidadãos. Mas pelo menos muita gente passou a se interessar por coisas como as PECs (propostasslot bravoemenda constitucionais), mesmo que seja compartilhando pelo Facebook."
Maria Claudia,slot bravoBrasília: 'Ainda é tudo meio incipiente'
A administradora Maria Claudia Nunes Pinheiro, 31, participou dos protestosslot bravoRecife, onde nasceu, eslot bravoBrasília, onde mora.
"Não foram meus primeiros protestos na vida, mas foram os mais relevantes", diz ela. "Faço há muito tempo trabalhos sociais no meu Estado, Pernambuco, e sei exatamente onde a corrupção estoura. Então não saíslot bravocasa por 'modinha', mas porque vi uma oportunidadeslot bravomudanças reais."
Essas mudanças reais, porém, por enquanto foram muito "imediatistas". "A (presidente) Dilma parou para responder os protestos, a PEC (propostaslot bravoemenda constitucional) 37 caiu. Talvez tenhamos avanços na questão do uso (por autoridades) dos aviões da FAB. É um momentoslot bravoque as coisas estão aflorando, mas é tudo meio incipiente ainda."
Maria Claudia vê "força e bons argumentos" entre os manifestantes, mas avalia que faltam "liderança e foco" – e mais consciência política.
"Algumas pessoas estão mais atentas à política, mas são nichos. Tenho amigos aquislot bravoBrasília que estão pouco preocupados, porque já foram aprovadosslot bravoseus concursos, vivemslot bravoseus mundos e essa luta não é muito a deles."
Questionada se voltaria às ruas para novas manifestações como asslot bravojunho, diz que "certamente".
"Estamos num momento importante, no ano que vem temos eleições. É a chanceslot bravomudarmos."