Manifestantes planejam ampliar ações na Copa das Confederações:
- Author, João Fellet
- Role, Da BBC Brasil,Brasília
Motivados pela grande repercussão do protesto contra o aumento das tarifasônibus e metrôSão Paulo na quinta-feira, movimentos contrários às obras para a Copa do Mundo2014 pretendem aproveitar o início da Copa das Confederações, neste fimsemana, para realizar uma sériemanifestações e dar mais visibilidade às suas demandas.
O Comitê Popular da Copa, grupo que tem entre suas principais bandeiras o fim das remoçõesmoradores para obras do Mundial, vem realizando desde a quarta-feira ações nas 12 cidades que sediarão jogos do torneio. Uma delas ocorreu nesta sextaBrasília, quando cerca300 manifestantes bloquearam uma via no centro da cidade com pneuschamas.
Alguns cartazes levados pelos manifestantes faziam referências às manifestações do Movimento Passe Livre, tido como o principal articulador dos protestos contra o aumento das passagensSão Paulo.
Outro protesto está marcado para o sábado perto do estádio Mané Garrincha,Brasília, que às 16h receberá o primeiro jogo da Copa das Confederações, entre Brasil e Japão. Nesta sexta, também houve protestosSão Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
No RioJaneiro eBelo Horizonte, o comitê promoverá, no sábado, jogosfutebol para divulgar suas bandeiras.
Abertura da Copa
Em Brasília, os manifestantes começarão a se reunir por volta das 11h na rodoviária do Plano Piloto, segundo Edson Silva, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que também participará do protesto. A rodoviária fica no Eixo Monumental, mesma via que o Mané Garrincha, e está a poucos quilômetros do novo estádio.
"Vamos usar a Copa (das Confederações) para divulgar a nossa causa", afirma Edson.
Pelo Facebook, estudantes brasilienses buscavam adesões ao protesto. Mais7 mil confirmaram presença no evento pela rede virtual.
Silva disse que o grupo decidirá na hora se tentará bloquear o acessotorcedores ao estádio.
Nesta sexta, uma hora após fecharem o Eixo Monumental, os manifestantes seguirampasseata para o Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal.
Segundo Silva, entre as reivindicações do movimento estão a exigênciaque a Companhia EnergéticaBrasília (CEB) suspenda o corteluz a 59 famílias acampadas na cidade vizinhaPlanaltina e que a Terracap, estatal imobiliária, deixevender terras públicas até que se zere a demanda por residências no Distrito Federal.
O grupo cobra ainda a construção150 mil moradias populares no Distrito Federal nos próximos dois anos, o combate à exploração sexual na Copa e a realizaçãocampanhasproteção aos direitos das crianças e adolescentes nas cidades que sediarão o evento. As demandas, diz Silva, buscam fazer com que a competição também beneficie brasileiros pobres.
"A Copa é para quem? Nós, famíliassem-teto, não vamos conseguir assistir aos jogos, porque os ingressos são todos caros. Esta Copa não é do povo, esta Copa é dos ricos, é da Fifa", afirma Silva.
Membro do Comitê Popular da Copa no Rio, o pesquisador Gustavo Mehl diz que "há canais abertos" para uma articulação entre o movimento e os militantes do transporte público. "Certas ações unificadas durante a Copa das Confederações certamente vão acontecer, não só no Rio masoutras cidades", ele diz à BBC Brasil.
Segundo Mehl, a inflamação gerada pela manifestações contra o aumento nas passagens "fortalece todo um campo, uma luta que é integrada por vários setores descontentes". "Não temos espaçoconsulta e participação popular nas grandes cidades num momentoque grandes intervenções urbanas estão sendo feitas com a falsa justificativaserem para a Copa e as Olimpíadas."
Ele diz que o aumento das passagens foi o estopimum crescente descontentamentomoradores das cidades com o aumento do custovida e a ausênciamelhorias urbanas.
Membro do Movimento Passe Livre, o professorhistória Lucas Monteiro,29 anos, diz que o grupo também simpatiza com as manifestações do Comitê Popular da Copa.
"Entendemos que tanto as remoções quanto o aumentotarifas são eventos que não levamconsideração os habitantes das cidades e seus direitos, mas sim interesses empresariais."
Ainda que São Paulo não vá receber partidas da Copa das Confederações, Monteiro diz esperar que o evento dê maior repercussão internacional aos próximos protestos do grupo. "Infelizmente, nossos governantes se sentem mais pressionados pela opinião pública internacional do que pelas vontades populares das nossas próprias cidades".
O grupo convocou novo protestoSão Paulo para a segunda-feira. Cerca100 mil pessoas confirmaram presença no evento pelo Facebook.
Ações no Rio
No RioJaneiro, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas organizará neste sábado a Copa Popular Contra as Remoções, que vai reunir moradorescomunidades ameaçadas ou que sofreram remoções para um campeonatofutebol na região da Gamboa, zona portuária.
"Sempre foi um desejo nosso reunir essas comunidadesatingidosum grande evento conjunto, e a gente achou que fazer isso através do futebol no diainício da Copa das Confederações seria uma boa oportunidade", afirma Renato Cosentino, porta-voz do comitê e pesquisador da organizaçãodireitos humanos Justiça Global.
Segundo Cosentino, o evento tem o objetivochamar a atenção para as remoçõesmoradores devido a obras relacionadas à Copa do Mundo e à Olimpíada2016, alémservir para que essas diversas comunidades atingidas se articulem e dividam experiências.
De acordo com dados catalogados pelo comitê por meionotíciasjornais e relatoslideranças comunitárias, 11 mil pessoas teriam sido obrigadas a deixar suas casas na cidade do RioJaneiro devido a obras relacionadas aos grandes eventos esportivos. Outras 29 mil ainda correriam riscoremoção.
De acordo com Cosentino, além do eventosábado, o comitê planeja outras manifestações nas próximas semanas.
Relatora da ONU para o Direito à Moradia Adequada, a professora brasileira Raquel Rolnik diz que tem recebido denúnciasremoções executadasdesacordo com os padrões internacionaisrespeito aos direitos humanos.
"É possível perceber a continuaçãoum padrãofaltatransparência, consulta, diálogo, negociação justa e participação das comunidades atingidas", ela afirma à BBC Brasil.
Rolnik diz considerar preocupantes os valores pagos para indenizar as famílias removidas, agravados pela valorização imobiliária nas áreas onde ocorrem obras dos megaeventos.
"Estas indenizações insuficientes podem ter como consequência a formaçãonovas favelas e a existênciamais famílias sem teto".
A relatora da ONU cobra a criaçãoregras nacionais que regulem as remoções, passo que diz ser fundamental para que o país siga normas internacionais ao se preparar para os eventos esportivos.
Colaboraram Caio Quero e Rogerio Wassermann, no RioJaneiro eBrasília