Como milhareslivros foram salvosfogueiras nas ditaduras no Chile e na Argentina:
Esta reportagem mostra o outro lado: conta três históriascomo livros foram salvos da fogueira e da destruição durante esses anos sombrios.
1. A bibliotecacimento
"Onde estão as odes que Neruda me deu?", perguntou o advogado argentino Salomón Gerchunoff.
E sempre, antes que alguém pudesse lhe responder, ele mesmo suspirava e dizia: "Devem estar na casa daquele homem".
A casa a que ele se referia era dele há mais20 anos. Era uma construção térrea, localizada no bairro Parque Vélez Sarsfield da capital Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina.
Lá viveu comesposa, Eva Maltz, e seus cinco filhos até o golpe1976.
"Meu pai era um militante reconhecido do Partido ComunistaCórdoba e colaborador permanente do movimento sindical na cidade, então ele tinha uma biblioteca que era coerente com esse pensamento", explica Luis Gerchunoff, um dos cinco filhosSalomón.
E esse pensamento começou a ser banido. Perseguido.
Ao ladoLuis estão Nora, Ana e Beatriz, as outras irmãs. Só falta Robert. É 24março, Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça na Argentina. Quarenta e seis anos se passaram desde o golpe militar euma escola próxima eles exibem um documentário com a história da família.
É a primeira vezmuitos anos que os irmãos estão na mesma cidade ao mesmo tempo e ativam a coleçãomemórias a quatro vozes.
A primeira: quando seus pais decidiram esconder os livros dentrouma das paredes da casa.
"Foi logo após o golpe", diz Luis.
"Nos anos anteriores, meu pai havia distribuído seus livros mais incriminadores entre vários amigos para evitar as batidas que já aconteciam regularmente. Mas quando ocorreu o golpe, ele percebeu a gravidade do que estava acontecendo e disse 'basta, vou juntar meus livros para evitar problemas para eles'."
Meses antes daquele março1976, Salomón e Eva decidiram reformar a casa, então aproveitaram os restosmateriaisconstrução para esconder a maioria dos livros dentro das paredes da parte superior do quarto principal.
"Nós sete vivemos aquele momento. Lembro-me do sentimentomedo que nos acompanhou. Colocamos todos os tiposlivros, literatura política, sobre Marx, Engels, mas também César Vallejo, O Pequeno Príncipe, o livrohistórias infantis 'Um elefante ocupa muito espaço',Elsa Bornemann, que também foi proibido pela ditadura", lembra Ana Gerchunoff.
Um dos exemplares mais premiados da coleçãoSalomón foi um livretoquatro páginas com duas odesPablo Neruda: à Pantera Negra e à Borboleta. No verso, um autógrafo na inconfundível tinta verde usada pelo ganhador do Prêmio Nobel chileno e a dedicatória: "Para Gerchunoff. Do seu amigo Pablo".
"Em 1956, Neruda decidiu passar alguns diasVilla del Totoral, que é uma cidade vizinha. E ele queria organizar um recital, mas estávamos na ditaduraAramburu, e ele não recebeu o palco principal da cidade, que era o teatro San Martín. Então meu pai, junto com outras pessoas, moveu céus e terra para que o poeta pudesse se apresentaroutro espaço", diz Luis.
Para recompensar os esforços dos envolvidos, Neruda encomendou 500 exemplaresum livreto com as duas odesuma gráfica local.
"E ele dedicou um especialmente ao meu pai", observa Ana. "Embora não nos lembremoscolocá-lo na parede, meu pai tinha certezaque estava lá."
Eva, que era arquiteta, ficou encarregadacimentar a parede e terminar tudo para não deixar indíciosque havia um buraco aberto naquela superfície.
Menosum ano depois,maio1977, os militares levaram Salomón.
"Eles o mandaram para La Perla, que mais tarde se tornaria um centrotortura clandestino. Ele passou cinco anos lá."
Os quatro irmãos se lembram com precisão milimétrica do diaque tiveram que sair daquela casa. "Por ficar sozinha, minha mãe não conseguia se sustentar e foi obrigada a vender a casa com prejuízo", conta Ana.
"Tivemos que levar nossas coisaslençóis porque não tínhamos dinheiro para a mudança. Meu pai foi sequestrado. Foi muito doloroso", conta Beatriz, a irmã mais velha.
Nos anos seguintes, Eva e os cinco irmãos viveram como puderamlugares diferentes. Em 1982, Salomón foi solto e, com o fim do regime militar, a primeira coisa que fez foi pedir permissão ao novo dono da casa para derrubar o muro e tirar seus livros.
"O cara se recusou a deixá-lo entrar", diz Ana. "Aí meu pai, frustrado, deu uma ordem para todos nós: 'Vamos esquecer os livros. Aqui encerramos essa história.'"
"Mas muitas vezes ele se lembravasuas odesNeruda e não podia deixarse referir à casa 'daquele homem'", lembra Luis.
Eva morreu1994 e Salomón2002. Nora e Beatriz se mudaram para Israel e Ana, Luis e Roberto formaram família e se estabeleceramdiferentes lugaresCórdoba. Eles nunca voltaram para a casa.
Em 2008, enquanto Ana visitava um escritório no centro da cidade como parteseu trabalho no Ministério da Justiça, ela foi abordada por uma mulher que pediu para falarparticular.
"Ele me perguntou se eu era Ana Gerchunoff, a da casa dos livros perdidos. Fiquei sem palavras e pensei 'Claro, os livros do papai!'."
A mulher, que era inquilina da casa há alguns anos, contou-lhe que se espalhou pelo bairro um boatoque havia livros dentro das paredes. "Ela me disse que era como um fantasma e que era muito difícil para ela moraruma casa onde ela sabia que havia uma biblioteca embutida na parede."
Ele disse a ela que eles iriam abri-lo. A notícia pegou os irmãossurpresa. Beatriz e NoraJerusalém disseram enfaticamente que queriam estar presentes quando as paredes fossem derrubadas.
Mas a urgência venceu: a mulher disse-lhes que tinhampegar os livros o mais rápido possível antes que o dono descobrisse, pois ele era o mesmo que havia negado a entradaSalomón.
"De um dia para o outro tínhamos que ir com um pedreiro e quebrar tudo. Nora e Beatriz não tiveram tempochegar", observa Luis.
Foi um procedimento simples: o pedreiro bateu duas vezes com o cinzel e abriu um buraco na paredetijolos secos. E eles viram a maravilha através do buraco. Os livros estavam intactos, legíveis, como se tivessem sido colocados lá no dia anterior e não 30 anos antes.
"Mamãe tinha feito um bom trabalho", diz Ana.
"Ficamos atordoados, não só pelo estado dos livros, mas por todo o peso emocional que eles tinham, porque os livros fazem parteseus donos. Eles preservaram parte do cheiro que a casa tinha quando morávamos lá, então, mais do que pensar nos livros, começamos a lembrartudo que vivemos naqueles anos", conta Luis.
Em meio a uma nuvemnostalgia, um dos filhos da inquilina pegou a obraNeruda e o olhou com especial interesse.
"E o que é isso?", ele perguntou.
"Era o caderno. Estava exatamente como eu me lembrava, então peguei dele e disse 'Nada. Papéis velhos'... e guardei", continua Luis.
Os três irmãos pensaram que só iriam encontrar fragmentos do que tinham deixado e, como naquela vezque saíramcasa, há três décadas, tiveram que levar os livrosfolhas.
Nora, a mais nova, permanecesilêncio. Ele apenas observa,silêncio, enquanto seus irmãos contam a história, mas no final ele explode. Ela coloca a cabeça no ombroBeatriz para que seus olhos não sejam vistos.
"O fatoterem tirado os livros foi libertador para mim. Minha infância ficou dentro daquelas paredes, com aqueles livros que a ditadura nos obrigou a guardar e que sequestraram meu pai", conclui.
"Eu senti como se estivesse reencontrando aquela menina9 anos que morreu um pouco quando tivemos que sair daquela casa sem livros para levar."
2. 'Eu comi 30 páginas'
Quando abriu os olhos, Luis Costa viu três soldados da Marinha chilena apontando seus fuzis G-3 para seu rosto.
"Eles me pegaram", foi a primeira coisa que ele pensou.
Atrás da fileirafuzileiros entrou o comandante, que inspecionou seu rosto e, depoisdescartar que era a pessoa que procuravam - um homem albino e muito mais velho -, disse-lhe: "Continue descansando, agora o que nos interessa são seus livros".
Seis meses antes, Pinochet havia derrubado o governoSalvador Allende e, pormilitância no MovimentoEsquerda Revolucionária (MIR), Costa vivia na clandestinidade.
Quase 50 anos depois, emcasaQuilpué, município a 10 quilômetrosValparaíso, a segunda maior cidade do Chile, Costa aponta para uma rústica cadeiramadeira com o encostoângulo reto.
"O batista Van Schouwen, el Baucha (um dos comandantes históricos do MIR), sentou-se naquela cadeira quando realizamos reuniõesminha casa. Ele disse que o ajudava com suas dores nas costas."
Foi precisamente El Baucha quem lhe deu as primeiras instruções uma vez consumado o golpePinochet: esconda-se, sobreviva e, se não for possível salvá-los, desfaça-se das bibliotecasseus companheiros o mais rápido possível.
"Durante os anos da Unidade PopularSalvador Allende houve um apogeu do livro. E muitosnós aproveitamos isso para adquirir textosliteratura política para nos educarmos", diz.
"No entanto, o golpePinochet foi tão certeiro quemenosum dia o MIR já estava desmantelado, então a missão principal e quase a única que pudemos realizar foi esconder ou, infelizmente, destruir as bibliotecasnossos camaradas para evitar que pudesse incriminá-los. Ter um livro considerado perigoso era o suficiente para ser preso", explica.
Destruir as cópias tornou-se uma questãovida ou morte e, embora tenha sido um ato triste, pelo menos impediu que caíssem nas mãos dos militares.
Era uma tarefatentativa e erro: eles começavam por submergir os livros nas banheiras ou nas pias das casas para que as páginas amolecessem e depois pudessem jogá-los no vaso sanitário.
"Mas os canos entupiam facilmente", diz Costa. "Então tivemos que ir queimá-los."
"Primeiro nós tentamos no forno e nos fogões da cozinha, mas levamos muito tempo para queimar cada livro."
Eventualmente, eles concordaram com o último recurso: fazer fogueiras à noite "para evitar que as pessoas sentissem a fumaça e nos denunciassem".
No entanto, ele não queimou tudo. Apesar do perigo que representava, havia exemplares que conseguiu salvar.
Costa parahistória e percorre seu escritório, um espaço repletoobjetos e recordaçõesseus anosmilitante, que distribuiu entre familiares e amigos quando teve que se exilar, depoispassar um tempo nos centrosdetençãoVilla Grimaldi e Três Alamos. E que logo recuperou. .
Ele sobe as escadas que levam ao segundo andar, ao seu quarto. Lá ele agora tembiblioteca, da qual tira um livro coberto com uma folha preta.
"Havia livros que eram muito pessoais ou muito úteis, que a gente arriscava preservar. Este, por exemplo", diz ao abrir e revelar o título "Manual do Guerrilha Urbano", do brasileiro Carlos Marighella. "Foi muito útil para as tarefas clandestinas que estávamos realizando naqueles dias."
Mas ele também foi forçado a recorrer a táticas extremas para salvarvida e aseus companheiros.
Na manhãque acordou com os canos dos fuzis apontados para ele, Costa passava pela casauma família que moravaVilla Alemana, município a cerca30 quilômetrosValparaíso.
A família, que não tinha relação com ele, fazia parte da redepessoas que apoiavam os militantes da esquerda.
Uma cama improvisada havia sido arrumada para ele no único quarto disponível: uma pequena biblioteca no primeiro andar. Lá estava ele dormindo quando o pelotãofuzileiros o surpreendeu.
Costa obedeceu ao comandante e se deitou, ainda tremendo. Mas no meiosua vigília, os militares o incomodaram novamente.
"Jovem, você pode me explicar sobre o que é este livro?", ele perguntou, entregando-lhe um volume com um título atraente, "Cibernética e a Revolução Industrial".
Costa levantou-se e explicou brevemente, com o que lembrava do tempo na UniversidadeSanta María, que se tratava do estudo dos sistemas que controlam as máquinas. O homem uniformizado fez um gesto nebuloso e colocou o volumelado com a ordemconfiscar.
"Interessante. Mas há a questão da revolução e isso é perigoso", disse.
Deitando-se novamente, Costa percebeu que na mesacabeceira, também improvisada, havia um livreto30 folhaspapelarroz para enrolar cigarros onde estava descrita a situação da Secretaria-Geral do MIR, que lhe chegara naquela mesma tarde.
Agarrou o documento durante um descuido dos soldados, rasgou-o furtivamente, colocou-o na boca e começou a mastigá-lo sorrateiramente.
"Primeiro tentei umedecer com saliva, mas foi muito difícil, porque eram 30 folhas", conta. "Foi difícil para mim porque também não queria fazer barulho."
Costa lembra que tudo isso aconteceu com os militares ali ao lado. Ele tentando fazer o documento desaparecer e eles procurando livros pela sala. "Não me lembro quanto tempo levei, mas finalmente consegui engolir tudo."
"Não doeu o estômago nem nada, mas o que tive foi uma sensação estranha na boca, tipotinta seca, que sempre defino como minha primeira experiência com literatura gastronômica", conclui com uma cotahumor e ironia.
3. 'Biblioclastia fundamentalista'
Marjorie Mardones deixa seus dedos navegarem por uma prateleiralivros usados como uma criançauma lojabrinquedos.
Ela é bibliotecária do Centro Quilpué e professora da UniversidadPlaya Ancha e nos últimos anos se propôs a descobrir o que aconteceu com milhareslivros que foram censurados e destruídos nesta região chilena durante o regimePinochet.
Por isso, caminha com o entusiasmosalvadora pela livraria: mais do que notícias, procura sobreviventes. Qualquer pista serve: um título politicamente inclinado publicadodécadas anteriores, o seloum editor perseguido. Capa enganosa. Uma capa forrada para esconder o título original.
"Minha ideia é buscar esses livros, que foram retiradossuas bibliotecas por serem considerados perigosos, e devolver para uma estante, para uma biblioteca, que é o lugar deles"
Na bolsa, Mardones carrega um dos achados que fez nos últimos anos, uma cópia que revela uma das manobras usadas para salvar os livros do apocalipse: a camuflagem.
O livro está envoltouma capa azul clara, onde está impresso "A poesiaNicanor Parra: anexosestudos filológicos nº 4".
Mas quando ela abriu, outro título: "Trotsky, o grande organizadorderrotas", que ela suspeita ter sido publicado por uma editora soviética que, aproveitando o auge do livro no Chile, começou a publicar títulosespanhol, mesmo embora seus escritórios ficassemuma ruaMoscou.
"Era um método muito tradicional, tiravam a capa com muita delicadeza para não danificar a lombada e depois colavam a capa nova, que também havia sido retirada da mesma formaum livro menos perigoso. Foi feito com livros muito específicos ou que eram importantes para seu dono, porque era um processo muito demorado e não podia ser aplicado a todos os livros."
Sua pesquisa foi exibidauma exposição2017 na UniversidadePlaya Ancha sobre livros perseguidosValparaíso, na qual exibiram não apenas os livros, mas também as históriascomo sobreviveram.
"Mostramos que o que vimos no Chile foi uma destruição fundamentalista do livro. À medida que as pessoas eram perseguidas, as ideias eram perseguidas", acrescenta.
"E foi um aviso do que estava por vir. Como disse o poeta alemão Heinrich Heine, 'onde os livros são queimados, as pessoas também são queimadas'."
Mardones cita o ensaio "Deseja, possui, enlouquece", no qual o renomado semiólogo italiano Umberto Eco, falecido2016, aponta três formasbiblioclastia ou destruiçãolivros: biblioclastia fundamentalista, descuido ou interesse próprio.
"Eco aponta claramente: 'O biblioclasta fundamentalista não odeia os livros como objeto, teme pelo conteúdo e não quer que os outros os leiam. Alémcriminoso, é um louco, pelo fanatismo que o motiva. A história registra poucos casos extraordináriosbiblioclastia, como o incêndio na bibliotecaAlexandria ou as fogueiras nazistas'", lê Mardones, que acrescenta: "E as ditaduras no Cone Sul".
"Depois dessa destruição, desse apagão cultural como muitos chamam, o que a ditadura fez foi criar uma culturaconsumo rápido, onde o livro não tem mais lugar", observa.
Para ilustrar o que acabarelatar, ele pronuncia um nome que parece um animal mitológico: "Editora Quimantú".
A cerca90 quilômetros dali, Ramón Castillo tira um livrosua coleção: é um pequeno exemplar cuja capa mostra um homem carregando um bustoNapoleão. É "Sherlock Holmes e o mistério dos seis bustos", mas ele se concentra no logotipo da editora que o publicou: um círculo com representações indígenastornoum "q" minúsculo.
"Este é um livro da editora nacional Quimantú, da coleçãolivrosbolso", diz entusiasmado.
Alémacadêmico da FaculdadeLetras da Universidade Diego Portales, Castillo também seguiu a vocaçãosalvadorMardones: àfrente, na mesa da salasua casa no bairro BellavistaSantiago, repousa uma montanhalivros. A maioria deles com o selo do Quimantú.
Após a chegadaSalvador Allende ao poder,1970, dentre muitas medidas implementadas, houve uma que visava popularizar o livro. Para isso, foi adquirida uma editora estatal, controlada pelos trabalhadores, que produziria 11 milhõeslivrostrês anos.
Não foi apenas literatura universal como o livroSherlock: nos últimos anos, Castillo conseguiu recuperar exemplares com títulos mais combativos, como "O que é o materialismo histórico", assinado por Marta Hernecker, e uma compilação da revista "Cabro Chico", dedicado às crianças.
"Tinha um alcance enorme. Um dos funcionários da Quimantú nos contou uma história que mostra isso: depoisuma doação para vários centros educacionais que ficavam fora da capital, um professor ligou para agradecer o gesto, mas sobretudo para pedir humildemente que também mandassem estantes, porque era a primeira vez que tinham livros na escola."
Após o golpe, Pinochet e os soldados que o acompanhavam fizeram uma perseguição sistemática a títulos que consideravam perigosos (na verdade, foram feitas transmissões televisivas com a queimalivros e convocadas coletivasimprensa para anunciá-los), mas, sobretudo, dos livros da Quimantú.
Em poucos meses o nome foi mudado (Editorial Gabriela Mistral) e a maioria dos livros foi destruída.
Mas ele insisteecoar um único objetivo: "Muitas pessoas tiveram a coragempreservar algo que acreditavam ser algo mais do que um livro, que destruí-lo era como destruir a si mesmos. Eu só quero que os livros tenham uma prateleira para que não nos esqueçamos do que aconteceu".
A perseguição aos livros durante os regimes militares na Argentina e no Chile
• No caso do Chile, após o golpe11setembro1973, iniciou-se uma destruiçãolivros considerados "subversivos"bibliotecas públicas, universidades, algumas casas e livrarias.
• Isso levou a um processoautocensura, com muitos civis destruindo ou escondendo várias cópiassuas bibliotecas pessoais para evitar serem enquadrados pelos militares.
• A fase seguinte do regime foi a da censura prévia. Embora já realizasse operaçõescensura, foi1976 que o governo militar criou a Direção NacionalComunicações, a Dinaco. Todo o conteúdo cultural produzido no país tinha que passar por esse escritório para aprovação.
• Na Argentina, o processo é diferente. Quando ocorre o golpeestadomarço1976, o controle é imediatamente estabelecido sobre a produçãolivros.
• Foram proibidos mais125 títulos contrários aos "valores nacionais" que o processoreorganização da junta cívico-militar pretendia promover.
• Houve queimalivros. A mais significativa ocorreu26junho1980 no distritoSarandi, na provínciaBuenos Aires, quando foram queimados quase um milhão e meiolivros.
• Houve uma perseguição especial aos livros infantis. Por exemplo, o livrocontos "Torrecubos", da escritora Laura Devetach, foi proibido por um decreto que apontava que seu conteúdo"fantasia ilimitada" poderia ser prejudicial às crianças.
- Este texto foi publicadohttp://bbc.co.ukhttp://vesser.net/internacional-63003122
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