'The Talk': como é a conversabet pix 365 clássicopais negros com filhos sobre racismo e abuso policial nos EUA:bet pix 365 clássico
Smith-Pollard levoubet pix 365 clássicoexperiência pastoral e como líder comunitária para o trabalho que realiza no Centro para a Religião e Cultura da Universidade do Sul da Califórnia (USC).
"Como mãebet pix 365 clássicofilhos negros que vivem na cidade, tenho que falar para eles sobre policiais e criminosos, porque existem pessoas nos nossos bairros que simplesmente não têm boas intenções. Tenho que ensinar a eles como se relacionar com as forças [de manutenção] da ordem, mas também a navegar pela vidabet pix 365 clássicogeral", acrescenta ela.
Conhecida coloquialmente como "the talk" ("a conversa",bet pix 365 clássicoportuguês), essa é a manifestação comum do que o setor acadêmico chamabet pix 365 clássicosocialização étnico-racial, um vasto campobet pix 365 clássicoestudos no âmbito das ciências sociais e da psicologia.
Sobre ela, existe extensa literatura científica, alémbet pix 365 clássicodocumentários profundos com uma sériebet pix 365 clássicopessoasbet pix 365 clássicodestaque, como The Talk: Race in America ("A conversa: raça na América",bet pix 365 clássicotradução livre), da redebet pix 365 clássicotelevisão pública norte-americana PBS e relatos na ficção, como nas populares sériesbet pix 365 clássicoTV Grey's Anatomy e Black-ish.
É uma questão real. E as pessoas que falaram (e as que não quiseram falar) com a BBC indicaram que se tratabet pix 365 clássicoalgo doloroso, difícil, um "peso" que as famílias afroamericanas precisam suportar e que também afeta, cada vez mais, as famíliasbet pix 365 clássicoorigem latina.
Elas concordam que se tratabet pix 365 clássicouma conversa "imensamente pessoal" que adquire novas nuances à medida que os filhos crescem e conforme muda o contexto.
"Agora, com o aumento da violência racista, também precisamos começar a dizer aos jovens: 'vocês não podem confiarbet pix 365 clássicotodos os meninos brancosbet pix 365 clássico18 anos que pareçam estar fora das suas vizinhanças'", afirma Smith-Pollard.
Ela se refere ao ataque a tiros que,bet pix 365 clássico14bet pix 365 clássicomaiobet pix 365 clássico2022, deixou 10 mortosbet pix 365 clássicoum supermercadobet pix 365 clássicoum bairro com população majoritariamente negra na cidadebet pix 365 clássicoBuffalo, no Estadobet pix 365 clássicoNova York.
Sobre moletons e como lidar com a polícia
Smith-Pollard recorda que a conversa com seu filho maior começou quando ele estava prestes a completar 13 anos. Ele estava no sétimo ano e foi assaltado quando ia a caminho da biblioteca com um colega.
"Tive que dizer a ele: 'quando você e o seu amigo andarem na rua, vocês precisam prestar atenção a quem estiver ao seu redor'", relembra ela.
Essa mensagem sobre segurança foi sendo repetidabet pix 365 clássicoforma constante toda vez que ele ia sozinho para uma loja, antesbet pix 365 clássicosubir no ônibus, mas assumiu outra feição quando ele tiroubet pix 365 clássicocarteirabet pix 365 clássicomotorista.
"Quando ele começou a dirigir, precisei começar a falar com ele sobre o que fazer e o que não fazer se ele fosse parado pela polícia", relata ela.
Smith-Pollard relembra que a conversa começou assim: "Nós moramosbet pix 365 clássicoLos Angeles, no sul da cidade. Você não precisa fazer nadabet pix 365 clássicoerrado para ser preso. Pode ser que digam para você parar e inventem algumas acusaçõesbet pix 365 clássicoque você é suspeito. Você precisa saber que você tem os seus direitos."
Ela já havia falado sobre os direitos com seu filho quando ele completou 15 anos, já que seu porte físico — alto e forte, por ter jogado futebol desde os nove anos — "sempre fazia com que confundissembet pix 365 clássicoidade".
"Você não deve deixar que ninguém o reviste se não tiver uma ordem. Você não precisa responder nenhuma pergunta porque você é menor. Você pode telefonar para abet pix 365 clássicomãe; pode fazer com que me liguem imediatamente. Não tenha medo se quiserem levar você para a delegacia. Não brigue. Não corra. O seu pai e eu sempre tiraremos vocêbet pix 365 clássicoapuros, nunca vai precisar se preocupar com isso", prosseguiu ela.
"Diga o seu nome e mostre o seu documentobet pix 365 clássicoidentidade. É tudo o que você precisa dar a eles e é melhor que você dê, para que eles possam verificar que você não tem antecedentes."
Daniel conseguiu pôr as liçõesbet pix 365 clássicoprática nas quatro vezesbet pix 365 clássicoque, segundobet pix 365 clássicomãe, foi detido erroneamente como vítimabet pix 365 clássicopreconceito racial. Ele conseguiu sair sem problemas graças às lições. E as recomendações prosseguiram quando ele foi viver por conta própria.
"Você sabe que existem certas coisas que não deve fazer e é assim que você protege a si mesmo. Você conhece a quarta emenda [da constituição norte-americana, que protege o direito à privacidade e a não sofrer invasões arbitrárias] e, agora que você tem seu próprio apartamento, não deve deixar ninguém entrar", orientou a mãe.
Smith-Pollard também o advertiu sobre o sagging — a modabet pix 365 clássicousar as calças abaixo da cintura, mostrando a roupabet pix 365 clássicobaixo, o que era muito comum nos anos 1990 — e hoje proíbe seu filho menor e seu filho adotivobet pix 365 clássicousar blusas com capuz.
"Não, vocês não vão levar moletom para a escola, nem para caminhar pela rua", diz a mãe aos seus filhos.
"E não é porque estejam fazendo algobet pix 365 clássicoruim, é porque não quero que ninguém pense que, por usar uma blusa com capuz, vocês estão tramando alguma coisa. A polícia e as pessoas deram um significado para essa roupa que ela não tem. E, sim, todos usam moletons, mas um menino branco usar não é a mesma coisa que vocês."
"Sempre estivemos prontos", segundo Smith-Pollard. "E o que quero dizer [com isso] é que estivemos prontos com advogados, dinheiro para fiança e tudo isso, porque realmente não confio na polícia."
"Nós simplesmente ensinamos [para Daniel]. Tínhamos um filho negro bonito. Não foi um trabalho fácil criá-lo com segurançabet pix 365 clássicoLos Angeles. E, acredite, eu pensava que, quando ele fosse adulto, não teria nada com que me preocupar, até que alguém disparou e matou alguém que simplesmente estava tendo um dia muito ruim."
As estatísticas
Como ocorre com muitos paisbet pix 365 clássicofilhos negros, Smith-Pollard sempre receou que, se não tivesse essas conversas, seus filhos poderiam acabar aumentando as estatísticas da violênciabet pix 365 clássicogeral — e da políciabet pix 365 clássicoparticular, como ocorreu com George Floyd, que morreu nas mãos do então policial Derek Chauvinbet pix 365 clássicoMinneapolis (Minnesota, Estados Unidos),bet pix 365 clássico2020.
Estatísticas oficiais justificam esse temor. No condadobet pix 365 clássicoLos Angeles, onde Smith-Pollard mora com a família, pelo menos 968 pessoas morreram nas mãos das forçasbet pix 365 clássicomanutenção da ordem desde 2000, segundo os registros médicos forenses compilados pelo jornal americano Los Angeles Times. Desse total, quase 80% eram negros ou latinos, quase todos homens.
A nível nacional, os dados também deixam claro esse desequilíbrio demográfico, como já mostrou demonstrou a equipebet pix 365 clássicochecagembet pix 365 clássicodados da BBC.
O jornal americano WThe Washington Post mantém um bancobet pix 365 clássicodados atualizado desde 2015 sobre disparos realizados pela polícia do país.
O levantamento indica que 24% das vítimas fatais dos maisbet pix 365 clássico5.000 incidentes mortais registrados eram afroamericanos — embora eles representem menosbet pix 365 clássico13% da população total do país.
Os afroamericanos também são abordados pela polícia com mais frequência quando estão dirigindo: cercabet pix 365 clássico20% mais, segundo um estudo conduzidobet pix 365 clássico2020 pela Universidade Stanford, na Califórnia, um dos mais recentes sobre o tema e que analisou maisbet pix 365 clássico100 milhõesbet pix 365 clássicodetenções no trânsito.
As estatísticas fazem distinção apenas por Estados, mas há testemunhosbet pix 365 clássicodiscriminaçãobet pix 365 clássicotodas as classes socioeconômicas.
Para ilustrar que a origem da "conversa" vembet pix 365 clássicodécadas atrás e se mantém ao longo das gerações, Smith-Pollard recorda que seu avô recebia recomendações para não caminhar por certas ruas no Mississipi, onde cresceu nos anos 1940.
Ou faz referência aos temposbet pix 365 clássicoque ela ministrava na Primeira Igreja Africana Metodista Episcopalbet pix 365 clássicoLos Angeles, quando havia gruposbet pix 365 clássicovoluntários que aconselhavam aos jovens negros como vestir-se, caminhar, agir e ter consciênciabet pix 365 clássicocomo as outras pessoas poderiam observá-los — ainda antes dos distúrbiosbet pix 365 clássico1992.
Estereótipos e medos
"Realmente esperava que nunca precisasse ter 'a conversa' com meu filho", afirma Judy Belk, presidente e diretora-executiva da The California Wellness Foundation (Cal Wellness), que é uma das maiores instituições filantrópicas do Estado, dedicada a promover a prevenção da violência como questãobet pix 365 clássicosaúde pública há 30 anos.
Mas alguma coisa mudou quando seu filho — como ocorreu com obet pix 365 clássicoSmith-Pollard — tinha 12 ou 13 anosbet pix 365 clássicoidade.
"Na época, nós morávamosbet pix 365 clássicoOakland [Califórnia] e eu trabalhavabet pix 365 clássicoSão Francisco [no outro lado da baía]. Ele me pediu [que o deixasse], que já era suficientemente grande para andar sozinhobet pix 365 clássicometrô. Eu fiquei muito preocupada e então lhe disse: 'Não fale com estranhos, ligue quando entrar no trem e quando sair...'", relembra ela.
O filho seguiu as instruções da mãe e, quando eles se encontrarambet pix 365 clássicoSão Francisco e ela perguntou como foi a viagem, a resposta a deixoubet pix 365 clássicochoque. Esta foi a conversa:
— Mamãe, não acho que você precise se preocupar que alguém vá me fazer mal. Acho que as pessoas do trem estavam nervosas com a minha presença.
— Como assim?
— Acho que deixei algumas senhoras brancas idosas nervosas.
"Minha alma desabou. Eu havia sido ingênua ao acreditar que talvez ele pudesse escapar dessa sensaçãobet pix 365 clássicose sentir 'o outro'", reconhece ela.
Belk havia crescido no sul dos Estados Unidos (Virgínia), onde havia segregação, e esperava salvar seus filhosbet pix 365 clássicoqualquer situação similar, criando-os na Califórnia.
Quando viu a expressãobet pix 365 clássicodevastação da mãe, o filho tentou reconfortá-la.
— Não se preocupe. Peguei um livro e comecei a ler. E parece que elas começaram a ficar mais tranquilas comigo.
"Foi naquela noite que me dei conta que estava criando um homem negro e que, mesmo combet pix 365 clássicoeducação privilegiada, o mundo iria vê-lo como um homem negro, com todos os estereótipos e medos [associados]", afirma ela.
"Provavelmente, já havíamos conversado sobre racismo antes, mas foi ali que percebi que precisaria ajudá-lo a entender como crescer sentindo-se seguro como afroamericano."
Belk se alegra ao lembrar que seu marido estava com o filho na primeira vezbet pix 365 clássicoque foi parado pela polícia enquanto dirigia. Foi na Carolina do Norte, onde ele iria cursar seus estudosbet pix 365 clássicopós-graduação.
O policial perguntou para onde eles estavam indo e o pai viu ali uma oportunidadebet pix 365 clássicoensinar ao seu filho como lidar com a situação — da mesma forma que, um dia, ele próprio havia sido instruído: "responda às perguntas e mantenha as mãos sobre o volante".
Pouco tempo depois,bet pix 365 clássicodois incidentes distintos no Texas, os afroamericanos Botham Jean e Atatiana Jefferson — com 26 e 28 anosbet pix 365 clássicoidade, respectivamente — foram mortos por tiros disparados pela polícia nas suas próprias casas.
E, no iníciobet pix 365 clássico2019, Belk sentiu na própria pele que estarbet pix 365 clássicosegurançabet pix 365 clássicocasa pode ser uma ilusão até mesmobet pix 365 clássicoHollywood, onde ela mora atualmente.
Seu marido havia levado o cachorro para passear e uma vizinha, ao ver aquele homem negro perambulando pela rua com uma lanterna e entrarbet pix 365 clássicoseguida na casa dos Belk, decidiu alertar a polícia sobre um possível "intruso".
Dois agentes responderam à chamada, mas foram ao edifício errado. Outra vizinha abriu a porta para eles e avisou os policiais (um deles com uma arma nas mãos) que o endereço que eles estavam procurando era o da casa ao lado, mas que levassembet pix 365 clássicoconta que seu morador era um médico negro.
Com isso, Belk conta que precisou atualizar "a conversa". "Onde estamos seguros, agora?", perguntou-se ela. Uma questão que volta à tona com os recentes ataques a tirosbet pix 365 clássicoBuffalo e no metrôbet pix 365 clássicoNova York.
"Meu marido estava passeando com o cachorro no outro lado da ruabet pix 365 clássicofrente à nossa casa,bet pix 365 clássicoum bairrobet pix 365 clássicoclasse alta, e alguém que não sabia que havia negros na vizinhança chamou a polícia. E agora minha filha está se perguntando se está segura no metrô da capital do país", acrescenta ela (sua filha trabalha no Capitólio e morabet pix 365 clássicoWashington DC).
Belk conta que, depois do que aconteceubet pix 365 clássicoBuffalo, ela precisou voltar a conversar combet pix 365 clássicofilha, ressaltando: "Claro que precisamos estarbet pix 365 clássicoalerta e queremos nos sentir seguros, mas não podemos deixar que o medo nos paralise".
"Foi uma conversa muito dolorosa", relata ela. "Não acredito que os brancos tenham esse tipobet pix 365 clássicoconversa com seus filhos. É realmente um desconforto. Acho que nenhum ser humano deveria ter esse tipobet pix 365 clássicoconversa. É um peso adicional que nós temos, o pesobet pix 365 clássicoser negro nos Estados Unidos."
Apesarbet pix 365 clássicotudo, ela afirma ser otimista.
"Não me levanto todos os dias pensando no racismo e costumo seguir a vida acreditando que, a cada dia, abrem-se novas possibilidades. Mas,bet pix 365 clássicoforma geral, costumam acontecer coisas ao longo da vida, às vezes involuntárias, outras engraçadas, às vezes dolorosas, que me recordam que sou negra e faço parte dessa situação", ressalta ela.
"Às vezes me acontece na loja, quando me pedem uma identificação a mais que não pediram à pessoa branca que estava à minha frente. Ou quando as pessoas têm dificuldadebet pix 365 clássicoentender que sou presidente e CEO [diretora-executiva] desta grande organização.
"Às vezes, não consigo táxibet pix 365 clássicoNova York, o que me deixa meio paranoica", conta. "Eu diria que o último desejo da maioria dos afroamericanos, da maioria dos que não são brancos, é seguir a vida sem esse peso."
O que dá esperanças a Belk é o seu trabalho: "Ver que há tantas pessoas trabalhando,bet pix 365 clássiconegros a brancos, fazendo tudo o que podem para combater todo esse racismo e intolerância".
- Este texto foi originalmente publicadobet pix 365 clássicohttp://vesser.net/internacional-61792907
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