O que é a Cúpulaesporte clubeLíderes, na qual Biden deve pressionar Bolsonaro contra desmatamento na Amazônia:esporte clube

A guinada na política externa americana operada pelo ex-presidente Donald Trump preconizou a aproximação com expoentes da direita populista e conservadora mundial e concentrou os esforços - ou rompimentos - diplomáticosesporte clubeassuntos centrais para o eleitorado republicano, como a questão das disputas comerciais com a China ou as restrições à entradaesporte clubemigrantes e refugiados ao país. O mote da administração era América - e americanos - primeiro, e isso se traduziuesporte clubeuma ausência dos EUAesporte clubeassuntosesporte clubegovernança global.

Agora, a gestão democrata tenta restabelecer o papel que os EUA se atribuíramesporte clubefarol dos valores econômicos, democráticos e morais do Ocidente. "Vamos reparar as nossas alianças para liderar não só pelo exemplo da força mas pela força do exemplo", anunciou Biden,esporte clubeseu discursoesporte clubeposse,esporte clube20esporte clubejaneiro.

Naquele mesmo dia, ele assinou a ordem executiva que recolocava os Estados Unidos no Acordo Climáticoesporte clubeParis, do qual o ex-presidente Trump havia retirado os americanos. E apenas sete dias mais tarde anunciou que os EUA não apenas voltavam a se sentar à mesaesporte clubenegociações climáticas como seriam eles mesmos os responsáveis por colocar o assunto à mesa na Cúpulaesporte clubeLíderes que acontecerá dos próximos dias.

O evento servirá para que os americanos reafirmem compromissos que ignoraram nos últimos anosesporte clubetentar impedir que o planeta se aqueça acimaesporte clube1,5 grau Celsius no futuro. O governo Biden pretende anunciar, diante dos chefesesporte clubeEstadoesporte clube17 economias que juntas respondem por 80% das emissõesesporte clubegases do efeito estufa e por 4/5 do PIB global, metas mais ambiciosasesporte cluberedução das emissõesesporte clubeCO2 americanas até 2030.

"Em seu convite, o presidente exorta os líderes a usarem a Cúpula como uma oportunidade para delinear como seus países também contribuirão para uma ambição climática mais forte", afirma o comunicado da Casa Branca sobre o lançamento da Cúpula.

"Depoisesporte clubese ausentarem do debate, agora os EUA querem mostrar serviço e querem que haja um grande númeroesporte clubeacordos com os países da Cúpula para mostrar que retornam à arena com peso", avalia Tasso Azevedo, Coordenador do Sistemaesporte clubeEstimativaesporte clubeEmissõesesporte clubeGasesesporte clubeEfeito Estufa do Observatório do Clima. A Cúpulaesporte clubeLíderesesporte clubeagora é vista também como um passo importante para que as grandes potências mundiais se comprometam com planos mais ambiciosos na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que aconteceráesporte clubeNovembro,esporte clubeGlasgow, na Inglaterra.

O Brasil como trunfo

É nesse contexto que o Brasil surge como uma oportunidade para o governo Biden mostrar a consistênciaesporte clubesua agenda e a capacidadeesporte clubepersuasãoesporte clubeseus argumentos.

Bolsonaro se elegeu presidente com as propostasesporte clubereduzir multas ambientais, interromper as demarcaçõesesporte clubeterras indígenas e promover os interessesesporte clubeprodutores rurais. Os dois primeiros anosesporte clubeseu mandato foram marcados por sucessivas altas no desmatamento. A taxaesporte clubeperda florestal saltouesporte clube7,5 mil km2,esporte clube2018, para 10,1 mil km2 e 11,1 mil km2esporte clube2019 e 2020, sucessivamente. Foram os maiores valores desde 2008.

Ainda durante a campanha presidencialesporte clube2020, o democrata Biden afirmou que gostariaesporte clubeliderar o esforçoesporte clubecriaçãoesporte clubeum fundo internacionalesporte clubeUS$ 20 bilhões oferecido ao Brasil para manter a Amazônia conservada. Ao citar o Brasil, Biden mobilizava no imaginário do eleitor americano as imagensesporte clubequeimadas na floresta que correram o mundoesporte clube2019, no primeiro ano da gestãoesporte clubeBolsonaro.

"É claro que há toda uma simbologiaesporte clubenegociar com o Brasil, que tem sido identificado globalmente como refratário à preservação ambiental. Seria um trunfo do governo Biden obter um compromisso com Bolsonaro, um ganho não só internacional como também com o eleitorado americano democrata, que se preocupa bastante com o assunto", afirmou à BBC News Brasil,esporte clubecondiçãoesporte clubeanonimato, um diplomata brasileiro que acompanha as negociações entre Brasil e EUA no tema.

As primeiras aproximações entre a equipeesporte clubeJohn Kerry e as autoridades brasileiras, capitaneadas pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e pelo então chanceler Ernesto Araújo, pareceram produzir impressões positivasesporte clubeparte a parte. Do lado americano, os negociadores pareceram surpresos com a receptividade do Brasilesporte clubetratar do assunto do meio ambiente como uma "nova prioridade" desde que fosse incluída na negociação uma contrapartida financeira pelos serviços florestais do país.

Já entre diplomatas brasileiros, chamou a atenção o tom "humilde" e "flexível"esporte clubeKerry eesporte clubesua equipe à frente das propostas para o Brasil. Em meadosesporte clubeabril, à revista britânica The Economist, Kerry afirmou que não lhe cabia "ditar" o que o Brasil e que se trataesporte clube"um governo que se sentiu prejudicado pela forma como foi abordado até o momento". De acordo com fontes na diplomacia americana, a preocupaçãoesporte clubeKerry era não irritar a gestão Bolsonaro, o que poderia levar a uma interrupção completa das negociações caras aos americanos.

Pressão na negociação

Mas, nas últimas semanas, o governo americano aumentou o grauesporte clubepressão para que o Brasil se comprometa com metas clarasesporte clubecombate ao desmatamento e condicionou qualquer repasse significativoesporte cluberecursos ao país à apresentaçãoesporte cluberesultados. Exatamente o oposto do que o ministro Salles afirmou publicamente desejar. Em entrevista recente ao jornal O Estadoesporte clubeS. Paulo, o chefe da pastaesporte clubeMeio Ambiente afirmou esperar por pagamentos antecipados da ordemesporte clubeUS$ 1 bilhão por ano para que o Brasil pudesse se comprometeresporte clubereduzir entre 30% e 40% a devastação da Amazônia. Sem o recursoesporte clubeantemão, Salles afirmou que o país não poderia oferecer qualquer meta.

Diante da barganha, o Departamentoesporte clubeEstado americano fez chegar ao Itamaraty que não existe a possibilidadeesporte cluberepasses sem resultados. E que do sucesso da negociação climática dependeria também o futuroesporte clubeoutras pautas caras ao Brasil, como o avançoesporte clubeacordos comerciais bilaterais com os EUA e a manutenção do endosso americano à entrada do país na OCDE. Em caráter reservado, um representanteesporte clubeentidade comercial dos dois países, que participouesporte clubereuniões com as diplomaciasesporte clubeEUA e Brasil, afirmou que "os americanos deixaram muito claro que não vão comprar terreno na Lua".

Ao mesmo tempo, o governo americano passou a ser cada vez mais pressionado por grupos indígenas, integrantes da sociedade civil e até mesmo governadores e parlamentares brasileiros a ampliar o escopo das conversas. Todos eles se queixavamesporte clube que as propostas levadas por Salles e Araújo a Kerry não representavam os interesses mais amplos da sociedade brasileira, já que não houve processoesporte clubeescuta pública do governo federal a esses grupos.

Há um mês,esporte clubecarta revelada pela BBC News Brasil, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) pediu ao presidente americano Joe Biden e ao Enviado Climático Kerry um "canal direto"esporte clubecomunicação com o governo dos EUA sobre assuntos ligados à Amazônia brasileira. Na última terça-feira (13/04), tanto o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, quanto Jonathan Pershing, um dos assessoresesporte clubeKerry, participaramesporte clubeuma reunião com as lideranças indígenas.

"Eles se mostraram preocupados com o que relatamos e interessadosesporte clubeuma mudança da política ambiental do governo Bolsonaro. Eles sabem com quem estão negociando. E nós sabemos da capacidade delesesporte clubepressionar e estamos esperançosos porque foi uma aberturaesporte clubediálogo inédita", afirmou à BBC News Brasil Dinaman Tuxá, coordenador da APIB.

A conversa dos representantes americanos com os indígenas brasileiros foi mais um sinal da gestão Bidenesporte clubeque o governo brasileiro precisará oferecer compromissos concretos e consistentes para que haja um anúncio bilateralesporte clubecompromisso no dia 22.

Dentro do Itamaraty há um claro entendimentoesporte clubeque, sem isso, o país não vai abocanhar recursos americanos. A sinalização da meta possível, no entanto, é fraca. Nesta quarta (14/04), o vice-presidente da República Hamilton Mourão anunciouesporte clubeDiário Oficial que o país trabalha com a expectativaesporte clubefechar a gestão Bolsonaro com um desmatamentoesporte clubetornoesporte clube8,7 mil km2 por ano. É certamente uma reduçãoesporte cluberelação aos dois primeiros anos da administração, mas é também um valor maisesporte clube15% acima do patamar obtido no ano anterior à posseesporte clubeBolsonaro. Mesmo entre negociadores brasileiros há ceticismoesporte clubeque esse número anime os americanos a abrirem o bolso.

Se um acordo bilateral falhar, resta ainda a possibilidadeesporte clubeuma saída multilateral: a proposta da criaçãoesporte clubeum fundoesporte clubetornoesporte clubeUS$ 10 bilhões que se destinaria aos países da América do Sul para a conservação dos biomas tropicais da área. Assim, os EUA poderiam usar o peso dos vizinhos brasileiros para aumentar a pressão sobre as ações ambientaisesporte clubeBolsonaro.

Na última semana, o governo Biden enviou pela primeira vez um emissárioesporte clubealto nível à região. O diretor sênior para o Hemisfério Ocidental no Conselhoesporte clubeSegurança Nacional, Juan Gonzalez, embarcou para uma visita a Colômbia, Argentina e Uruguai, para discutir, entre outros temas, a crise climática. O Brasil não estava no itinerárioesporte clubeGonzalez.

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