A dura realidade da saúde pública no Chile: ‘Se você não tem dinheiro, morre’:cassino como ganhar
Naquela época,cassino como ganhar2013, se Berta tivesse dinheiro para bancar um tratamento particular, o problema provavelmente teria se resolvido.
No entanto, como a grande maioria dos chilenos, ela é atendida pelo Fundo Nacionalcassino como ganharSaúde (Fonasa), o serviço públicocassino como ganharsaúde do Chile. E pedidos por melhorias nesse sistema se tornaram um dos motes dos recentes protestos no Chile.
Depois do início das dores, Berta nunca imaginou que entrariacassino como ganharum ciclo interminávelcassino como ganharespera por consultas e exames.
"Esperei uma consulta por três anos", diz. Após o diagnóstico, ela foi encaminhada a um centrocassino como ganharassistência hospitalar para uma consulta com um médico. "Quando cheguei ao hospital, o médico disse: 'Sinto muito, aqui não tratamos desse problema, não temos esses especialistas'".
Há algumas semelhanças com as deficiências do Sistema Únicocassino como ganharSaúde (SUS) brasileiro:cassino como ganhar2018, pesquisa feita pelo Datafolha para o Conselho Federalcassino como ganharMedicina apontou que 82% dos entrevistados se queixavam do tempocassino como ganharespera para consultas, 80% do tempocassino como ganharespera para examecassino como ganharimagem e 79% do tempocassino como ganharespera para cirurgias.
Em 2015, quando Berta tinha 46 anos, ela teve que retornar ao mesmo consultóriocassino como ganharque tinha iniciadocassino como ganharjornada.
"Voltei ao médico e pedi uma consulta no hospital San Borja Arriarán, na região onde eu moro, mas, enquanto isso, o tempo passou e eu não aguentava mais a dor".
"Um cinesiologista me disse que a doença já havia avançado muito e que ele não poderia me ajudar sem a opiniãocassino como ganharum especialista", disse.
Berta esperou mais três anos até que finalmente recebeu uma ligação que poderia dar uma solução a seu problema.
"Eles me ligaramcassino como ganharSan Borja Ariaráncassino como ganhar9cassino como ganharabril deste ano deste ano. Me disseram que iriam fazer uma infiltração na minha coluna. Eu fiquei tão feliz, tão feliz, mesmo que não fosse a operação que eu precisava. Pensei que finalmente meu problema seria resolvido, mesmo que fosse com uma solução diferente (da usual). Pensei que não sentiria mais dor".
Porém, nenhuma das dez sessõescassino como ganharinfiltração prometidas pelo Fonasa se realizou até agora.
"Sinto que eles estão brincando comigo. Toda vez que vou perguntar, eles me dizem: 'senhora, não venha aqui, você tem que esperar, o sistema é assim.' Sinto uma raiva, uma impotência... Porque você acreditacassino como ganharuma ilusão e eles não querem você. Você sabe que eles não se importam com você", diz Berta.
Berta moracassino como ganharum pequeno apartamentocassino como ganhardois quartos na comunidadecassino como ganharCerrillos,cassino como ganharSantiago, ao ladocassino como ganharseu marido Juan Véjar ecassino como ganhartrês filhos.
Juan é assistentecassino como ganharvinícola e ganha o salário mínimo equivalente a 301 mil pesos (cercacassino como ganharR$ 1.600), dinheiro que mantém toda a família, pois Berta não consegue mais trabalhar.
Em tese, o Fonasa garante cobertura totalcassino como ganharsuas despesas médicas. No entanto, ninguém informou quanto tempo ela deveria esperar para acessar esse benefício. Já se passaram maiscassino como ganharseis anoscassino como ganhardores constantes.
"Eu já perdi a esperança. Sinto que isso é uma brincadeira. Uma vidacassino como ganharpura injustiça. Se você não tem dinheiro neste país, você morre."
Diante da situação extrema, seu marido, Juan, até pensoucassino como ganharmedidas desesperadas.
"Descobrimoscassino como ganharuma clínica particular, que cobra cercacassino como ganhar5 milhõescassino como ganharpesos (cercacassino como ganharR$ 26 mil) pela operação. Então meu marido me disse: 'Vamos vender o apartamento para que você possa operar'... Mas respondi que precisamos deixar a casa para nossos filhos... Vamos deixar assim. Aprendi a viver com dor".
"Estoucassino como ganharum estado muito ruim, fisicamente e emocionalmente. Sofri depressão. Sinto que neste país é um pecado ser pobre. Estamoscassino como ganharuma sociedade que não enxerga os pobres: os ricos estão ficando mais ricos e os pobres, mais pobres".
Os números da desigualdade
O médico José Miguel Bernucci, secretário nacional da Faculdadecassino como ganharMedicina do Chile, diz que "o problema que estamos tendo, e que vem aumentando com o tempo, são as diferenças que os pacientes encontram nos sistemas público e privado".
No sistemacassino como ganharsaúde chileno, a desigualdade está fortemente presente.
O Fonasa, órgão público que administra os fundos do Estado para a saúde, atende 80% da população e divide seus beneficiárioscassino como ganharquatro seções,cassino como ganharA a D,cassino como ganharacordo comcassino como ganharrenda econômica — sendo A a mais baixa.
17% dos chilenos usam os Isapre ou instituiçõescassino como ganharsaúde previdenciária. O percentual restante corresponde ao sistemacassino como ganharsaúde das Forças Armadas.
Os Isapre são entidades privadascassino como ganharsaúde, com as quais o paciente assina um contrato. Cercacassino como ganhar7% do salário mensal bruto do paciente é destinado a essas instituições privadas. Quanto mais dinheiro você paga, mais benefícios terá.
Nesse ponto começam as diferenças entre os dois sistemas.
"No Chile, os gastos com saúde ficamcassino como ganhar50% para entidades privadas e 50% para o sistema público. Parece justo, mas precisamos entender que 80% das pessoas são atendidas no serviço público", diz Bernucci.
Há mais mais alguns agravantes, segundo ele.
"Em saúde, existe um fator chamado determinantes sociais, que diz que as pessoas mais pobres têm a tendência a ficar mais doentes e, portanto, a gastar mais com saúde do que os mais ricos."
Ou seja, a população mais vulnerável fica mais desprotegida no país.
Há outro conceito, chamado "despesas diretas", que é o dinheiro que sai diretamente da renda primáriacassino como ganharcada família para bancar a saúde. Nesse ponto, o Chile também não se sai muito bem.
Segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançado neste ano, a média desse tipocassino como ganhargastocassino como ganharseus países-membros écassino como ganhar20,6% da renda das famílias. No entanto, no Chile, esse valor sobe para 35,1%, ocupando o terceiro lugar nos países com os maiores custos diretos com saúde, apenas abaixo da Letônia e do México.
Em comparação, enquanto os brasileiros gastaramcassino como ganharseu próprio bolso o equivalente a US$ 351 per capitacassino como ganhar2016cassino como ganhardespesas com saúde, os chilenos gastaram US$ 766cassino como ganhar2018, também segundo a OCDE.
Para Bernucci, esse é um fato que fala por si. "Isso gera desigualdade imediata, porque cria uma diferença entre os gruposcassino como ganharpacientes que não podem pagar, aqueles que podem pagar menos e aqueles que podem pagar mais".
Em outras palavras, a saúde, a vida e a morte dependem do quanto o cidadão chileno têm disponível para gastar.
Embora o sistema público deva atender a maioria das pessoas, conseguir uma consulta não é tarefa simples, como mostra a históriacassino como ganharBerta.
Segundo informações do Ministério da Saúde,cassino como ganharjunhocassino como ganhar2019, maiscassino como ganhar1,5 milhãocassino como ganharpessoas estavamcassino como ganharlistacassino como ganharesperacassino como ganharum especialista oucassino como ganharuma cirurgia.
No total, existem maiscassino como ganhar1,8 milhãocassino como ganharsolicitações.
Maiscassino como ganhar130 mil desses pedidos estão abertos há dois ou três anos. Pouco maiscassino como ganhar80 mil solicitações existem há maiscassino como ganhartrês.
"Cercacassino como ganhar54% das horascassino como ganhartrabalho dos médicos chilenos são preenchidas no setor privado e os 46% restantes no público", diz Bernucci. Ou seja, os 80% da população que usam o sistema público têm muito menos chancescassino como ganharreceber atenção médica do que os 20% mais privilegiados.
As históriascassino como ganharpessoas que morreram à esperacassino como ganharuma consulta ou cirurgia são contadas às centenas. Em alguns casos, a autorização para o procedimento só ocorre depois que o paciente já morreu.
Bernucci diz que é necessário mais espaço na saúde pública e, claro, mais recursos financeiros. "Precisamoscassino como ganharuma mudança na lógicacassino como ganharfinanciamento da saúde para reduzir a desigualdade", diz o médico.
Ele também afirma que a faltacassino como ganharprofissionais no serviço público é uma questãocassino como ganhargestão e financiamento do setor, e não apenas da vontade dos profissionais.
O governo propõe soluções?
Em conversa com a BBC News Mundo, serviçocassino como ganharespanhol da BBC, a médica Paula Daza, subsecretáriacassino como ganharSaúde Pública do Chile, falou sobre como o governo tem enfrentado essa situação, que, embora se arraste há muitos anos, está se tornando visível hoje mais do que nunca por causa dos protestos.
"Temos percebido que o sistema melhorou efetivamente, temos um serviço sólidocassino como ganharsaúde, temos um número significativocassino como ganharhospitais públicos, temos profissionaiscassino como ganharsaúde, mas continuamos a fazer as coisas da mesma maneira", diz Daza. "O númerocassino como ganharespecialistas que temos não dá conta do númerocassino como ganharpessoas que temoscassino como ganharatender. Isso é uma realidade", diz.
Para isso, afirma, existe um plano especial que já estácassino como ganharfuncionamento há algum tempo e está progredindo sistematicamente.
"Hoje temos um sistema que funciona, mas obviamente não responde às demandas. E é por isso que novos sistemas estão sendo implementados para fornecer respostas".
Um desses novos mecanismos é o chamado Hospital Digital. Ele é um hospitalcassino como ganharbase, com especialistas médicos e equipe preparada para responder às perguntascassino como ganhardiferentes partes do país. O objetivo é agilizar os processos.
"O Hospital Digital foi uma criação nacional, do médico Emilio Santelices (ex-ministro da Saúde), que reuniu muitas ideiascassino como ganharvárias partes e conseguiu criá-lo. Não vai resolver todos os problemas, é um apoio aos serviçoscassino como ganharsaúde, mas é claramente uma melhoria na gestão, atenção, oportunidade", diz Daza.
Embora o orçamento da saúde para 2020 vá aumentarcassino como ganhar5,7%, o Hospital Digital teve um cortecassino como ganharrecursos. No entanto, a subsecretáriacassino como ganharSaúde Pública garante que o hospital continua sendo uma prioridade para o governo.
Segundo ela, há mais propostascassino como ganharandamento no setor.
"Uma delas é a conta do seguro que visa cobrir doenças graves, que é muito urgente e esperamos que seja divulgada rapidamente", diz Daza. Esse projeto está alinhado com a reduçãocassino como ganharlistascassino como ganharespera e a reduçãocassino como ganhardespesas diretas com saúde.
Porcassino como ganharvez, no dia 9cassino como ganharnovembro, o ministro da Saúde do Chile, Jaime Mañalich, anunciou quecassino como ganhardezembro apresentará uma grande reforma do sistema público.
"Estamos propondo uma reforma muito importante, eu diria a mais importante para o Fonasa nos últimos 40 anos,cassino como ganharconsonância com as demandas dos movimentos sociais", afirmou o ministro.
Já Daza diz que entende a angústia e o drama dos pacientes. "Esta é uma questão muito complexa, tremendamente sensível, é importante resolvê-la com urgência", diz.
Após o acordo entre o governo e a oposição para redigir uma nova Constituição para o Chile, Bernuccia afirma que a saúde pública deve ser prioridade.
"A Constituição do Chile diz que o cidadão tem o direitocassino como ganharescolher o sistemacassino como ganharsaúde, seja ele público ou privado, mas não possui uma disposição sobre o próprio direito à saúde. Uma mudança na Constituiçãocassino como ganharrelação à garantia do direito à saúde é fundamental e é tônica das manifestações atuais".
Talvezcassino como ganharum futuro próximo, Berta finalmente consiga receber o tratamento ideal. Os recentes protestos podem ter motivado uma mudança importante no sistemacassino como ganharsaúde do Chile.
"Fico um pouco feliz que esses protestos tenham surgido, (foi bom) para mim e para tantas pessoas que estão doentes. Os jovens foram ousados. Se eu pudesse me mover, sairia com uma placa dizendo que há anos estou esperando por saúde", diz ela.
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