Seca no Chile: animais morremformel 1 betfomeformel 1 betmeio à pior criseformel 1 betáguaformel 1 bet50 anos:formel 1 bet
A triste realidade que Aldo Norman enfrenta não está isolada. O mesmo está acontecendo com famíliasformel 1 betsete regiões do Chile, do norte do deserto do Atacama até a regiãoformel 1 betÑuble, no centro-sul do país.
A razão? A seca intensa que atinge o país sul-americano e que se arrasta há pelo menos dez anos.
Em 2019, no entanto, o problema ficou mais grave.
A capital do país, Santiago, por exemplo, teve apenas 81 milímetrosformel 1 betchuvas neste ano,formel 1 betacordo com a Direção Meteorológica do Chile. Enquanto isso, Valparaíso, segunda cidade mais importante do Chile, teve apenas 82 mmformel 1 betprecipitações – a média histórica éformel 1 bet397 mm.
Como comparação, embora seja três vezes maiorformel 1 betterritório que Santiago, a cidadeformel 1 betSão Paulo registrou 1.272,7 milímetrosformel 1 betchuvasformel 1 betjaneiro a setembro, segundo o Centroformel 1 betGerenciamentoformel 1 betEmergências (CGE), órgão da prefeitura. Sóformel 1 betfevereiro, foram computados 375 mm.
O mesmo cenárioformel 1 betfaltaformel 1 betchuvas se repeteformel 1 betvárias áreas do Chile, com um déficitformel 1 betmaisformel 1 bet85%formel 1 betcidades como La Serena, no norte.
E a previsão para o futuro não é animadora, porque a temporada primavera-verão está apenas começando, e as temperaturas, no centro do Chile, já estão acimaformel 1 bet30ºC.
Segundo o governo e especialistas do Chile, esta é a crise hídrica mais profunda desde 1968.
A escassezformel 1 betchuvas causou um colapso nos sistemasformel 1 betirrigaçãoformel 1 betvárias províncias do país, e milharesformel 1 betpessoas tiveram que ser abastecidas com água por meioformel 1 betcaminhões-pipa.
Cercaformel 1 bet34 mil animais morreramformel 1 betvirtude da seca.
Segundo o Ministério da Agricultura do Chile, existem também 470 mil cabras, 170 mil bois e vacas e 150 mil ovelhasformel 1 bet"más condições" – ou seja, os animais estão desnutridos e fracos.
A situação é ainda pior se considerarmos que, com o gado magro, os preços por animal caíram acentuadamente, enquanto o valor da forragem para alimentá-los disparou.
"O preçoformel 1 betum bezerro chegava a 200 mil pesos (cercaformel 1 betR$ 1,1 mil,formel 1 betcotação atual) e agora estáformel 1 betapenas 60 mil pesos (R$ 348)", explica Aldo. Ele acrescenta: "Se você não tem recursos, não pode comprar forragem... É por isso que as pessoas estão decidindo vender seus animais a qualquer preço, para que eles não morram".
A apicultura (criaçãoformel 1 betabelhas) também foi severamente afetada pela seca. A escassezformel 1 betágua fez com que muitas plantas não florescessem como deveriam,formel 1 betacordo com o seu ciclo natural. Portanto, o néctar necessário para as abelhas não está sendo produzido.
"Quem deixar suas abelhas aqui vai simplesmente perdê-las", diz Andres, um apicultor que, depoisformel 1 bet25 anosformel 1 betQuilpué – regiãoformel 1 betValparaíso –, decidiu mudar suas 260 colméias para Linares, uma cidade localizada no centro-sul do Chile.
"Eu nunca tinha visto nada assim, a seca está muito acentuada. Há pessoas avaliando se vale a pena continuar aqui, ou se é horaformel 1 betcomprar algo mais ao sul e simplesmente migrar", acrescenta o apicultor.
A falaformel 1 betAndrés não é aleatória: alguns produtores,formel 1 betfato, já decidiram se mudar para mais ao sul.
Em 12formel 1 betsetembro, por exemplo, 180 pequenos produtores foram transferidos com seus animais das áreasformel 1 betIllapel e Salamanca, na regiãoformel 1 betCoquimbo, para um local pertoformel 1 betÑuble.
O mesmo está acontecendo, masformel 1 betescala maior,formel 1 betoutras cidades da região, como o Monte Patria. Segundo um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), 15% daformel 1 betpopulação da área (cercaformel 1 bet5 mil pessoas) já emigraram por razões climáticas.
E,formel 1 betacordo com a prefeita da regiãoformel 1 betCoquimbo, Lucia Pinto, essa área está passando por um processoformel 1 betdesertificação que "não tem retorno".
Mudanças climáticas e desertificação
Mas qual é a dimensão da seca chilena e qual o papel das mudanças climáticasformel 1 bettudo isso?
Segundo a meteorologista María Alejandra Bustos, embora tenham sido observadas secas comparáveis à atual no Chile, como as dos anos 1998, 1988, 1968 e 1924, a grande diferença é que essa crise hídrica ocorre durante um períodoformel 1 bet10 anos secos consecutivos.
"Isso faz com que ele tenha características mais agudas. E, além disso, a frequência desses eventos tem aumentado", disse Bustos à BBC News Mundo, serviçoformel 1 betespanhol da BBC.
O pesquisador do Escritórioformel 1 betMudanças Climáticas do Chile acrescenta que "a tendência médiaformel 1 betprecipitação entre 1961-2018 diminuiuformel 1 bet23 mm por década para todo o país, uma queda particularmente concentrada nas zonas central e sul".
Em relação à importância das chamadas mudanças climáticas para a escassezformel 1 betágua no Chile, existem diferentes posições.
María Alejandra Bustos afirma que, enquanto o Centroformel 1 betCiência do Clima e da Resiliência, conhecido como (CR) 2, ressalta que cercaformel 1 betum quarto do déficitformel 1 betchuvas é atribuível à mudança climática antrópica, existem outras publicações – como uma recentemente desenvolvida pela Fundação Chile – que determina que, dentre as causas, apenas 12% dessa queda pode ser explicada por esse fator.
Mesmo assim, há uma coincidência no fatoformel 1 betque a desertificação esteja avançando nos solos do norte, centro e sul do Chile. Esse fenômeno – que tem a ver com a degradação do solo – afeta a produtividade, a biodiversidade e o ecossistema como um todo.
Segundo um relatório recente publicado pelo Painel Intergovernamentalformel 1 betMudanças Climáticas (IPCC), a desertificação afeta 2,7 milhõesformel 1 betpessoasformel 1 bettodo o mundo.
Na investigação, chamada "Mudança climática e terra", há um capítulo especial sobre o Chile, que afirma que a erosão do solo afeta 84% do território da regiãoformel 1 betCoquimbo, 57% do territórioformel 1 betValparaíso e 37% do solo na áreaformel 1 betO'higgins.
Francisco Meza foi o único chileno que participou da elaboração do relatório. O pesquisador, do Centroformel 1 betMudança Global da Universidade Católica do Chile, diz que o processoformel 1 betdesertificação está avançando por duas razões.
"Primeiro, porque vemos sinaisformel 1 beterosão e perdaformel 1 betcapacidade produtiva da terra, e também porque estamos passando por uma seca muito importante. Foi o que mais nos impactou nos últimos dez anos", disse ele à BBC News Mundo.
Agora, há quem afirme que os limites do desertoformel 1 betAtacama – o mais seco do mundo – esteja se movendo para o sul.
Com baseformel 1 betum relatório chamado Atlasformel 1 betMudanças Climáticas da Zona Árida do Chile, a meteorologista María Alejandra Bustos diz que, enquanto a zona central do Chile sempre teve um "regime semi-árido", as tendências do regimeformel 1 betaridez mostram um avanço do limite do desertoformel 1 betdireção ao sul".
Francisco Meza, entretanto, diz que o deserto está avançando "porque estamos experimentando uma tendência muito forteformel 1 betaridez e porque vemos padrões muito acentuadosformel 1 betdegradação da terra".
No entanto, ele esclarece que esse avanço não é físico. "Não é que as areias estejam se movendo para o sul", diz ele.
Para o acadêmico, essa desertificação não tem apenas a ver com fatores climáticos. O manuseio inadequado da terra – como a exploração excessiva e a faltaformel 1 betmedidasformel 1 betrestauração – também é um ponto fundamental na explicação da degradação.
"Quando a terra é degradada dessa maneira, a riqueza das espécies é empobrecida, então você perde a diversidade e o ecossistema é enfraquecido", explica Meza.
Obrasformel 1 betirrigação e investimento
Atualmente, existem 56 municípios sob um decretoformel 1 betescassezformel 1 betáguaformel 1 betcinco regiões do Chile: Coquimbo, Valparaíso e Metropolitana, O'Higgins e Maule. Maisformel 1 bet100 localidades, entretanto, foram declaradas zonasformel 1 betemergência agrícola.
Segundo o governo, os fluxos fluviais nessas áreas têm déficitsformel 1 betaté 84%formel 1 betcomparação com as médias históricas.
"As mudanças climáticas chegaram para ficar e temos que agir", disse o ministro da Agricultura do Chile, Antonio Walker.
O ministro acrescenta que "a desertificação é uma realidade e o grande desafio agora é como lidar com esses solos degradados e transformá-losformel 1 betmatéria orgânica eformel 1 betalto carbono".
Para fazer isso, Walker diz que grandes obrasformel 1 betirrigação devem ser produzidas.
"Não construímos a infraestruturaformel 1 betirrigação para tirar proveito da água. Precisamos fazer reservatórios, uma nova institucionalidade da água, tratar esgotos, entre outras ações", diz ele.
"Esta é uma estação muito difícil, e a seca é mais grave do que aformel 1 bet1968, porque, com a mesma pluviosidade, temos uma agricultura, uma economia e uma população muito maiores", acrescenta o ministro.
Mas, até que esses investimentos sejam feitos, a verdade é que produtores e fazendeiros como Aldo Norman não encontrarão uma solução a longo prazo.
A única saída, diz Norman, é migrar para o sul ou desistir da criaçãoformel 1 betgado.
"Não vamos aguentar mais um ano seco", lamenta.
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