Brasil na OCDE: O que o país cedeu aos EUAsport pixbettrocasport pixbetapoio à entrada no 'clube dos países ricos':sport pixbet
Esse texto foi atualizado às 14h40sport pixbet15sport pixbetjaneirosport pixbet2020.
sport pixbet Depoissport pixbetparecer que não o faria, o presidente americano, Donald Trump, deve cumprir uma promessa que fez ao presidente Jair Bolsonaro no primeiro semestre do ano passado — asport pixbetapoiar o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Quando Bolsonaro visitou Trump na Casa Branca,sport pixbetmarço do ano passado, saiusport pixbetlá tendo ouvido do presidente americano que ele se comprometeria com o apoio.
Meses e muitas concessões brasileiras depois, o secretáriosport pixbetEstado Americano, Mike Pompeo, defendeu abertamente o ingresso da Argentina, e não do Brasil, no gruposport pixbet36 países que compõem a organização, fazendo parecer que as cessões brasileiras haviam sidosport pixbetvão.
Nesta terça-feira (14), os Estados Unidos voltaram à promessa inicial, anunciando o apoio ao ingresso do Brasil na OCDE. "Os Estados Unidos querem que o Brasil se torne o próximo país a começar o processosport pixbetadmissão na OCDE. O governo brasileiro está trabalhando para alinhar suas políticas econômicas com os padrões da OCDE enquanto prioriza a admissão à OCDE para reforçar as reformas econômicas", afirmousport pixbetnota um porta-voz do Escritóriosport pixbetAssuntos do Hemisfério Ocidental do Departamentosport pixbetEstado americano.
"Anúncio americanosport pixbetprioridade ao Brasil para ingresso na OCDE comprova uma vez mais que estamos construindo uma parceria sólida com os EUA, capazsport pixbetgerar resultadossport pixbetcurto, médio e longo prazo,sport pixbetbenefício da transformação do Brasil na grande nação que sempre quisemos ser", publicou no Twitter o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Bolsonaro também comentou a manifestação dos EUA na manhã desta quarta-feira. "A notícia foi muito bem-vinda. Vinha trabalhando há mesessport pixbetcima disso,sport pixbetforma reservada obviamente. Houve o anúncio [dos EUA], são maissport pixbet100 requisitos para ser aceito, estamos bastante adiantados, inclusive na frente da Argentina. E as vantagens do Brasil são muitas, equivalem ao nosso país entrar na primeira divisão", afirmou.
O apoio às pretensões brasileirassport pixbetestar na OCDE era considerado pelo Itamaraty como seu principal resultado na política internacionalsport pixbetalinhamento aos Estados Unidos adotada na gestão atual.
No entanto,sport pixbetoutubro do ano passado, revelou-se que Pompeo havia defendido a entrada da Argentina, e não do Brasil, na OCDE,sport pixbetuma carta datadasport pixbetfinalsport pixbetagosto. Na época, a informação foi revelada pela Bloomberg e confirmada por outros veículos, inclusive a reportagem da BBC News Brasil.
Agrados aos EUA
A OCDE, atualmente com 36 países, é um fórum internacional que promove políticas públicas, realiza estudos e auxilia no desenvolvimentosport pixbetseus membros, fomentando ações voltadas para a estabilidade financeira e fortalecer a economia global.
Foi criadasport pixbet1960, por 18 países europeus mais EUA e Canadá. Alémsport pixbetincluir vários dos países mais desenvolvidos do mundo, o grupo abriu suas portas para naçõessport pixbetdesenvolvimento como México, Chile e Turquia. Brasil, Índia e China têm statussport pixbetparceiros-chaves.
O Brasil apresentou um pedido formal para ingressar na OCDEsport pixbet2017, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
A expectativa erasport pixbetque o pedido fosse atendido rapidamente, mas as negociações emperraram. Um dos entraves seria justamente a posição do governo dos EUA: além do Brasil, havia outros países pleiteando a entrada, e Washington considera que a entradasport pixbetmassasport pixbettodos eles descaracterizaria a organização.
Alémsport pixbetArgentina e Romênia, desejam fazer parte do grupo países como Peru, Croácia e Bulgária.
Antessport pixbetMichel Temer, durante os governos dos petistas Lula e Dilma Rousseff, o país não pleiteava o ingresso na organização. Apesar disso, o Brasil já trabalha com a OCDEsport pixbetdiversos temas desde a décadasport pixbet1990.
Para além do apoio ao pleito brasileiro na OCDE, Brasil e EUA também firmaram uma sériesport pixbetcompromissos comerciais. Bolsonaro concordousport pixbetabrir uma cota anualsport pixbet750 mil toneladassport pixbettrigo americano com tarifa zero, medida que afeta a Argentina, principal vendedorsport pixbettrigo para o Brasil.
No fimsport pixbetagosto, o Ministério da Economia decidiu não só prorrogar por mais um ano a importaçãosport pixbetetanol americano isentasport pixbetuma tarifasport pixbet20%, como elevou a cota dos 600 milhõessport pixbetlitros para 750 milhõessport pixbetlitros — a taxa passa a ser cobrada quando o volume negociado supera a cota.
A medida atendeu principalmente aos interesses dos americanos, os maiores exportadores ao Brasil,sport pixbetetanol, produzido a partir do milho — segundo dados oficiais, 99,7% do etanol importado pelo país vem dos EUA. Desagradou,sport pixbetcontrapartida, produtores do Nordeste brasileiro, que consideram desleal a competição com o preço oferecido pelos americanos,
Desde 2016, o Brasil é o país que mais compra etanol americano. A expectativa dos produtores brasileiros erasport pixbetque o governo americano liberasse seu mercadosport pixbetaçúcar, um dos mais protegidos do mundo, mas não houve essa contrapartida por enquanto.
Concessões concretassport pixbettrocasport pixbetapoio simbólico
"A negociação (para o apoio dos EUA à entrada brasileira na OCDE) envolveu concessões muito concretas do Brasilsport pixbettornosport pixbetexpectativassport pixbetapoio mais simbólico dos americanos", afirma Elaini da Silva, professorasport pixbetrelações internacionais da PUC.
Silva cita outros exemplos, como a concessão aos EUA da exploração da base espacialsport pixbetAlcântara, no Maranhão, a isençãosport pixbetvistos para turistas do país sem reciprocidade para brasileiros, e o fatosport pixbeto Brasil ter abdicado do statussport pixbetpaíssport pixbetdesenvolvimento nas negociações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), o que poderia trazer prejuízos tarifários às exportações brasileiras.
O tratamento diferenciado prevê benefícios para países emergentessport pixbetnegociações com nações ricas. O Brasil tinha, por exemplo, mais prazo para cumprir determinações e margem maior para proteger produtos nacionais.
Além do impacto direto nas futuras negociações comerciais brasileiras, essa decisão afetou a relação com países do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.
Isso porque essas nações vão acabar sendo mais pressionadas a abrir, também, mão do tratamento diferenciado. E a Índia já está retaliando o Brasil.
"Na OMC, a Índia já vetou outro dia a nomeaçãosport pixbetum embaixador brasileiro para negociar questões na áreasport pixbetpesca e foi um veto ligado exatamente a essa negociação entre Estados Unidos e Brasil pela entrada na OCDE", explicou à BBC News Brasil antes da reviravolta o professor Marco Vieira, da Universidadesport pixbetBirmingham, no Reino Unido.
"Portanto, o Brasil está se isolando não só no contextosport pixbeteconomias-chave na Europa e no acordo do Mercosul, mas também com parceiros do Sul global: as economias emergentes como a Índia."
Bolsonaro também não colocou na mesa para discussão o aumento protecionistasport pixbetimpostos sobre o aço — medidasport pixbetTrump contra os chineses que prejudicou o Brasil, tampouco o fim dos subsídios governamentais à produçãosport pixbetsoja americana, que a torna competitivasport pixbetrelação à safra nacional do grão.
E, além disso, o Brasil tem endossado a visão americana para o Oriente Médio. Antessport pixbetse eleger, Bolsonaro comprometeu-se a transferir a Embaixada brasileirasport pixbetTel Aviv para Jerusalém, assim como fez Trump. Depois, recuou. A medida é polêmica, já que os países árabes defendem que a cidade deverá tersport pixbetsoberania repartida entre israelenses e palestinos.
Em dezembro, o Brasil inaugurou um escritório comercialsport pixbetJerusalém. Presente, o filhosport pixbetBolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), disse que aquele seria um primeiro passo para a transferência da Embaixada do Brasilsport pixbetIsrael para Jerusalém. "[Meu pai] me disse que existe um compromisso firme, que a transferência da Embaixada a Jerusalém será realizada", disse o deputado.
Pressa?
Trump também anunciou no ano passado o Brasil como seu "aliado preferencial extra-Otan" — nome para designar países que não são membros da aliança Organização do Tratado do Atlâncito Norte (Otan) mas que são aliados estratégicos militares dos EUA, ou seja, que terão um relacionamentosport pixbettrabalho estratégico com as Forças Armadas americanas.
Para o Brasil, isso significa vantagenssport pixbetacesso a tecnologia militar americana. Mas, segundo alguns analistas, também poderia arrastar o país para conflitos e disputas com países como China e Rússia, algo totalmente fora da agenda brasileira, alémsport pixbetsersport pixbetinteresse dos EUA porque colocaria o país emsport pixbetáreasport pixbetinfluênciasport pixbetmaneira ainda mais segura.
As concessões brasileiras, no entanto, talvez tenham sido apressadas.
"Como o Brasil tem se mostrado um aliado incondicional da gestão Trump, é provável que eles queiram extrair ainda mais concessões do país", afirma o embaixador Paulo Robertosport pixbetAlmeida.
Reviravolta
Quando o apoio dos EUA à entrada da Argentina na OCDE foi revelada,sport pixbetoutubro do ano passado, o governo brasileiro foi tomadosport pixbetsupresa.
Havia dentro do próprio governo a expectativasport pixbetque o apertosport pixbetmãos com Trump seria o suficiente para que o Brasil furasse a filasport pixbetnações postulantes a membros da OCDE. O protocolo, no entanto, se impôs.
"A diplomacia internacional tem um tempo próprio, bem mais lento que o tempo da políticasport pixbetredes sociais do Bolsonaro. O processosport pixbetingresso na OCDE leva anos. O presidente quis sugerir àsport pixbetbase quesport pixbetrelação especial com Trump faria milagres, mas não existem milagres", afirma Guilherme Casarões, professorsport pixbetpolítica internacional da Fundação Getúlio Vargas.
Após a repercussão da cartasport pixbetPompeo,sport pixbetoutubro do ano passada, a Embaixada dos EUA no Brasil divulgou comunicado reiterando apoio à entrada do Brasil na OCDE, mas ressaltando que expansão do grupo deve ser feita "em um ritmo controlado". Depois, o Departamentosport pixbetEstado americano divulgou nota afirmando que o país apoiava, sim, a entrada do Brasil na OCDE e que a carta revelada pela imprensa "não refletia com precisão a posição dos Estados Unidos"sport pixbetrelação à ampliação da organização.
"Apoiamos com entusiasmo a entrada do Brasil nesta importante instituição e os Estados Unidos farão um esforço grande para apoiar a entrada do Brasil", dizia o texto.
O secretário Pompeo reproduziu a mensagem no Twitter, afirmando também que o governo dos EUA dá apoio a que o Brasil "inicie o processo"sport pixbetentrada na OCDE. Bolsonaro retuitou as mensagens do americano acrescentando,sport pixbetinglês, a frase "Not today, fake news media!" ("Hoje, não, mídia mentirosa"sport pixbettradução livre).
Mais tarde, o próprio Trump postou sobre o assuntosport pixbetseu Twitter. Ele chamousport pixbet"fake news" a reportagem da Bloomberg e afirmou que "o comunicado conjunto que eu e o presidente Bolsonaro divulgamossport pixbetmarço deixa absolutamente claro meu completo apoio ao início do processo brasileiro para se tornar um membro da OCDE. Os Estados Unidos apoiam o presidente Jair Bolsonaro".
A mensagem deixa claro que os americanos consideram que o Brasil está apenas iniciandosport pixbetjornada para se mostrar apto a compor a OCDE.
Nos bastidores, autoridades brasileiras pressionaram pelo informe da embaixada para mitigar a reação negativa à cartasport pixbetPompeo. O Itamaraty e a embaixada brasileirasport pixbetWashington não comentaram. Já a OCDE afirmou que o ingressosport pixbetseis novos membros estásport pixbetcurso e que o processo é sigiloso e depende do consenso entre os membros atuais.
Publicamente, integrantes do governo agiram para minimizar a decisão dos EUA.
"Toda a histeria sobre a OCDE na imprensa revela o quão incompetentes e desinformadas são as pessoas que escrevem sobre política no Brasil. Não há fato novo. Os EUA estão cumprindo exatamente o que foi acordadosport pixbetmarço e agindosport pixbetacordo com o cronograma estabelecido na ocasião", afirmou no Twitter Filipe G. Martins, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais.
"Argentina enfrenta desafios conjunturais que tornam o início do processosport pixbetacessão emergencial. Por isso, Brasil e EUA concordaram com um cronograma que teria início com a Argentina. Trata-sesport pixbetfato público e notório, omitido pela imprensa por incompetência ou desonestidade", acrescentou.
À época, o americano Michael Shifter, presidente do think thank Inter-american Dialogue, especializado nas relações entre EUA e América Latina, classificou o acontecimento como "definitivamente um grande abalo para Bolsonaro, que apostou tudo nesse relacionamento com Trump".
"Parece que a decisão dos EUA é a visão tradicional, ir devagar com a entradasport pixbetpaíses na OCDE. Mas certamente Trump prometeu (a Bolsonaro) outra coisa", acrescentou.
Nasport pixbetvisão, o que ocorreu poderia indicar que, ao contrário do alardeado, as relações entre EUA e Brasil não mudaram tanto assim.
"(Há) esta certa admiração mútua entre Bolsonaro e Trump, e muito da retórica dos dois soa muito parecida. Mas quando o assunto são decisões reais, talvez as coisas não tenham mudado muito. Está tudo no nível superficial, e quando você precisa agir para construir uma parceria mais significativa, como se tornar membro da OCDE, os EUA basicamente aplicam seus critérios normais sobre a extensão da OCDE, o que tem sido mais ou menos a política tradicional (em governos anteriores)."
Segundo observadores, Bolsonaro confiavasport pixbetuma indicação expressa não apenas porsport pixbetpropalada proximidade presidencial com Trump. Desde março do ano passado, quando ocorreu a visita, o governo brasileiro fez uma sériesport pixbetconcessões, inclusive comerciais, aos americanossport pixbettroca do endosso à vaga na organização.
Agora, por fim, está obtendo apoio. Segundo a revista Época, responsável por revelar nesta terça, 14, a mudança do posicionamento dos EUAsport pixbetrelação ao Brasil na OCDE, a medida serve para "dar a impressão que o alinhamento brasileiro será recompensado", já que a sensação até agora ésport pixbetque o Brasil havia cedido mais do que ganhado.
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