Por que confundir populistas com fascistas é um equívoco, segundo pesquisador do Holocaustofreebet alibaba66Israel:freebet alibaba66

Fotofreebet alibaba66crianças no momento da libertação do campofreebet alibaba66Auschwitz,freebet alibaba6627freebet alibaba66janeirofreebet alibaba661945

Crédito, United States Holocaust Memorial Museum

Legenda da foto, Criançasfreebet alibaba66campofreebet alibaba66Auschwitz no diafreebet alibaba66sua libertação; tema é sensívelfreebet alibaba66Israel porque memória coletiva se baseia na história dos sobreviventes, diz historiador

Para Milgram, as declarações do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e do chanceler Ernesto Araújofreebet alibaba66associar o nazismo à esquerda corroboram erros históricos e encontram ecosfreebet alibaba66estratégias políticas que ganharam força nos EUA, na Polônia, na Hungria e mesmofreebet alibaba66Israel. "Governos populistas usam a incitação e o ódiofreebet alibaba66um grupo contra o outro para desacreditar inimigos, virtuais ou reais – muitos são apenas virtuais–, conquistar as massas, ficar no poder e difundir uma mensagem nacionalista ou até mesmo racista", afirma o pesquisador.

Segundo Milgram, as declaraçõesfreebet alibaba66Bolsonaro sobre o Holocausto ("podemos perdoar, mas não esquecer" o Holocausto) foram recebidas com uma indignação ainda maior no país porque foram feitas logo após repetir que o nazismo foi um movimentofreebet alibaba66esquerda no diafreebet alibaba66sua visita ao Museu do Holocausto.

O historiador afirma que a presença das palavras nacional-socialista no nome do partidofreebet alibaba66Hitler, argumentofreebet alibaba66Bolsonaro, era uma tática política para disputar eleitorado com a própria esquerda. Ele relembra que uma das primeiras medidas do regime nazista foi, inclusive, matar socialistas, comunistas e sindicalistasfreebet alibaba66camposfreebet alibaba66extermínio.

Milgram, que emigrou para Israel nos anos 1970, foi pesquisador por maisfreebet alibaba66três décadas do próprio Yad Vashem, o Museu do Holocausto, visitado por Bolsonarofreebet alibaba66Jerusalém, onde coordenou múltiplos estudos e editou a Enciclopédia dos Justos Entre as Nações (em referência aos não-judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus na época do Holocausto). Fez bacharelado, mestrado e doutorado na Universidade Hebraica e publicou, no Brasil efreebet alibaba66Portugal, livros sobre a história judaica.

freebet alibaba66 BBC News Brasil - Houve repercussãofreebet alibaba66Israel à fala do presidente Jair Bolsonaro sobre ser possível perdoar, mas não esquecer o Holocausto?

freebet alibaba66 Avraham Milgram - Houve grande repercussão, principalmente porque a declaração ocorreu logo após a visitafreebet alibaba66Bolsonaro a Israel e porque ele corroborou o que disse o chanceler (Ernesto) Araújo, no diafreebet alibaba66sua visita ao Museu do Holocausto (Araújo afirmara que o nazismo foi um movimentofreebet alibaba66esquerda, declaração repetida por Bolsonaro), no local que marca a mortefreebet alibaba666 milhõesfreebet alibaba66judeus pelo nazismo.

A frasefreebet alibaba66que "pode-se perdoar, mas não esquecer" recebeu manifestação do presidentefreebet alibaba66Israel, Reuven Rivlin (este escreveu, via redes sociais, que "sempre iremos nos opor àqueles que negam a verdade ou desejam expurgar nossa memória. (...) Nunca vamos perdoar ou esquecer"), com indignação, assim comofreebet alibaba66outros jornais.

campofreebet alibaba66Auschwitz

Crédito, Wiener Library/Press Association

Legenda da foto, Auschwitz, acima, foi o principal campofreebet alibaba66extermínio nazista; 'ao negar Holocausto, o que ocorreu ali se torna mais digerível para alguns', diz Milgram

O que é importante é que os leitores saibam que Israel é um país estabelecidofreebet alibaba661948, três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e o fim do Holocausto, que dizimou um terço do povo judeu. Chegaram ao país cercafreebet alibaba66300 mil sobreviventes do Holocausto, que viveram grandes tragédiasfreebet alibaba66camposfreebet alibaba66extermínio.

Ou seja, a memória do Holocausto é central na memória e na identidade coletivasfreebet alibaba66Israel. As pessoas se reconhecem como judeus e como israelenses pela centralidade do Holocausto emfreebet alibaba66memória. Há, portanto, uma sensibilidade muito grande (quanto ao tema), não existefreebet alibaba66igual pesofreebet alibaba66outros países.

Além disso, fala-se coisas sem base histórica, como que o nazismo era um movimentofreebet alibaba66esquerda, só porque o partido (de Hitler) tinha as palavras nacional-socialista no nome (o partido chamava-se Nacional Socialista da Alemanha).

Esse nome foi dado por Hitler no início do movimento apenas como uma questão tática,freebet alibaba66concorrer com o eleitoradofreebet alibaba66esquerda. Nunca houve a intençãofreebet alibaba66lutar pela classe obreira, explorada oufreebet alibaba66defender a igualdade (como os movimentosfreebet alibaba66esquerda).

O fato é que, logo que Hitler foi nomeado chanceler (premiê) da Alemanha e começou a transferência para um regime totalitário, uma das suas primeiras medidas foi destruir a esquerda. As primeiras vítimas dos camposfreebet alibaba66extermínio foram socialistas, líderes sindicais, comunistas.

O presidente (Jair Bolsonaro) cometeu o errofreebet alibaba66corroborar uma fala ignorante.

freebet alibaba66 BBC News Brasil - O argumento do chanceler Ernesto Araújo erafreebet alibaba66que o nazismo era um movimento "anticapitalista, antireligioso, antiliberal e anticonservador" e, assim, semelhante ao marxismo. Faz sentido do pontofreebet alibaba66vista histórico?

freebet alibaba66 Milgram - Não. O marxismo tem teses universalistas, que abrangem o homem emfreebet alibaba66totalidade, independentemente do país (onde ele tenha nascido). O nazismo, ao inverso, estava orientado a um grupofreebet alibaba66particular, que era a chamada raça ariana.

O marxismo tinha (o ideal)freebet alibaba66que a história humana se desenvolvefreebet alibaba66conflitosfreebet alibaba66classe e tinha como denominador comum a condição socioeconômica do ser humano, não racial.

Já o nazismo se prende na questão racial, e não social. O primordial para o movimento era o homem ser da raça ariana.

Marchafreebet alibaba66memória do Holocaustofreebet alibaba66Budapeste, Hungria,freebet alibaba6614freebet alibaba66abrilfreebet alibaba662019

Crédito, EPA

Legenda da foto, Cerimônia para recordar Holocausto na Hungria; revisionismo histórico é 'partefreebet alibaba66agenda político-ideológica', opina historiador

freebet alibaba66 BBC News Brasil - Por que o senhor acha que esse tema tem ganhado a atenção do governo brasileiro agora?

freebet alibaba66 Milgram - É uma boa pergunta. Acho que tem a ver com a visita ao Museu do Holocausto. Mas a primeira declaração (de que o nazismo éfreebet alibaba66esquerda) é também uma agenda político-ideológica do atual governo,freebet alibaba66tentar desacreditar a esquerda.

O que o nazismo representou e a consequênciafreebet alibaba66seus atos criminosos, com a perseguiçãofreebet alibaba66judeus e outros grupos, é associado a algo negativo por qualquer ser humano.

O chanceler (Araújo), ao associar esse movimento à esquerda, desacredita a esquerda com algo que não tem nada a ver.

É algo que ocorre muito no mundofreebet alibaba66hoje, também na Polônia, na Hungria, nos EUA, na Eslováquia e até mesmofreebet alibaba66Israel: governos populistas usam a incitação e o ódiofreebet alibaba66um grupo contra o outro para desacreditar inimigos, virtuais ou reais – muitos são apenas virtuais –, conquistar as massas, ficar no poder e difundir uma mensagem nacionalista ou até mesmo racista.

Quando (o presidente americano Donald) Trump diz que os mexicanos são estupradores (frase ditafreebet alibaba66campanha), faz uma generalização que incita o ódio. O mesmo ocorre também na Rússiafreebet alibaba66(Vladimir) Putin, nas Filipinasfreebet alibaba66(Rodrigo) Duterte e, no lado inverso, na Venezuelafreebet alibaba66(Nicolás) Maduro. É um estilo que penetrou na vida política global dos últimos anos, que dá uma impressãofreebet alibaba66volta aos anos 1930-40.

Judeusfreebet alibaba66campofreebet alibaba66concentração não identificado

Crédito, Archive Newsreel Footage

Legenda da foto, Nazismo se distinguiafreebet alibaba66movimentosfreebet alibaba66esquerda por pregar o universalismo na lutafreebet alibaba66classes; já nazismo pregava supremaciafreebet alibaba66uma raça, a ariana

freebet alibaba66 BBC News Brasil - Dito isso, existe a chancefreebet alibaba66as condições históricas que criaram o nazismo se repetirem agora?

freebet alibaba66 Milgram - Em princípio, ocorrências históricas dessa magnitude não se repetem, são eventos que ocorrem uma única vez. Os condicionamentos nunca são os mesmos.

Às vezes temos a impressãofreebet alibaba66viver algo que já vimos antes, que nos faz associar e a dizer coisas que do pontofreebet alibaba66vista histórico não se sustentam.

Por exemplo, é preciso cuidado ao chamar tudofreebet alibaba66fascismo,freebet alibaba66dizer "tal líder é um fascista". É preciso fazer distinções objetivas e dizer que são fenômenos diferentes (dos vividos atualmente).

Há certamente coisas (em comum hoje) que nos fazem lembrar daquela época: crise econômica, social, líderes carismáticos, tentativasfreebet alibaba66se cristalizar a identidade nacionalfreebet alibaba66tornofreebet alibaba66uma ideia romântica. Não sou profeta e não sei o que vai acontecer no futuro, mas o que temos hoje não é igual (ao fascismo). Pode até nos fazer lembrar daquela época, mas o Trump, por exemplo, é líderfreebet alibaba66um Estado democrático.

freebet alibaba66 BBC News Brasil - E quais são então as principais diferenças entre o período do fascismo e o populismo no mundo atual?

freebet alibaba66 Milgram - Todos esses líderes populistas atuais não criaram organismos paramilitares armados para eliminar seus inimigos e guardarfreebet alibaba66forma brutal e violenta o regime. Até porque não há necessidade desses regimes armados – esses líderes atingem seus objetivos usando os meios democráticos, sem destruí-los, embora possam enfraquecê-los com ataques à imprensa e às elites pensantes e intelectuais.

Já o fascismo queria conquistar o Estado, eliminar a oposição política, criar uma situaçãofreebet alibaba66domínio quase total da sociedade. No nazismo e no fascismo europeus, a democracia era vista como um perigo ao Estado, como algo a ser eliminado, como um veneno que havia permitido (a existência)freebet alibaba66setores que pensavam diferente efreebet alibaba66minorias.

E os judeus sempre foram apontadosfreebet alibaba66todos os momentos do fascismo como um inimigo e um elemento estranho a ser eliminado.

freebet alibaba66 BBC News Brasil - A ascensão atual do antissemitismo e da rejeição a imigrantes preocupa tanto quanto preocupava na época do nazismo?

freebet alibaba66 Milgram - Para as camadas mais liberais, sim, é preocupante. Porque o migrante é visto como algo a ser eliminado. Basta ver os grupos que queremfreebet alibaba66extinção, como (Marine) Le Pen, líderfreebet alibaba66um partido nacionalista efreebet alibaba66coloração racista na França, ou (o ministro do Interior da Itália conhecido porfreebet alibaba66retórica anti-imigração Matteo) Salvini.

O denominador comum é uma extrema direita racista, antiliberal e antidemocrática, que defende a ideiafreebet alibaba66que a sociedade liberal é que permitiu a entradafreebet alibaba66imigrantes.

Campofreebet alibaba66extermínio nazista na Croácia

Crédito, AFP

Legenda da foto, Memorialfreebet alibaba66vítimas no Leste Europeu; milharesfreebet alibaba66valas foram descobertas ou estão escondidas na região

freebet alibaba66 BBC News Brasil - Ainda persistem teoriasfreebet alibaba66que o Holocausto não existiu. O que o senhor diz a respeito delas?

freebet alibaba66 Milgram - Diria que a negação do Holocausto já passou muitos anos desde o seu auge, nos anos 1980, quando havia mais intelectuais que defendiam a tese do negacionismo. Houve uma épocafreebet alibaba66quefreebet alibaba66fato isso era uma ameaça à memória, e (ainda) está presente no radicalismo islâmico.

Mas não desapareceu. Sempre digo que isso (a negação do Holocausto) é uma expressão do antissemitismo ocidental e no Oriente Médio, não é algo que ocorrafreebet alibaba66sociedades como China ou Índia, por exemplo. É algo, portanto, essencialmente europeu, apesarfreebet alibaba66ocorrerfreebet alibaba66menor escalafreebet alibaba66outros lugares.

Acho que tem a ver com o caráter ambivalente do conflito teológico entre o cristianismo e o judaísmo. O cristianismo tinha e tem respeito pelos judeus por seu monoteísmo e por Cristo, mas também uma aversão e um ódio aos judeus por não terem aceitado os dogmas cristãos. Na cultura ocidental cristã se cristalizou por séculos a ideia do judeu como o outro negativo,freebet alibaba66usureiro. São sempre vistos como ameaçadores desse complexo nacional.

Além disso, se você consegue convencer as pessoasfreebet alibaba66Auschwitz – o maior centro destrutivofreebet alibaba66seres humanos que já houve – não ocorreu, Hitler se torna algo mais digerível, mais aceitável.

freebet alibaba66 BBC News Brasil - Recentemente, foi descobertafreebet alibaba66Belarus (Europa Oriental) uma vala comum com milharesfreebet alibaba66judeus, da época da Segunda Guerra. Ainda não se dimensionou completamente o que ocorreu naquela época?

freebet alibaba66 Milgram - Na Europa Oriental, da metade da Polônia até Moscou,freebet alibaba66julhofreebet alibaba661941 começou um assassinato sistemático e massivofreebet alibaba66judeus pela SS (forças alemãs) e outros organismos do Estado alemão. E há milharesfreebet alibaba66localidades como essafreebet alibaba66Belarus,freebet alibaba66fossas comuns com centenas ou milharesfreebet alibaba66civis que foram metralhados pertofreebet alibaba66onde viviam.

Há lugaresfreebet alibaba66que os idosos sabem onde estão essas valas, eles testemunharam as expulsões, e alguns foram até obrigados a cavar as valas.

Passada a guerra, ninguém se preocupoufreebet alibaba66exumar, ou então fez uma placa comemorativa genérica apontando que ali morreram pessoas. Isso também é uma formafreebet alibaba66negação, algo comum no período comunista (que marcou a Europa Oriental após a Segunda Guerra Mundial). A identidade das vítimas não aparece. Mas é preciso lembrar que eram pessoasfreebet alibaba66uma determinada religião e que falavam ídiche, língua falada pelos judeus daquela região.

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