Crise na Venezuela: como gastançapixbet é bompetrodólares ajudou a afundar o país que já teve 'sucursal do céu':pixbet é bom

Homempixbet é bomfrente a refinariapixbet é bompetróleo na venezuela

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Nos anos 1970, com a alta no preço do petróleo, a Venezuela era conhecida como um 'oásis' na América Latina

Na décadapixbet é bom70, por exemplo, enquanto o mundo passava por um aperto devido à crise do petróleo, a Venezuela era inundada por dólares.

Afinal, a restrição da oferta da matéria-prima catapultou seu preço no mercado internacional.

Essa riqueza levou o país a ser batizadopixbet é bom"Venezuela Saudita",pixbet é bomalusão à Arábia Saudita.

Isso também se refletiu no estilopixbet é bomvida. O argentino Miguel Ángel Diez, que moroupixbet é bomCaracas entre 1977 e 1982, lembra que a capital venezuelana era popularmente chamadapixbet é bom"a sucursal do céu".

Aquela Venezuela próspera e dos 'petrodólares' (dólares obtidos com a exportaçãopixbet é bompetróleo) atraiu intelectuais, psicanalistas, psicólogos, entre outros profissionais, alémpixbet é bomimigrantes latino-americanos e europeus, que buscavam oportunidades econômicas no país democrático.

Em contraste com o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Chile, que viviam ditaduras militares, a Venezuela era governada por presidentes eleitos pelo voto popular. O país já havia passado por golpespixbet é bomEstado e ditaduras.

Durante vários anos, como lembrou o economista e analista político venezuelano Luis Vicente León, da empresapixbet é bompesquisa e análises Datanalisis, a Venezuela investiu a renda do petróleopixbet é bominfraestrutura, na construçãopixbet é bomescolas epixbet é bomuniversidades e na distribuiçãopixbet é bombolsaspixbet é bomestudo no exterior para os venezuelanos.

'Herança'

Para ele, o problema, porém, foi que o país vinha "administrando bem" essa riqueza desde os anos 1950, mas "se deslumbrou e errou no excessopixbet é bomgastos" com os preços altos do petróleo dos anos 1970. Foi uma bolha que acabou estourando, diz.

Pilhapixbet é bomnotaspixbet é bombolívares ao ladopixbet é bomrolopixbet é bompapel higiênico

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Inflação na Venezuela é hojepixbet é bomlonge a mais alta da América Latina; na foto, a pilhapixbet é bombolívares necessária para comprar um papel higiênico

"Era dinheiro demais epixbet é bomvezpixbet é bomter sido investidopixbet é bommais medidaspixbet é bomlongo prazo, foi gasto sem planejamento. Quando o preço do petróleo caiu, no inicio dos anos 1980, e o boom dos anos 1970 acabou, o país tinha dívidas. Foi como receber uma herança e não saber administrá-la", lembra León.

Sem a renda do petróleo,pixbet é bomprincipal mercadoria, e com desorganização econômica, a Venezuela passou a registrar alta da inflação e queda no Produto Interno Bruto (PIB).

Esse revés, contudo, não afetou tanto os segmentos mais ricos da população, que continuavam a desfrutarpixbet é bomuma vida com mais privilégiospixbet é bomrelação a seus vizinhos sul-americanos, como lembram os entrevistados pela reportagem da BBC News Brasil.

'Pêndulo'

Especialistas venezuelanos costumam dizer que o petróleo é o bem e o mal do país.

Isso porque a Venezuela possui uma das maiores reservas comprovadas da matéria-prima no mundo, mas dele é "dependente demais", ressalvam. Sucessivos governos deixarampixbet é bomdesenvolver a indústria local e privilegiaram um modelopixbet é bomimportaçãopixbet é bombenspixbet é bomconsumo o que acabou por acentuar a dependência.

O petróleo é o principal produto exportado pela Venezuela, que importa grande parte do que consomepixbet é bomoutros setores, incluindo alimentos. Na prática, quando o preço do petróleo cai, o país arrecada menos, dependendo dapixbet é bomcapacidadepixbet é bomprodução.

Nos anos 1980 e 1990, a Venezuela registrou episódios marcantes empixbet é bomhistória como o chamado 'Caracazo', que foi uma revolta nas ruas contra medidas econômicas do então presidente Carlos Andrés Pérez (1974-1979 e 1989-1993); o golpepixbet é bomEstado liderado por Hugo Chávez; períodospixbet é bomexpansão, na era do eleito Chávez; crise econômica e a hiperinflação dos últimos anos.

A venezuelana Patricia Aloy, filhapixbet é bombrasileiro e cubana

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, A venezuelana Patricia Aloy,pixbet é bom44 anos, era criança quando a Venezuela 'esbanjou e não cuidou das contas públicas'

Uísque

Mas na época da bonança, principalmente na metade dos anos 1970, morar na Venezuela era sinônimopixbet é bomsegurança política, oportunidadepixbet é bomtrabalho e ascensão econômica, como lembrou o jornalista Miguel Ángel Diez, atualmente diretor da revista Mercado,pixbet é bomBuenos Aires.

Ele contou que chegou à cidade com apenas US$ 800 e que conseguiu casa imediatamente. Na sequência,pixbet é bommulher e seus dois filhos pequenos se mudaram para Caracas, onde também puderam usufruir das benesses da vida no país.

"Havia uma demanda enorme por mãopixbet é bomobra qualificada e a Venezuela, alémpixbet é bompróspera, era generosa com os imigrantes", lembra. Diez, junto com o ex-senador argentino Rodolfo Terragno e com o escritor Tomás Eloy Martínez fundaram, naqueles chamados anos dourados, o periódico 'El Diáriopixbet é bomCaracas', que ganhou prestígio regional.

Tomás Eloy Martínez (1934-2010) ficou conhecido no Brasil pelo livro Santa Evita, sobre a ex-primeira-dama argentina Eva Perón, e costumava lembrar com nostalgiapixbet é bomsua vida na Venezuela, dizendo que era um país "que buscava o futuro."

Caracas, contou Diez, vivia com restaurantes e cinemas cheios e desconhecia a inflação - que é hoje a mais alta da América Latina.

Na época do boom do petróleo, lembra, Caracas já registrava engarrafamentos diários, porque a maioria das pessoas tinha carro e o combustível, com a farta produção petrolífera, era 'regalado' (praticamentepixbet é bomgraça).

"Para nós, tudo chamava a atenção. Era comum, por exemplo, comprar bebida importada, uísque e champanhe, nos supermercados, quando aqui na Argentina isso era inimaginável", conta.

O nívelpixbet é bomexigência dos venezuelanos também era alto, acrescenta.

"Uma vez dei uma garrafapixbet é bomuísque red label, caro, para um conhecido e ele me explicou, que para um venezuelano, gentileza era presentear um black label. Ou seja, que era ainda mais caro. Fiquei surpreso. Eram luxospixbet é bomconsumo que não tínhamospixbet é bomBuenos Aires", afirmou.

A fartura era tal, disse, que festas "para 100 pessoas chegavam a ter 100 garrafaspixbet é bomuísque importado".

Mulher segura cartaz dizendo 'O salário não é suficiente para comer'

Crédito, Guillermo Olmo / BBC Mundo

Legenda da foto, Venezuelanos protestam por conta da pobreza no país com cartazes dizendo que o salário não lhes permite comer e que não há luz, água e/ou gás

Viagens

Em conversa com a BBC News Brasil, o especialistapixbet é bomcomunicação corporativa Federico Olioso,pixbet é bom56 anos, que morapixbet é bomCaracas, diz que era comum para a classe média realizar várias viagenspixbet é bomlazer ao exterior.

"Soupixbet é bomuma famíliapixbet é bomclasse média. E fazíamos duas viagens internacionais por ano. Havia bonança e não sópixbet é bomdinheiro, mas também com a atenção que se dava ao setorpixbet é bomeducação e à qualidadepixbet é bomvida", diz.

Ele também lembra como Caracas era animada, com restaurantes, cinemas, praças e comércio cheios, alémpixbet é bomfestivaispixbet é bomteatro. E que era "normal" planejar o futuro, o que hoje ficou mais difícil.

"Hoje, o cenário é muito diferente e muito triste. De noite, tudo fechado, ruas vazias e sem luz. Não há mais aquela festapixbet é bomantes. E ficou muito complicado planejar, pensar no longo prazo", lamenta.

Olioso é filhopixbet é bomum imigrante italiano epixbet é bomuma venezuelana, netopixbet é bomum colombiano epixbet é bomuma portuguesa.

Famílias como a dele retratam o históricopixbet é bomimigração na Venezuela. "Fomos durante muitos anos um país que causava inveja na América Latina. Hoje, é totalmente o contrário", disse Olioso.

Ele acha que "nunca mais" voltará a viver no seu país como naqueles tempos. "Eu e meus amigos saíamos às ruas sem medo da violência. Isso não existe mais", disse ele.

Olioso contou que é um dos poucos dapixbet é bomfamília que continuapixbet é bomCaracas. Os sobrinhos e os amigos moram hoje nos Estados Unidos e na Europa. "Meus sobrinhos, que são jovens, não viveram a Venezuela que eu vivi", disse.

Prateleiras vaziaspixbet é bomum supermercadopixbet é bomCaracas

Crédito, EPA

Legenda da foto, Com alta dependênciapixbet é bomimportações, a Venezuela vive um grande desabastecimento com faltapixbet é bomalimentos e medicamentos nos mercados, farmácias e hospitais

Riopixbet é bomJaneiro

A venezuelana Patricia Aloy, que é filhapixbet é bomum brasileiro epixbet é bomuma cubana, conta que viajava três vezes por ano ao Riopixbet é bomJaneiro.

"Meu pai era publicitário e minha mãe professora e costumávamos viajar três vezes por ano ao Riopixbet é bomJaneiro para ver a família. Talvez este fosse nosso maior luxo", diz ela à BBC News Brasil.

Designerpixbet é bomformação e apresentadora do programa Venezuela Sinfónica, transmitido pela internet, Aloy,pixbet é bom44 anos, era criança quando a Venezuela "esbanjou e não cuidou das contas públicas", na visãopixbet é bomanalistas.

"Íamos a bons colégios e não era loucura pagar por isso. Podíamos comprar café, farinha, açúcar normalmente nos supermercados. Podíamos planejar o orçamento familiar. Podíamos pegar um crédito num banco. Nada disso é luxo. É sinônimopixbet é bomvida normal. Mas infelizmente não na Venezuela dos diaspixbet é bomhoje", diz Aloy.

Casada com o designer uruguaio Eduardo Maurin, que chegou a Caracas ainda criança com a famíliapixbet é bom1974, ela disse quepixbet é bominfância, adolescência e idade adulta foram marcadas por uma vida que hoje é "normal"pixbet é bomoutros países da região.

"Agora, aqui, o dinheiro é curto demais e nossa vida é pensar como e onde comprar a comida, como tentar dar um mínimopixbet é bombem-estar aos nossos filhos. E também nos preocupamos muito com a violência", diz Aloy.

O argentino Diez lembra que, nos anos 1970, as casaspixbet é bomCaracas já tinham porta metálica, por segurança, e que ouvia notícias sobre assaltos à mão armada e furtos.

"Mas jamais vi um casopixbet é bomviolência. Era tranquilo andar nas ruas e ir aos restaurantes à noite era parte do nosso cotidiano", diz.

Nos últimos tempos, contudo, num caminho contrário ao que trilhou, Diez tem recebido venezuelanospixbet é bomBuenos Aires. Tenta ajudá-los a conseguir empregospixbet é bomdiferentes profissões,pixbet é bomeletricistas a médicos. Também contratou venezuelanos na revista que comanda atualmente.

"Tento ajudar o máximo que posso. Fui muito feliz na Venezuela. Mas hoje é triste ver que jovens venezuelanos,pixbet é bomtorno dos 25 anos, dizendo que não querem mais voltar, que não veem futuro no próprio país, no país que acolheu a mim e a milharespixbet é bomoutras pessoas do Cone Sul,pixbet é bomPortugal, da Espanha epixbet é bomtantos países", diz Diez.

Aquela Caracas, "sucursal do céu", conclui, não existe mais.

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