Crise na Venezuela: a batalhacasa deapostasuma mãe para salvarcasa deapostasfilha doente:casa deapostas

A menina Julia, que enfrenta doença e crise da Venezuela
Legenda da foto, A pequena Julia nasceu com uma má formação grave

Ela conta a históriacasa deapostasJulia sentadacasa deapostasuma cama do hospital, onde se amontoam alguns lençóis. Também há uma Bíblia e uma barata que teimacasa deapostassubircasa deapostasnossas pernas. Ela chama a filhacasa deapostas"minha princesa".

Julia nasceu com um cérebro minúsculo. Alémcasa deapostasnão enxergar, a menina tem um crânio proporcionalmente grande paracasa deapostasidade - passa o dia prostradacasa deapostasum berço.

Mulherescasa deapostashospital da Venezuela

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Venezuela também sofreu com zika, emboracasa deapostasquantidade menor que o Brasil

Yurika diz que nunca viu a filha sorrir. "Ela está sempre quietinha", diz, com ternura.

Os médicos já disseram que a menina pode morrer a qualquer momento por causa da má formação congênita. O prognóstico é que, à medida que ela cresça, seu pequeno cérebro entrecasa deapostascolapso. "Um neurocirurgião me disse que ela não viveria maiscasa deapostasum ano, mas minha princesa continua aqui", diz Yurika.

Históricocasa deapostasproblemas

A mãecasa deapostasJulia é uma camponesacasa deapostasPortuguesa, Estado no centro-oeste da Venezuela.

Durante a gravidezcasa deapostasJulia, ela teve zika e dengue.

O feto se desenvolveu fora do útero e não recebia oxigênio suficiente, o que,casa deapostasacordo com os médicos, causou os danos irreversíveis da menina. Segunda Yurika, ninguém a avisou durante a gravidez sobre os problemas que a garota teria.

"Se eu soubesse, teria interrompido a gravidez, não porque sou uma mãe ruim, mas porque é muito difícil ter um bebê e vê-lo sofrer. Você acha que isso seria errado?", pergunta ela.

Julia nasceucasa deapostas30casa deapostasagostocasa deapostas2017casa deapostasum hospital público. O parto foi complicado e Yurika também correu riscocasa deapostasmorrer. "Perdi muito sangue e no hospital não havia remédios nem material esterilizado", lembra Yurika.

A menina Julia ecasa deapostasmãe
Legenda da foto, Os médicos acreditam que Julia não viverá muito, embora ela esteja superando as expectativas

O último balanço nacional publicado pelo Ministério da Saúde,casa deapostasmaiocasa deapostas2017, apontou um aumentocasa deapostas30% na mortalidade infantil e 65% na mortalidade materna.

Essas são os últimos dados disponíveis.

Atualmente, na crise, são escassos os medicamentos na Venezuela e o custocasa deapostasvida aumentou exponencialmente devido à hiperinflação.

O país vive a maior recessãocasa deapostassua história: são 12 trimestres seguidoscasa deapostasretração econômica, segundo anuncioucasa deapostasjulho a Assembleia Nacional, o Parlamento venezuelano, que atualmente é controlado pela oposição.

A dimensão do colapso pode ser vista nos números do Produto Interno Bruto. Entre 2013 e 2017, o PIB venezuelano teve uma quedacasa deapostas37%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, neste ano, caia mais 15%.

Além disso, a previsão do FMI écasa deapostasque neste ano a inflação na Venezuela chegue a 1 milhão % (Isso significa que você multiplicar por 10 mil o preçocasa deapostasum produto). Por dia, o FMI estimacasa deapostas4% o valor da inflação venezuelana.

O governo atribui os problemas a uma "guerra econômica" instigada pelos Estados Unidos e pela oposição política.

Os filhos mais velhoscasa deapostasYurika,casa deapostas11 e nove anos, nasceramcasa deapostashospitais particulares - serviço que hoje ela não tem como bancar financeiramente.

Julia cresceu e acabou contrariando as previsões médicascasa deapostasque teria pouco tempocasa deapostasvida. "A realidade me veio assim e não tenho escolha não ser enfrentar", diz Yurika.

A peregrinação

"Um dia, vi na televisão que o hospital infantil J. M.casa deapostaslos Ríos,casa deapostasCaracas, estava fazendo a operação para implantar as válvulascasa deapostasque ela precisava."

Sem a ação dessas válvulas, o cérebrocasa deapostasJulia não consegue resistir à pressão do líquido que se acumula emcasa deapostascabeça.

Yukira, então, decidiu viajarcasa deapostasGuanare, o povoado onde vive, até a capital da Venezuela para chegar ao hospital que já foi referênciacasa deapostaspediatria na América Latina.

Essa foi apenas a primeiracasa deapostassuas peregrinações à capital para tentar salvar a vida da filha. As duas viajam por 12 horas e precisam pegar três ônibus lotados. "A princesa chega muito cansada", lamenta.

O transporte precário é outra consequência da crise venezuelana. "Um médico me disse uma vez para fazermos a viagemcasa deapostasavião", lembra. O pedido a fez rir. "As passagens aéreas são pagascasa deapostasdólares, não sei como esse homem pensou que eu tivesse dólares."

Ilustraçãocasa deapostasuma criança com microcefalia e outra com cérebro normal

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Há estudos que afirmam a relação entre zika e microcefalia

Sua única renda vem da vendacasa deapostastangerinas e abacates que crescemcasa deapostasseu quintal, além dos U$ 3 (R$ 11) que recebecasa deapostasum subsídio que o Estado paga a pessoas pobres.

Nem com a ajudacasa deapostasseu parceiro, que trabalha com exploraçãocasa deapostasmadeira, a família consegue cobrir as necessidades. "Ele não me abandonou, como muitos homens fazem quando não querem se ocupar dos filhos."

Na primeira visita ao hospital, os médicos colocaram as válvulascasa deapostasJulia, mas a garota sofreu com uma grave infecção - depois, ela começou a ter convulsões.

"Ele precisa tomar ácido valpróico para evitar as convulsões, porque os médicos me disseram que convulsões poderiam matar os poucos neurônios que ela tem", explica Yurika, enquanto faz a filha engolir sucocasa deapostasmelão por meiocasa deapostasuma seringa sem agulha.

Encontrar ácido valpróico tem sido a prioridadecasa deapostasYurika, pois no hospital J. M.casa deapostaslos Ríos não existe esse remédio.

Katherine Martínez, da ONG Prepara Família, especializadacasa deapostasatender a famíliascasa deapostascrianças hospitalizadas, afirmou que não há distribuição regularcasa deapostasantibióticos no hospital. "Algo que seria básico", diz.

"Ainda que tenhamos reclamadocasa deapostastodas as instâncias, não recebemos nenhuma resposta das autoridades", diz.

O hospital J. M.casa deapostaslos Ríos é a última esperança para muitas mães do interior do país. Segundo explica Martínez, "a situação dos hospitais [da Venezuela] é terrível".

O médico Augusto Pereira, chefecasa deapostasOncologia Pediátrica do hospital, admite que "há, sim, um déficitcasa deapostassuprimentos."

"A alimentação dos meninos não é equilibrada, nem adaptada para suas patologias", diz Martínez.

Pereira também aponta que os pacientes têm recebido "na maioria das vezes, apenas carboidratos, e nadacasa deapostasproteínas".

Médicos atendendo um adolescente

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O hospital J. M.casa deapostaslos Ríos já foi referênciacasa deapostaspediatria, mas hoje sofre com a faltacasa deapostasmedicamentos

Mais uma batalha

Yurika levou Julia outra vez ao hospital no verão passado, pois a menina precisavacasa deapostasuma nova válvula. Ela diz que a menina chegou ao local com nove quilos e hoje pesa cinco.

Ela apresenta quadrocasa deapostasdesnutrição e está fraca demais para passar por outra cirurgia.

Há pacientes que tiveram pior sorte.

A ONG Prepara Família diz que várias crianças morreram nos últimos meses por causacasa deapostasuma infecção que se espalhou pelo setorcasa deapostasnefrologia do hospital.

Yurika conta que viu um dos casos. "Havia um meninocasa deapostasnove anos que morreu. Chorei muito. Pedi a Deus para dar força a essa mãe", conta.

Devido à desnutrição, o hospital J. M.casa deapostaslos Ríos transferiu Julia para outra instituição.

Primeiro, recuperar o peso

Desde a semana passada, Julia estácasa deapostasum centro especializadocasa deapostasnutriçãocasa deapostasum dos programas sociais do governo venezuelano.

No local, as regras são mais restritivas: a menina só pode sair da instituição com autorização do diretor.

Yurika não quer se separar um milímetro do berço da filha, nem mesmo para tomar um café comigo.

Os médicos estimam que Julia deve passar ao menos um mês seguindo uma dieta especial para ganhar peso. Depois, deve retornar ao J. M.casa deapostaslos Ríos para que seja colocada outra válvula - os neurocirurgiões disseram que só farão a operação caso a menina ganhe peso.

Por ora, a garota teve alguma melhora. Em cinco dias, ganhou meio quilo dos quatro que havia perdido.

Mas, recentemente, surgiu um novo obstáculo. O centro nutricional disse que Yurika e a menina devem retornar a Guanare para completar o tratamento nutricional e retornar a Caracas somente quando Julia conseguir ganhar peso.

Isso significa mais um sacrifício para as duas.

A ciência não vê um grande futuro para Julia, mas, como dizcasa deapostasmãe, "ela segue lutando".

Yurika não faz apostas: "Coloco nas mãos do Senhor, o que ele decidir eu vou aceitar". Mesmo assim, a camponesa promete: "Enquanto ela viver, vou continuar lutando por ela".

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