Nobel da Paz: um chocante relatoblaze do fogueteDenis Mukwege, médico que venceu prêmio por luta contra estuprosblaze do fogueteguerras:blaze do foguete

Crédito, SAFIN HAMED/AFP

Legenda da foto, Conhecido por repetir a máximablaze do fogueteque a "justiça é responsabilidadeblaze do foguetetodos", Mukwege montou um hospital com 350 leitos financiado pela UNICEF e outros doadores

blaze do foguete Duas pessoas que lutam contra o uso da violência sexual como armablaze do fogueteguerra foram premiadas, nesta sexta, com o Nobel blaze do foguete da Paz 2018.

Uma delas é Nadia Murad, uma mulher que foi mantida como escrava sexualblaze do foguetemilitantes do Estado Islâmicoblaze do foguete2014. Depoisblaze do fogueteescapar, ela se tornou uma das principais vozes na luta pelo direito das mulheres.

A outra é o médico Denis Mukwege, que atendeu maisblaze do foguete30 mil vítimasblaze do fogueteabuso sexual com ferimentos graves na República Democrática do Congo. A guerra civil no país já deixou maisblaze do foguete6 milhõesblaze do foguetemortos, e milharesblaze do foguetemulheres vêm sendo submetidas a estupros.

Conhecido pela máximablaze do fogueteque a "justiça é responsabilidadeblaze do foguetetodos", Mukwege montou um hospital com 350 leitos financiado pela Unicef e outros doadores, alémblaze do fogueteuma unidadeblaze do fogueteatendimento móvel e um sistema para oferecer microcrédito para as vítimas reconstruíremblaze do foguetevida.

Após o tratamento, mulheres e meninas estupradas recebem ajuda para voltar a trabalhar ou estudar.

Em um relato dramático, reproduzido abaixo, Mukwege contou à BBC News como os abusos sexuais se transformaramblaze do fogueteuma potente e avassaladora armablaze do fogueteguerra no conflito:

Início dos abusos

"Quando a guerra estourou, 35 pacientesblaze do foguetemeu hospital,blaze do fogueteLemera, no leste do Congo, foram mortosblaze do foguetesuas camas.

Fugi para Bukavu, a 100 kmblaze do fogueteLemera, e comecei a atender (pacientes)blaze do foguetetendas. Construí uma maternidade e uma salablaze do foguetecirurgia improvisada, masblaze do foguete1998 tudo foi destruído. Então, tiveblaze do fogueterecomeçar a erguer uma nova estrutura para atender meus pacientesblaze do foguete1999.

Foi nesse ano que nossa primeira paciente vítimablaze do fogueteestupro foi trazida para o hospital.

Depois que a paciente foi violentada, seus agressores atiraram nas suas coxas e órgãos genitais. Pensei que esse atoblaze do foguetebarbárie seria algo isolado, uma atrocidade da guerra, mas o verdadeiro choque veio três meses depois.

Crédito, HABIBOU BANGRE/Getty Images

Legenda da foto, O vencedor do Prêmio Nobel já atendeu maisblaze do foguete30 mil mulheres feridas gravemente durante estupros, na República Democrática do Congo

Quarenta e cinco mulheres vieram se tratar conosco com a mesma história: combatentes haviam entradoblaze do foguetesuas aldeias, estuprando e torturando quem encontrassem pelo caminho.

Algumas mulheres apresentavam queimaduras e relataram que, após terem sido estupradas, abrasivos químicos foram derramadosblaze do foguetesuas genitálias.

Estupro como 'estratégia'

Comecei a me perguntar o que estava acontecendo. Esses não eram só atos violentosblaze do fogueteguerra. Eram parteblaze do fogueteuma estratégia.

Em alguns casos que nos foram relatados, várias pessoas foram estupradas ao mesmo tempo, publicamente. A população femininablaze do foguetealdeias inteiras sofreu abusos sexuais durante a noite.

O objetivo desses estupros coletivos era não só ferir as vítimas, mas toda a comunidade, já que todos eram forçados a assistir a tais atos.

Como resultado, as pessoas tiveramblaze do foguetefugirblaze do foguetesuas aldeias, abandonar suas terras, seus recursos, tudo. Trata-seblaze do fogueteuma estratégia eficaz nesse sentido.

Crédito, ROBERTO SCHMIDT/AFP

Legenda da foto, 'O conflito do Congo não envolve gruposblaze do foguetefanáticos religiosos, nem é um conflito entre os Estados. É uma guerra motivada por interesses econômicos - e travada por meioblaze do fogueteuma estratégia que está destruindo as mulheres do país', diz Mukwege

O conflito do Congo não envolve gruposblaze do foguetefanáticos religiosos, nem é um conflito entre os Estados. É uma guerra motivada por interesses econômicos - e travada por meioblaze do fogueteuma estratégia que está destruindo as mulheres do país.

Em 2011, assistimos a uma queda no númeroblaze do fogueteestupros e pensamos que talvez a barbárie estivesse perto do fim.

Em 2012, porém, a guerra recomeçou e os casosblaze do fogueteabuso sexual voltaram a aumentar. O fenômeno está totalmente ligado à situaçãoblaze do fogueteguerra.

Atendimento às vítimas

Estabelecemos um padrãoblaze do fogueteatendimento às vítimas. Antesblaze do foguetelevá-las para a mesablaze do foguetecirurgia fazemos um exame psicológico. Preciso saber se elas serão capazesblaze do fogueteresistir à operação.

Após a etapa cirúrgica oublaze do foguetecuidados médicos, encaminhamos as pacientes para um programa que lhes oferece apoio socioeconômico.

A maioria das vítimas chega aqui sem nada, nem roupas. Temosblaze do foguetealimentá-las e cuidar delas. Depois do fim do tratamento médico, se essas congolesas não forem capazesblaze do foguetese sustentar, estarão vulneráveis novamente.

Ajudamos as mulheres a desenvolver novas habilidades e as meninas a voltar para a escola.

A quarta etapablaze do foguetenosso programablaze do fogueteauxílio às vítimas diz respeito a questões legais. Muitas vezes, os pacientes conhecem a identidadeblaze do fogueteseus agressores e temos advogados que os ajudam a tentar levar seus casos para a Justiça.

Ataque pessoal

Certo dia, (homens armados) entraram no meu carro, quando eu entrei na garagemblaze do foguetecasa, apontando suas armas para mim. Eles me tiraram do veículo e, como umblaze do foguetemeus seguranças tentou me resgatar, começaram a atirar e o mataram.

Eu me agachei e os homens continuaram disparando. Não sei como sobrevivi. Eles fugiram no meu carro sem levar nada e depois descobri que minhas duas filhas estavamblaze do foguetecasa quando eles chegaram.

Elas foram levadas para a sala e ficaram esperando que eu chegasse junto com os agressores.

Durante todo o tempo, os homens ficaram com suas armas apontadas para minhas filhas. Foi terrível. Não sei quem eram essas pessoas nem por que me atacaram. Depois disso, fomos para a Suécia e,blaze do fogueteseguida, para Bruxelas (Bélgica).

Em janeiroblaze do foguete2013, decidi voltar para o Congo. O que me inspirou a retornar foi a determinação das mulheres congolesas no combate a essas atrocidades.

Retorno

Muitas mulheres tiveram coragem para protestar contra o ataque à minha família para as autoridades.

Elas também juntaram dinheiro para pagar minha passagemblaze do foguetevolta (ao país) - e essas são mulheres que não têm nada, vivem com menosblaze do fogueteum dólar por dia.

Houve uma recepção para mim no aeroportoblaze do fogueteKavumu,blaze do fogueteBukavu,blaze do foguetejaneiro. E, depois desses gestos, eu realmente não poderia dizer não.

Estou determinado a combater essas atrocidades, essa violência.

Minha vida teveblaze do foguetemudar, desde que voltei. Vivo no hospital agora e tomo uma sérieblaze do fogueteprecauções por questõesblaze do foguetesegurança. Perdi parteblaze do fogueteminha liberdade.

As mulheres têm se revezado para vigiar o hospital. Gruposblaze do foguete20 voluntárias fazem turnos, dia e noite, para tentar garantir minha segurança.

E elas não têm armas, não têm nada. Seu entusiasmo me dá confiança para continuar a trabalhar."