Nadia Murad, a vencedora do Prêmio Nobel da Paz que superou histórico20bet cadastrovítima20bet cadastro'jihad sexual':20bet cadastro
20bet cadastro Os ativistas Nadia Murad,20bet cadastro25 anos, e Denis Mukwege,20bet cadastro63 anos, receberam nesta sexta-feira o Prêmio Nobel 20bet cadastro da Paz20bet cadastro2018 por seus esforços na luta contra o uso da violência sexual 20bet cadastro como arma20bet cadastroguerra e conflito armado.
Nadia, que pertence à minoria yazidi no Iraque, foi sequestrada e violentada pelo grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI) e hoje luta contra o tráfico sexual20bet cadastromulheres.
Mukwege é um ginecologista congolês que atende há décadas mulheres estupradas na República Democrática do Congo. Junto aos colegas, ele já cuidou20bet cadastromais20bet cadastro30 mil vítimas com ferimentos graves20bet cadastrodecorrência20bet cadastroviolência sexual realizada como arma20bet cadastroguerra.
De acordo com Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê do Nobel, a dupla deu uma "contribuição crucial para chamar a atenção e combater tais crimes20bet cadastroguerra."
No total, 331 indivíduos e organizações foram indicados ao prêmio neste ano, entregue20bet cadastroOslo, na Noruega.
Confira abaixo a história20bet cadastroNadia publicada pela BBC News Brasil:
Quando integrantes do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) invadiram a aldeia20bet cadastroNadia Murad no Iraque,20bet cadastro2014, mataram todos os homens, incluindo seis20bet cadastroseus irmãos.
Nadia é da minoria étnica e religiosa yazidi, considerada "infiel" pelos extremistas do EI.
Ela e centenas20bet cadastrooutras mulheres yazidis foram sequestradas, vendidas e passadas20bet cadastromão20bet cadastromão por homens que as estupraram coletivamente. Foram vítimas do que o EI chama20bet cadastro"jihad sexual".
Nadia conseguiu fugir após passar três meses20bet cadastrocativeiro, mas acredita-se que milhares20bet cadastromulheres continuem presas.
O ataque
Em 320bet cadastroagosto20bet cadastro2014, o EI atacou os yazidis20bet cadastroSinjar, região no norte do Iraque próxima a uma montanha20bet cadastromesmo nome. Antes disso haviam atacado locais como Tal Afar, Mosul e outras comunidades xiitas e cristãs, forçando a saída dos moradores.
"A vida20bet cadastronosso vilarejo era muito feliz, muito simples. Como20bet cadastrooutros vilarejos, as pessoas não viviam20bet cadastropalácios. Nossas casas eram simples,20bet cadastrobarro, mas levávamos uma vida feliz, sem problemas. Não incomodávamos os outros e tínhamos boas relações com todos", contou Nadia ao programa HARDtalk da BBC.
Naquele dia20bet cadastroagosto, diz ela, 3 mil homens, idosos, crianças e deficientes foram massacrados pelo EI.
Alguns conseguiram fugir e se refugiar no monte Sinjar, mas a aldeia estava longe da montanha e o EI cercou as saídas.
Perseguidos, os yazidis reverenciam a Bíblia e o Alcorão, mas grande parte20bet cadastrosua tradição é oral.
"Rodearam a aldeia por alguns dias mas não entraram. Tentamos pedir ajuda por telefone e outros meios. Sabíamos que algo horrível iria acontecer. Mas a ajuda não chegou, nem do Iraque nem20bet cadastrooutras partes."
Depois20bet cadastroalguns dias, o EI encurralou os moradores na escola da aldeia e ali seus militantes mantiveram homens, mulheres e crianças.
"Deram-nos duas opções: a conversão ao islã ou a morte", disse Nadia.
Assassinatos, sequestros e estupros
Logo separaram os homens, cerca20bet cadastro700. Levaram todos para fora da aldeia e começaram a atirar neles. Nove irmãos20bet cadastroNadia estavam entre eles.
Seis dos irmãos20bet cadastroNadia morreram ─ três ficaram feridos mas escaparam.
"Da janela da escola podíamos ver os homens sendo baleados. Não vi meus irmãos sendo atingidos. Até hoje não pude voltar à aldeia nem ao local da matança. Não há notícias20bet cadastronenhum dos homens."
Segundo Nadia, meninas acima20bet cadastronove anos e meninos acima20bet cadastroquatro anos foram levados a campos20bet cadastrotreinamento.
"Depois levaram umas 80 mulheres, todas acima20bet cadastro45 anos, incluindo minha mãe. Uns diziam que haviam sido mortas, outros que não. Mas quando parte20bet cadastroSinjar foi liberada encontrou-se uma vala comum com seus corpos", conta.
Ao todo, 18 membros da família20bet cadastroNadia morreram ou estão desaparecidos.
Nadia foi levada com outras mulheres. Havia cerca20bet cadastro150 meninas no grupo, incluindo três sobrinhas dela.
Elas foram divididas20bet cadastrogrupos e levadas20bet cadastroônibus até Mosul.
"No caminho eles tocavam nossos seios e esfregavam as barbas20bet cadastronossos rostos. Não sabíamos se iam nos matar nem o que fariam conosco. Percebemos que nada20bet cadastrobom iria ocorrer porque já tinham matado os homens e as mulheres mais velhas, e sequestrado os meninos."
Ao chegar ao quartel-general do EI20bet cadastroMosul, encontraram muitas jovens, mulheres e meninas, todas yazidis. Tinham sido sequestradas20bet cadastrooutras aldeias no dia anterior.
A cada hora, homens do EI chegavam e escolhiam algumas meninas. Elas eram levadas, estupradas e devolvidas.
Nadia percebeu que esse também seria seu destino.
Sem compaixão
No dia seguinte, um grupo20bet cadastromilitantes do EI chegou. Cada um escolheu uma menina, algumas entre 10 e 12 anos.
"As meninas resistiram, mas foram forçadas a ir. As mais jovens se agarravam às mais velhas. Uma delas tinha a mesma idade20bet cadastrominhas sobrinhas, chorava e se prendia a mim."
Quando chegou20bet cadastrovez, Nadia foi selecionada por um homem bem gordo que a levou a outro andar. Um outro militante passou e o convenceu a levá-la ─ mas isso não mudou as coisas.
"O homem mais magro me levou até20bet cadastrocasa, tinha guarda-costas. Estuprou-me, e foi muito dolorido. Nesse momento percebi que teria sofrido do mesmo jeito, não importasse com quem."
Nenhum dos homens mostrou clemência. Todos estupraram as mulheres20bet cadastroforma violenta. "As coisas que fizeram foram horríveis. Nunca imaginamos que coisas tão terríveis aconteceriam conosco."
Os extremistas chegavam a manter as mulheres consigo por mais20bet cadastrouma semana, porém frequentemente elas eram vendidas um dia ou até uma hora após o estupro.
Algumas mulheres dos irmãos20bet cadastroNadia estavam grávidas quando foram capturadas e deram à luz no cárcere.
Elas também foram levadas ao tribunal islâmico do EI e forçadas a se converter.
Nadia passou três meses com o homem que a levou. Durante esse período conseguiu conversar com alguns sequestradores.
Embora algumas áreas20bet cadastroSinjar tenham sido liberadas, ainda há valas comuns por descobrir.
"Perguntei por que faziam aquilo conosco, por que haviam matado nossos homens, por que nos estupraram violentamente. Disseram-me que 'os yazidis são infiéis, não são um povo das Escrituras, são um espólio20bet cadastroguerra e merecem ser destruídos'".
Ainda que a maior parte desses militantes fossem casados, as famílias - inclusive as mulheres - pareciam aceitar o que faziam, disse Nadia.
Em uma ocasião, ela pediu autorização para fazer uma chamada telefônica porque queria escutar uma voz familiar.
Disseram que poderia ligar para seu sobrinho por um minuto, mas com uma condição: "Que primeiro eu lambesse o dedo do pé que um homem havia coberto com mel."
Muitas jovens na mesma situação se suicidaram, disse Nadia, mas essa não foi uma opção para ela.
"Acho que todos devemos aceitar o que Deus nos deu, sem importar se é pobre ou se sofreu uma injustiça; todos devemos suportar."
Ela tampouco questionou20bet cadastrofé. "Deus estava cada minuto20bet cadastrominha mente, ainda quando estava sendo estuprada."
Nadia tentou fugir pela primeira vez por uma janela, mas um guarda a capturou imediatamente e a colocou20bet cadastroum quarto.
Sob as regras do EI, disse Nadia, uma mulher se converte20bet cadastroespólio20bet cadastroguerra caso seja capturada tentando escapar. Colocam-na20bet cadastrouma cela onde foi estuprada por todos os homens do complexo.
"Fui estuprada20bet cadastrogrupo. Chamam isso20bet cadastrojihad sexual."
Fuga
Após esse episódio, Nadia não pensou20bet cadastrofugir20bet cadastronovo, mas o último homem com quem viveu20bet cadastroMosul decidiu vendê-la e foi arranjar roupas para ela.
Quando ordenou que ela tomasse banho e se preparasse para a venda, ela aproveitou para escapar.
"Bati na porta20bet cadastrouma casa onde vivia uma família muçulmana sem conexão com o EI e pedi ajuda. Disse que meu irmão daria o que eles quisessem20bet cadastrotroca."
Por sorte, a família não apoiava o EI e a ajudou.
"Deram-me um véu negro, um documento20bet cadastroidentidade islâmico e me levaram até a fronteira."
Foi assim que conseguiu fugir.
"Mataram minha mãe. Meu pai morreu faz tempo. Meu irmão mais velho era como um pai para mim, mas também foi morto. Peço ao mundo que faça algo por nós."
Ativismo
Nadia se tornou uma ativista após escapar do EI20bet cadastronovembro20bet cadastro2014 - e viaja o mundo fazendo campanha para chamar atenção para a tragédia dos yazidis.
A luta20bet cadastroNadia rendeu a ela vários prêmios internacionais, além do Nobel da Paz.
Em 2016, ela recebeu da União Europeia o importante prêmio Sájarov à Liberdade20bet cadastroConsciência, junto a Lamiya Aji Bashar, também escravizada pelo EI.
No mesmo ano, também foi nomeada embaixadora da Boa Vontade da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.