A tribo indígena que está sendo dizimada por uma epidemiazepbetHIV:zepbet
A etnia habita, principalmente, o nordeste da Venezuela, onde deságua o rio Orinoco. O grupo costuma se deslocar sazonalmente pelo território venezuelano. Nos últimos anos, com a profunda crise econômica no país e a faltazepbetalimentos, parte deles atravessou a fronteira brasileira. Há registroszepbetwaraoszepbetdiferentes estados do norte do Brasil, quase sempre vivendozepbetcondiçõeszepbetmendicância.
Considerando que házepbet50 mil pessoas waraos,zepbetacordo com um censozepbet2011, os efeitos dessa epidemia podem ser devastadores para o futuro do grupo.
"É uma situação alarmante pela magnitude. A prevalência é muito elevada, similar a que se viu na África no início da epidemia naquele continente. Além disso, está sendo transmitido rapidamente", disse à BBC Mundo, o serviçozepbetlíngua espanhola da BBC, Flor Oujol, diretora do LaboratóriozepbetVirologia Molecular do Instituto VenezuelanozepbetPesquisa Científica (IVIC, na siglazepbetespanhol) e uma das coordenadoraszepbetuma pesquisa no caso dos warao.
Ela diz ainda que a situação é excepcional. "O HIV uma doença 'importada', nunca foi um problema que afetasse as populações indígenas latino-americanas".
Morte muito rápida
O tipozepbetHIV que circula entre os warao tem uma peculiaridade: os soropositivos rapidamente desenvolvem AIDS e morrem pouco tempo depois.
"A maioria das infecções por HIV começam como um tipo viral chamado R5 e, à medida que a doença avança, o vírus se transformazepbetX4. Essa variante é muito mais agressiva, porque leva a um estadozepbetdeficiência imunológica mais rapidamente", explica Héctor Rangel, biólogo, do IVI, que também participou da pesquisa.
Segundo ele, 90% dos warao têm o vírus X4 e isso não é comum nem na América Latina nem no resto do mundo.
O médico Waard acredita que a expectativazepbetvida dos indígenas da tribo com HIV pode serzepbetapenas dois anos.
A origem do vírus que afeta a etnia parece ser diferente do que aquele circula entre o restante da população venezuelana.
"Tampouco é o que se encontra no Caribe e na Guiana. Sabemos que o surto começou na comunidadezepbetGuayo, no delta do rio Orinoco, mas desconhecemos a origem. Parece ser filipina, mas não temos certeza. Pelo rio passam muitos barcos, talvez pode ter sido introduzido dessa forma", assinala Waard.
A importânica dos 'tidawinas'
Outra característica da epidemia é que ela afeta, desproporcionalmente, os homens. "Em algumas comunidades, 35% da população adulta masculina está infectada. Em relação às mulheres, os casos chegam a 2%", comenta Pujol.
Um elemento que permite explicar tamanha diferença é a homossexualidade e bixessualidade na cultura warao,zepbetacordo com os pesquisadores que estudam o tema.
"É comum que transgêneros (tidawinaszepbetwarao) tenham atividades sexuais com homens diariamentezepbetalgumas comunidades. Alguns antropólogos dizem que os transgêneros se consideram esposas secundárias", índica um estudo publicadozepbet2013.
Um fator adicional que complica ainda mais a presença do HIV entre os indígenas é a tuberculose. A doença com alta prevalência há muito tempo entre os membros da etnia os fazem ainda mais vulneráveis.
Os efeitos do bacilo da turbeculose e do vírus HIV são potencializadas quando coexistem no organismo humano.
Crise absoluta
A faltazepbettratamento com antirretrovirais para controlar o avanço e contágio também tem ajudado a propagar a epidemia.
O sistemazepbetsaúde da Venezuela enfrenta uma crise que se agrava a cada dia e a escassezzepbetmedicamentos é constante e generalizada. A federação farmacêutica venezuelana calcula que há problemas com 85% dos remédios.
"Neste momento há um desabastecimento gravezepbet24 antirretrovirais e há problemas com outros 20. A última comprazepbetmedicamentos para HIV foi feita pelo Ministério da Saúdezepbet2017", disse à BBC Mundo Regina López, diretora da ONUSIDA na Venezuela.
Ela explica que há um planozepbetação para enfrentar a situação dos warao que inclui uma campanha educativa com o objetivozepbetprevenir o contágio, considerando a cosmovisão da etnia.
Eles acreditam, por exemplo, que "danos" vêm do ar e entram através da boca.
A estratégia prevê ainda dar mais atenção médica aos infectados.
"Se este plano tivesse sido executado há dois anos, provavelmente a população infectada com HIV neste momento seria menor. Temos avançado do jeito que dá, mas são se pode dar início aos tratamentos até que o governo compre antirretrovirais. Lamentavelmente, não sabemos quando será feita a aquisição", conclui López.
Especialistas dizem que, com o tratamento adequado, o riscozepbetcontágio é mínimo, não chega a 1%.
Chegar ao fim do mundo
Um elemento adicional na já complicada situação dos warao é a dificuldadezepbetacesso à área onde vivem. Para chegar ao lugar onde a tribo está mais ameaçada, é preciso viajar oito horas numa lancha rápida, a partir da capital do estado Delta Amacuro onde está o delta do rio Orinoco. A distância entre essa área e Caracas ézepbetaproximadamente 700 quilômetros.
É preciso levarzepbetconta também outros problemas provocados pela crise econômica venezuelana: conseguir combustível é quase uma odisseia e os motores das lanchas são considerados bens preciosos porque estãozepbetfalta ou são extremamente caros. A viagem também é perigosa por causa da insegurança na região.
Procurado pela BBC Mundo, o Ministério do Poder Popular dos Povos Indígenas, não respondeu aos questionamentos encaminhados.
"Nós sabemos que a doença está se espalhando, mas não conhecemos a escalazepbetmortalidade da epidemia, não temos um númerozepbetmortes, mas,zepbetumazepbetnossas últimas visitas, metade dos warao diagnosticada com HIVzepbetuma comunidade já havia morrido", diz Waard.
Ele conclui: "Imaginar o futuro da tribo dá medo. O número (de waraos) vai diminuir consideravelmente. Um cenário possível é o desaparecimento deles".