Índios venezuelanos se espalham pelo Norte e autoridades suspeitamcasa de bet falcaoexploração por brasileiros:casa de bet falcao

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Legenda da foto, Os índios Warao começaram a desembarcarcasa de bet falcaoBelémcasa de bet falcaojulho (Foto: Leandro Machado/BBC Brasil)

"Estamos investigando trabalho escravo, tráficocasa de bet falcaopessoas e aliciadores que fazem a viagem dos índios mediante pagamento futuro", explica Felipe Moura Palha, procurador da República com atuaçãocasa de bet falcaoBelém.

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Legenda da foto, Em um grupocasa de bet falcao44 pessoascasa de bet falcaouma comunidadecasa de bet falcaoBelém, 23 eram crianças (Foto: Leandro Machado/BBC Belém)

"Alguns coiotes poderiam estar ajudando os índios a chegar ao Brasil e a circular pelas cidades, mediante trabalho ou pagamento futuro. A gente quer saber se há gente lucrando com a desgraça alheia. É o mesmo que aconteceu com os haitianos (há alguns anos, milharescasa de bet falcaohaitianos migraram para o Brasil). Essas pessoas estariam fazendo os índios trabalhar na rua, e endividando os warao", diz Palha.

O procurador acredita que,casa de bet falcaobreve, membros da etnia devem chegar a cidades mais ao sul ou no Nordeste. "A facilidadecasa de bet falcaodoações é que os atraem. Então, é possível que eles migrem para grandes cidades, como São Paulo", diz Palha.

Em Boa Vista, o órgão chegou a investigar brasileiros que estariam "organizando" a mendicância dos índioscasa de bet falcaosemáforos da cidade e depois retirando parte do dinheiro arrecadado pelos venezuelanos. Um vídeo foi gravado mostrando a operação, mas a investigação não conseguiu reunir provas contra ninguém.

Situação precária

A comunicação com os representantes da etnia warao é bastante difícil, porque eles falam apenas seu próprio idioma e não dominam a língua espanhola ou portuguesa. A BBC Brasil acompanhou um grupocasa de bet falcao44 pessoascasa de bet falcaoBelém e apenas quatro arriscavam algumas palavrascasa de bet falcaoportuguês. Do total, 23 eram crianças.

A funcionários da prefeitura, eles contaram que procuraram Belém por causa das festividades do Círiocasa de bet falcaoNazaré, um dos maiores eventos católicos do mundo, que reúne maiscasa de bet falcaodois milhõescasa de bet falcaodevotos e que ocorreu no último fimcasa de bet falcaosemana. "Alguém falou para eles que, no Círio, eles poderiam conseguir mais doaçõescasa de bet falcaocomida e dinheiro", explica Rita Rodrigues, psicólogacasa de bet falcaoum programa federal que atua com pessoascasa de bet falcaosituaçãocasa de bet falcaorua. Ela e um grupocasa de bet falcaomédicos vêm acompanhando os indígenascasa de bet falcaoBelém.

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Legenda da foto, Algumas das criançascasa de bet falcaoBelém estavam desnutridas por conta da faltacasa de bet falcaoalimentação (Foto: Leandro Machado/BBC Brasil)

Algumas famílias foram para a cidade saindocasa de bet falcaoManaus, numa viagemcasa de bet falcaobarco que dura ao menos dois dias. A travessia custou R$ 50 por pessoa, mediante acertocasa de bet falcaopagamento futuro - normalmente, a passagem custa R$ 200. O preço menor é uma das suspeitascasa de bet falcaoque brasileiros estariam facilitando a migração para explorar economicamente o grupo.

Em Belém, eles estão vivendo nas ruascasa de bet falcaosituação precária, com problemascasa de bet falcaohigiene ecasa de bet falcaoalimentação - as crianças estão desnutridas. Segundo o Ministério Público Federal, há informaçãocasa de bet falcaoque um bebê morreu devido a complicaçõescasa de bet falcaosaúde.

Diante da insalubridade das condiçõescasa de bet falcaovida dos indígenas, o MPF, junto à Defensoria Pública, entrou na Justiça para garantir a eles um abrigo emergencial na cidade. O consulado da Venezuela também tentava conseguir um local.

"Eles estão passando fome,casa de bet falcaosituaçãocasa de bet falcaomendicância, as criançascasa de bet falcaograve estadocasa de bet falcaodesnutrição. O Estado brasileiro precisa dar uma resposta para essa situação, precisa dar um amparo para esses refugiados", diz Palha.

Nessa terça, no entanto, depoiscasa de bet falcaoserem abrigados, o grupo decidiu voltar para as ruas e para a mendicância.

Na semana passada, um dia antes do início do Círiocasa de bet falcaoNazaré, com o centrocasa de bet falcaoBelém já cheiocasa de bet falcaofiéis, a Polícia Militar chegou a cercar os índios para que os bebês e crianças não se perdessem do grupo no meio da multidão.

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Legenda da foto, Em Belém, eram as mulheres as responsáveis por pedir dinheiro e doações nas ruas da cidade (Foto: Leandro Machado/BBC Brasil)

casa de bet falcao 'A busca pela sobrevivência'

Segundo um relatório antropológico do MPF, que passou a acompanhar os indígenas desde o ano passado, os warao que chegaram ao país viviam anteriormentecasa de bet falcaoregiões próximas do Orinoco, o principal rio da Venezuela. Eles são o principal grupo indígena da Venezuela, com aproximadamente 49 mil integrantes.

Durante o governocasa de bet falcaoHugo Chávez, a etnia dependiacasa de bet falcaodoações e ajudacasa de bet falcaoprogramas sociais. Muitos viviam nas ruas,casa de bet falcaocidades como Tucupita e Barrancas. Depois, diante da crise econômica no governo Nicolás Maduro, tanto os benefícios sociais quanto as doações nas cidades rarearam a pontocasa de bet falcaoobrigar os índios a se mudar.

"Nas cidades venezuelanas, o comércio é o principal meiocasa de bet falcaoacesso dos warao aos bens alimentícios, o qual ficou comprometido com o aumento substancial dos preçoscasa de bet falcaoitens básicos da alimentação local, como arroz, farinhacasa de bet falcaotrigo, banana e mandioca", diz o relatório. "A escassezcasa de bet falcaocomida e seu alto custo na Venezuela eram constantemente ressaltadas como as principais causas para saíremcasa de bet falcaoseu paíscasa de bet falcaoorigem."

A migração para obter melhores condiçõescasa de bet falcaovida é uma das características dos warao, segundo o MPF. Tem sido comum, por exemplo, algumas pessoas retornarem à Venezuela depoiscasa de bet falcaouma temporada no Brasil.

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Legenda da foto, Segundo o Ministério Público Federal, os warao ficaram abrigadoscasa de bet falcaoáreas próximas a pontoscasa de bet falcaotráficocasa de bet falcaodrogas e prostituição (Foto: Leandro Machado/BBC Brasil)

Em Belém, eram as mulheres que pediam as doações nas ruas - normalmente elas ficam com crianças no colo. Conseguiram arrecadar roupas, frutas, cobertores, refrigerante e dinheiro. Quando a reportagem tentou falar com um garoto, ele perguntou se o repórter era da polícia - um medo constante entre os warao. O MPF também fez uma campanhacasa de bet falcaoarrecadaçãocasa de bet falcaoalimentos.

"O fato écasa de bet falcaoque eles estão numa situaçãocasa de bet falcaovulnerabilidade extrema. O Brasil não se preparou para recebê-los e, até hoje, o Estado não tem resolvido esses problemas. A gente fica muito preocupado, ainda mais por que a Funai (Fundação Nacional do Índio), que é o órgão que poderia ajudar, está numa crise gigantesca, com perda do orçamento e funcionários", diz José Gladston, procurador da Repúblicacasa de bet falcaoBoa Vista.

"Todos os países do mundo são obrigados por tratados internacionais a dar condições mínimas para refugiados. Esse grupo é duplamente protegido, por ser uma comunidade indígena tradicional e por ser refugiado. A existência deles está ameaçada, eles estão fugindo da fome, numa tentativa desesperadacasa de bet falcaosobreviver", diz o procurador Felipe Moura Palha.