Os seis dias que já duram 50 anos: a guerra que mudou para sempre o Oriente Médio:fax bet
fax bet Poucas guerras foram tão curtas - e tiveram consequências tão amplas e duradouras.
Há 50 anos, entre 5 e 10fax betjunhofax bet1967, Israel enfrentou simultaneamente os exércitosfax betEgito, Síria e Jordânia. E impôs a todos uma derrota fulminante no conflito conhecido como a Guerra dos Seis Dias.
Foi uma transformação no xadrez geopolítico do Oriente Médio, com efeitos sentidos até hoje.
"A guerra transformou o Oriente Médio porque teve um impacto significativo no mundo árabe,fax betIsrael e na atuação dos Estados Unidos na região", afirmou Kenneth Stein, professorfax betHistória do Oriente Médio e Ciência Política na universidade Emory, nos EUA.
"As sequelas prosseguem e ainda não conhecemos o resultado final", disse Stein à BBC Mundo, o serviçofax betespanhol da BBC.
A primeira consequência evidente da guerra diz respeito a território: Israel multiplicou seu tamanho tomando a península do Sinai do Egito e as colinasfax betGolã da Síria. A Jordânia perdeu a Cisjordânia.
Segundo Stein, essa mudança no mapa do Oriente Médiofax betjunhofax bet1967 foi a mais dramática desde 1916, quando França e Reino Unido fizeram a partilha da região no acordo secretofax betSykes-Picot.
A vitória rápida surpreendeu até os israelenses.
"Israel não tinha intençãofax betir à guerra ou invadir países árabes. Seu objetivo era neutralizar o exército egípcio. As atas das reuniões do governo israelense durante a guerra mostravam a incerteza que havia sobre o que fazer com os territórios", diz o especialista americano.
Aniquilação
Em 1967, a percepçãofax betum conflito iminente entre árabes e judeus estava no ar. Em 14fax betmaio, o presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, tinha mobilizado milharesfax betsoldados na fronteira com Israel quando solicitou a retirada das forçasfax betpaz da ONU presentes na região desde 1957.
Oito dias depois, o Egito instituiu um bloqueio naval a Israel no estreitofax betTiran, fechando o único acesso marítimo que o Estado judeu tinha ao mercado asiático, efax betrotafax betrecebimentofax betpetróleo por seu principal provedor à época, o Irã.
As decisões vieram com ameaças.
"Os exércitosfax betEgito, Jordânia, Síria e Líbano estão nas fronteirasfax betIsrael, e atrásfax betnós estão as tropasfax bettodo o mundo árabe. Assombraremos o mundo! Chegou a horafax betagir", disse Nasserfax betdiscursofax bet30fax betmaio.
O ministro da Defesa e futuro presidente da Síria Hafez al Assad anuncioufax betdisposição para o conflito. "Estamos com o dedo no gatilho. Chegou o momento para uma batalhafax betaniquilação."
Autor do livro Guerras justas e injustas, o filósofo americano Michael Walzer ressalta o contraste entre as expectativas antes da guerra e o conflitofax betsi.
"O triunfo israelense foi tão extraordinário que jogou no esquecimento a ansiedadefax betsemanas anteriores", escreveu.
Segundo Walzer, enquanto o Egito vivia uma febre bélica e a expectativafax betvitória, o ânimofax betIsrael era completamente diferente: o pânico deixava vazias as prateleirasfax betsupermercados e milharesfax betsepulturas foram cavadasfax betcemitérios militares à esperafax betsoldados mortos.
Surpresa
Na manhãfax bet5fax betjunho, o premiê israelense, Levi Eshkol, ordenou um ataque aéreo surpresafax betque 90% da Força Aérea egípcia foi destruída no solo. O mesmo se passou na Síria.
"Israel estava sendo estrangulado e precisava desatar o nó que tinha ao redor do pescoço", conta Stein.
Outra explicação para o ataque está na doutrina militarfax betIsraelfax betlevar conflitos ao território inimigo: uma guerrafax betIsrael causaria uma enorme quantidadefax betbaixas - seu território é pequeno e com alta concentração populacional.
Nathan Sachs, diretor do Centrofax betPolíticas sobre Oriente Médio do Instituto Brookings,fax betWashington, ressalta que, embora Israel soubesse ter poder militar suficiente para derrotar os árabes, não podia permitir que as tensões se prolongassem demais.
"Israel era mais forte, mas apenas porque o país inteiro estava comprometido com o esforçofax betguerra. Precisavafax betenormes recursos para manter o alto nívelfax betalerta. Então, havia limites para o quanto podia sustentar essa situação. A economia inteira tinha sido mobilizada para responder às ameaças", diz Sachs.
Bravatas?
Alguns analistas acreditam que, apesar dos indíciosfax betque um ataque árabe era iminente, Nasser não tinha intençõesfax betiniciar uma guerra, mas apenas fazer bravatas dentrofax betum planofax betse tornar líder do mundo árabe.
"É bem provável que Nasser já considerasse uma grande vitória se pudesse ter bloqueado o estreito e mantido tropas na fronteira sem realmente ir à guerra", escreveu Walzer.
A derrota, porém, foi um duro golpe para Nasser e para a ideologia do pan-arabismo, que promovia a unidade política e cultural do mundo árabe.
"Nasser era o líder árabe mais importante do momento. Era também muito carismático, mas a derrotafax bet1967 afetou dramaticamentefax betreputação e mudou o balançofax betpoder na região", explica Sachs.
Especialistas como Stein veem a Guerra dos Seis Dias como o princípio do fim do pan-arabismo e uma das causas do surgimentofax betmovimentos islâmicos radicais no mundo árabe.
Causa palestina
O resultado do conflito teve impacto direto na causa palestina, uma bandeira comum dos Estados árabes.
Sachs explica que, antesfax bet1967, a maior parte dos palestinos vivendo na Jordânia eram cidadãos deste país, pois os demais não concediam cidadania. Sendo assim, uma tema central eram os refugiados e seus descedentes, gente que vivera onde era Israel e quefax betlá tinha saído após a fundação do Estado judeu,fax bet1948.
"Depois da Guerra dos Seis Dias, os países árabes ficaram menos interessadosfax betlutar pelos palestinos e mais preocupadosfax betrecuperar seu próprio território. Surge, então, um movimento palestino independente com causa nacionalista e que tenta buscar a atenção internacional."
Esse movimento recorreu a meios violentos para impulsionar a causa, como sequestros e atentados. Entre eles, o assassinatofax bet11 atletas israelenses durante as Olimpíadasfax betMunique, a Alemanha,fax bet1972.
Sementes da paz
No entanto, a guerra também abriu oportunidades para a paz entre Israel e outros vizinhos. O conflito tornou possíveis os acordos com Egito (1979) e Jordânia (1994), bem como as negociações falidas com a Síria.
"Antesfax bet1967 havia muito poucas oportunidadesfax betnegociação. Principalmente porque os Estados árabes esperavam derrotar Israel militarmente", afirma Sachs.
A derrota, porém, deu a Israel espaçofax betmanobra. "Muitos países começaram a pensarfax betforma pragmática sobre como lidar com a existênciafax betIsrael."
Ainda assim, os Estados árabes fizeram nova tentativafax betresolver as coisas à força. Em 1973, Egito e Síria atacaram Israel no Dia do Perdão, o mais sagrado do calendário judaico - o conflito durou três semanas. Mas Stein ressalta que a diplomacia acabou vencendo.
"Se Nasser não tivesse perdido o Sinai, o Egito, com o sucessor Anwar al Sadat, não teria que ter se esforçado para recuperá-lo, algo que só veio com a paz junto a Israel. Isso mudou a natureza do conflito."
A guerra também deu início a uma erafax betmaior envolvimento dos EUA no Oriente Médio - tanto que Washington foi protagonista nas negociaçõesfax betpaz entre Israel, Egito e Jordânia.
E embora proteger Israel fizesse parte da política externa americana, até 1967 o principal provedorfax betarmas para Israel, por exemplo, era a França.
"Agora Washington é referência quando se trata do conflito árabe-israelense", diz Stein.
Dilema interno
No terceiro dia da guerrafax bet1967, o exército israelense tomou o controlefax betJerusalém Oriental, e o premiê Eshkol comentou que o país tinha "recebido um bom dote, mas uma noivafax betque não gostava".
Foram palavras premonitórias.
"Na Cisjordânia efax betJerusalém Oriental estão os lugares mais sagrados para os judeus, e isso mudou muita coisafax betIsrael. Fomentou o sionismo religiosofax betoposição ao secular, que havia predominado até então. Depoisfax bet1967, havia quem visse nessa vitória uma 'intenção divina'fax betdevolver os locais sagrados aos judeus", analisa Sachs.
"Isso teve um efeito dramático na política israelense, que começou a se concentrar mais nos territórios do que na economia efax betoutros assuntos."
Stein diz que Jerusalém se transformoufax betparte do debate.
"Conquistar Jerusalém teve um imenso impacto emocional. Tanto que, anos mais tarde, o Estado aprovou uma lei que declara a cidade como a capital eterna do povo judeu."
Desde então, o país se moveu ideologicamente do centro para a centro-direita.
Israel também ocupou o território do antigo protetorado britânico da Palestina, onde construiu assentamentos para seus prórpios cidadãos e gerou acusaçõesfax betviolaçõesfax betdireitos humanos e condenações por uma sériefax betinstituições, incluindo a ONU.
Para Sachs, a situação atual estáfax betum limbo. "Se Israel incorpora a Cisjordânia a seu território, mudaria completamente o país, pois não teria uma maioria judia e criaria o riscofax betuma guerra civil."
A alternativa, na opinião do especialista, seria a retiradafax betIsrael da Cisjordânia para permitir a criaçãofax betum Estado palestino. Só que iniciativas anteriores revelaram um problemafax betsegurança.
"As tentativasfax betacordofax betpaz com os palestinos fracassaram. Quando Israel deixou voluntariamente a Faixafax betGaza,fax bet2005, o que conseguiu foi mais beligerância por parte do (grupo extremista) Hamas."
Deste modo, entre segurança e democracia, Israel enfrenta um dilema fundamental que, 50 anos depois da Guerra dos Seis Dias, ainda não sabe como resolver.