Único médicobetano apostas loginregião sob fogo cruzado chega a atender 400 pacientes por dia no Sudão:betano apostas login
'Dia típico'
Por acreditar que nenhuma palavra consegue traduzir o sentimento, Catena pede que imaginemos esse dia que ele descreve como comum no hospital Mother of Mercy, onde podem chegar a ser atendidos 400 pacientesbetano apostas loginum só dia.
"Você vai à pediatria e uma criança com queimadurasbetano apostas loginterceiro graubetano apostas login60% do corpo, causadas dias antes por uma bomba incendiária, morrebetano apostas loginseus braços. Depois você vai à área feminina, onde uma mulher com câncerbetano apostas loginmamabetano apostas loginfase terminal morre ao ladobetano apostas loginoutra paciente a quem você teve que amputar uma perna por ter pisadobetano apostas loginuma mina terrestre. Você vai à maternidade e uma grávida com toxemia e pré-eclâmpsia tem uma convulsão e morre ao dar à luz. Você vai à área masculina e um dos soldados que você operou um dia antes morre. E você senta lá e tenta explicar à família o que aconteceu. Aí você sai e,betano apostas loginfrente à tenda que instalamos para tratar os pacientesbetano apostas loginuma epidemiabetano apostas loginsarampo, você vê uma mãe gritando, rolando no chão, chorando porque seu bebê acababetano apostas loginmorrerbetano apostas loginsarampo."
Ele fala rápido, olhando para o chão por trás dos óculos redondos, como se seguisse o ritmobetano apostas loginsuas rondas no hospital.
"A essa altura, você sente que toda a tristeza e dor do mundo pesam sobre a tua cabeça, apertam o teu peito e você não consegue nem respirar. O impacto psicológico é tão grande que a dor se torna física."
Ainda assim, a vontadebetano apostas logindesistir, ele assegura, não dura mais que poucos minutos, e é espantada pelo sorrisobetano apostas loginum garoto que se aproxima com uma bola chamando o médico para brincar ou pelo agradecimentobetano apostas loginuma mulher que carrega nos braços o filho amputado.
"São coisas simples que me fazem resistir, como um velho que te diz: 'doutor, por favor, não nos abandone'. Aí você recobra lentamente os sentidos e percebe que é a única esperança para essas pessoas que foram traumatizadas, derrubadas, oprimidas por séculos."
Missão
Aos 53 anos, Doutor Tom, como é chamado pelos locais, é um homembetano apostas loginaparência frágil, mas juvenil, sorriso fácil e abraços efusivos, que se formoubetano apostas loginMedicina graças a uma bolsa da Marinha americana e a um profundo desejobetano apostas loginservir aos outros.
"É realmente a minha fé que me move. Sempre fui muito inspirado por São Franciscobetano apostas loginAssis. Queria viver uma vida simples, dedicada a ajudar", conta ele, que se define como católico fervoroso.
Originário da cidadebetano apostas loginAmsterdam, Estadobetano apostas loginNova York, ele chegou às montanhas Nuba há nove anos, depoisbetano apostas loginseis no Quênia, escolhido por ser um lugar "onde havia uma imensa necessidadebetano apostas loginmédicos".
No Sudão, algunsbetano apostas loginseus pacientes precisam caminhar sete dias para chegar ao hospital Mother of Mercy, o mais próximobetano apostas loginonde vivem.
O estabelecimento atende a todos gratuitamente e independentebetano apostas loginreligião ou implicação no conflito armado - os nuba se dividem entre católicos, muçulmanos e uns poucos animistas.
Em 2011, quando o governobetano apostas loginCartum cercou as montanhas Nuba, proibiu o acessobetano apostas loginajuda humanitária e deu início aos bombardeios. As poucas organizações internacionais que atuavam na área desertaram, levando consigo médicos, anestesistas e enfermeiros.
Catena e duas freiras católicas sudanesas foram os únicos a permanecer.
"Nunca me arrependi dessa decisão. Não podia abandonar essa gente no momentobetano apostas loginque mais precisavambetano apostas loginmim. Se eu fizesse isso, significaria que a minha vida é mais importante que a deles. E não concordo com essa ideia", afirma.
Bombas
Hoje ele conta com uma equipebetano apostas login60 enfermeiros locais, entre eles dois anestesistas e alguns menoresbetano apostas loginidade "com formação ainda insuficiente".
Para dar conta dos pacientes, Catena vive no hospital e não contabiliza as horas trabalhadas. Estima realizar mil cirurgiasbetano apostas loginum ano.
Faltam equipamentos, a eletricidade dependebetano apostas loginum gerador ebetano apostas loginpainéis solares, a água vembetano apostas loginpoços artesanais, e os medicamentos têm que ser adquiridosbetano apostas loginUganda ou Quênia e levados ao hospital clandestinamente,betano apostas loginoperações logísticas complicadas e caras.
Usando às vezes "métodos da época da guerra civil", ele trata tanto traumasbetano apostas loginguerra como casosbetano apostas loginpneumonia, malária, desnutrição, epidemiasbetano apostas loginlepra e sarampo ou câncer.
Mas o pior, Catena afirma, são os bombardeios. O hospital já foi diretamente visado duas vezes. Nessas ocasiões, médico, enfermeiros e pacientes que conseguem andar se amontoambetano apostas loginburacos cavados no chãobetano apostas loginterra batida ao redor do local, a única proteção contra as bombas das tropas do governo. Reconhecer os ruídos que vêm do céu é questãobetano apostas loginsobrevivência.
"Escuto os aviões circulando sobre nossas cabeças e penso: 'será que não sabem que há gente aqui embaixo?'. Mas a verdade é que há uma diferençabetano apostas loginvalor. Há um grupo que pensa quebetano apostas loginvida é mais importante que abetano apostas loginoutros."
Crimesbetano apostas loginguerra
"É uma estratégia nojenta. Quando você bombardeia um hospital realmente se desmoraliza as pessoas. Não se trata sóbetano apostas loginvidas perdidas, estruturas destruídas. Os efeitos psicológicos são completamente devastadores. É uma guerra psicológica contra a população."
Omar al-Bashir é buscado desde 2009 pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que o acusabetano apostas logincrimesbetano apostas loginguerra e crimes contra a humanidade na região sudanesabetano apostas loginDarfur, palcobetano apostas loginuma intensa guerra civilbetano apostas loginque, segundo algumas estimativas, podem ter morrido até 400 mil pessoas e levou à divisão do país com a criação do Sudão do Sul,betano apostas login2005. O TPI rejeitou as acusaçoesbetano apostas logingenocídio que eram feitas contra al-Bashir.
Em seu hospital, o doutor Tom Catena fotografa e registra metodicamente todos os casosbetano apostas logintraumabetano apostas loginguerra tratados e indícios da violência cometida contra os civis nuba, na esperançabetano apostas loginque um dia Bashir também seja responsabilizado pelo que ocorre nessa outra região do Sudão.
Além dos tiroteios, minas terrestres, bombas incendiárias ebetano apostas loginfragmentação, a população nuba, que subsiste da agricultura familiar, também enfrenta a fome.
"Ao lançar bombas incendiárias sobre as terras que (os nuba) estão tentando cultivar, o governo destrói toda a possibilidade que eles têmbetano apostas loginsubsistir. Não há o que comer. Você entrabetano apostas loginum mercado e vê, literalmente, um pernilbetano apostas loginovelha, nada mais", explica Catena.
O rosto marcado, os braços finos e o andar hesitante do médico poderiam confirmar suas palavras.
Futuro
Nos últimos seis meses a situação tem estado mais calma graças a uma trégua acordada entre governo e rebeldes. Mas o missionário americano considera a situação frágil e que o conflito pode recomeçar a qualquer momento.
Ainda assim, continua ignorando os pedidosbetano apostas loginseus seis irmãos para que volte aos Estados Unidos. Há pouco maisbetano apostas loginum ano, Catena se casou com uma nuba e deseja ter filhosbetano apostas loginbreve, algo "muito importante" na culturabetano apostas loginsua esposa.
"Não tenho nenhum interessebetano apostas loginir embora enquanto as coisas não se estabilizarem", afirma.
Com o apoiobetano apostas loginorganizações católicas que financiam o hospital Mother of Mercy, Catena começou a formar médicos e enfermeiros locais, com o objetivobetano apostas loginque possam gradualmente ocupar seu papel e permitir que ele busque outro destino "onde precisarão mais"betano apostas loginsua ajuda.
O primeiro médico nuba deve se formar no Quêniabetano apostas loginum ano e um outro está no segundo ano da faculdadebetano apostas loginMedicinabetano apostas loginUganda.
"Estamos treinando muita gente. Há dez pessoasbetano apostas loginescolabetano apostas loginenfermagem, seisbetano apostas loginclínica geral. Espero e rezo para que esses caras voltem e venham com disposição e dedicação, para que possamos realmente começar a melhorar a atenção médica na região, com a população nuba treinando outros nuba. O objetivo é que os locais passem a administrar o hospital", explica.
Quando isso for possível, seu sonho é tornar-se "obsoleto, velho" e "viver às custas"betano apostas loginsua esposa, ele ri.
O trabalhobetano apostas loginCatena foi reconhecido neste ano com o Prêmio Aurora pelo Despertar Humanitário, entreguebetano apostas login28betano apostas loginmaiobetano apostas loginErevan (Armênia).