A avó que esperou 60 anos para revelar passadosaque minimo na betprostituição e como foi salva pelo amorsaque minimo na betsua vida:saque minimo na bet
"Os homens são bonitos lá", diz. "Você está corando", eu digo. "Sim", responde com uma risada. "Eu sei".
Perguntei qual erasaque minimo na betmemória favorita da infância e ela diz "a vontadesaque minimo na betsairsaque minimo na betlá". A família Carmona era pobre.
"Comíamos sementes e tortilhas, com alguma pimenta, e sabia muito bem porque estávamos com fome", conta.
Ela me contou quesaque minimo na betirmã mais nova morreusaque minimo na betfome. Quando Frances tinha 14 anos, partiusaque minimo na betsua casa para ir à cidadesaque minimo na betGuadalajara. Conseguiu um trabalho como empregada doméstica e começou a enviar dinheiro para casa.
Mas o dinheiro continuava escasso e Francisca tinha sonhos maiores. "O Norte", diz, ainda com um poucosaque minimo na betmedo na voz. Ela se referia aos Estados Unidos.
A 'oportunidade'
Era décadasaque minimo na bet1950. A década da prosperidade e expansão cultural dos Estados Unidos. Foi quando nasceu o rock'n'roll, quando Marilyn Monroe cantava que os diamantes eram "seus melhores amigos".
John Wayne pilotava aviões na tela grande, e Marlon Brando estava no filme Um Bonde Chamado Desejo.
Francisca conseguiusaque minimo na betgrande oportunidade quando tinha 16 anos. Uma mulher mais velha se aproximou e disse: "Estamos procurando garçonetes para trabalhar na fronteira com o Texas. Um pequeno povoado chamado Villa Acuña. Num restaurante chamado La Perla".
Francisca fez as malas e partiu, rumo a seu novo trabalho. Era uma viagemsaque minimo na betum dia. Quando finalmente chegou à cidade, ela se deu contasaque minimo na betque não havia restaurante. Nem mesmo ruas. La Perla era uma casa no meio do nada. Era um bordel.
"Você tem que fazer o que tem que fazer", lembra-se, resignada. Nunca tinha imaginado que isto lhe aconteceria. E não tinha escolha. "Eu era o ganha-pão da minha família", explica.
Tudo isto aconteceu quando ainda era adolescente. "Eles nos deram um quarto, nos disseram para ficarmos bonitas e que fôssemos ao salão porque estava cheiosaque minimo na betsoldados americanos", disse.
O bordel servia exclusivamente a militares americanos, que chegavam da fronteira do Texas. Os mexicanos não colocavam o pé no La Perla, mas a polícia mexicana protegia o lugar e vigiava as meninas.
Francisca comenta que médicos faziam visitas periódicas no local.
Com sorte
É estranho, ouvir esta doce avó me contar a históriasaque minimo na betcomo foi traficada enquanto insistia que terminasse um prato gigantesaque minimo na betpamonhasaque minimo na betmilho que preparou para mim.
Mas nada disto é incomum. As cidades fronteiriças mexicanas historicamente serviram como lugaressaque minimo na betvício e exploração. O turismo sexual é um negócio lucrativo até hoje.
As autoridades informam que entre 2011 e 2012 maissaque minimo na bet9 mil mulheres desapareceram no México. E isto são apenas os casos denunciados.
Mas Francisca não contasaque minimo na bethistória como outras sobreviventessaque minimo na bettráfico sexual com quem falei. Ela fala do quão sortuda ela foi.
Sua amiga, que foi levada para outra cidade, foi assassinada. Francisca fala da madame gentil que a permitia guardar parte do dinheiro que ganhava. De homens importantessaque minimo na betuniforme, que eram cavalheiros.
Saiosaque minimo na betsua casa um pouco perplexa. Mas seu tom muda na próxima vez que falamos, quando me convida para comer.
Por que agora?
Enquanto serve uma sopasaque minimo na betrabada no meu prato, Frances me diz: "Sabe, esta é uma grande vergonha na minha vida, quero que entenda que estava desesperada".
"É uma coisa feia", lamenta. "Ter relações com um homem que você não quer, você apenas fecha os olhos e deixa acontecer. É falso. Faz por necessidade, não por desejo. Não entende nadasaque minimo na betamor. Não sabe beijar com paixão".
Pergunto se tem nojo. Ela faz uma pausa e responde: "Sim,saque minimo na betmim mesma".
Então pergunto por que ela está me contando este segredo. Por que agora? Por que revelar aquilo?
"Não sei", responde, e logo vacila. "Não sei o porquê. Acredito que havia algo aqui", explica, enquanto esfrega seu peito esquerdo. "Algo dentrosaque minimo na betmim".
Carmona diz saber o quanto queria deixar aquele lugar. Ela assegura que sempre disse a si mesma: "Tenho que me casar com um americano".
Realmente apaixonados?
Um dia chegou um cliente, que era alto e bonito, um sargento da Força Aérea dos Estados Unidos. Ele se chamava William.
"Era tão elegante", lembra Frances. "Levava uma camisa azul e uma gravata. Media quase 1,80 m".
Naquela noite, deram um passeio. A lua estava bonita.
"Ele se apaixonou por mim e disse 'quero que saia daqui'", conta Francisca.
Eles realmente se apaixonaram? Será que uma jovem confinadasaque minimo na betum bordel, desesperada para sairsaque minimo na betlá, pode realmente amar o homem que pode resgatá-la? Um cliente? Toda vez que pergunto, ela responde o mesmo.
"Me apaixonei e amei aquele homem", garante.
Eles se casaram e William a trouxe para Nova York. Foramsaque minimo na betônibus. Era 1952. Chegaram à estação da Autoridade Portuária, a agitada e congestionada estação centralsaque minimo na betônibussaque minimo na betManhattan, que funciona até hoje.
Foi lá que nos encontramos, num sábadosaque minimo na betmanhã.
60 anos depois
Ela estava ansiosa para me levar ao bairrosaque minimo na betQueens e me apresentar a seus amigos. Depoissaque minimo na betaproximadamente uma hora no metrô, chegamos. Caminhamos por uma barulhenta avenida e por tranquilas ruas suburbanas.
Embora hoje esteja cheiosaque minimo na betgente que fala espanhol e ouve reggaetón, a avó Frances foi a primeira latina a viver ali. Sua nova família a aconselhou que não falassesaque minimo na betespanhol com seus filhos. Naquele momento, a região era, acimasaque minimo na bettudo, um bairro italiano.
Ela disse que quando chegaram, pegaram um táxi para a casasaque minimo na betsua sogra. Ela lembra que fazia frio.
Nunca tinha visto a neve. "Tinha medosaque minimo na betcongelar", risaque minimo na betsi própria.
Eram quatro da madrugada. Estava escuro. Não conseguia ver nada. Ela ainda não sabia que tudo ia ficar bem, que faria partesaque minimo na betuma grande família que a adoraria.
Quando seu novo marido bateu à portasaque minimo na betsua casa, ela só sabiasaque minimo na betuma coisa: ela passara por uma experiência bem ruim. Uma coisa que acontece com mulheres o tempo todo, até hoje.
Era um segredo no qual pensaria às vezes, mas que nunca contaria a ninguém, até 60 anos depois, já viúva e com netos. Naquele momento, sabia que tinha sido capazsaque minimo na betsobreviver; que tinha conseguido sair e que ia construir algo mais: uma boa vida.
Francisca Carmona García, mais conhecida pelas pessoas que a amam como Frances, finalmente estavasaque minimo na betcasa.