A vítimaaposte e ganhe bonusestupro coletivo que cometeu suicídio após ser humilhada no WhatsApp:aposte e ganhe bonus

Ilustraçãoaposte e ganhe bonusGeeta
Legenda da foto, Em algumas regiões da Índia, sociedade raramente culpa homens por estupros

As ameaças tiveram início quando Geeta se recusou a conversar com ele. Khushboo*, amiga e colega dela, conta que o homem a parou na rua, tomou seu celular e disse: "Se eu encontrar você sozinha, não vou te deixar ir."

Geeta certamente já tinha ouvido os relatos sobre abusos sexuais cometidos nos vilarejos onde ela trabalhava.

Dezoito meses antes, o Estadoaposte e ganhe bonusUttar Pradesh virou manchete quando duas garotas foram estupradas e mortasaposte e ganhe bonusBadaun.

Ela provavelmente também sabia que, pela cultura patriarcal da região, poderia ser considerada culpada por "convidar" as investidas sexuaisaposte e ganhe bonushomens - mesmo que fossem não desejadas, intimidativas e violentas.

Sem ter a quem recorrer

Na última vezaposte e ganhe bonusque foi chamada para trabalhar no vilarejo do homem que a perseguia, Geeta disse a Khushboo estar com medoaposte e ganhe bonusir sozinha. A amiga se ofereceu para fazer a visita com ela - e ficou preocupada ao vê-lo rondando a área.

Khushboo pediu então que Geeta fosse até os anciões da vila e revelasse a eles o problema. Mas, convencidaaposte e ganhe bonusque qualquer pedido poderia se voltar contra si, ela se recusou. "Só vão encontrar culpaaposte e ganhe bonusmim", disse na época.

Dias depois, quando as duas voltaram à vila para vacinar crianças contra a pólio, Geeta contou que algo terrível havia acontecido.

O homem e três amigos tinham lhe seguido - eles a seguraram, rasgaram suas roupas e a estupraram.

Ilustraçãoaposte e ganhe bonusGeeta
Legenda da foto, Geeta virou alvoaposte e ganhe bonuscomentários após vídeo ser divulgado

Apesaraposte e ganhe bonusabalada, relata Khushboo, Geeta não estava a pontoaposte e ganhe bonuscometer suicídio. "Eu disse a ela: 'nós estamos todas ao seu lado; não faça nadaaposte e ganhe bonusdrástico'", conta a amiga.

Naquele momento, Geeta realmente não estava planejando morrer - ela pensava, inclusive,aposte e ganhe bonusprocurar a polícia. "Vou delatá-los. Vou descobrir os nomes dos homens que abusaramaposte e ganhe bonusmim e colocá-los na cadeia."

Temores confirmados

Mas antes que isso ocorresse, um vídeo mostrando o estupro começou a circular no WhatsApp.

Dentroaposte e ganhe bonusalgumas horas, as imagens estavam sendo assistidas por homens e as mulheres da vizinhança - que as comentavam, aos sussurros.

"Ela me ligou", conta Khushboo. "Disse que estava difícilaposte e ganhe bonussairaposte e ganhe bonuscasa porque os vizinhos estavam sabendo (do estupro)."

"Ela estava preocupada e me perguntou se alguém na minha vizinhança sabia", lembra a amiga.

A intuiçãoaposte e ganhe bonusGeeta estava certa: ela acabou sendo considerada, aos olhos do povo local, culpada por ter "atraído" os homens.

"Naqueles últimos dias, ela estava muito triste", conta Khushboo.

"Não estava nem se alimentando direito. Um dia antesaposte e ganhe bonusmorrer, me disse que tinha ido ao médico e havia contado tudo a ele."

A reação do profissional teria sido a seguinte: "Vá para casa e fique quieta. Tudo isso é culpa sua."

Ela procurou ainda o ex-chefe do vilarejo, que também disse: "A culpa é sua, não há nada que possamos fazer."

Foi o baque final. Na tarde seguinte, Geeta foi encontrada à beiraaposte e ganhe bonusuma estrada na periferia da vila.

Espuma saíaaposte e ganhe bonussua boca - ela morreu antes que pudesse ser levada ao hospital. A autópsia confirmou as suspeitasaposte e ganhe bonusmorte por envenenamento.

Geeta, ilustração
Legenda da foto, Vítimasaposte e ganhe bonusestupro muitas vezes não têm a quem recorrer

Triste realidade

O estupro e condenamento públicoaposte e ganhe bonusGeeta não é um incidente isolado.

A Índia tem testemunhado uma sérieaposte e ganhe bonuscasosaposte e ganhe bonuscompartilhamentoaposte e ganhe bonusvídeosaposte e ganhe bonusestupros coletivos, todos filmados com celular.

Em agostoaposte e ganhe bonus2016, o jornal Times of India revelou que centenas - talvez milhares -aposte e ganhe bonusimagens mostrando abusos sexuais estavam sendo vendidas diariamenteaposte e ganhe bonusmercadosaposte e ganhe bonusUttar Pradesh.

O donoaposte e ganhe bonusuma loja afirmou à publicação: "O pornô é passado. Esses crimes da vida real é que estão na moda."

O jornal ainda ouviu outro vendedor dizer a clientes que eles poderiam até mesmo conhecer a garota das gravações mais "quentes" do momento.

Sunita Krishnan, ativista responsável por uma ONGaposte e ganhe bonuscombate ao tráfico sexualaposte e ganhe bonusHyderabad, disse recentemente à Suprema Corte do país que havia coletado maisaposte e ganhe bonus90 vídeosaposte e ganhe bonusestupros nas redes sociais.

Pavan Duggal, advogado na Suprema Corte, disse à BBC que os juízes ficaram chocados com dois relatórios sobre estupros coletivos cujos vídeos circularam pelo WhatsApp.

Eles enviaram uma ordem especial ao órgão indiano responsável por investigações para que os suspeitos fossem identificados e levados à Justiça.

Geeta e autoridades,aposte e ganhe bonusilustração
Legenda da foto, Autoridades locais culparam Geeta pelo ataque

A corte também solicitou que o ministroaposte e ganhe bonusTecnologia da Informação examinasse medidas para interromper a circulação desse tipoaposte e ganhe bonusvídeo.

"Mulheres são alvo constante", disse Duggal, "e o fatoaposte e ganhe bonusos casos não estarem aparecendo na mídia não nos dá motivos para sermos complacentes e acharmos que está tudo bem."

Em muitos vilarejos, porém, é mais comum que as pessoas se incomodem com o fatoaposte e ganhe bonusmulheres estarem usando celulares do que com homens que utilizam os aparelhos para intimidar vítimasaposte e ganhe bonusestupro e compartilhar vídeos dos crimes na internet.

Como resultado, vários governos locaisaposte e ganhe bonusUttar Pradesh proibiram garotasaposte e ganhe bonusportar celulares.

"A pressão sobre as mulheres é enorme e, se por um acaso, elas colocarem suas mãosaposte e ganhe bonusum telefone ou usarem fonesaposte e ganhe bonusouvido para escutar música elas passam a ser taxadasaposte e ganhe bonus'sem caráter' (sem moral)", diz Rehana Adib, uma assistente social que se dedicou a estudar o casoaposte e ganhe bonusGeeta.

"Quando a família e a sociedade colocam o peso da honra e do bom caráter sobre os ombros das mulheres, enquanto os homens são absolvidosaposte e ganhe bonusqualquer testeaposte e ganhe bonusintegridade... Como uma mulher que ousa ser forte e independente pode sobreviver?"

Prisão

Após protestos liderados por profissionaisaposte e ganhe bonussaúde que atuam nas vilas vizinhas, três homens foram presos pelo estuproaposte e ganhe bonusGeeta e pela produção e circulação do vídeo.

Masaposte e ganhe bonusseu próprio vilarejo, a revolta com a morte ainda é silenciada pelos questionamentos sobreaposte e ganhe bonushonra.

Mesmo o maridoaposte e ganhe bonusGeeta, que ficou sabendo do vídeo pelos vizinhos, afirma queaposte e ganhe bonusprincipal suspeita éaposte e ganhe bonusque ela tenha feito algo para encorajar o ataque.

"Se ela tivesse me contado", diz ele, "nós teríamos perguntado se isso foi feito com seu consentimento. Então teríamos procurado os anciãos da vila para decidir o que deveria ser feito."

Ele não demonstra qualquer sinalaposte e ganhe bonusrevolta com o crime - e não fez nenhum pedidoaposte e ganhe bonusação policial contra os estupradores.

Procurados pela BBC, o médico da vila e o ex-líder do local negaram ter desencorajado a mulher a procurar a polícia, mas voltaram a culpá-la pelo que aconteceu.

Para outro morador, que pediu para não ter o nome divulgado, a morteaposte e ganhe bonusGeeta não requer explicações. "Como ela poderia continuar vivendo com essa humilhação pública?"

O mesmo sentimento é compartilhado por Pradeep Gupta, policial responsável por investigar o caso. "Aparentemente a mulher deve ter sentido a pressão social, e isso a forçou a tiraraposte e ganhe bonusprópria vida", disse. "É algo lamentável."

Na vila, a noçãoaposte e ganhe bonuso estupro resultaaposte e ganhe bonusum fardoaposte e ganhe bonusculpa jogado sobre os ombros da vítima continua incontestável. A morteaposte e ganhe bonusGeeta foi, para muitos, inevitável.

Para quem ficou, especialmente a filhaaposte e ganhe bonusGeeta, nada mudou.

"Ainda é muito difícil", diz ela. "Sempre que saio, alguém aponta para mim e zomba, perguntando: 'você não sente vergonha do que aconteceu com aaposte e ganhe bonusmãe?."

*Os nomes "Geeta" e "Khushboo" são fictícios para proteger as identidades das mulheres eaposte e ganhe bonussuas famílias.