Os espiõessite de esportesIsrael que caçavam e assassinavam nazistas ao redor do mundo:site de esportes
site de esportes A fotografiasite de esportespreto e branco mostra um homem idoso ajoelhado. Suas mãos estão erguidas para o alto, seus olhos, cheiossite de esportesterror. Em pé, sorrindo, dois oficiais da Gestapo apontam seus rifles na direção do homem.
Durante anos, essa foto ficou pendurada na parede do escritóriosite de esportesMeir Dagan, antigo diretor do Mossad - o serviçosite de esportesinteligênciasite de esportesIsrael.
"Olhe para esta pessoa. Este homem é o meu avô, Erlich Sloshny, no gueto polonêssite de esportesLukow,site de esportesjunhosite de esportes1942, segundos antessite de esportesser morto por esses bárbaros da Gestapo."
"Nós estamos aqui, e eu estou aqui, para garantir que isso nunca mais aconteça. Os judeus nunca mais vão se ajoelhar e nunca haverá um segundo aniquilamento."
É assim que o jornalista e escritor israelense Ronen Bergman descreve, no livro Rise Up and Kill First - The Secret History of Israel's Targeted Assassinations (em tradução livre, "Levante-se e Mate Primeiro - A História Secreta dos Assassinatos Planejados por Israel"), a experiência dos que visitavam o escritóriosite de esportesDagan.
Com basesite de esportesmaissite de esportesmil depoimentos, vários deles pelos próprios agentes do temido serviço secreto israelense, o livrosite de esportesBergman contasite de esportesdetalhes algumas das mais audaciosas (e por vezes ilegais) operações do Mossad - entre elas, o sequestro do fugitivo nazista alemão Adolph Eichmann na Argentina, o assassinato do oficial letão Herberts Cukurs no Uruguai e assassinatossite de esportescientistas nucleares alemães.
Em entrevista ao programa Start the Week, da Rádio 4 da BBC, o jornalista falou sobre o livro. E contou como convenceu os agentessite de esportesuma organização cercadasite de esportesmistério a revelar algunssite de esportesseus segredos.
No mesmo programa, o advogado e escritor Philippe Sands, especialistasite de esportesdireito internacional, advertiu contra a glorificação do que a lei qualifica como "assassinatos extra-judiciais" e reafirmou a importância do caminho legal na buscasite de esportesjustiça.
Ele destacou,site de esportesparticular, o legado "revolucionário" do Tribunalsite de esportesNuremberg, onde nazistas finalmente responderam por seus crimes diante da lei, e onde surgiram conceitos jurídicos como "genocídio" e "crimes contra a humanidade".
A BBC News Brasil destaca, a seguir, alguns trechos do programa. E para dar contexto à discussão, inserimos aqui uma breve explicação sobre o que foi o Tribunalsite de esportesNuremberg.
Formado após a Segunda Guerra Mundial por acordo entre a então URSS, Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, o Tribunal Internacional Militarsite de esportesNuremberg (nome da cidade alemã que o sediou) julgou membros do Partido Nazista, militares e colaboradores do nazismo. Os julgamentos ocorreram entre 1945 e 1949.
No banco dos réus estavam, por exemplo, figuras como Herman Goering, braço direitosite de esportesAdolph Hitler.
Goering foi condenado à morte, mas cometeu suicídio antessite de esportesser executado.
Adolph Eichmann, 'o arquiteto do Holocausto'
Anos depois, um outro julgamento, este realizadosite de esportesJerusalém,site de esportes1961, chamou a atenção do mundo. Nele, o tenente coronel nazista Adolph Eichmann, tido como o arquiteto do Holocausto, foi condenado à morte por enforcamento.
Eichmann chegou à Justiça por uma intervenção do Mossad, que,site de esportesuma operação atípica, optou por sequestrar o nazistasite de esportesBuenos Aires para que ele fosse julgadosite de esportesIsrael.
"Foi algo muito raro", comenta Bergman.
"A maior parte do que o Mossad fazia não tinha nada a ver com trazer criminosossite de esportesguerra para a Justiça. O que o Mossad fazia naquela época, e ainda faz hoje, é lidar com os desafios do agora."
A decisão do então primeiro-ministrosite de esportesIsrael, David Ben Gurion,site de esportesautorizar uma operação "altamente arriscada, e ilegal",site de esportessequestrar uma pessoasite de esportesum Estado soberano - a Argentina -site de esportesvezsite de esportessolicitar uma extradição - que a promotoria acreditava, não seria concedida - foi tomada porque os israelenses viamsite de esportesEichmann uma oportunidade única, ele explica.
"Eichmann era o centro desse plano maligno", diz o escritor.
"Ele era o cérebro por trássite de esportesgrande parte do Holocausto e oferecia uma grande oportunidade não apenassite de esportesjulgá-lo e fazer justiça, mas tambémsite de esportestrazer ao mundo, pela primeira vez, a história do Holocausto. E contar ao povosite de esportesIsrael - que,site de esportescerta forma, não queria ouvir os sobreviventes - o que tinha acontecido na Europa naqueles seis anos."
Eichmann foi executado no dia 30site de esportesmaiosite de esportes1962.
Herberts Cukurs - sentenciado sem julgamento
Uma outra operação detalhada no livrosite de esportesBergman levou os agentes do Mossad ao Brasil e ao Uruguai.
Trata-se do assassinato do oficial da Força Aérea da Letônia Herberts Cukurs, um caso que repercutiusite de esportesforma bastante negativa para Israel e para o Mossad.
Cukurs desembarcou no Riosite de esportesJaneiro comsite de esportesfamíliasite de esportes1946 e viveu 20 anos no Brasil antessite de esportesser morto.
Em seu país, era tido como um herói aviador, mas no Brasil tornou-se empresário. De início, abriu uma empresasite de esportesaluguelsite de esportespedalinhos na lagoa Rodrigosite de esportesFreitas.
Em 1950, foi acusado pela Federação das Sociedades Israelitas do Riosite de esportesJaneirosite de esportesser um criminososite de esportesguerra.
Durante a ocupação nazista da Letônia, iniciadasite de esportes1941, Cukurs integrara o Comando Arãjs, um dos principais grupos colaboracionistas do país. Entre o início da ocupação e o final da guerra,site de esportes1945, a comunidade judaica letã, composta por cercasite de esportes80 mil pessoas, tinha sido praticamente extinta.
Depois da guerra, Cukurs foi acusado por sobreviventessite de esportesexecutar, muitas vezessite de esportesmaneira sádica, milharessite de esportespessoas, incluindo mulheres e crianças. Também teria praticado tortura e estupros. Ele admitiu ter integrado um grupo colaboracionista, mas sempre negou as acusações.
Assediado pela imprensa, mudou-se para São Paulo.
Atraído por um agente do Mossad posando como homemsite de esportesnegócios, Cukurs viajou para um balneário próximo a Montevidéu, no Uruguai, para inspecionar uma propriedade que pretendia comprar.
Ao chegar, no dia 23site de esportesfevereirosite de esportes1965, foi emboscado pelos israelenses. O plano, segundo depoimentosite de esportesum dos agentes, era imobilizá-lo, ler para elesite de esportes"sentença" e depois executá-lo.
Mas Cukurs reagiu e acabou sendo morto a marteladas e tiros.
Seu corpo só foi encontrado no dia 6site de esportesmarço, dentrosite de esportesum baú. Junto, um bilhete dizia: "Considerando a gravidade dos crimessite de esportesque é acusado Herberts Cukurs, especialmente o assassinatosite de esportes30 mil homens, mulheres e crianças, nós o condenamos à morte."
Assinavam o bilhete "aqueles que não esquecerão".
Uma oportunidade perdida?
Uma das razões oferecidas na época para a operação contra Cukurs seria asite de esportesque um assassinato conduzidosite de esportesforma espetacular obrigaria o mundo a se lembrarsite de esportesque, 20 anos após o final da guerra, ainda havia nazistas impunes e à solta.
Na realidade, pela forma como foi conduzida, a operação foi desastrosa para o serviço secretosite de esportesIsrael, comenta Bergman.
Registros oficiais sobre a missão nunca foram publicados, mas com basesite de esportessuas entrevistas, o jornalista relata a seguinte cena, ocorrida durante uma reuniãosite de esporteschefes do Mossad para falar sobre fugitivos nazistas:
"Quando o oficial que chefiava o escritóriosite de esportesinteligência (que coletava informações sobre os nazistas) leu a lista (de fugitivos), e leu o nomesite de esportesHerberts Cukurs, o chefesite de esportesinteligência desmaiou", conta Bergman.
"Quando ele voltou a si, disse que Cukurs era a pessoa que tinha queimadosite de esportesfamília na Letônia."
Embora Cukurs não fosse alemão e não fosse um oficialsite de esportesalto escalão,site de esportessinalsite de esportesapreço pelo colega, esite de esportesato simbólicosite de esportesuma vingança pessoal, o chefe do Mossad "deu ordens para que se fizesse um esforço especial para pegar Cukurs", diz.
O jornalista prossegue:
"Cukurs foi escolhido porque era tão vívido ver esse general desmaiar e dizer, 'ele queimou minha família, vamos matá-lo', que eles foram lá e fizeram isso."
Por ter sido um piloto famoso antes da guerra, Cukurs teria sido facilmente identificado por suas vítimas e pelos sobreviventes. No entanto, o fatosite de esportesnão ter respondido pelas acusaçõessite de esportesvida, diantesite de esportesum tribunal, deixa margem para dúvidas.
Cukurs foi alvosite de esportesuma investigação criminal póstuma na Letônia. Nela, seu envolvimentosite de esportescrimes do Holocausto foi questionado e, na ausênciasite de esportesmuitas das testemunhas, então falecidas, várias das evidências dos crimes que o piloto teria cometido foram invalidadas.
A caça aos cientistas nucleares alemães
Rise Up and Kill First também descreve campanhas do Mossad na décadasite de esportes1960 para matar e intimidar cientistas alemães previamente envolvidossite de esportesprogramas nazistas para desenvolver armas. Após a guerra, tinham ido trabalhar para o governo egípcio.
"O Mossad descobriu muito tarde que Nasser (Gamal Nasser, presidente do Egito entre 1954 e 1970) tinha contratado cientistas e engenheiros alemães que tinham trabalhado para a SS (tropa paramilitar ligada ao Partido Nazista)", conta Bergman.
Durante a guerra, os cientistas tinham construído as bombas voadoras V-1 e os mísseissite de esporteslonga distância V-2, as chamadas "armas da Vingança", para Adolph Hitler. Mas com o fim do conflito, haviam ficado desempregados, explica o jornalista.
"Receberam ofertas generosas para ir para o Egito construir para o Nasser uma esquadrilhasite de esportesmísseis com a qual, ele dizia, iria destruir todos os alvos ao sulsite de esportesBeirute."
Ronan Bergman descreve o climasite de esportesIsrael no início da décadasite de esportes1960 quando os planos do governo egípcio foram revelados aos israelenses:
"Imagine a histeriasite de esportesIsrael,site de esportes1962, antes da Guerra dos Seis Dias, antessite de esportesque Israel se tornasse um superpoder e tivesse armas nucleares, as ruas cheiassite de esportessobreviventes do Holocausto com números (tatuados) nas palmassite de esportessuas mãos", diz.
"Agora, ficam sabendo que os mesmos cientistas que tinham trabalhado na construção da 'arma do apocalipse' para Adolph Hitler estão trabalhando para Nasser, que Ben Gurion chamavasite de esporteso 'segundo Hitler."
Foi nesse contexto que o Mossad iniciou uma ofensiva e "começou a matar os cientistas", diz Bergman. Alguns, ele conta, foram sequestrados na Alemanha.
"Um deles, chamado Heinz Krug, simplesmente desapareceu. A filha e o filho dele nunca souberam o que tinha acontecido. Fui eu, 50 anos mais tarde, que contei a eles."
Segundo relatossite de esportesBergman a outros veículos, Krug teria sido levado para Israel e submetido a violentos interrogatórios antessite de esportesser morto.
O jornalista conta, no entanto, que depoissite de esportesum tempo os agentes israelenses concluíram que teriamsite de esportesmudarsite de esportesestratégia. Matar os cientistas não colocaria fim ao projetosite de esportesNasser porque ele simplesmente oferecia um montesite de esportesdinheiro aos sobreviventes.
"Eles só tinham um caminho: contratar alguém que fosse muito próximo dos cientistas. E esse alguém era o chefesite de esportesoperações especiaissite de esportesHitler, o general da SS Otto Skorzeny", diz o escritor.
Skorzeny tinha sido um nazista dedicado. Incendiara sinagogas e matara judeus. Procurado pelo Tribunalsite de esportesNuremberg, Skorzeni tinha fugido para a Espanha.
Dois anos após a execuçãosite de esportesAdolph Eichmann, o Mossad procurou Skorzeni e ofereceu a ele algo que ninguém mais poderia lhe proporcionar, prossegue Bergman. "Uma vida sem medo."
O general aceitou trabalhar para os israelensessite de esportestrocasite de esportesum passaporte novo, dinheiro e uma cartasite de esportesimunidade do primeiro-ministrosite de esportesIsrael.
"Skorzeny tornou-se um importante ativo do Mossad no início da da décadasite de esportes60", conta. "E resolveu o problema dos cientistas alemães trabalhando para Nasser."
Otto Skorzeni morreusite de esportescâncer, na Espanha,site de esportes1975. Fotossite de esportesseu funeral mostram pessoas fazendo saudações nazistas. "O pragmatismo prevaleceu. Skorzeny foi recrutado para resolver questões do presente. Fantasmas do passado foram deixadossite de esporteslado", diz o jornalista. Mas ele pergunta:
"Você pode recrutar o demônio para prevenir outros males?"
A operação que matou o cientista nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh
Uma outra questão que os assassinatossite de esportescientistas nucleares levantam é: seria justificável matar hoje uma pessoa para impedir que ela - possivelmente ou até provavelmente - cometa atos malignos no futuro?
A resposta do Mossad, ao longosite de esportesvárias décadas, para essa pergunta, parece ter sido um sim.
"O modus operandi adotado na décadasite de esportes1960 para lidar com os cientistas alemães no Egito continuou a ser usada contra cientistas iraquianos e egípcios nos anos 70 e continua a ser usado agora contra cientistas iranianos", diz Ronan Bergman.
Segundo o jornalista, a mais importante operação desse tiposite de esportesanos recentes foi o assassinato,site de esportesnovembrosite de esportes2020, do homem que chefiara, nas três décadas até então, o programa nuclear iraniano: o professor Mohsen Fakhrizadeh.
Líderes do Irã culparam Israel pelo assassinato do cientista, morto a tiros enquanto dirigia um carrosite de esportesuma rodovia nos arredoressite de esportesTeerã. Israel não confirmou nem negou seu envolvimento no ataque.
Mas o jornal americano New York Times publicou um relatório detalhado descrevendo como o ataque foi realizado por Israel.
O ex-chefe do Mossad revelou mais tarde que o cientista havia sido um alvo "por muitos anos", e que a agênciasite de esportesinteligência israelense estava preocupada com seu conhecimento.
De acordo com Bergman, enquanto planejava o assassinato, o Mossad se deu contasite de esportesque o professor era tão protegido que seria impossível matá-lo sem que os assassinos se envolvessemsite de esportesum tiroteio com as forçassite de esportessegurança iranianas.
"(Fakhrizadeh) era a segunda pessoa mais protegida do Irã depois do supremo líder", explica.
"Alguns (dos agentes) poderiam morrer, e no Mossad existe uma regra fundamental: o sucesso da operação é tão importante quanto o resgate dos assassinos."
O Mossad decidiu então testar uma tecnologia nova,site de esportesúltima geração, para assassinar o cientista, escreveu Bergmansite de esportesuma reportagem publicada no jornal americano New York Times. Os agentes usaram um robô acoplado a uma metralhadora e dotadosite de esportesmúltiplas câmeras posicionadosite de esportesum local estratégico dentro do Irã (uma estrada por onde, o Mossad sabia, Fakhrizadeh iria passarsite de esportesseu carro) e controlado por computador. Em frente à tela do computador estava um "sniper" - um experiente atirador, trabalhandosite de esporteslocal não revelado a maissite de esportesmil quilômetrossite de esportesdistância.
Questionamentos
O governo iraniano afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
Não há confirmação oficial, pelo governosite de esportesIsrael, sobre a autoria do assassinato do Fakhrizadeh, mas a operação foi caracteristicamente eficiente. Bergman conta que a missão foi realizada com tal precisão que a mulher do cientista, que viajava com ele, escapou ilesa do atentado.
Emsite de esportesentrevista à BBC, Bergman relata, porém, um episódio que pode surpreender muita gente. O momentosite de esportesque uma própria agente do Mossad teria questionado a legitimidade da operação.
"Meu pai trabalha para o comitê atômicosite de esportesIsrael. Se vocês dizem que esse cientista iraniano é um alvo legítimo, então meu pai também é um alvo legítimo", teria dito a oficial da inteligência israelense.
O jornalista diz que a agente não está sozinha. Outros na organização vêm expressando ambivalênciasite de esportesrelação a essas ações - entre eles, o próprio Meir Dagan, tido como o cérebro por trás do programasite de esportesassassinatos do Mossad.
Dagan morreusite de esportes2016. Segundo Bergman,site de esportesseus últimos anossite de esportesvida, ele teria se dado contasite de esportesque havia um limite para o uso da força.
O ex-diretor do Mossad teria compreendido que "se todas essas operações incríveis, dramáticas e bem sucedidas, não fossem seguidas por uma estratégia políticasite de esportesnegociações internacionais, não se chegaria a lugar algum".
Ou seja, diz o jornalista: "Não havia outra solução senão o diálogo com o inimigo."
Aqui, fazendo um balanço do que seria para ele a mensagem finalsite de esportesRise Up and Kill First, Ronan Bergman diz:
"Por serem capazessite de esportescomandar operaçõessite de esportesterritório inimigo com um simples toque dos dedos, todos os líderes israelenses ao longo dos anos concluíram, erroneamente, que tinham o podersite de esportesmudar a História."
"No final das contas, essa é, também, uma históriasite de esportesfaltasite de esportescompreensão esite de esportesum fracasso estratégico muito perigoso."
E por que, depoissite de esportestantos anossite de esportessilêncio, tantos dos participantes nessas operações decidiram contar suas histórias?
A principal lição que o Holocausto deixou na mente das pessoas, verdadeira ou não, é que "sempre vai haver alguém por aí pronto para fazer o segundo aniquilamento", diz Bergman.
"E quando você se defronta com a possibilidadesite de esportesextinção, você faz o que precisa ser feito. Em alguns casos, a resposta é, levante-se e mate primeiro", prossegue o autor, fazendo referência ao títulosite de esportesseu livro.
"Essas pessoas (os entrevistados) queriam ter certezasite de esportesque suas pegadas ficariam gravadas na História. Queriam se gabar e compartilhar suas experiências, vistas por eles, e pela maioria da populaçãosite de esportesIsrael, como um mal necessário."
"O que outros países veem como assassinatos e atos ilegais brutais significa, para os israelenses, manter a guarda, tomar conta e defender Israel."
Em tom mais leve, o jornalista acrescenta:
"E se alguém se recusava a falar, bastava eu dizer que fulano ou ciclano estava levando o crédito pela missão dele. Aí sim, me contava tudo!"
Em debate: Queremos uma sociedade sem leis?
Em contraponto à poderosa narrativa do jornalista israelense, o especialistasite de esportesdireito internacional e direitos humanos Philippe Sands faz um alerta contra a glorificação do que, no final das contas, são atos ilegais.
"Segundo as leis internacionais, você não pode sair por aí matando as pessoas por acreditar que representem uma ameaça e existem vários exemplossite de esportesgente que foi morta por engano", diz.
Ele prossegue:
"Me preocupa que (alguns pensem que) esse seja o caminho a ser seguido, que isso possa trazer Justiça no longo prazo."
Sands reconhece que a lei não alcança todos.
"A justiça criminal só pega alguns", admite. "As famílias dos que não são pegos vão dizer, 'ele morreu inocente'."
Por isso, no caso da Segunda Guerra Mundial, o advogado disse fazer uma distinção para assassinatos que são "represálias por atos anteriores".
"Isso era o que se fazia antessite de esportes1945, era legítimo, acontecia e não havia lei contra isso. Mas a mudança que ocorreu após 45 foi dizer que o poder do Estado não é ilimitado. Você não pode sair por ai fazendo essas coisas, seres humanos têm direitos e esses direitos são protegidos segundo as leis domésticas e internacionais."
Esse, ele diz, é o legadosite de esportesNuremberg.
"Nuremberg foi um momento singular e revolucionário onde, pela primeira vez, líderes foram responsabilizados por cometer crimes", explica.
"E os crimes eram,site de esportesgrande parte, novos. Crimessite de esportesguerra já existiam, mas crimes contra a humanidade e genocídio, e o crimesite de esportesfazer uma guerra ilegal, foram inventados. Isso mudou o mundo. Todos esses crimes hoje estão cobertos (por um sistema jurídico)".
Sands diz que esse projeto, aindasite de esportesseus primeiros anos, está novamentesite de esportesdiscussão por causa do conflito na Ucrânia.
"Existe um desejo, pelo menos no lado da Ucrânia,site de esportescolocar o conflito no contexto legal, focar nos crimessite de esportesguerra, focar nos crimes contra a humanidade. Isso é o momento Nuremberg", diz o advogado.
Por outro lado, comenta, "alguns estão falandosite de esportesmatar o presidente da Rússia. No contexto do que estamos discutindo nesse programa, esse é um caminho que muitas pessoas achariam atraente", diz.
"Este não é um caminho disponível hoje segundo a lei internacional, e isso é uma consequênciasite de esportesNuremberg."
"A questão é, queremos rasgar o momento 1945 e voltar para 'não, que vença o mais forte'? Ou queremos manter a ideiasite de esportesque existem limites para o que Estados podem fazer para se proteger contra atos passados ou futuros? Essa é a questão central, e esse é o debate a respeito do papel da lei na nossa sociedade."
- Este texto foi publicado em http://vesser.net/geral-63792332