O que significa ser fascista?:site slots
Para isso, é importante entender primeiro as origens desta ideologia e se ela se enquadra à esquerda ou à direita do espectro político. Depois, vamos discutir por que alguns pesquisadores identificam elementos do fascismosite slotsmovimentos atuaissite slotsextrema direita - e por que alguns consideram que a ideologia ficou no passado.
Por fim, entenderemos como o uso desses termos se transformou num insulto tão usado na briga política do Brasil esite slotsoutros países.
As origens do fascismo
A Primeira Guerra Mundial deixou cercasite slots20 milhõessite slotsmortos, outros 20 milhõessite slotsferidos e a Europa destruída.
Mas o sangrento conflito, que durou entre 1914 e 1918, também deixousite slotsruínas as instituições políticas do mundo, com alternativas ao modo dominante do capitalismo da época surgindo das cinzas da guerra: enquanto na Rússia os bolcheviques implantavam a primeira experiência comunista a partir da revoluçãosite slots1917, na Itália, Benito Mussolini, ex-jornalista, ex-socialista e ex-combatente, criava o movimento que ficaria conhecido como fascismo.
O início oficial do fascismo é normalmente situadosite slots23site slotsmarçosite slots1919, quando Mussolini fundousite slotsMilão o grupo Fasci Italiani di Combattimento, que reunia veteranos da guerra, sindicalistas e jovens intelectuais.
O objetivo principal dos integrantes era combater o socialismo, considerado por eles o oposto do nacionalismo defendido pelos fascistas. O programasite slotspropostas do grupo, no entanto, era repletosite slotslacunas, contradições e apropriações.
A começar pelo nome, que não era exatamente uma novidade política. Ele se baseava na palavrasite slotsorigem latina fasces, uma espéciesite slotsmachado com gravetos amarrados usado na Roma antiga como símbolosite slotsautoridade e unidade do Estado — umsite slotsseus significados sugeria que pode ser fácil quebrar um graveto, mas é muito mais difícil quebrar um feixe deles.
Mas o símbolo das fasces já era usado por outros grupos antessite slotsser adotado por Mussolini, inclusive como emblemasite slotssolidariedade entre os militantessite slotsmovimentossite slotsesquerda e revolucionários na Europa, por exemplo.
De qualquer forma, Mussolini e seus aliados passaram a atuar como um partido na política italiana, mesmo que suas propostas não fossem muito claras e que, por vezes, não passassemsite slotsprovocações e atossite slotsviolência praticados pelos "camisas-negras", nome pelo qual ficaram conhecidos os apoiadores fascismo pela cor das vestimentas que usavam.
Para se ter uma ideia, Mussolini foi questionado certa vez pelo jornal italiano Il Mondo sobre quais seriam suas principais propostas políticas. Em resposta, o líder fascista disse: "Nosso programa é quebrar os ossos dos democratas do Il Mondo, e quanto antes, melhor".
Em um dos primeiros atos do movimento fascista, aliás, amigossite slotsMussolini invadiram o jornal socialistasite slotsque o líder trabalhou, deixando quatro mortos, 39 feridos e equipamentos destruídos.
Com poder crescente, o Partido Fascista é convidado a integrar a coalizão do governo italiano.site slots1921. No ano seguinte,site slotsmeio ao caos político na Itália, os camisas-negras marcham sobre Roma e Mussolini se apresenta como o único homem capazsite slotsrestaurar a ordem. A ofensiva foi bem-sucedida.
Mussolini chega ao poder com apoio da monarquia,site slotsgrandes empresários e do Vaticano. E aos poucos desmonta todas as instituições democráticas. Em 1925, ele se torna ditador e assume o controlesite slotstodos os poderes do Estado. O regime parlamentar e democrático italiano daria lugar a um Estado totalitário regido pela faltasite slotsliberdades individuais, políticas e organizacionais.
O movimento fascista italiano não estava sozinho emsite slotsascensão. Em 1933, seria a vez do líder nazi-fascista Adolf Hitler chegar ao poder na Alemanha. Ex-estudantesite slotsartes e ex-combatente, ele aderiusite slots1919 a um partido extremista alemão, no qual ganhou cada vez mais influência com discursossite slotstorno do ressentimentosite slotsum país derrotado e humilhado na Primeira Guerra.
Hitler propunha remédios extremistas para os problemas do pós-guerra e culpava abertamente comunistas, judeus, ciganos e minorias religiosas por essas mazelas. Em 1920, ele funda o movimento nazista com bandeiras nacionalistas, antissemitas, anticomunistas e anticapitalistas. Três anos depois, ele tenta um golpesite slotsEstado, mas acaba levado à prisão, onde escreve a obra Minha Luta, na qual destrinchasite slotsideologia política, bastante inspirada no fascismo italiano.
Em 1932,site slotsmeio a um caos político e econômico na Alemanha, os nazistas se tornam o maior partido do Parlamento. No ano seguinte, Hitler se torna chanceler da coalizãosite slotsgoverno e, como Mussolini, desmonta as instituições democráticas e se torna ditador. Em 1939, os fascistas italianos e os nazistas alemães assinam um pacto militar, e a Alemanha invade a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.
Mas o que define o fascismo?
A ascensãosite slotsMussolini e Hitler fez com que analistas no mundo todo passassem a tentar entender melhor a ideologia responsável pelo genocídiosite slotsmilhõessite slotspessoas e por uma guerra que abalaria as estruturas do mundo todo.
Ao longosite slotsdécadas, estudiosos conseguiram identificar alguns ingredientes típicos do caldeirão fascista: o líder forte, o contextosite slotscrise socioeconômica, a participação das elites capitalistas, o militarismo, o racismo, o pragmatismo, o antiintelectualismo, o controle da sociedade, as paixões mobilizadoras, a propaganda, a mentira, o medo generalizado, a violência, a religião, o anticomunismo, o nacionalismo, a composição social, o imperialismo e a sociedadesite slotsmassa.
Há dezenassite slotsmilharessite slotslivros e artigossite slotstorno do tema, mas "no final das contas, nenhuma interpretação do fascismo parece ter conseguido satisfazer a todossite slotsforma conclusiva", resume o cientista político e historiador americano Robert Paxton no livro Anatomia do Fascismo.
Ele próprio, inclusive, oferecesite slotsdefinição. Mas antes ele faz a ressalvasite slotsque uma definição descreve tão bem (ou tão mal) um objetosite slotsestudo quanto uma fotografia descreve uma pessoa.
Para Paxton, o fascismo pode ser definido como um comportamento político marcado por uma preocupação obsessiva com a decadência e a humilhaçãosite slotsum grupo social, tido como vítima; um partidosite slotsbase popular formada por militantes nacionalistas; uma cooperação ambígua com elites tradicionais; um repúdio às liberdades democráticas; limpeza étnica (havia perseguição a judeus e a membros da etnia roma — conhecidos popularmente como ciganos— tanto no nazismo quanto no fascismo, por exemplo); expansão internacional violenta; e desrespeito às leis e à ética.
Mas mesmo assim há uma sériesite slotselementos que dificultam a definição do fascismo, como as diferenças entre as experiências consideradas fascistas, o pragmatismo do movimento — que o levou a se adaptar enquanto se consolidava no poder (ou seja, a facilidade com que o fascismo adotava e abandonava ideias a depender das circunstâncias) — e as semelhanças com outras formassite slotspoder totalitárias, ditatoriais, populistas, autoritárias e tirânicas.
Assim como Paxton, diversos estudiosos buscaram identificar semelhançassite slotsmaior ou menor grau entre esses movimentos e regimes para chegar a uma definiçãosite slotsfascismo. O númerosite slotscaracterísticas varia bastante, e chega a passarsite slots20site slotsalgumas listas.
Um verbete assinado pela socióloga italiana Edda Saccomani no Dicionáriosite slotsPolítica, organizado pelo filósofo Norberto Bobbio, aponta diversas características presentessite slotstodos esses movimentos fascistas.
Entre eles, a monopolização da representação política por partesite slotsum partido únicosite slotsmassa e hierarquicamente organizado, ideologia fundada no culto ao chefe, na exaltação da coletividade nacional, no desprezo pelos valores do individualismo liberal e também pelo ideal da colaboração entre diversas classes sociais,site slotsoposição frontal ao socialismo e ao comunismo (que pregam a lutasite slotsclasses), aniquilamento das oposições mediante o uso da violência e do terror e propaganda baseada no controle das informações e dos meiossite slotscomunicaçãosite slotsmassa.
Fascismo ésite slotsdireita ousite slotsesquerda?
No mundo acadêmico e político — inclusive na Itália e na Alemanha —, há praticamente um consensosite slotsque o fascismo e o nazismo estão no campo da extrema direita do espectro das doutrinas políticas. Ou seja, no lado completamente oposto do comunismo nessa espéciesite slotsescala ideológica.
Além disso, o próprio Museu do Holocaustosite slotsIsrael, fundadosite slotshomenagem aos maissite slots6 milhõessite slotsjudeus mortos pelo regime liderado por Hitler, classifica o nazismo comosite slotsdireita. Segundo a instituição, havia um climasite slotsfrustração após a Primeira Guerra Mundial que, "junto à intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do comunismo, criou solo fértil para o crescimentosite slotsgrupos radicaissite slotsdireita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".
O Dicionário Concisosite slotsPolíticasite slotsOxford, porsite slotsvez, classifica o fascismo como "movimento ou ideologia nacionalistasite slotsdireita com estrutura hierárquica e totalitária que se opõe fundamentalmente à democracia e ao liberalismo".
Já para Kevin Passmore, autorsite slotsFascismo: Uma Breve Introdução, o fascismo é um movimentosite slotsextrema direita justamente porque se opõe com hostilidade extrema ao socialismo e ao feminismo, afirmando que, entre outros motivos, eles priorizam "classes ou gênerossite slotsvez da nação".
Essa oposição aproximaria os fascistassite slotsparte dos conservadores no campo da direita, por serem contrários a mudanças econômicas, sociais, políticas, morais ou culturais. No entanto, os fascistas estão dispostos a ir bem além e atropelar os interesses conservadores (família, propriedade, religião…) se isso for necessário para garantir o que veem como os interesses da nação.
Segundo Passmore, o fascismo é considerado também um movimento radical porque a derrota do socialismo e do feminismo e a construção da nação dependem da chegada ao podersite slotsuma "nova elite agindosite slotsnome do povo, comandada por um líder carismático, e personificadasite slotsum partidosite slotsmassas militarizado".
Só que, por outro lado, um grupo bem pequenosite slotsespecialistas elenca semelhanças entre o fascismo e o comunismo. E parte desses especialistas (e alguns políticos) se baseia nisso para situar ambos no campo da esquerda.
Eles apontam semelhanças como a forte contestação ao capitalismo liberal e o totalitarismo, termo usado para descrever uma formasite slotsgoverno ditatorial que controla praticamente todos os aspectos da atuação do Estado e da vida privada.
Esse tema ("nazismo ésite slotsesquerda?") ganhou força no Brasilsite slots2017 no acirramento da polarização política no país e costuma reverberar entre membros do alto escalão do governosite slotsJair Bolsonaro.
O "socialista" no nome do partido liderado por Hitler, Partido Nacional-Socialista, é um dos principais argumentos usados nos debatessite slotsinternet que falam no nazismo como um movimentosite slotsesquerda.
Para especialistas entrevistados pela BBC News Brasil à época, a confusãosite slotsconceitos alimenta um debate repletosite slotsequívocos e ignorância.
"O que é fundamental aí é o termo 'nacional', não o termo 'socialista'. Essa é a linhasite slotsforça fundamental do nazismo — a defesa daquilo que é nacional e 'próprio dos alemães'. Aí entra a chamada teoria do arianismo", afirmou o linguista brasileiro Izidoro Blikstein, professorsite slotsLinguística e Semiótica da USP e especialistasite slotsanálise do discurso nazista e totalitário.
"Dizer apenas que Hitler era um políticosite slotsdireita é apequenar o nazismo. Foi mais do que direita ou esquerda. Foi uma doutrina arquitetada para defender uma raça, embora esse conceito seja discutível e pouco científico."
Já Denise Rollemberg, historiadora brasileira e professorasite slotsHistória Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que é bastante complicado classificar o nazi-fascismo no espectro político atual.
"O nazismo nasce no meiosite slotsuma crisesite slotsreferências muito grande após a Primeira Guerra. Muitos passaramsite slotsum lado para outro. Os valores muitas vezes vão se embaralhar, e esses conceitossite slotsdireita e esquerda atuais não resolvem bem o problema. (...) Eles rejeitavam o que era a direita tradicional da época e também a esquerda que estava se estabelecendo. Eles procuravam se mostrar como um terceiro caminho."
Fascismo deve ou não ser usado para descrever extremistassite slotshoje?
Outra grande questão que divide os especialistas é se é possível classificar um movimento extremista atual como fascista ou se o termo deve ser usado apenas para se referir às experiências históricas do início do século 20.
Para o historiador Emilio Gentile, considerado o maior especialista vivosite slotsfascismo na Itália, os termos fascismo ou fascista só devem ser adotados para descrever os movimentossite slotsmassa organizados militarmente que tomaram o poder entre as Primeira e a Segunda Guerra, negaram a soberania popular e transformaram completamente a sociedade com objetivos imperialistas (ou seja, dominação política, econômica e culturalsite slotsoutros países e territórios).
Seria um equívoco, na visãosite slotsGentile, usar essas palavras para falarsite slotsmovimentos violentossite slotsextrema direitasite slotshoje.
"É um grande erro porque não nos permite compreender a verdadeira novidade destes fenômenos e o perigo que eles representam. E o perigo é que a democracia possa se tornar uma formasite slotsrepressão com o consentimento popular. A democraciasite slotssi não é necessariamente boa. Só é boa se realiza seu ideal democrático, isto é, a criaçãosite slotsuma sociedade onde não há discriminação e na qual todos podem desenvolversite slotspersonalidade livremente, algo que o fascismo nega completamente", disse Gentile à BBC News Mundo (serviçosite slotsespanhol da BBC)site slotsmarçosite slots2019, quando se completou 100 anos da origem formal do fascismo italiano.
"Então, o problema hoje não é o retorno do fascismo, mas quais são os perigos que a democracia pode gerar por si só, quando a maioria da população — ao menos, a maioria dos que votam — elege democraticamente líderes nacionalistas, racistas ou antissemitas."
Mas, por outro lado, o especialistasite slotsradicalismo e populismo e historiador argentino Federico Finchelstein (New School) apontasite slotssuas obras diversos paralelos entre o fascismo histórico do início do século 20 e líderes que ele classifica como populistas no século 21.
Em geral, o populismo é descrito como uma tradição políticasite slotsmassa do século 20site slotsque líderes carismáticos (tantosite slotsesquerda quantosite slotsdireita) mobilizam setores mais pobres e marginalizados da sociedade contra instituições e grupos no poder. Esses líderes, classificados como populistassite slotsforma pejorativa por especialistas ou adversários, costumam adotar uma fórmulasite slotsse apresentar como solução messiânica dos problemas nacionais e como representante autêntico da vontade do povo.
Nos livros Do Fascismo ao Populismo na História e Uma Breve História das Mentiras Fascistas, Finchelstein argumenta que o populismo é uma forma autoritáriasite slotsdemocracia que reformulou o fascismo depois do fim da Segunda Guerra,site slots1945, ao rejeitar o racismo, a ordem totalitária e a violência física e institucional contra adversários políticos.
"No populismo, os inimigos do povo podem existir e perder eleições, mas não têm qualquer legitimidade. Eles são apenas tolerados, mas não totalmente perseguidos ou banidos." O principal exemplo desse "populismo clássico" é o peronismo na Argentina.
Mas nas últimas décadas, afirma Finchelstein, o populismo entrousite slotsuma nova era marcada por intolerância, xenofobia, autoritarismo, uso político da mentira e desmontesite slotsinstituições democráticas. Ou seja, retomando elementos fascistas que havia rejeitado no pós-guerra, principalmente o racismo. "O povo é definidosite slotstermos étnicos e o antipovo geralmentesite slotstermos antirreligiosos ou racistas."
Ele cita como exemplos desse "novo populismo" o trumpismo e o bolsonarismo.
Nessa mesma linhasite slotsencontrar elos entre movimentos antigos e atuais, alguns pesquisadores buscam no integralismo, movimento fascista do Brasil nos anos 1930, as raízessite slotsmovimentossite slotsextrema direita no país hoje.
Fascismo, neofascismo e pós-fascismo no Brasil
O Brasil também teve uma experiência com o chamado fascismo histórico: o integralismo.
Inspiradosite slotsMussolini, o primeiro surgiusite slots1932 com o nomesite slotsAção Integralista Brasileira (AIB) e um discurso marcado por anticomunismo, nacionalismo, antiliberalismo, cristianismo, conservadorismo, corporativismo, antissemitismo e culto ao seu líder e fundador, o escritor Plínio Salgado. Para ele, o liberalismo político-econômico e o comunismo eram faces da mesma moeda.
Todas as sedes do movimento integralista, que chegou a reunir quase 200 mil filiados (conhecidos como camisas-verdes, inspirados nos camisas-negras do fascismo italiano), eram decoradas com fotossite slotsSalgado, relógiossite slotsparede com a frase "Nossa hora chegará!" e cartazes com os dizeres: "O integralista é o soldadosite slotsDeus e da pátria, homem novo do Brasil que vai construir uma grande nação".
Para Robert Paxton, a AIB "foi a coisa mais próxima a um partidosite slotsmassas fascista nativo da América Latina". O grupo e outros partidos acabariam extintos por Getúlio Vargas no início da ditadura do Estado Novo (1937-45). Salgado, que tentou derrubar Vargas e depois se exilousite slotsPortugal, voltaria ao cenário político brasileiro na década seguinte, mas ficariasite slotsúltimo lugar na eleição presidencial. O integralismo, no entanto, não acabou ali nem comsite slotsmorte,site slots1975.
Com maissite slots20 anossite slotsestudos sobre integralismo, o historiador brasileiro Leandro Pereira Gonçalves, professor da Universidade Federalsite slotsJuizsite slotsFora e autorsite slotslivros e artigos sobre o integralismo, incluindo a biografiasite slotsPlínio Salgado, explica que o movimento se pulverizou desde meados dos anos 1970.
"Com a mortesite slotsPlínio surge o que conhecemos como neointegralismo, uma fragmentaçãosite slotsdiversos pequenos grupos neofascistas, que trazem novas características ao integralismo tradicional dos anos 1930, mas se mantêm ligados pela simbologia original", disse à BBC News Brasilsite slotsdezembrosite slots2019, quando um grupo identificado com o integralismo reivindicou autoriasite slotsum ataque a bomba contra a sede do grupo Porta dos Fundos, no Riosite slotsJaneiro.
Além disso, o lema do integralismo, "Deus, Pátria, Família", voltou à tona como mote do lançamento da Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tentou criar sem sucesso.
O bolsonarismo, porsite slotsvez, é caracterizado por alguns pesquisadores como um movimento neofascista ou pós-fascista.
"No Brasil, uma ideologia com propagandas golpistas, muito próxima do fascismo, tem se intercalado com o nacionalismo e o messianismo (crençasite slotsum líder que chegará para salvar a todos e tornar a vida melhor) mais extremo a fimsite slotsignorar a pandemia e o bem-estar da população", escreve o historiador argentino Federico Finchelstein.
Para ele, durante a pandemia Bolsonaro fabricou realidades alternativas e associou posições contra quarentenas à necessidadesite slotsfechar o Congresso.
A associação do bolsonarismo com o fascismo, no entanto, é veementemente negada pelos apoiadores do presidente.
"Qualquer um que se oponha ao PT será chamadosite slotsnazista, fascista. Não se tratasite slotsum conceito, mas sim uma tentativasite slotscaluniar o oponente. Tática do vale-tudo!", escreveu o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP)site slotsseu perfil no Twitter. "Os rótulos (fascista, negacionista etc) não fazem qualquer sentido, não têm conexão com a realidade, apenas servem para controlar a narrativa."
Segundo Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autor do livro Crônicasite slotsuma Tragédia Anunciada: Como a Extrema Direita Chegou ao Poder, a estratégia políticasite slotschamar adversáriossite slotsfascistas, genocidas ou comunistas busca o pânico moral.
"A função política é a satanização do outro. Você transforma o adversário,site slotstermos discursivos,site slotsuma posição inaceitávelsite slotsum pontosite slotsvista moral. A disputa aqui é basicamente moral. (…) Você vai no extremo da posição que você quer satanizar, não importa se corresponde ou não à realidade, mas é aquilo que produz o pânico moral. Supremacista, racista, fascista, genocida... O importante é produzir um pânico moral e produzir uma união das pessoas como reação a isso."
Fascista e nazista 'banalizados'?
O historiador americano Stanley Payne, um dos maiores estudiosos do movimento fascista, diz que o fascismo "continua sendo o mais indefinido dos termos políticos mais importantes". Isso nunca impediu, no entanto, que o termo fosse usadosite slotsforma ampla e até exacerbada no debate público.
Aliás, essa indefinição é ideal para impulsionar seu uso indiscriminado, algo comum a outros termos políticossite slotsdifícil definição, como liberal, conservador e comunista.
Payne explica que o termo passou a ser adotadosite slotsforma pejorativa e genérica a partirsite slots1921 pela Internacional Comunista, organização que agregava partidos comunistas ao redor do mundo. Assim surgiram pechas como "liberais fascistas" e "conservadores fascistas".
Dalisite slotsdiante, o termo fascista ganhou força como insulto também contra grupos radicaissite slotsdireita e movimentos autoritáriossite slotscunho nacionalista que carregavam traços do fascismo italiano ou alemão. O passo seguinte, segundo Payne, foi o uso do termo fascista contra grupossite slotsdireita, conservadores e "qualquer coisa que se refira, ainda que vagamente, ao nacionalismo ou a uma autoridade mais tradicional".
Em ensaio sobre o uso indiscriminado do termo, o escritor britânico George Orwell afirmousite slots1944 quesite slotstodas as questões não respondidassite slotsnosso tempo, talvez a mais importante seja "o que é fascismo"? Ao longo da análise, Orwell lista exemplos da aplicação do termo fascista contra as mais diversas parcelas e práticas da sociedade, como conservadores, comunistas, nacionalistas, católicos, agricultores, defensores da guerra, escoteiros, opositores da guerra, comerciantes, tourada, astrologia e caçasite slotsraposas.
Para Orwell,site slotsgeral, quem chama algosite slotsfascista está se referindo, grosso modo, a algo troglodita, "cruel, inescrupuloso, arrogante, obscurantista, antiliberal e anticlasse trabalhadora".
O autor cita uma sériesite slotsexemplossite slotsuso indiscriminado do termo. "Toda a esquerda tende a equiparar militarismo com fascismo"; "a Igreja Católica é quase universalmente considerada pró-fascista, tantosite slotstermos objetivos como subjetivos" e "alguns nacionalistas indianos consideram os sindicatos britânicos como organizações fascistas".
Por fim, Orwell recomenda uma certa moderação com o uso do termo. "Tudo que se pode fazer no momento é usar a palavra com certa medidasite slotscircunspecção e não, como usualmente se faz, degradá-la ao nívelsite slotsum palavrão."
Em seu livro Antifascismo, o jornalista e escritor conservador americano Paul Gottfried argumenta que termos como fascista e nazista são usados atualmente pela esquerda como instrumentosite slotspropagação do medo para manutençãosite slotsinteresses dos poderosos, como políticos, jornalistas e acadêmicos que pretendem intimidar e isolar adversários políticos.
"Essa tática acaba com conversas indesejadas, quando 'A' chama 'B', que discordasite slots'A',site slotsracista, sexista ou homofóbico, 'A' não está só desaprovando ou censurando 'B'. Está assumindo um papelsite slotsvítima que pertence a vítimas do passado, e isso permite a ele ou ela, como disse o teórico marxista alemão Peter Furth, 'exercer poder sobre nós'."
Mas como é complexo definir o que realmente é fascismo, afirma Gottfried, a mídia dos EUA esite slotspotências europeias acaba enquadrando como expressão do fascismo tudo que ela própria considera racismo, antissemitismo, islamofobia, sexismo ou homofobia.
Mas a acusaçãosite slotsfascista não se restringe a políticos ou personalidadessite slotsdireita. Até mesmo Lula já foi chamadosite slotsfascista por adversários da direita ou mesmo da esquerda. A exemplosite slotsCiro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT. "O que o Lula está fazendo com a senadora Simone Tebet [MDB] é puro fascismo. Aliciar uma bandasite slotsladrões do MDB, corruptos, velhos sócios dele, Lula, na roubalheira. (…) Prática fascistasite slotsinvadir o partido dos outros e tirar o direito dos outros participarem das eleições", disse ele a jornalistassite slotsjulhosite slots2022.
O que muitos enxergam como banalização da palavra fascista e das comparações com o nazismo levou à criaçãosite slotsdois princípios famosos: Reductio ad Hitlerum e Leisite slotsGodwin.
O primeiro, cunhado pelo filósofo alemão Leo Strausssite slots1951, partesite slotsuma expressão lógicasite slotslatim (reductio ad absurdum ou redução ao absurdo,site slotsportuguês) para contestar a faláciasite slotsapontar semelhanças entre um argumento e algo que Hitler ou nazistas fizeram ou pensavam, numa espéciesite slotsculpabilização por semelhança.
O segundo surgiu nos anos 1990, quando a internet estava começando a se tornar popular. O advogado americano Mike Godwin percebeu que os debatessite slotsfóruns online sempre recorriam ao recursosite slotschamar o outro ladosite slotsnazista.
"Eu fiz um experimento: construir um 'meme ao avesso' voltado para fazer os participantessite slotsuma discussão perceberem como eles estavam agindo como vetoressite slotsum meme particularmente bobo e ofensivo. E talvez com isso diminuir as comparações vazias com nazismo", escreveu Godwin na revista Wired.
"Então disseminei essa ideiasite slotsqualquer lugar onde eu visse uma referência gratuita ao nazismo. Em pouco tempo, para minha surpresa, as pessoas começaram a citá-lo, e o 'meme ao avesso' começou a se reproduzir sozinho."
Foi então que nasceu a "Leisite slotsGodwin", ou a "Regra das Analogias Nazistassite slotsGodwin", que se tornou uma das "regras da internet" e afirma que, se uma discussão online for longe demais,site slotsalgum momento alguém vai recorrer à comparação com Hitler.
Mas se as referências ao fascismo ou ao nazismo são amplamente reconhecidas como exageradas, academicamente imprecisas, falaciosas e ridicularizadas na internet, elas ainda devem ter alguma força no debate para se mantersite slotsuso por tanto tempo, certo?
Não muito, segundo a English Speak Union, ONG britânica que promove a comunicação e o pensamento criativo.
"Adotar acusaçõessite slotsfascismo como insulto não ajuda a se aproximar do público nem favorece seu argumento. Em vez disso, você aumenta o nívelsite slotsagressividade do debate, forçando uma polarização entre 'bom' e 'mau' numa discussão que, por outro lado, poderia ter posições mais razoáveis dos dois lados", conclui Amanda Moorghen, pesquisadora britânica da entidade.
Para ela, "é melhor guardar palavras mais fortes para o argumentosite slotssi,site slotsvezsite slotsatacar as pessoas com quem você está debatendo".
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