'Se teu marido te agride, você pode fugir, mas não se o agressor é meu próprio filho':blazer jogar

Ilustração representando um relacionamento violento
Legenda da foto, Mãe relata abusos sofridos por parte do próprio filho e conta como é difícil evitar a situação

A maioria dos pais nunca teráblazer jogarse preocuparblazer jogarser atacada por uma criança violenta, mas, quando isso acontece, surge um dilema: ao mesmo tempoblazer jogarque não podem deixar o filho à própria sorte, eles temem que buscar ajuda gere repercussões para o futuro da criança. Pesquisas indicam que esse problema é ocultado e mais comum do que se imagina.

No casoblazer jogarHazel, todas as facas da casa ficam trancadas longe do alcanceblazer jogarAidan desde que ele pegou uma delas e foi atrásblazer jogarum membro da família. Ele também já recorreu a outros objetos pontiagudos, como tesouras e cortadoresblazer jogarunha. "Tudo leva à violência", lamenta a mãe.

"Ele é interessadoblazer jogarviolência e vê violênciablazer jogarqualquer situação. Não podemos assistir a programas infantis porque ele gostablazer jogarreencenar qualquer pedacinho que contenha violência."

Acessosblazer jogarviolência

Aidan foi adotado por Hazel e seu marido aos 4 anosblazer jogaridade, e ela diz que desde então convive com seus acessosblazer jogarviolência, embora achasse que fossem passar com o tempo.

Aos 5 anos, ele fez com que uma professora da escola fosse hospitalizada duas vezes — a primeira delas ao chutá-la no rosto, quando ela se agachou para pegar um objeto que ele havia jogado. A equipe da escola foi treinada para conter Aidanblazer jogarmodo seguro quando ele tinha acessosblazer jogarviolência, às vezes por quase uma hora.

Hazel lembra da primeira vez que o viu depoisblazer jogaruma dessas contenções. "Ele estava sentado num sofá suado, tremendo — foi terrível", conta. "Sentei e abracei meus joelhos,blazer jogarposição fetal."

Hazel se questiona hoje a respeito das técnicasblazer jogarcontenção usadas na escola, embora não saiba ao certo que outra maneira haveria para lidar com os acessosblazer jogarviolência do filho. "Deve ter sido traumatizante para ele, mas sei como ele era violento", afirma. "Eu via os hematomas nas assistentesblazer jogarprofessoras, e não sei que outro modo elas teriam para se manterem seguras."

A escola criou uma sala acolchoada que virou um espaço seguro para levar Aidan quando ele colocava a si mesmo ou outrosblazer jogarperigo.O problema é que "ele passou a ser levado para lá todos os dias", conta Hazel. "E ficava tão nervoso que quebrou o vidro reforçado da porta três vezes." Até que a escola disse que não dava mais contablazer jogarcuidarblazer jogarAidan.

Milharesblazer jogarcasos por ano

Em 2010, pesquisadores da Universidadeblazer jogarOxford, no Reino Unido, fizeram a primeira análiseblazer jogarque se tem conhecimento sobre dadosblazer jogarviolênciablazer jogarcrianças contra os pais no Reino Unido, e identificou 1,9 mil registrosblazer jogarLondres durante um períodoblazer jogar12 meses.

A líder do projeto, Rachel Condry, que é professorablazer jogarCriminologia, estima que,blazer jogarterritório britânico, haja milharesblazer jogarcasos anualmente, a maioria dos quais nunca será registrado oficialmente. "É um problema oculto — muitos pais sentem que não podem levar o caso à polícia, ou não recebem nenhuma ajuda ou não encontram nenhum serviço (público adequado)", diz ela.

Condry conta ter ouvidoblazer jogarmuitos pais que eles convivem por anos com a violência antesblazer jogardenunciar o ocorrido a autoridades — e só fazem isso quando realmente se sentemblazer jogarperigo. "Eles ficam muito preocupados, e com razão, quanto a criminalizar seus filhos e quanto às consequências."

Até o estudoblazer jogarCondry, havia poucas pesquisas sobre esse tipoblazer jogarviolência — ou até mesmo consciência sobreblazer jogarexistência. "Não constavablazer jogarnenhum website, nenhuma política governamental — não havia menções a issoblazer jogarlugar algum", diz.

"Mas quando eu falava com pessoas que atendem crianças e famíliasblazer jogartodos os tiposblazer jogaráreas (britânicas), essas pessoas me contavam se deparar com casos do tipo o tempo todo. Era um silêncio muito interessante."

"Eles (pais) sentem uma vergonha muito grande", diz Helen Bonnick, ex-assistente social que escreveu um livro sobre a violência entre filhos e pais. "Se você é um pai ou mãe, seu papel é criar a criança para se tornar um membro responsável da sociedade e um ser humano amoroso. Quando isso dá errado, as pessoas sentem que fracassaram. Não querem falar a respeito. E como ninguém fala a respeito, a pessoa sente ser a única vivendo aquilo."

Assim como o abuso doméstico e a violência conjugal, a violência praticada pelos filhos contra os pais afeta pessoasblazer jogartodas as classes sociais, ricos e pobres, e seria errado supor que acontece apenas quando há crianças que ficaramblazer jogarorfanatos.

Na verdade, Michelle John, da instituição Parental Education Growth Support, especializada na violênciablazer jogarfilhos contra os pais, diz queblazer jogarorganização ajuda mais famílias biológicas do que adotivas.

Assim como acontece na famíliablazer jogarHazel, é mais provável que as mães sejam os alvos. "As mulheres têm muito mais probabilidadeblazer jogarserem vítimasblazer jogarviolência domésticablazer jogartodos os tipos, e esse é o caso aqui também", diz Rachel Condry. "Embora aconteça com os pais, a violênciablazer jogarfilhos contra mãe é a forma mais comum."

Ilustração que mostra a silhuetablazer jogaruma criança gritando, enquanto um adulto passa com um cachorro
Legenda da foto, Estatisticamente, as mães são mais propensas a sofrer violência por parte dos filhos do que os pais

Agora, nenhuma escola local aceita Aidan — todas as unidades especializadas o rejeitaram ou o expulsaram. A mais próxima que o aceitou fica a meia horablazer jogarcarro e também não é capazblazer jogaratender às suas necessidades complexas. "Eles estão contendo ele, mas nada está sendo resolvido", diz Hazel. "O garoto ainda está lutando."

Academicamente, ele já está três ou quatro anos atrasadoblazer jogarrelação às outras crianças da mesma idade, emborablazer jogarcaligrafia seja bonita. Hazel pagou por sessõesblazer jogartreinamento para aprender técnicas que ela pode usar para diminuir o comportamento violentoblazer jogarAidan, para evitar ser ferida. Uma tática é segurar uma grande almofada do sofá para evitar que Aidan seja capazblazer jogarmachucá-la.

"Na primeira vez, ele pegou (a almofada) da minha mão e me atingiu com ela", lembra Hazel, "então pensei: 'Ok, preciso segurar com mais força'. Na segunda vez, funcionou muito bem — consegui colocá-la entre nós, e ele ficava socando e chutando, tentando contornar, mas não conseguia."

Hazel destaca que seu filho não é mau, mas age assim por causablazer jogartraumas que aconteceramblazer jogarseu passado — e não é culpa dele. "Mesmo que pareça que ele é um agressor, ele não é — ele não consegue evitar", diz ela. "Ele é, na verdade, um meninoblazer jogarnatureza doce — é adorável e engraçado, e nós nos amamos."

Mas a tensão gerada por tudo isso a forçou a largar o emprego. Sua saúde piorou — ela teve herpes repetidamente e pneumonia maisblazer jogaruma vez no ano passado, e agora toma antidepressivos. Seu relacionamento com o marido também foi prejudicado.

"Quando percebemos que havia um problema e que as coisas estavam muito difíceis, basicamente sentimos que havíamos cometido um erro e não tínhamos conseguido lidar com isso", diz ela. "Mas dizer issoblazer jogarvoz alta significa que você tem que fazer algo, então nenhumblazer jogarnós disse issoblazer jogarvoz alta. Basicamente, não nos falamos por cercablazer jogarseis meses."

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Quando há um problema?

O comportamentoblazer jogaruma criança se torna problemático quando é controlador, ameaçador, intimidador ou perigoso. Alguns sinais a serem observados são:

- Você muda seu comportamento para evitar confrontos com seu filho;

- Você teme porblazer jogarsegurança ou pela segurançablazer jogaroutros membros da família;

- A criança está roubando ou danificando os pertencesblazer jogaroutros membros da família;

- A criança ameaça você ou outras pessoas;

- A criança ameaça se machucar ou se envolverblazer jogarcomportamentoblazer jogarrisco — leve sempre as ameaçasblazer jogarautomutilação a sério;

- A criança é cruel com animaisblazer jogarestimação.

Presentational grey line

Alguns anos atrás, depoisblazer jogarrefletir muito, Hazel estava prestes a tomar uma atitude drástica. "Achava o efeito que isso tudo estava tendo na família como um todo muito angustiante, então tomei a decisãoblazer jogarpegar Aidan e ir embora", diz ela.

O maridoblazer jogarHazel a convenceu a não fazer isso, e, embora agora ela reconheça que provavelmente foi a decisão certa, não ameniza a culpa que sente pelas outras crianças da família. "É a infância deles que colocamosblazer jogarrisco", diz ela.

A famíliablazer jogarHazel deixoublazer jogarvisitar a casablazer jogaroutras pessoas muito antes da pandemiablazer jogarCovid-19. Eles não realizam ou vão a grandes eventos familiares. Hazel só vê os próprios pais quando Aidan está na escola, porque eles não conseguem lidar com a presença dele.

E ela não se encontra com seus amigos quando está com Aidan se alguma outra criança também estiver presente. Ela e o marido nunca saem à noite ou passam o fimblazer jogarsemana fora — não há ninguém com quem possam deixar Aidan e que seja capazblazer jogarcuidar dele. "É incrivelmente solitário", desabafa Hazel.

Mas ela encontrou grande confortoblazer jogaruma comunidade onlineblazer jogarpais como ela,blazer jogarfórunsblazer jogarque as pessoas compartilham histórias e mecanismosblazer jogarenfrentamento e oferecem apoio moral. Descobrir tantas pessoas vivendo uma situação semelhante foi uma verdadeira surpresa. "Existem muitas, muitas famílias como a minha", diz ela.

Hazel mantém planilhas e está constantemente indo atrás das diferentes agências envolvidas com o passadoblazer jogarAidan para descobrir quais decisões foram tomadas — ou não. Ela está sempre tentando encontrar a ajuda da qual ele precisa.

A grande esperança da família é colocar Aidanblazer jogarum internato que visa reabilitar completamente crianças como eleblazer jogartrês anos, permitindo a elas voltar para casa, viver com suas famílias e frequentar escolas normais. "Eu realmente quero colocar eleblazer jogaruma escola terapêutica, uma que realmente vá ajudá-lo", diz Hazel.

Mas os critériosblazer jogaradmissão são rígidos e complicados, então é um tiro no escuro. Se Aidan não for aceito, Hazel se preocupablazer jogarcomo as coisas podem acabar para ele. "Ele será um parceiro abusivo e terá problemas com a polícia", diz ela. "Ele vai perder o controle e entrarblazer jogaruma briga — vejo ele na prisão."

Por enquanto, ela continua tentando manter a situação sob controle. Quando Aidan está na escola, ela leva o cachorro para passear e pratica um poucoblazer jogarmindfulness (atenção plena) para se preparar para o retorno dele.

Ele pode decidir revirar a casa, jogar o conteúdo da fruteira nela e pular do corrimão. Ou, se for uma noite tranquila, Aidan vai ouvir seus audiolivros — as mesmas histórias, repetidamente, seguindo as palavras nas páginas. E quando chegar a horablazer jogardormir, as portas do andarblazer jogarbaixo estarão trancadas para que, se ele se levantar no meio da noite, não incomode o cachorro.

Ilustraçõesblazer jogarOwen Gent.

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