Os danos permanentes para os jovens que começam a trabalharsport tv livetempossport tv livecrise:sport tv live
É como a dorsport tv liveum braço amputado, que permanece e formiga por anos, embora a causa não esteja mais lá. Dor fantasma, chamam os médicos. Histerese, dizem os economistas.
Esport tv livebreve os televisores estarão novamente lotadossport tv livelinhas e barras. Vermelhas. A crise da saúde incuba (e já manifesta fortemente) uma nova crise mundial. a segundasport tv liveuma década para a Geração Millennial, nascidos entre 1981 e 1993, que ficou espremida entre elas e para aquela geração que vai pegar seu bastão: a Geração Z (de 1994 a 2010), que já teme ser conhecida como Geração Covid.
A armadilha da vida
"Muitas das pessoas que entram no mercadosport tv livetrabalho durante uma crise não só correm maior riscosport tv livedesemprego e subemprego nesse período, mas também ficam sobrecarregadas no futuro. Essa queda temporária da renda tem grande probabilidadesport tv livesurtir efeitos permanentes", alerta Ignacio González, pesquisador e professorsport tv liveEconomia da American University,sport tv liveWashington DC, nos Estados Unidos.
Em entrevista à BBC News Mundo (serviçosport tv liveespanhol da BBC), González explica como é essa armadilha.
Em primeiro lugar, vem o estrago: a crise econômica e a competição por empregos escassos são ferozes, especialmente se houver muito desemprego persistente.
E os jovens começam a ouvir repetidamente os mesmos argumentos.
O primeiro é: "Não o contrato porque você não tem experiência suficiente."
Com o passar do tempo, ele se torna: "Não o contrato porque seu currículo tem lacunas".
E quando acaba a recessão, a justificativa apresentada é: "Não te contrato porque, na realidade, posso ter alguém mais jovem com a mesma experiência".
'Condenação'
De certa forma, eles já estão marcados: acabam por se tornar perfis inexperientes para cargos proporcionais àsport tv liveidade e candidatos muito velhos para competir com os mais jovens pelos cargossport tv liveiníciosport tv livecarreira esport tv livebaixa remuneração.
E como todas as maldições, é acompanhada porsport tv liveprofecia.
"A partir daí, é muito provável que suas carreiras acabem se caracterizando por empregos intermitentes ousport tv livebaixa qualidade, sofrendo uma queda na renda que condiciona toda asport tv livevida", diz González.
"Essas pessoas acumulam menos riqueza (poupança), têm dificuldadesport tv livealcançar uma casa própria (suas poucas economias vão para aluguel e também não vão receber crédito por seu históricosport tv livetrabalho descontínuo) e,sport tv livegeral, seu planossport tv livevida e formação familiar, com todos os problemas psicológicos que lhe estão associados", explica o economista da American University.
Pobreza, divórcio e vidas sem filhos
"O que foi, é o que hásport tv liveser; o que se fez, isso se tornará a fazer. Não há nadasport tv livenovo debaixo do Sol." (Eclesiastes 1: 9).
Àsport tv livemaneira, a economia segue a mesma lógica desse provérbio bíblico. Quando um economista fala sobre o que vai acontecer no futuro, ele geralmente tem a cabeça no passado: nas evidências acumuladas.
Em busca dessas evidências, os pesquisadores Hannes Schwandt e Till M. von Wachter (Northwestern University e UCLA University) mergulharam,sport tv liveum estudo recente, nos registros estatísticos dos EUA para acompanhar a vidasport tv live4 milhõessport tv liveamericanos que saltou para o mercadosport tv livetrabalho durante a crisesport tv live1982.
Como se fossem fantasmas do contosport tv liveNatalsport tv liveDickens, eles agarraram suas mãos e revisitaram os nervossport tv livesuas primeiras experiênciassport tv livetrabalho, anotaram seus salários, se esgueiraramsport tv liveseus momentos felizes (comprasport tv livecasa, casamento, filhos) e passaram seus dias malfadados (divórcios e álcool, doença, depressão etc.) até atingirem a velhice e até o fim da vida.
E então eles compararam suas trajetórias com as gerações ao seu redor, cuja jornada começousport tv livetempos melhores.
Pouco maissport tv liveum anosport tv liverecessão — começousport tv livejulhosport tv live1981 e terminousport tv livenovembrosport tv live1982, segundo o Federal Reserve — fez com que aqueles infelizes jovens acumulassem perdassport tv liverenda médiasport tv live9% apenas nos primeiros 10 ou 15 anos, segundo cálculossport tv livevon Wachter, sendo pior para trabalhadores com menos qualificação.
Isso significa que suas perdas nesse períodosport tv livemaissport tv liveuma década podem variar entre US$ 19 mil e US$ 36 mil (em valores atuais, o equivalente entre R$ 96 mil e 182 mil),sport tv liveacordo com a pesquisa.
Mas não só isso, quando atingiram uma idade entre 50 e 55 anos, tiveram menos casamentos e, ao mesmo tempo, enfrentaram mais divórcios. E suas chancessport tv liveter um filho também eram menores do que assport tv liveoutras gerações.
Mortes por desespero
A deterioração da vida também chegou à saúde, apontam pesquisadores.
A expectativasport tv livevida caiusport tv liveseis a nove mesessport tv liverelação à média estimada. O efeito da crise foisport tv live"uma morte adicional a cada 10 mil pessoas a cada ponto percentual a mais na taxasport tv livedesemprego" no iníciosport tv livesuas carreiras.
"Esses aumentossport tv livemortalidade decorrem principalmentesport tv livedoenças ligadas a hábitos pouco saudáveis, como fumar, beber e se alimentar mal. Descobrimos,sport tv liveparticular, um risco significativamente maiorsport tv liveoverdosesport tv livedrogas e outras condições conhecidas como 'mortes por desespero' (suicídio e deterioração por vício)", explica Schwandt.
A crise desaparece e os danos permanecem. São 16 meses que afetam toda uma vida. A histeresesport tv livenovo,sport tv livetodo seu esplendor.
Impacto na saúde mental
Essas constatações não surpreendem Rosa M. Urbanos-Garrido, professorasport tv liveEconomia Aplicada da Universidade Complutensesport tv liveMadri, que estudou os efeitos da Grande Recessãosport tv live2008 na saúde dos espanhóis.
"O desemprego costuma estar associado a problemas relacionados à saúde mental", explica ela à BBC News Mundo. "A depressão, a ansiedade... O medosport tv livenão poder ganhar a vida influencia, mas não só: o trabalho é uma plataformasport tv livecontatos sociais esport tv liveautoestima."
Urbanos-Garrido conta que, no início da situaçãosport tv livedesemprego, a saúde geral pode até melhorar, mas aos poucos o sentimentosport tv liveangústia aumenta e, para muitos, a faltasport tv liveemprego acaba sendo uma obsessão que vai diminuindo a importância do resto da vida, incluindo a saúde.
"No início, o estresse diminui à medida que eles têm mais tempo livre e se beneficiamsport tv livenão sofreremsport tv livedoenças relacionadas ao trabalho, mas com o aumento da situaçãosport tv livedesemprego, seu estado se deteriora na formasport tv liveansiedade, consumosport tv liveálcool e cigarro, obesidade e má alimentaçãosport tv livegeral... Tudo está sendo negligenciado, mas o indivíduo continua relatando quesport tv livesaúde está boa. O que ele pensa é sobresport tv livesituaçãosport tv livetrabalho e o resto não é considerado problema."
Urbanos-Garrido também alerta que o momentosport tv livedesemprego não é irrelevante: "Se o problema não é individual, mas uma situaçãosport tv livecrise generalizada, os problemas mentais pioram".
É como se houvesse um contágiosport tv livedesespero para o qual não há máscaras.
Esse já é o destino da geração millennial e da geração z ou covid?
Fernando tem uma companheira e um meninosport tv livedois anos. Ele já foi motoristasport tv liveônibus, segurança e pedreiro, às vezes (muitas) na economia informal. Fernando esport tv livefamília foram morar com seus paissport tv liveSoria (Espanha) há um ano porque ele perdeu o emprego e suas economias não eram suficientes para manter a vida onde estava. Fernando,sport tv live34 anos, nem se chama Fernando porque não quer que seu nome verdadeiro apareça nesta reportagem da BBC News Mundo. Ele diz que tem vergonha.
Marta Vegas García também é espanhola. Mais jovem, 23 anos. Ela é engenheira biomédica e também possui mestrado. Há uma semana, ele publicou um telefonema se não fosse por ajuda, sim,sport tv livedescrença emsport tv liveconta do LinkedIn.
"Atualizo meu currículo, mas não há resposta. Adapto meu currículo a depender do posto para o qual me inscrevo: não há resposta. Contato empresas e tratosport tv liveser proativa. Sem resposta. Me sinto invisível."
"Não somos valorizados", disse Vegas à BBC News Mundo. "Vemos nossos sonhos e nosso futuro frustrados", lamenta, e embora ela presuma que a crisesport tv livesaúde tenha influência, não parece convencidasport tv liveque este seja o único motivo.
"Todos (eu e meus amigos) concordamos que é impossível emancipar-nos, ter acesso a uma casa e muito menos constituir família um dia."
Este é o fio que liga a grande recessão econômicasport tv live2008 e a crise do covid-19sport tv live2020, e dois estranhos como Fernando e Marta. Um, millennial, a outra, da geração Z.
Eles não estão sozinhos e parecem representar os sentimentossport tv livemuitossport tv liveseus contemporâneos.
Basta escrever no camposport tv livebuscasport tv liveuma rede social "Na minha idade, meus pais ..." e as mensagens se repetemsport tv livevários idiomas:
"Na minha idade, meus pais tinham empregos e casas, só tenho ansiedade."
"Na minha idade, meu pai tinha dois filhos, uma casa, um emprego fixo, um carro e vários anossport tv livecontribuições. Não tenho nada disso."
"Na minha idade, meu pai tinha economizado por 10 anos e eu vivosport tv liveempregos precários esport tv liveum quarto".
E alguns ainda não imaginavam que chegaria a crise do coronavírus.
O estrago da crise do coronavírus
"Acho que esse bug foi a gota d'água para a nossa geração", diz Fernando, referindo-se ao coronavírus.
Sua intuição é boa. "Há um número notávelsport tv livetrabalhadores que, por terem sofrido desemprego na crise anterior e não ter se consolidado no emprego, também estão sofrendo nesta", observa Ignacio González, da American University.
"Existem mercadossport tv livetrabalho, como o espanhol, que nunca se recuperaram totalmente, então começamos essa crise já com níveissport tv livedesemprego bastante altos", afirma.
São problemas socioeconômicos que atravessam as vidas há uma década.
Assim, se a crisesport tv live1982 afetou a vida daqueles jovens, o que esperar da crisesport tv live2008, definida pelo Fundo Monetário Internacional como "o colapso econômico e financeiro mais grave desde a Grande Depressão dos anos 1930"?
Ou desta crise do coronavírus, que o Banco Mundial prevê que o PIB (somasport tv livetodas as riquezas produzidas do país) recue mais que o dobro do que na crise anterior?
Alguns especialistas já veem danos na vida da geração millennial.
Na Europa, o desemprego e a precariedade no emprego já eram maiores antes da crise da covid-19 do que os enfrentados pela geração que os precedeu quando tinham a mesma idade,sport tv liveacordo com relatório do Centrosport tv livePesquisas CaixaBank.
Nos EUA, a riqueza líquida mediana (ativos financeiros e imobiliários menos dívidas) da geração millennial entre 25 e 34 anos (em 2016) é 60% menor do que asport tv liveuma geração X quando eles estavam nela faixa etária, conforme esse estudo.
Na Espanha, os dados são ainda mais assustadores: a riqueza média ésport tv live3.000 euros,sport tv livecomparação com os 63.400 euros que suas contrapartes da geração anterior tinham na mesma fase.
E a casa, é claro. O númerosport tv livemillennials com casa própria nos EUA é 8 pontos percentuais menor,sport tv liveacordo com o centrosport tv livepesquisas The Urban Institute. Pior na Espanha: 44% contra 65% da geração X (CaixaBank Research). E no Reino Unido, um terço deles nunca será capazsport tv livepagar uma casa,sport tv liveacordo com o think tank Resolution Foundation.
Na América Latina, a crisesport tv live2008 passou na ponta dos pés, pois a região vivia um momentosport tv livecrescente prosperidade. E, no entanto, "a porcentagemsport tv livelatino-americanos que declarou não ter dinheiro para comprar uma casa cresceu quase 20 pontos entre 2012 e 2019, chegando a alarmantes 40%", segundo relatório do Banco Interamericanosport tv liveDesenvolvimento (BID).
Além disso, desta vez a crise não vai passar por muito tempo: após os confinamentos, cercasport tv live65% dos domicílios mais pobres da região sofreram pelo menos uma perdasport tv liveemprego entre familiares, segundo o mesmo órgão.
E o BID observa: maissport tv live1 milhãosport tv liveestudantes desistirão da trajetória por causa da pandemia, com a consequente perdasport tv livepoder aquisitivo no futuro.
O Fórum Econômico Mundial, porsport tv livevez, vê as aposentadoriassport tv liverisco até o ano 2050, quando atingem a idadesport tv livese aposentar, devido à baixa poupança.
É possível fazer algo?
E neste ponto, é possível fazer algo para deter esse estrago para a geração millennial e seus sucessores?
"Há bastante margem para melhorar a resposta à crise", afirma o economista Ignacio González.
"Nesse contextosport tv liveestresse financeiro para muitas famílias, é fundamental o desenvolvimentosport tv livepolíticas públicas que garantam o acesso à moradia popular e estabeleçam mecanismossport tv livetransferênciasport tv liverenda alheia ao históricosport tv livetrabalho, como rendas mínimas. Em questão trabalhista, o objetivo seria prevenir que a precarização do trabalho e a queda na renda sofrida por muita gente durante a crise se tornem crônicas e, claro, que isso não leve a uma queda nas suas futuras aposentadorias."
"Os afetados nessas gerações, com duas crises consecutivas, terão dificuldades se os mecanismossport tv liveredistribuição não forem habilitados, tanto intrageracionais (de ricos para pobres na mesma geração) e intergeracionais", afirma.
Urbanos-Garrido, professora da Universidade Complutense, concorda com as medidassport tv livetransferênciasport tv liverenda e acrescenta: "Os sistemassport tv livesaúde também devem se adaptar para enfrentar os crescentes problemas mentais que provavelmente se repetirão na atual crise".
Parece claro que essas gerações não têm esperançasport tv livereceber alguma ajuda.
Uma pesquisa recente da Universidadesport tv liveCambridge, no Reino Unido, com quase 5 milhõessport tv livepessoas revelou que os jovens entre 18 e 34 anos são os mais desiludidos com o funcionamento da democracia.
"Esta é a primeira geração na memóriasport tv liveque a maioria global está insatisfeita [nessa faixa etária] com a forma como a democracia funciona", alerta Roberto Foa, principal autor do relatório.
Um pedidosport tv liveajuda ou talvez um gritosport tv liveadvertência.
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