Exploração das profundezas do mar preocupa como 'última fronteira' para mineração:prime bets

Um veículo submarino operado remotamente (ROV) no meio do azul do mar

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Um veículo submarino operado remotamente (ROV), que pode ser usadoprime betspesquisas exploratórias no fundo do mar

"Dessa forma, restará aos países explorarem as regiões mais remotas do planeta, a última fronteira exploratória da Terra, os oceanos profundos. É literalmente uma corrida pelo ouro."

No mundo, 30 licenças para a pesquisa exploratóriaprime betsvastas extensões do fundo do mar, envolvendo 22 países exploradores, já foram emitidas pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na siglaprime betsinglês) — uma organização internacional fundada após uma convenção das Nações Unidas sobre o tema.

Atualmente, porém, não existe nenhum contrato vigente concedido pela ISA para a exploração efetiva dessas áreas, com retiradaprime betsrecursos. As normas para isso estão sendo elaboradas, neste momento, pelos países-membro da organização.

Nódulosprime betsmanganês, sólido com protuberâncias esféricas e cinzentas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Nódulosprime betsmanganês, uma das riquezas encontradas no fundo do oceano e cuja demanda será maior na indústria do futuro

Entre as companhias que já receberam licenças para pesquisa exploratória, está a própria CPRM, uma empresa pública brasileira.

Desde 2015, o Estado brasileiro tem o direito exclusivoprime betspesquisa exploratória das crostas ferromanganesíferas ricasprime betscobaltoprime betsuma áreaprime bets3000 km², além da jurisdição nacional, no Atlântico Sul — na região conhecida como Elevação do Rio Grande (ERG). A licença tem períodoprime bets15 anos.

Trata-se do primeiro contrato para exploração no Hemisfério Sul e o quarto no mundo. O programa segueprime betsfaseprime betsestudo da viabilidade econômica.

"Em relação aos recursos minerais, estamos apenas começando (no país) as pesquisas fundamentais para que possamos quantificar esses recursos. É um programaprime betsEstado queprime betsdeterminado momento deverá atrair o setor privado. Hoje, temos apenas alguma produçãoprime betsgranulados bioclásticos e sal gema na plataforma continental até 30 metrosprime betsprofundidade que ainda não possuem expressão econômica significativa", explica Frazão.

O geólogo afirma que a exploração pelo Serviço Geológico do Brasil cumpre responsabilidade ambiental e segue todas as normas internacionais para o estudo e desenvolvimento da "linhaprime betsbase ambiental da área do contrato", ou seja, pesquisa e levantamento dos recursos minerais e da biodiversidade do paísprime betsmodo a minimizar impactos.

"Com a interposição das ONGs ambientais, acreditamos que um debate propositivo e com embasamento científico só virá a engrandecer a questão da mineraçãoprime betsprofundidade mundialmente. Quanto maior o acúmuloprime betsconhecimento a respeito do tema, mais segura, responsável e sustentável será a atividade mineratóriaprime betsprofundidade", diz o geólogo.

Expectativa sobre posição europeiaprime betsmoratória à mineraçãoprime betsalto mar

A menção às ONGs não é fortuita: elas têm feito barulho quando o assunto é a mineração no fundo do mar, usando frequentemente para isso pesquisas científicas.

No ano passado, o Greenpeace entregou uma cartaprime betscientistas marinhosprime betstodo o mundo para os governos na assembleia anual da ISA, ocorrida entre os dias 25prime betsfevereiro e 15prime betsmarço,prime betsKingston, Jamaica, afirmando que a indústria emergente da mineraçãoprime betsalto-mar "coloca a saúde geral do oceano e seus ecossistemas sob ameaça" e poderia contribuir para a degradação do clima.

Para Louisa Casson, estrategista política sênior do Greenpeace no Reino Unido, as ameaças justificam uma única solução: a mineração no fundo do mar não deve ser permitida, defende.

"É urgente pararmos esse setor antes mesmoprime betsele começar. Governosprime betsnações como Papua Nova Guiné, que anteriormente apoiavam a mineraçãoprime betságuas profundas, se voltaram contra essa indústria arriscada, juntando-se a Fiji e Vanuatu, grupos do setor pesqueiro, o naturalista David Attenborough e líderes cientistas no apoio a uma moratória", exemplifica.

"Ao descortinar uma nova fonteprime betsminerais, a mineraçãoprime betsalto-mar incentiva que deixemosprime betsabordar as questões fundamentaisprime betsconsumo excessivo e uso extremamente ineficienteprime betsrecursosprime betsfavorprime betsuma rotaprime betsfuga, sem evitar encararmos os limites impostos pela natureza finita dos recursos minerais", complementa Casson.

Peixe laranjaprime betsmeio a corais

Crédito, Divulgação/Greenpeace/Gavin Newman

Legenda da foto, Um peixe-escorpião da espécie Scorpaena maderensis, fotografado nas profundezas dos Açores

Emprime betsEstratégiaprime betsBiodiversidade para 2030, publicada recentemente, a Comissão Europeia se uniu ao pedidoprime betsuma moratória à mineração comercialprime betsalto mar. Por isso, todos os olhos se voltam para a posição da União Europeia e seus 27 Estados membros —prime betsum totalprime bets36 — no próximo encontro anual da ISA, previsto para outubroprime bets2020. A pauta deverá também ser central no próximo Congresso da União Internacional para a Conservação da Naturezaprime betsMarselha, França,prime betsjaneiroprime bets2021.

Hoje, para o secretário-geral da ISA, Michael Lodge, o regimeprime betsmineraçãoprime betsalto-mar vigente,prime bets1982, é o mais inovador já criado pela humanidade para o uso equitativo e sustentável dos recursos naturais.

"Esse regime legal cuidadosamente equilibrado, porém abrangente, foi criado para impedir a disputaprime betsrecursos por países tecnologicamente avançados no fundo do mar e para garantir que a pesquisa científica, a exploração e a extração beneficiem toda a humanidade. Foi desenvolvido para garantir que a mineração no fundo do mar não fosse realizada por ordemprime betschegada, mas sob gestão internacional com padrões ambientais globais claros", escreveu Lodge no blog da organização.

"Não consigo pensarprime betsnenhuma outra atividade no oceanoprime betsque tivemos a chanceprime betsestabelecer as regras antes que a atividade ocorresse, e devemos aproveitar todas as vantagens dessa oportunidade."

Em abrilprime bets2019, com o lançamento da Comissão Jurídica e Técnica da ISA, um corpo especialista formado por 30 membros, foi dado um largo passo para um projetoprime betscódigoprime betsmineração que permitiria a exploração comercial do fundo do mar. O Códigoprime betsMineração, garante Michael Lodge, "permitirá a exploração do fundo do marprime betsmaneira a equilibrar a necessidadeprime betsminerais com rigorosa proteção ambiental."

Mangueiraprime betscombustívelprime betscarro elétricoElectric car

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Tecnologia atual dos carros elétricos precisa do cobalto, possivelmente abundante no fundo do mar

O professor doutor Denis Moledoprime betsSouza Abessa, coordenador do Núcleoprime betsEstudos sobre Poluição e Ecotoxicologia Aquática (Nepea) do Institutoprime betsBiociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no entanto, não acredita muito nisso. Para ele, é difícil crer que o Códigoprime betsMineração seja capazprime betsgarantir que não ocorrerão danos ao meio ambiente e à vida marinha — isto pelo que se já se vê na mineraçãoprime betsterra.

"Se nas regiões visíveis já temos problemas, imagine numa área distante da costa onde não tem ninguém olhando. Com a questão do petróleo acontece isso — com os fluidosprime betsperfuração, vazamentos e a água que se separa do petróleo, a qual carrega muitos contaminantes. Em relação à mineração nos fundos marinhos, o meu maior temor é que vai ser feita a escavação, então tudo o que estiver abaixo, os habitats, vai ser destruído. É o mesmo problema da pesca com redesprime betsarrasto."

"As coisas que aconteceram recentemente nas áreasprime betsmineração continental no Brasil, como Mariana, Brumadinho, e outras áreas que estão aí com barragens quase caindo, nos deixa ver muito bem qual a visão setorial tida sobre o meio ambiente", observa o professor.

"Nós conhecemos mais da Lua do que do fundo marinho", diz o professor, apontando o desconhecimento que se tem sobre estes habitats e, mais ainda, sobre os impactos da exploração mineral neles.

Biodiversidade e regulaçãoprime betstemperaturas e carbono

Hoje, 66% da área oceânica experimenta impactos cumulativos crescentes, como aponta o Relatórioprime betsAvaliação Global da IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos). E o oceano profundo, com ecossistemas inexplorados, é particularmente vulnerável a interferências humanas.

O mar profundo cobre cercaprime bets65% da superfície do planeta, controlando e hospedando grande parte da biodiversidade do planeta. Esses lugares remotos também desempenham um papel importante na regulação da temperatura eprime betsgases do efeito estufa.

Um estudo recente, publicadoprime betsabril pelo Instituto Max Planckprime betsMicrobiologia Marinha, apontou por exemplo como habitantes microscópicosprime betsplanícies marinhas, que convivem com materiais economicamente rentáveis, seriam diretamente impactadosprime betssuas condições bioquímicas.

Pesquisadores foram ao Pacífico, a cercaprime bets3.000 quilômetros da costa do Peru, para verificar o que tinha acontecido com uma área que,prime bets1989, passou por uma simulação conduzida por cientistas alemães. Eles usaram equipamentos para "arranhar" o fundo do mar a 4 mil metros,prime betsuma área ricaprime betsmanganês.

Na nova incursão, 26 anos após a simulação, pesquisadores verificaram que os rastros do arado no fundo do mar ainda eram claramente visíveis; e também que a presençaprime betsbactérias nas áreas que sofreram a intervenção era menor do que nas áreas "virgens". Segundo os autores, seriam necessários 50 anos para que os micróbios originais dali retomassem completamente suas funções biológicas normais.

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