Coronavírus: 'Ele era apaixonado pela tia, e ela se foi': o luto das crianças na pandemia:jogo adiado galera bet

criança chorando

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Diante do avanço da pandemia, muitas famílias estão convivendo com a morte - e tendojogo adiado galera betfalar do assunto com as crianças

"Todos os dias que a Daniele vinha para a casa dos meus pais, que divide terreno com a minha, ela gritava o nome do Enzo. Passava para brincar com ele depois do serviço. Ele está sentindo falta e às vezes pergunta da tia. Ele sabe que tem um bichinho (vírus) na rua e por isso precisamos usar máscara e álcool gel. Quando ela faleceu, expliquei que ele não iria mais ver a tia, que ela havia virado uma estrelinha e agora está com o Papai do Céu."

Com o avanço da pandemia e maisjogo adiado galera bet11 mil vítimas fataisjogo adiado galera betcoronavírus oficialmente confirmadas no Brasil, conversas difíceis como essa tiveramjogo adiado galera betvirar parte do cotidianojogo adiado galera betmuitas famílias brasileiras,jogo adiado galera betum contextojogo adiado galera betluto ainda mais triste — já que nem sempre é possível dizer adeus às pessoas queridas ou receber o confortojogo adiado galera betamigos, por conta das medidasjogo adiado galera betdistanciamento social.

Enzo no colo da tia Daniele

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, "Não tinha nada que tirasse elesjogo adiado galera betperto um do outro. E ele era apaixonado pela tia", diz Tatiane (à esq), sobre a relação do filho Enzo com a tia Daniele (à dir), vítima da covid-19

"Mais gente tem perguntado sobre isso (luto vivido pelas crianças), também pelos agravantes desta pandemia:jogo adiado galera betnão podermos estar juntos,jogo adiado galera betnão podermos nos despedir", diz Maria Helena Pereira Franco, coordenadora do Laboratóriojogo adiado galera betEstudos e Intervenções sobre o Luto (LELu) da PUC-SP e doutorajogo adiado galera betpsicologia.

"Com as crianças, é preciso falar sobre o assunto sendo atento às fasesjogo adiado galera betseu desenvolvimento. Algumas pessoas acham que 'as crianças não entendem' (a morte). Elas não entendem como adultos, mas sim, entendem. E é bom conversar sobre isso com elas."

Nem sempre teremos respostas

Embora seja uma conversa difícil e dolorida, Pereira Franco acha que ela é necessária para não gerar sensaçãojogo adiado galera betmedo, culpa e isolamento nas crianças, inclusive nas menores, para quem a morte não é algo tão concreto.

"Talvez ela se assuste ou fique temerosa, mas é bom que a gente possa falar sobre a morte, para que a criança saiba o que fazer com o medo que está sentindo e tenha um canal confortáveljogo adiado galera betconversa com um adulto", diz a psicóloga, defendendo que não se evite a palavra morte, "para não transformarjogo adiado galera bettabu algo que acontece com todo mundo. É o corpo não funcionando direito".

A dependerjogo adiado galera betcrenças religiosas da família (ou ausência delas), nem sempre haverá respostas para todas as dúvidas das crianças, como o que acontece depois da morte.

"Não há problema algumjogo adiado galera betdizer à criança: 'adoraria ter essa resposta, mas não tenho'. Ou então 'vamos tentar pensar juntosjogo adiado galera betalgo que faça sentido para a gente?'."

Ao mesmo tempo, a recomendação é falarjogo adiado galera betmodo concreto e cuidar para "não avançar o sinal" e não dar informaçõesjogo adiado galera betexcesso, que acabem gerando ainda mais angústia.

Adulto e criança

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Chorar com as crianças e falar abertamente do assunto são parte do processojogo adiado galera betluto, diz especialista

"O adulto pode responder às dúvidas das crianças à medida que elas forem surgindo, mas sem ir além dessas perguntas. Talvez as maiores, com 10 anos ou mais, queiram saber as tecnicalidadesjogo adiado galera betmorrer — por que a pessoa não está mais respirando, por exemplo", diz.

"Metáforas, como 'ele descansou', não ajudam. Porque a criança pode achar quejogo adiado galera betalgum momento a pessoa querida vai pararjogo adiado galera betdescansar. É bom, então, usar as palavras reais: assim como o bebê nasce, a pessoa morre. Também não há problema com a pegada religiosajogo adiado galera betmuitas famílias, mas é preciso que a criança entenda que, para virar uma estrelinha, a pessoa precisa morrer antes."

Tatiane Costa tem se esforçado para explicar isso a Enzo quando ele pergunta da tia Daniele.

"Toda vez que vê uma estrela, fala o nome dela. (Mas) ele entendeu bem que não vai mais vê-la", conta. "Tem sido uma dor muito grande. Nos últimos três ou quatro diasjogo adiado galera betvida (quando a irmã estava hospitalizada), a Daniele não pôde ver nenhumjogo adiado galera betnós. Meus pais não puderam ver o rosto da filha pela última vez."

Hospitaljogo adiado galera betcampanhajogo adiado galera betManaus

Crédito, Alex Pazuello

Legenda da foto, Hospitaljogo adiado galera betcampanhajogo adiado galera betManaus; pandemia tem impedido que parentes visitem seus entes queridos e se despeçam deles

Novos rituais

A dor da família Costa espelha ajogo adiado galera betmuitas outras famílias, que não puderam visitar seus entes queridos nas UTIs e que têm sido forçadas a realizar enterros e velórios apressados, com caixões fechados. Nessas circunstâncias, os próprios adultos estão mais fragilizados e vivendo processosjogo adiado galera betluto mais difíceis. Diante disso, a psicóloga Maria Helena Pereira Franco sugere a construçãojogo adiado galera betnovos rituaisjogo adiado galera betdespedida que amenizem a nova realidade.

"Me contaramjogo adiado galera betum enterrojogo adiado galera betque os amigos, sem poder participar da cerimônia, fizeram uma fila com seus carros na frente do cemitério e acenderam seus faróis. Como se dissessem 'não pudemos entrar, mas estamos aqui'."

Para as crianças, rituais lúdicos também podem ajudar no luto e na despedida, agrega. "Pode ser escrever uma carta à pessoa querida ou fazer uma caixajogo adiado galera betmemórias. Nesse processo as crianças vão conhecer histórias dajogo adiado galera betfamília."

Chorar com a criança ou na frente da criança também é parte natural deste momento coletivo tão doloroso, prossegue a psicóloga.

"Chorar é algo que as pessoas tristes fazem. Ao chorar junto, a criança vai entender que (a dor ou saudade) que ela própria está sentindo é compreensível. Às vezes o adulto quer proteger a criança e engole o próprio choro, mas está todo mundo triste e a criança precisa entender isso. É a diferença entre um ambiente que apoia (o processojogo adiado galera betluto) ou o esconde", opina Pereira Franco.

"E não há nadajogo adiado galera beterradojogo adiado galera beto adulto dizer 'hoje estou triste e quero ficar quietinho' ou 'hoje não estou legal para conversar, preciso me entender melhor'. É honesto e legítimo. A mensagem éjogo adiado galera betque a morte é muito desorganizadora, mas temos recursos individuais e coletivos para lidar com ela."

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