Por que criamos memórias do que nunca aconteceu?:www casasdeapostas com
Ele diz que a memória não é um músculo que pode ser exercitado. "Aprender um instrumento musical, uma nova língua, uma nova áreawww casasdeapostas comconhecimento, tudo isso é bom. Vai te fazer mais inteligente e esperto. Mas não vai fazerwww casasdeapostas commemória melhorar", afirma. A melhor coisa para a memória, diz ele, é socializar e conviver com amigos e familiares — algo que promove aprendizados e que, segundo ele, faz bem para a memória e para a mente como um todo.
Leia os principais trechos da entrevista da BBC News Brasil com Conway:
www casasdeapostas com BBC News Brasil - O que é memória? É correto dizer que é a recordaçãowww casasdeapostas comuma experiência ouwww casasdeapostas comum evento?
www casasdeapostas com Martin Conway - É uma pergunta difícil. Não é uma recordação literal. É quase como uma obrawww casasdeapostas comarte baseadawww casasdeapostas comuma foto do passado. E por causa disso a memória frequentemente contém erros. Podemos defini-la como uma representação com uma importância pessoal grande que tem alguma conexão com o passado, mas que não necessariamente representa o passado como uma foto, um vídeo ou uma recordação no diário faria.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Por que o Sr. diz que ela frequentemente contém erros?
www casasdeapostas com Conway - Às vezes, podemos checar o conteúdowww casasdeapostas commemórias contra fatos objetivos, e quando o fazemos, percebemos que muitas vezes nossas memórias contêm erros. É comum que sejam erros sobre detalhes. Também podemos nos lembrarwww casasdeapostas comcoisas que nunca aconteceram. Todo mundo já passou por isso. Memórias são essas construções mentais que são como obraswww casasdeapostas comarte, e às vezes obraswww casasdeapostas comarte são fictícias, não?
Para entender por que pode conter erros, precisamos entender as diferentes funções das memórias. Uma delas é recordar o passado imediato. Esse tipowww casasdeapostas comrecordação é razoavelmente preciso. Outro tipo, que chamamoswww casasdeapostas commemórias autobiográficas,www casasdeapostas comperíodos mais longos,www casasdeapostas commeses, anos ou décadas, servem mais para nos ajudar como indivíduos, para nos definir. E então é nesse momento que não é particularmente importante que a memória seja bastante precisa. O que importa é que seja consistente, que se encaixe com awww casasdeapostas comvida, com o que você constrói sobre você mesmo. E esse processo pode ser inconsciente.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Então as memórias definem a percepção que temos sobre nossa vida? Ou é o contrário: o que construímos sobre nossas vidas define nossas lembranças?
www casasdeapostas com Conway - As duas coisas interagem. É algo que chamamoswww casasdeapostas comcoerência. Há memórias que chamamoswww casasdeapostas com"autodefinidoras". Elas provavelmente vão nos direcionar para certas direções e objetivos que buscamoswww casasdeapostas comnossas vidas e vice-versa. Se não interagirem, é um problema. Em casoswww casasdeapostas comdoenças mentais, por exemplo. Você pode se lembrarwww casasdeapostas comalgo que não é você, não se encaixa na percepção que você tem sobre si. E daí você tem que,www casasdeapostas comalguma forma, viver e integrar isso nawww casasdeapostas comvida e a percepção que tem sobre ela.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - As pessoas dizem que a memória está semprewww casasdeapostas comconstrução, ou sempre mudando. Isso é verdade?
www casasdeapostas com Conway - As memórias não podem estar sempre mudando, porque daí não teríamos consistência. Elas mudam, mas não tanto quanto se imagina. Conhecimento abstrato, conceitual, dados como "Eu fiz faculdade? Fiz" —isso não vai mudar. Coisas específicas assim não vão mudar. Só que tem que haver consistência, mas também uma flexibilidade construtiva. Você não vai se esquecerwww casasdeapostas comter trabalhadowww casasdeapostas comum lugar específico, mas haverá muitos episódios relacionados àquilo que você poderá lembrar com detalhes diferentes. Ou seja, você provavelmente vai se lembrar, nawww casasdeapostas comvida,www casasdeapostas comter trabalhado na BBC, mas vai se lembrarwww casasdeapostas commuitos episódios relacionados a isso com detalhes diferentes. O importante é que haja coerência com o quadro mental que você vai pintar sobre ter trabalhado na BBC.
Outra visão com a qual não concordo muito é awww casasdeapostas comreconsolidação. É uma abordagem científica que diz que todas as vezes que você se lembrawww casasdeapostas comuma memória, você muda ela. Eu acho que isso levaria a um sistemawww casasdeapostas commemória muito instável. Nós somos muito estáveis, temos a necessidade e desejowww casasdeapostas commemórias consistentes.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Por que criamos memóriaswww casasdeapostas comcoisas que nunca aconteceram?
www casasdeapostas com Conway - Às vezes são coisas que nós imaginamos que aconteceram. Talvez você tenha imaginado muito e esqueceu que era uma imaginação, e aquilo volta como uma memória. Isso acontece muito com memóriaswww casasdeapostas cominfância. Sua mãe pode ter lhe dito: "Tínhamos um grande jardim verde e brincávamos lá, você estava sempre rindo". E mais tarde você pode se lembrar dessa cena, sem se tocar que era uma história quewww casasdeapostas commãe lhe contou. Ou então você pode ter imaginado algo quando criança — algo que poderia ter acontecido, mas não aconteceu. Você pode lembrar disso como uma memória. E isso pode ser consistente e coerente com suas crenças sobre quem você era e suas atitudeswww casasdeapostas comrelação ao mundo, e isso é ok.
Memória e imaginação acontecem nas mesmas redes neurológicas do nosso cérebro. Quando você não está focado ou focadawww casasdeapostas comtarefas, quando você está pensando na vida, no futuro, no passado, essas grandes e complicadas redes neurológicas ficam online. Lembrar e imaginar acontecem na mesma rede.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Então nós criamos lembranças falsas?
www casasdeapostas com Conway - Não há dúvidaswww casasdeapostas comque sim. Se é intencional ou não, é outra questão. Pesquisadores concordamwww casasdeapostas comrelação a uma coisa: ninguém se senta, pensa e cria uma memória falsa assim. Você pode conversar com alguém, imaginar algo que poderia ter acontecido, e gradualmente isso se transformawww casasdeapostas comalgo que você se lembra como real.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Qual é a diferença entre memórias a longo prazo e memórias a curto prazo, e por que lembramoswww casasdeapostas comumas e nãowww casasdeapostas comoutras? Às vezes nos esquecemos do que comemos no café da manhã.
www casasdeapostas com Conway - É porque o café da manhã é algo entediante! (Risos) Mas vamos falar sério: memórias a curto prazo duram cercawww casasdeapostas com30 segundos. Um exemplo é algo que você acabouwww casasdeapostas comdizer, as exatas palavras que você disse. Memórias intermediárias,www casasdeapostas comeventos recentes, o que eu tomei no café da manhã, se passeei com o cachorro, são importantes porque nos ajudam a nos localizar no tempo e no espaço. Mas, com o tempo, você se lembra menos e menos, como o que você fez ontem, três dias atrás, uma semana, um mês atrás. E então existe uma funçãowww casasdeapostas comretenção: você acaba se lembrando maiswww casasdeapostas comeventoswww casasdeapostas comgrande relevância para você, como os relacionados a seus objetivos, preocupações e desejos.
www casasdeapostas com BBC News - Brasil - E memóriaswww casasdeapostas cominfância, existem?
www casasdeapostas com Conway - Essa é uma questão interessante. Muitas pesquisas já foram feitas sobre isso. O cérebro está se desenvolvendo nesses períodos. Estudos mostram que os lobos frontais ainda não estão completamente desenvolvidos quando você tem vinte e poucos anos. Minha hipótese é que lembramos comparativamente pouco dos 5 aos 10 anos, e que passamos a lembrar mais na adolescência. Além disso, há muitas diferençaswww casasdeapostas compessoa para pessoa, por causa do desenvolvimento do cérebro, e diferenças culturais.
Pessoaswww casasdeapostas comculturas asiáticas, por exemplo, lembram menoswww casasdeapostas comdetalheswww casasdeapostas commemórias como crianças. Isso porque são socializadas a lembrarem memórias que envolvem um coletivo — lembram-sewww casasdeapostas comfalar com a mãe ou com a avó, por exemplo, e não tantowww casasdeapostas com"eu". Nas culturas ocidentais, somos criados para nos lembrarwww casasdeapostas comcoisas que nos definem como indivíduos, como "eu fiz isso", "eu fiz aquilo".
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Se não conseguimos nos lembrarwww casasdeapostas comfatos, conseguimos nos lembrarwww casasdeapostas comsentimentos dessa época?
www casasdeapostas com Conway - A pergunta que temos que nos fazer é: é possível,www casasdeapostas comprimeiro lugar, lembrar-sewww casasdeapostas comqualquer sentimento? Quando você diz: "Senti medo, raiva" ou qualquer coisa do tipo… Era esse mesmo o caso? Você pode se lembrarwww casasdeapostas comdetalheswww casasdeapostas comum evento e inconscientemente e sem intenção construir a partir disso memóriawww casasdeapostas comcomo você se sentiu.
Além disso, as medidas podem mudar. Por exemplo, posso me lembrarwww casasdeapostas comme sentir muito feliz jogando futebolwww casasdeapostas comum campinho quando tinha 7 anoswww casasdeapostas comidade. Mas a felicidade que eu senti aos 7 anos é a mesma felicidade que eu sinto hoje? O que você se lembra não corresponde, necessariamente, a como as coisas eram.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Existem memórias coletivas?
www casasdeapostas com Conway - Sim. Não tê-las é um problema. Por que que as pessoas às vezes não as têm? É uma repressão das memórias, que pode ser consequênciawww casasdeapostas comum problema na sociedade,www casasdeapostas comgeral. São memórias importante porque provavelmente são memóriaswww casasdeapostas comeventos negativos. E eventos negativos transmitem mais informação que eventos positivos, são mais informativos sobre o mundo e às vezes são sobre coisas que podem ser ameaçadoras. Você se lembrawww casasdeapostas comcomo as coisas podem dar errado para não repeti-las. Também há memórias relacionadas a gerações. Há memóriaswww casasdeapostas comque meus outros amigos velhos também se lembram, e isso nos conecta.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - A tecnologiawww casasdeapostas comhojewww casasdeapostas comdia afeta nossa memória? Estamos terceirizando nossa memória para aplicativos e aparelhos?
www casasdeapostas com Conway - Temos que lembrar que a humanidade sempre suplementouwww casasdeapostas comcognição com a tecnologia. Escrever é provavelmente nossa maior tecnologia. Sempre soubemos que nossa cognição é imperfeita, e sempre buscamos maneiras para suplementá-la. Pessoalmente, eu acho bom. Eu acho incrível. A tecnologia expande nossa memória, não o contrário.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Podemos exercitar nossa memória para tentar melhorá-la?
www casasdeapostas com Conway - Não. A memória não é um músculo. Aprender um instrumento musical, uma nova língua, uma nova áreawww casasdeapostas comconhecimento, tudo isso é bom. Vai te fazer mais inteligente e esperto. Pode ser bom parawww casasdeapostas com"memóriawww casasdeapostas comtrabalho", que éwww casasdeapostas comhabilidadewww casasdeapostas combrevemente manipular informação, mas não vai fazerwww casasdeapostas commemória melhorar. Vai fazer todo o conjunto funcionar bem.
Se você desistir e pararwww casasdeapostas comaprender coisas novas, as coisas não irão bem. Uma das coisas que fazem uma diferença enorme é o quão bem socializamos com os outros. Fomos evoluídos para socializar, e quanto mais o fazemos, melhor nosso cérebro trabalha. Sair com amigos e familiares e interagir é a melhor coisa que você pode fazer pelawww casasdeapostas commente e parawww casasdeapostas commemória. Socializando, você aprende coisas novas o tempo todo, aprende sobre pessoas, sobre si próprio. Socializar é um aprendizado gigante. E pessoas que permanecem dentrowww casasdeapostas comseus grupos sociais sofrem menos declínio cognitivo, e isso inclui comprometer menos a memória.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - O que o Sr. diria para pessoas mais velhas sobre a memória?
www casasdeapostas com Conway - Permaneçam engajados com seus círculos sociais, seus netos, amigos, colegas. É a coisa que mais pode fazer a diferença. Não há dúvidaswww casasdeapostas comque a memória deteriora. Manter todo o sistema mental vivo trará benefícios. Socializar é bom para a memória, para o pensamento e a imaginação. É bom para tudo.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - O que acontece quando ficamos com Alzheimer? O Sr. acredita que um dia haverá uma cura?
www casasdeapostas com Conway - As pessoas ficam com placas entre os neurônios que entopem os caminhos neurais do cérebro. Isso leva ao déficitwww casasdeapostas commemória. Explicar como isso acontece são conjecturas… Há muitas pesquisas, e uma teoria, acredite se quiser, é que há uma relação com a bactéria que causa a gengivite. É só uma teoria recente.
Com Alzheimer, não podemos construir mais memórias. Os pacientes se esquecemwww casasdeapostas comgrandes parteswww casasdeapostas comsuas vidas. Você, por exemplo, poderia não se lembrar maiswww casasdeapostas comque trabalhou para a BBC. Você perde grandes partes dawww casasdeapostas comvida que te ajudam a te definir como pessoa. Acredito que encontraremos uma cura, mas o caminho é longo, e não será fácil ou simples.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - A medicina e a ciência poderão melhorar nossa memória no futuro?
www casasdeapostas com Conway - Certamente. Quando entendermos exatamente como o cérebro funciona, poderemos manipulá-lo. O grande problema é que temos que pensar como o conhecimento é representado no cérebro. Há neurônios que formam nosso cérebro, mas também há proteínas. Tem que haver um tipowww casasdeapostas comcódigo genético que represente o conhecimento que pode ser lido e levado à consciência. A questão é: como o conhecimento é representado? Não são genes. É uma ação que está criando proteínas, que formam alguns aspectos desse código que estamos imaginando. Quando entendermos isso, poderemos intervirwww casasdeapostas comprol da nossa memória.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - Nossa memória tem limites?
www casasdeapostas com Conway - Bom, há uma visão que diz que sim, que a memória tem uma capacidade limitada. Outra visão, que é a minha, é awww casasdeapostas comque não é nossa memória que é limitada, é nossa habilidade para acessar nossas memórias que é limitada. As memórias estão armezanadas nas conexões neurais do nosso cérebro, ou nas moléculos geradas pelos neurônios, ewww casasdeapostas comprincípio poderiam representar tudo que experimentamoswww casasdeapostas comnossas vidas. A pergunta é: podemos acessá-las? A resposta é que provavelmente não, pelo menos não conscientemente. É o que eu acho, mas a maioria dos outros pesquisadores especialistaswww casasdeapostas commemória me acharia louco.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - E quem acredita que a memória tem limites, acha que acontece o quê com nossas recordações?
www casasdeapostas com Conway - Que elas são perdidas, esquecidas, sobrescritas.
www casasdeapostas com BBC News Brasil - E por que o Sr. não acha que isso acontece?
www casasdeapostas com Conway - Porque acredito que elas nos formam, formam nossa personalidade, nossa interação com os outros, os amigos que escolhemos, e que não somos necessariamente conscientes disso.