Magia, anzóis e DNA: o que médico da floresta que desvendou mistério no fundo do rio Amazonas pode ensinar à ciência:sorteador de nomes roleta

Médico na população munduruku

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Neurocirurgiãosorteador de nomes roletaSantarém Erik Jennings compartilha suas soluções para cuidar da saúde dos povos amazônicos e localizar desaparecidos nos rios da região

"Tudo bem, Augusto, vamos lá."

A história acima, verídica, é contada no livro Paradô: Histórias Vividas por um Neurocirurgião da Amazônia, escrito por Erik Jennings Simões – o médico que atende ao telefonema do piloto Guto.

Publicadosorteador de nomes roletatiragem modesta (1 mil exemplares), aguardando segunda edição, o livro reúne casos vividos pelo médico ou relatados a ele, alémsorteador de nomes roletareflexões pessoais sobre a medicina e a vida na Amazônia. O efeito geral ésorteador de nomes roletauma porta se abrindo para um mundosorteador de nomes roletariqueza e diversidade, praticamente desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Erik,sorteador de nomes roleta50 anos, é um entre cinco neurocirurgiões atendendo maissorteador de nomes roleta1 milhãosorteador de nomes roletapessoas distribuídas por uma área superior a 500 mil quilômetros quadrados. Nessa região, caberia um país como a Espanha.

Na reportagem a seguir, o médico comenta algumas das crônicas do livro e compartilha com a BBC News Brasil soluções que encontrou para o desafiosorteador de nomes roletacuidar da saúde do povo do Baixo Amazonas. Entre elas, aprender a falar tupi guarani e adaptar anzóis para uso como instrumento cirúrgico.

E, se você ficar conosco até o final da reportagem, vai saber como foi que, com a ajuda dos povos da floresta, Erik Jennings literalmente pescou das águas do rio seu próprio tio.

Saúde na Amazônia: o neurocirurgião que ficousorteador de nomes roletaSantarém

O sobrenomesorteador de nomes roletaErik Jennings vemsorteador de nomes roletaseus antepassados, americanos confederados (escravocratas sulistas) derrotados na Guerra Civil dos EUA que se refugiaramsorteador de nomes roletaSantarémsorteador de nomes roleta1867.

Ele conta que a família era humilde,sorteador de nomes roletapai eletricista e mãe costureira.

"Nasci na beira do rio (Tapajós), vivia contemplando o rio, observando a vida que ele gerava, a conexão com os ribeirinhos, os pescadores", diz.

"Cresci vendo a natureza ameaçada por interesses econômicos, via que o rio poderia mudar, ser agredido. Sentia paixão pelo rio e por seus povos."

Quando jovem, Erik estudou Medicina na Universidade Federal do Pará e fez especializaçãosorteador de nomes roletaneurocirurgia no hospital Santa Marcelina,sorteador de nomes roletaSão Paulo. Fez estágiosorteador de nomes roletacirurgiasorteador de nomes roletacoluna na Suíça e, recentemente, foi médico visitante na Universidadesorteador de nomes roletaWisconsin, nos Estados Unidos. Mas desde 1999 exerce a profissãosorteador de nomes roletaSantarém, profundamente integrado na vida da comunidade.

"Sabe doutor, eu estou tão feliz agora, cuidandosorteador de nomes roletasuas mãos, porque foram as mesmas mãos que cuidaramsorteador de nomes roletamim e salvaram a minha vida cinco anos atrás."

Vista aéreasorteador de nomes roletaSantarém

Crédito, Ádrio Denner/Ccom/Prefeiturasorteador de nomes roletaSantarem

Legenda da foto, Banhada pelo rio Tapajós, Santarém tem 300 mil habitantes, mas serviçossorteador de nomes roletasaúde da cidade atendem cercasorteador de nomes roleta1,2 milhãosorteador de nomes roletapessoas distribuídas por maissorteador de nomes roleta500 mil quilômetros quadrados

Foi o que disse ao médico a manicure com nomesorteador de nomes roletaprincesa, Leide Dai, na crônica "Fazendo as Unhas".

Outro exemplosorteador de nomes roletacomo a vida do médico se mistura à do povo da região é a crônica "Vento Que Traz o Bem". Nela, Erik conta como foi resgatado do meio do rio Tapajós, sob forte correnteza, por um barqueiro que descia pelo rio comsorteador de nomes roletafamília e suprimentos. Erik praticava kite surf, um esporte aquáticosorteador de nomes roletaque o praticante se movimenta sobre uma prancha conectado a uma espéciesorteador de nomes roletapipa (em inglês, kite) movida pelo vento, quando houve um problema:

"O kite esvaziou e não sei o que teria sidosorteador de nomes roletamim se vocês não tivessem me socorrido", disse Erik, sentado dentro do barco, à família que o resgatara.

"Mas mulher, não foi esse doutor que cuidousorteador de nomes roletanosso primeiro filho há quinze anos?", perguntou então o caboclo Nivaldo à esposa.

Banhada pelo Tapajós, Santarém, com 300 mil habitantes, fica próxima à divisa entre Amazonas e Pará – os dois maiores Estados do Brasil.

É uma das regiões mais belas do mundo, mas para a saúde, traz desafios, diz à BBC News Brasil Hebert Moreschi, administrador do Hospital Regional do Baixo Amazonas do Pará, um dos hospitais da cidade. São quatro ao todo, dois deles públicos.

"Somos o núcleo urbanosorteador de nomes roletauma região composta por 20 municípios do oeste do Pará. Atendemos também à população ribeirinha – descendentessorteador de nomes roletaescravos que fugiram das lavouras do café, migraram para cá e fizeram suas comunidades nas proximidades do rio. E atendemos à população nativa", explica o administrador. "É uma população muito flutuante,sorteador de nomes roletamensuração difícil. Sãosorteador de nomes roletatornosorteador de nomes roleta1,2 milhãosorteador de nomes roletapessoas".

Por ser uma região remota, o serviço ésorteador de nomes roletaalta complexidade, diz o administrador.

Ele conta que o acesso por terra é difícil, já que as estradas sãosorteador de nomes roletabarro e, quando chove, viram um lamaçal. Nesse caso, até caminhões grandes ficam parados, esperando socorro. Segundo Moreschi, por essas dificuldades logísticas, os materiais para o hospital vãosorteador de nomes roletacaminhão até Belém esorteador de nomes roletalá são transportadossorteador de nomes roletabarco. Os mais estratégicos chegamsorteador de nomes roletaavião.

equipe médica faz atendimento sob luzsorteador de nomes roletalanterna

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Erik é neurocirurgiãosorteador de nomes roletaum grande e moderno hospitalsorteador de nomes roletaSantarém, mas dedica grande partesorteador de nomes roletaseu tempo a atendimentossorteador de nomes roletacomunidades ribeirinhas e aldeias indígenas da região

Antes, era comum pacientes da região serem transferidos para grandes cidades para receber tratamento, conta Moreschi. Não mais.

"Hoje, podem ser atendidos pelo Erik e pela equipe dele", explica. "Operam tumores e fazem cirurgiassorteador de nomes roletacoluna, por exemplo."

"Ele é extremamente conceituado, tecnicamente excelente. Poderia estar atuandosorteador de nomes roletaqualquer lugar do mundo, mas por opção, quis ficar na regiãosorteador de nomes roletaorigem dele."

Erik diz que se sente mais realizadosorteador de nomes roletaSantarém. Na cidade grande, pondera, é mais difícil ver o valor social do seu trabalho.

Por outro lado, as exigências sobre ele e seus colegas são maiores do que nas grandes capitais brasileiras.

"A Amazônia é um dos piores lugares do mundo na relação médico por habitante. Nos igualamos a países subsaarianos", diz o médico.

Quando começou a trabalhar na região,sorteador de nomes roleta1999, era o único neurocirurgião para 950 mil pessoas. Vinte anos depois, a proporção ésorteador de nomes roletaum neuro para cada 300 mil. Hoje, Erik forma neurocirurgiões por meiosorteador de nomes roletaum programasorteador de nomes roletaresidência médica oferecido pelo hospital. Isso deve contribuir para que a região alcance a média recomendada,sorteador de nomes roletaum especialista para cada 100 mil habitantes, diz.

No início não faltavam só médicos.

"Eu improvisava com anzóis para puxar a pele (em cirurgias), o anzol servia como afastador da pele, para criar uma abertura."

Erik relembra o diasorteador de nomes roletaque foi à lojasorteador de nomes roletapesca procurar o anzol. Depoissorteador de nomes roletaver as opções, ele perguntou ao vendedor se não havia um outro tiposorteador de nomes roletaanzol, para que ele pudesse cortar a ponta.

O vendedor não entendeu nada, conta o médico. "Rapaz, você vai querer o anzol para cortar a ponta?"

Erik explica que precisava fazer essa adaptação para que o anzol não perfurasse a pele do paciente. Depoissorteador de nomes roletaconstruído manualmente, o "instrumento cirúrgico" era esterilizado.

"Hojesorteador de nomes roletadia não precisa, o hospital está bem moderno", diz.

Mas nem tudo mudou na Amazônia.

Cadê a pista?

Começamos a sobrevoar a cidadesorteador de nomes roletaOriximiná. Foi quando lembreisorteador de nomes roletaum pequeno detalhe:

"Augusto, cadê a pista?"

"Está ali na frente, doutor. Bem na nossa proa", respondeu o Augusto, já preparando o avião para o pouso.

"Mas ... Augusto, aquilo não é uma pista. É uma rua! Tá cheiosorteador de nomes roletacarros lá embaixo."

"Fique tranquilo. É que essa pista não tem iluminação alguma para pouso à noite. Aí veio todo mundo da cidade para iluminar a pista com os carros."

Olhei com mais atenção e vi dezenassorteador de nomes roletacarrossorteador de nomes roletaum lado esorteador de nomes roletaoutro da pistasorteador de nomes roletapouso da pequena cidade, todos com seus faróis acessos e pisca-alerta ligados. Todos com um só objetivo: iluminar a pista para nosso avião pousar e pegar aquela paciente. Vi famílias com crianças do ladosorteador de nomes roletaseus carros, olhando para o avião. Em seus rostos, um mistosorteador de nomes roletaansiedade e alegriasorteador de nomes roletaver o socorro chegar."

O livrosorteador de nomes roletaErik Jennings traz vários casossorteador de nomes roletapilotos destemidos fazendo resgates aparentemente impossíveissorteador de nomes roletapacientes no meio da selva. Também há históriassorteador de nomes roletaribeirinhos remando por horas, e até dias, para levar um paciente ao hospitalsorteador de nomes roletaSantarém. Situações assim são corriqueiras, diz Erik.

"Mês passado, tinha uma criança quase morrendo. Me ligaram, disseram que o Samu não ia, tinha problemas na lancha. Fui lá à noite, buscar a criança. Demorou uma hora para chegar, outra para vir, mas como conheço bem os rios, foi tranquilo. Ela era da mesma comunidade do Nivaldo." (O homem que resgatou Erik do rio.)

"Dizem que sou maluco, indo pegar a criança aí não sei onde. Mas sei o que estou fazendo, conheço os perigos do caminho. São riscos calculados."

A saúdesorteador de nomes roletauma população não pode, no entanto, depender da boa vontadesorteador de nomes roletaalguns cidadãos.

Em entrevista à BBC News Brasil, o procurador do Ministério Público Federal do Pará Camões Boaventura reclama da faltasorteador de nomes roletacuidado do poder público com o povo da Amazônia.

Pista aérea iluminada por faróissorteador de nomes roletacarro

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pistasorteador de nomes roletapouso e decolagem iluminada por faróissorteador de nomes roletacarro

"Viver na Amazônia é peculiar por si só, mas os desafios da floresta são mais destacados não pela florestasorteador de nomes roletasi, mas pelas ameaças e violências que a Amazônia e os amazônidas sofrem", diz.

Desmatamento, barragens hidrelétricas, garimpos ilegais, desassistência do poder público, enumera Boaventura, são apenas algumas das violências sofridas pelo povo da região.

Vento que traz o bem

Na crônica "Vento que Traz o Bem", Erik conta que, ao se despedirsorteador de nomes roletaNivaldo – o caboclo que o resgatara do rio –, recebeu um convite do barqueiro para ir comer um peixe emsorteador de nomes roletacasa.

O procurador Camões Boaventura explica que foi visitar Nivaldo junto com o médico. Ao chegar lá,sorteador de nomes roletabarco, os visitantes se depararam com Nivaldo na cama, doente. Mais tarde, soube-se que o problema era uma apendicite aguda.

"Chegamos três horas da tarde, ele estava com muita dor. A ambulância havia sido acionada desde a manhã. Olhávamos as luzes da cidade na outra margem do rio. Ele não tinha como ir e o Estado não vinha buscá-lo", relembra o procurador.

A crônicasorteador de nomes roletaErik relata como médico e outros visitantes acabaram transportando o doentesorteador de nomes roletabarco, noite adentro, para o Hospital Municipalsorteador de nomes roletaSantarém, onde Nivaldo foi operadosorteador de nomes roletamadrugada.

Veja que trama complicada – e isso não é um filme: Erik opera o filhosorteador de nomes roletaNivaldo. Anos depois, Nivaldo resgata Erik do meio do Tapajós,sorteador de nomes roletasituaçãosorteador de nomes roletaperigo. Meses mais tarde, Erik acaba salvando a vidasorteador de nomes roletaNivaldo ao levá-lo,sorteador de nomes roletaestado grave, para o hospital.

Mortes for faltasorteador de nomes roletaresgate na Amazônia

Histórias com final feliz como essa, infelizmente, são exceção. Muita gente morre na Amazônia por faltasorteador de nomes roletaresgate ou por resgates inadequados.

"Morrem por coisas banais, como picadasorteador de nomes roletacobra, quedasorteador de nomes roletaárvore", diz Erik. Ele aponta soluções simples que poderiam amenizar os problemas:

"Na Amazônia, a partirsorteador de nomes roletasete da noite, se você estiver voando, vai conseguir pousarsorteador de nomes roletaBelém, Santarém, Manaus... o resto, todas as pequenas cidades, não têm balizamento noturno (luzes na pista). Se alguém se acidenta e precisa ser removido à noite, não tem como pousar."

Erik enumera possíveis soluções, como a instalaçãosorteador de nomes roletaluzes nas pistas, a criaçãosorteador de nomes roletamais leitos nos hospitais esorteador de nomes roletaum serviçosorteador de nomes roletaresgate por hidroaviões. Outra medida importante seria legalizar pistassorteador de nomes roletapequenas vilas e cidades.

"Várias dessas pistas são clandestinas, mas recebem inclusive aviões oficiais do governo", conta o médico.

Até agora, o médico Erik Jennings vem nos contando como enfrenta barreiras geográficas para cuidar da saúde dos amazônidas. Mas a floresta impõe outro grande desafio à medicina: a diversidade culturalsorteador de nomes roletaseus povos.

Árvores mortas, folha perdidas

Kusi, uma índia Zo'é, e seus dois filhos, Apãn e Namihit, estão emsorteador de nomes roletapequena malocasorteador de nomes roletatelhadosorteador de nomes roletapalha. É noite e a lenha queima embaixo da rede. O território Zo'é fica a 300 metrossorteador de nomes roletaaltitude. A floresta é densa e o frio, intenso. Eles não têm roupas ou cobertores, o fogo que os protege do frio e dos animais deve ser mantido aceso dia e noite.

Uma tempestade se forma. Trovões ecoam no mato. De repente, ouve-se um som alto da quebrasorteador de nomes roletauma grande árvore. O estalido se junta ao barulhosorteador de nomes roletaoutras pequenas árvores levadas pela maior, que tombasorteador de nomes roletadireção à malocasorteador de nomes roletaKusi. Em poucos segundos, Apãn está morto e, Kusi, gravemente ferida.

Assim começa a históriasorteador de nomes roletacomo Erik Jennings se tornou médico do povo Zo'é.

Alémsorteador de nomes roletaser neurocirurgiãosorteador de nomes roletaum grande hospitalsorteador de nomes roletaSantarém, ele dedica grande partesorteador de nomes roletaseu tempo aos Zó'é, um povo que teve seu primeiro contato com o homem branco há pouco tempo e que o médico assiste há 17 anos. No livro, Erik conta:

Kusi tem um grave afundamento no crânio, precisa ser levada para a cidade para que possamos tentar salvarsorteador de nomes roletavida. Deitada no fundo do avião, a paciente viaja acompanhada do filho, Namihit. Ele tem 18 anos, ela, 56. Os dois nunca saíram da floresta. Não falam uma palavrasorteador de nomes roletaportuguês. Antes do pousosorteador de nomes roletaSantarém, colocamos uma batasorteador de nomes roletaKusi, vestimos e calçamos Namihit.

(...)

Após uma longa cirurgia, a paciente é levada para uma enfermaria onde está Fátima, também operada na cabeça.

"Foi uma árvore que caiu na cabeça dela?", pergunta Namihit.

Fátima fora ferida com um facão por seu próprio marido, explico.

"Mas por que ele fez isso com ela?", pergunta, inconformado. Depois daquela viagem, Namihit nunca mais seria o mesmo.

No texto, Erik descreve o primeiro contato do menino Namihit esorteador de nomes roletasua mãe com uma das grandes doenças do homem branco: a violência.

A aproximação com os Zo'é também teve impacto profundo sobre o próprio Erik.

"Conhecer os Zo'é mudou o rumo da minha vida", diz. "Me colocousorteador de nomes roletacontato com outra cultura e com um dilema: você assiste a saúdesorteador de nomes roletaum povo da floresta e a assistência se torna dolorida."

Para um Zo'é, o ambiente quente e barulhento do hospital, a comida estranha, a ausência da família e da terra já são traumáticos, explica. E existe também o sofrimento psicológico:

embarcação bajara

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Em uma das crônicassorteador de nomes roletaseu livro, Erik conta a históriasorteador de nomes roletaum homem que viajou 18 horassorteador de nomes roletauma bajara (um barco como o da foto) para levar a mãe ao hospital

"Ver a crueldade do homem branco com o outro foi uma agressão muito grande para ele (Namihit). Me senti responsável pelo sofrimento que estávamos trazendo, mesmo que na tentativasorteador de nomes roletaajudá-los,sorteador de nomes roletasalvá-los."

Era preciso repensar o jeitosorteador de nomes roletafazer medicina.

"Entendi que precisávamos tratar diferente quem é diferente para que, no final, todos se beneficiassem igualmente das açõessorteador de nomes roletasaúde."

No casosorteador de nomes roletaKusi, isso significava tirá-la o quanto antes do hospital e devolvê-la à floresta.

"Operei num dia, no outro, levei Kusi para a aldeia, para que estivesse junto aos familiares, na língua dela."

No território Zo'é, a paciente teve também atendimentosorteador de nomes roletauma enfermeira do Ministério da Saúde que atendia no posto da Funai (Fundação Nacional do Índio) na aldeia.

Depois desse episódio, a pedido dos índios e da Funai, Erik se tornou,sorteador de nomes roletacaráter voluntário, o coordenadorsorteador de nomes roletasaúde do povo Zo´é.

Os Zo'é

Desde o incidente com Kusi, passaram-se 17 anos. Neste tempo, construiu-se um pequeno hospital no território, com materiais da floresta. Erik aprendeu a falar tupi guarani. "Eles mesmos me ensinaram", conta. E aprendeu também a pilotar aviões pequenos, para driblar as dificuldadessorteador de nomes roletaacesso.

"São 290 kmsorteador de nomes roletaSantarém até a terra Zo´é, considerando o aeroportosorteador de nomes roletaonde a gente sai. Leva uma hora e quinze para ir, uma hora e quinze para voltar", explica.

região da aldeia Zo'é

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Floresta na Terra Indígena Zo'é

A Funai atua hojesorteador de nomes roleta19 terras indígenas habitadas por povossorteador de nomes roletarecente contato, entre elas a terra Zo'é.

O termo "povosorteador de nomes roletarecente contato" se refere a grupos que têm algum contato com a sociedade nacional, mas preservam suas formassorteador de nomes roletaorganização social e um alto grausorteador de nomes roletaautonomiasorteador de nomes roletasuas relações com o Estado brasileiro, segundo definição da Funai.

A população Zo'é está estimadasorteador de nomes roleta310 pessoas organizadassorteador de nomes roletaaproximadamente 19 malocas, informou à BBC News Brasil Fábio Ribeiro, chefe da Frente Cuminapanema - unidade da Coordenação Geralsorteador de nomes roletaÍndios Isolados esorteador de nomes roletaRecente Contato (CGIIRC) da Funai – responsável pela assistência à etnia.

A Terra Indígena Zo'é tem 6,86 mil quilômetros quadrados e está regularizada desde 2009. Os índios dependem exclusivamentesorteador de nomes roletasuas terras para sobreviver. São seminômades e caçam com arco e flecha. Quando a mandioca acaba, vão para outro lugar. A maior parte não usa vestimenta, mantém a própria língua e desconhece a dieta do branco, não ingerindo sal ou açúcar.

"Isso dá a eles uma condiçãosorteador de nomes roletasaúde muito boa. Eles não têm nada das coisas que matam nossa civilização hoje, como diabetes, alto índicesorteador de nomes roletacolesterol e obesidade mórbida", explica Erik.

Para o médico e a equipe da Funai, o desafio é dar assistência sem destruir a cultura e a autonomia desse povo. A estratégia, então, é resolver o maior número possívelsorteador de nomes roletaproblemas na própria floresta, evitando o preconceito na cidade e epidemias.

Na décadasorteador de nomes roleta80, missionários levaram doenças que mataram metade da etnia. Por conta disso, a primeira providência foi vacinar os índios.

"Quando é povo isolado, a política do governo é: feito o primeiro contato, a gente vacina. Aceitam bem, não há resistência", diz o médico.

"Operamos catarata, hérnias. Faço ultrassom, envio o exame pela internet a um radiologista na cidade."

O resultado dessa política é que Zo'és são transferidos para Santarém,sorteador de nomes roletamédia, apenas duas ou três vezes por ano. Para efeitosorteador de nomes roletacomparação, Erik cita outras duas etnias com o mesmo númerosorteador de nomes roletahabitantes (cercasorteador de nomes roleta300) onde a taxa ésorteador de nomes roleta600 remoções por ano.

aldeia Zo'é

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Legenda da foto, Uma das aldeias do povo Zo'é, etnia que vive exclusivamentesorteador de nomes roletasuas terras e mantémsorteador de nomes roletaautonomia cultural e socioeconômica

Apesar do sucesso nos resultados, esse jeito diferentesorteador de nomes roletafazer medicina nem sempre é compreendido fora da floresta.

Políticassorteador de nomes roletasaúde do homem branco

Para evitar anemiasorteador de nomes roletacrianças, o Ministério da Saúde criou um programa nacionalsorteador de nomes roletareposiçãosorteador de nomes roletaferro. Toda criança toma um comprimidosorteador de nomes roletasulfato ferrososorteador de nomes roletatrêssorteador de nomes roletatrês dias.

"Mas os Zo'é se alimentam da floresta e não têm anemia", diz Erik. "Se você for dar comprimido, elas vão tersorteador de nomes roletaandar dois dias na floresta para tomar o comprimido e depois mais dois dias para voltar. Com isso, vão ficar andando sem caçar, sem comer. Vão ficar com desnutrição. Não faz sentido", argumenta.

Entre os povos indígenas, diz, quem está com carênciasorteador de nomes roletaferro são os que já perderamsorteador de nomes roletaautonomia socioeconômica e cultural. Já não conseguem manter seus hábitos alimentares. Esses sim, afirma, têm alto índicessorteador de nomes roletaanemia e desnutrição.

Para o médico, o problema é que, salvo algumas iniciativas isoladas, as políticassorteador de nomes roletasaúde para os indígenas ainda são as do homem branco.

O númerosorteador de nomes roletacirurgias cesarianas entre povos indígenas que perderamsorteador de nomes roletaautonomia ilustra as consequências dessas políticas:

"Entre esses povos, não existe mais a figura do parteiro ou parteira. Os partos por cesariana estão acimasorteador de nomes roleta80%. No quinto mêssorteador de nomes roletagravidez, o médico manda a gestante para a cidade, para ter a criança no hospital. A lógica é: vocês não sabem fazer parto."

Para evitar que os Zo'é "desaprendam" a fazer partos, Erik e equipe da Funai decidiram criar um pré-natal adaptado para a cultura Zo'é.

"Fazemos exames básicos, o resto é com eles", diz. "Não vou fazer o pré-natal oficial porque eles fazem melhor do que eu. Têm parteiros que conhecem muito bem o processosorteador de nomes roletagestação e nascimento."

Observando o trabalho dos parteiros, Erik diz ter percebido como o branco subestima o conhecimento indígena.

"Eles têm até aminiótomo. Uma haste, tipo um estilete, que usam para romper a bolsa quando o parto está demorando. Quando você fura a bolsa, o parto se acelera. Uma descoberta médica relatadasorteador de nomes roletarevistassorteador de nomes roletamedicina do século 18... os Zo'é já têm isso há muito tempo."

Ver esses nascimentos também revelou ao médico algo que o homem branco perdeu: um parto cheiosorteador de nomes roletaacolhimento, ao ladosorteador de nomes roletaquem se ama.

atendimentosorteador de nomes roletaaldeia munduruku

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Legenda da foto, Erik nasceu à beira do rio Tapajós, no Pará, estudousorteador de nomes roletaSão Paulo e no exterior, mas voltou para cuidar da saúde dos povos da Amazônia

Quando as mulheres estão prestes a dar à luz, o médico viaja para o território – mas não interfere.

"Fico acompanhandosorteador de nomes roletalonge, digo que estou por ali se precisar."

A grávida é assistida pelo parteiro e por seus familiares, que ficam ao seu lado, acariciandosorteador de nomes roletacabeça e repetindo que a dor vai passar. "É uma humanização incrível, você não vê mais isso na cidade."

Seguindo suas tradições, é muito difícil que os Zo'é percam uma criança, diz Erik. A última morte por complicaçõessorteador de nomes roletaparto aconteceusorteador de nomes roleta2002, quando ainda não existia o trabalhosorteador de nomes roletasaúde no território.

Dos Zo'é para o mundo

A experiência pioneirasorteador de nomes roletaErik e equipe da Funai,sorteador de nomes roletacriar um novo jeitosorteador de nomes roletacuidar da saúde indígena, acabou repercutindo internacionalmente.

A pedido do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), o médico contribuiu para a elaboraçãosorteador de nomes roletaum protocolosorteador de nomes roletasaúde para povos isolados esorteador de nomes roletarecente contato na América do Sul.

Publicadosorteador de nomes roleta2012, o documento -Directricessorteador de nomes roletaprotección para los pueblos indígenas en aislamiento y en contacto inicial – reúne contribuições tambémsorteador de nomes roletarepresentantes da Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela.

Em 2018, as diretrizes da ONU foram incorporadas à legislação brasileira por meiosorteador de nomes roletauma portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça.

"A portaria traz diretrizes que começamos a trabalharsorteador de nomes roleta2002 no nosso hospitalzinho na floresta. Agora, são lei. Nada disso estava previsto, era maluquice... eu poderia ter tido meu CRM cassado. Mas agora, o trabalho me deu respaldo, mostramos que a abordagem funciona", diz.

A BBC News Brasil procurou o Ministério da Saúde para saber se houve progresso na implantação das diretrizes que a portaria estabelece e,sorteador de nomes roletaparticular, para saber o que ficou decidido no caso dos suplementossorteador de nomes roletaferro para povossorteador de nomes roletarecente contato. O Ministério não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

mãossorteador de nomes roletacirurgião

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Legenda da foto, Mãossorteador de nomes roletacirugião, as mesmas que salvaram a vida da manicure na crônica 'Fazendo as Unhas'

Depoissorteador de nomes roletaanossorteador de nomes roletaconvivência com os Zo'é, Erik reflete que quando se falasorteador de nomes roletadiretrizes para a "proteção" dos povos indígenas, proteger significa algo diferente.

"O que dá para notar é que eles têm um sistema própriosorteador de nomes roletaorganização política, social e jurídica que faz com que a sociedade deles seja bem mais equilibrada e harmônica do que a nossa."

Então, proteção aqui quer dizer, simplesmente, deixar como está, conclui.

"É a não agressão, não interferência. É deixar que continue assim."

Mas como veremos na terceira – e última – parte dessa reportagem, a preservação dessa esorteador de nomes roletaoutras culturas da floresta não interessa apenas aos povos da Amazônia.

O encantosorteador de nomes roletaPaulo Jennings

O barco subia o Rio Amazonas quando Paulo Jennings decidiu pular. Fazia aquilo desde moleque e queria sentir a emoção do voo entre a tolda da embarcação e as águas barrentas do rio. Tinha vindosorteador de nomes roletaSão Paulo com um gruposorteador de nomes roletaamigos para aquela pescaria, todos estavam eufóricos com o passeio que começava.

Paulo, cardiologista, 56 anos, era o mais entusiasmado. Nascidosorteador de nomes roletaSantarém, trabalhava na capital paulista e todos os anos vinhasorteador de nomes roletaférias rever os amigos e pescar. Com o barco aindasorteador de nomes roletamovimento, pulou. Quando seu corpo bateu nas águas do rio, a região do estômago recebeu o maior impacto. Foi um salto infeliz que lhe custou a vida. Seu corpo ficou boiando por alguns segundos na superfície e depois afundou.

povo munduruku num barco

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Legenda da foto, Alémsorteador de nomes roletaatender os Zo'é, o médico também assiste outros povos indígenas como os Munduruku

A região norte do Brasil apresenta a maior taxasorteador de nomes roletamortalidade por afogamentos do país. São cinco mortes por cada 100 mil habitantes, segundo um relatório da Sociedade Brasileirasorteador de nomes roletaSalvamento Aquático (Sobrasa). A região sudeste tem o menor índice, 2,1 mortes para cada 100 mil habitantes. Os dados sãosorteador de nomes roleta2016.

Segundo a Sobrasa, muitas das mortes resultamsorteador de nomes roletaimprudência, como ingerir álcool antessorteador de nomes roletanadar ou não usar coletes salvavidassorteador de nomes roletaembarcações. De acordo com o Corposorteador de nomes roletaBombeiros, as águas turvas, cheiassorteador de nomes roletasedimentos, e a força das marés também contribuem para as mortes.

Quem não vive na região talvez não entenda um problema que, na Amazônia, comsorteador de nomes roletaexuberante fauna e flora, ganha contornos ainda mais dramáticos: a perdasorteador de nomes roletaum ente querido nas águassorteador de nomes roletaum rio.

Paulo Jennings era tiosorteador de nomes roletaErik. Menossorteador de nomes roletatrês horas após seu corpo ter desaparecido, o médico já estava àsorteador de nomes roletaprocura. Na crônica "O Encantosorteador de nomes roletaPaulo Jennings", ele descreve essa experiência.

Não havia tempo para luto. Quando se perde alguém nas águas dos imensos rios da Amazônia, a primeira coisa a fazer é procurar o corpo. Uma corrida desenfreada se iniciava entre humanos e os peixes do fundo do rio. Ganharia a corrida aquele que chegasse primeiro ao corposorteador de nomes roletaPaulo.

Foram cinco diassorteador de nomes roletabuscas. Mergulhadores, bombeiros, a polícia civil, familiares e amigos do desaparecido se revezavam na tarefa. Até um avião foi requisitado.

Mas a solução para o problema viria dos povos que guardam os segredos da floresta: curandeiros e pescadores das comunidades ribeirinhas.

No livro, Erik falasorteador de nomes roletadois momentos cruciais. Primeiro, um caboclo da região chamado Marinho pergunta ao médico se ele autorizaria um curandeiro da comunidade a fazer "um trabalho" para descobrir o paradeiro do corpo. Erik aceita a proposta. No dia seguinte, o caboclo traz uma mensagemsorteador de nomes roletaPedrinho, o curandeiro:

"Doutor, o Pedrinho mandou falar para o senhor que vai ser muito difícil encontrar o corposorteador de nomes roletaseu tio. Aqui nesse local tem um encanto, ele falou que seu tio foi levado por esse encanto. Para onde ele foi estão precisando muito dele, pois era uma pessoa boa."

Mas Pedrinho também enviara uma sugestão:

"Doutor, o Pedrinho disse que mesmo sendo difícil encontrar o corpo, o senhor pode acender uma vela dentrosorteador de nomes roletauma cuia e lançá-la no rio. Se a cuia com vela ficar rodandosorteador de nomes roletaum mesmo local é sinalsorteador de nomes roletaque corpo pode estar por ali."

O médico escreve que não compartilha da crençasorteador de nomes roletasi, mas que acredita no poder da cultura e da solidariedade. Para ele, as palavras do curandeiro eram um alívio, um remédio para a alma. Cuias e velas foram providenciadas.

Outra intervenção veiosorteador de nomes roletaAguinaldo, pescador da região e amigosorteador de nomes roletaErik que chegara para ajudar nas buscas. Aguinaldo notou que as cuias boiavam por mais tempo num ponto do rio onde parecia haver gordura na superfície. Foi então que o pescador sugeriu que pescassem ali um peixe chamado piracatinga, habitante daquelas águas.

A piracatinga (nome científico Callophysius Macropterus) é conhecida também como "urubu d'água". Chega a atingir 45 cmsorteador de nomes roletacomprimento e costuma se esconder nas profundezas dos rios. Agressiva e voraz, pescadores relatam que ela ataca até peixes já fisgados por anzóis, e pode ser vista, atracada à presa, mesmo quando a linha é retirada da água. A piracatinga é um peixe necrófago, ou seja, gostasorteador de nomes roletacomer cadáveres, inclusive humanos. A ideiasorteador de nomes roletaAguinaldo, portanto, era buscar fragmentos do corposorteador de nomes roletaPaulo na barriga dos peixes.

Piracatinga

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Piracatinga, peixe necrófago que muitas vezes morde outro peixe já fisgado pelo anzol na pesca

No livro, Erik conta que já ouvira relatossorteador de nomes roletacaboclos sobre o uso dessa técnica para encontrar cadáveres. Além disso, um amigo, mergulhador do Corposorteador de nomes roletaBombeiros, lhe contara ter localizado corpossorteador de nomes roletapessoas dentrosorteador de nomes roletabarcos naufragados no Rio Amazonas após seguir o som dos cardumessorteador de nomes roletapiracatingas.

Com essas históriassorteador de nomes roletamente, médico e ajudantes iniciaram a "pescaria". Anzóis com iscassorteador de nomes roletapelesorteador de nomes roletagalinha foram lançados no ponto onde as cuias boiavam por mais tempo. Era noite e já se passavam 48 horas desde o desaparecimentosorteador de nomes roletaPaulo. Três piracatingas foram fisgadas. (Nos dias seguintes, foram pescadas mais seis.)

Com uma pequena faca, Erik e Aguinaldo abrem os peixes. O pescador direciona o foco da lanterna parasorteador de nomes roletamão e pergunta, assustado:

"O que o senhor acha disso, doutor?"

Havia dois pedaçossorteador de nomes roletapele com características humanas dentro daqueles peixes. Em uma das piracatingas, havia dois ou três fiossorteador de nomes roletacabelo castanho, iguais aosorteador de nomes roletaPaulo.

Era outubrosorteador de nomes roleta2011. O delegado Sílvio Birro, da Delegaciasorteador de nomes roletaPolícia Civilsorteador de nomes roletaSantarém, acompanhava as buscas.

"Nas primeiras piracatingas, foram localizados fragmentos parecidos com tecido humano e alguns pelos", conta o delegado à BBC News Brasil.

"O Dr. Erik acondicionou o materialsorteador de nomes roletarecipientes que foram levados para o laboratório do Hospital Regionalsorteador de nomes roletaSantarém. A análise clínico-patológica constatou que se tratavasorteador de nomes roletamaterial humano", relembra.

Mas o laudo inicial do Centrosorteador de nomes roletaPeríciasorteador de nomes roletaSantarém foi inconclusivo. Era preciso fazer um exame mais avançado, explica.

O delegado entrousorteador de nomes roletacontato com o Institutosorteador de nomes roletaCriminalística da Polícia Federal,sorteador de nomes roletaBrasília, e pediu uma segunda análise.

Quase um ano após o mergulhosorteador de nomes roletaPaulo, chegou ao consultóriosorteador de nomes roletaseu sobrinho uma carta do Instituto Nacionalsorteador de nomes roletaCriminalística da Polícia Federal,sorteador de nomes roletaBrasília. O texto continha o seguinte parágrafo:

"Após análisesorteador de nomes roletaDNA mitocondrial dos fragmentos enviados e o sangue da Sra. Eilah Jennings (Irmãsorteador de nomes roletaPaulo), concluímos que são indivíduos filhos da mesma mãe."

Paulo Jennings nunca mais iria voltar. Havia sido levado pelo "encanto" do rio Amazonas para um lugar onde, como explicara o curandeiro Pedrinho, "precisavam muito dele".

Para a Amazônia, o caso estabeleceu um precedente importante. Foi um marcosorteador de nomes roletainvestigaçõessorteador de nomes roletadesaparecimentossorteador de nomes roletapessoas nos rios, diz o delegado Sílvio Birro.

"O laudo saiusorteador de nomes roleta2012, um ano depois (da morte). Procuramos sabersorteador de nomes roletaoutros locais e era inédita uma investigação como essa, com esse resultado, nesse espaçosorteador de nomes roletatempo", lembra.

O caso foi divulgadosorteador de nomes roletaoutras delegacias da região, como método alternativo para buscassorteador de nomes roletapessoas desaparecidas nos rios.

E também acabou incluído na literatura científica internacional. A revista Journal of Forensic Science publicou um artigo assinado por Erik Jennings detalhando como a piracatinga pode ser usada para localizar e identificar vestígios humanos retirados do rio Amazonas.

áreasorteador de nomes roletario usada também como atalho

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Na crônica 'Vento que Traz o Bem', Erik descreve como navegou por furos e varadouros, áreas dos rios que servem como atalhossorteador de nomes roletadiassorteador de nomes roletaclima adverso

Emsorteador de nomes roletaentrevista à BBC News Brasil, o médico diz que não mencionou no artigo o papel das cuias na escolha do local da "pescaria".

"Nossa hipótese ésorteador de nomes roletaque as cuias ficavam flutuando e rodando no lugar onde havia gordura na superfície da água, mas achei melhor não citar isso no artigo porque não tinha como provar", explica. "E ciência funciona assim, toda suposição precisa ser provada."

O médico diz, porém, não ter dúvidasorteador de nomes roletaque o paradeirosorteador de nomes roletaseu tio foi revelado pela soma dos saberes da floresta – a cultura indígena e dos ribeirinhos, materializada nas figuras do curandeiro Pedrinho e do pescador Aguinaldo.

"Não existe oposição entre ciência médica e conhecimento tradicional", ele diz à BBC Brasil. "São complementares."

Finalmente, para muitossorteador de nomes roletaminha família, podíamos acreditar que Paulo Jennings havia morrido. Ele nunca mais iria voltar. Seu corpo havia sido levado, para sempre, pelo Rio Amazonas. O rio que ele tanto amava o encantara.

sorteador de nomes roleta *Trechossorteador de nomes roletaitálico foram extraídos livrosorteador de nomes roletaErik Jennings e adaptados para inclusão nesta reportagem.

raya

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