'Pequena Era do Gelo': por que extermínioindígenas nas Américas causou resfriamento do clima:

Ilustração mostra batalhacolonizadores com Astecas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O contato com os europeus foi catastróficodiversas maneiras para o povo das Américas

"O massacre dos povos indígenas das Américas levou ao abandonoáreas desmatadas suficientes para afetar a absorçãocarbono terrestre, com impacto que pôde ser observado tanto no dióxidocarbono na atmosfera quanto na temperatura do ar na superfície da Terra", escreveram Alexander Koch, um dos autores da pesquisa, e seus colegas no estudo publicado na revista científica Quaternary Science Reviews.

Ilustração mostra o Rio Tâmisa congelado (1684)

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'A Pequena Era do Gelo': ilustração do século 17 mostra o rio Tâmisa,Londres, congelado

O que o estudo mostra?

A equipe revisou todos os dados populacionais que conseguiu reunir sobre quantas pessoas viviam nas Américas antes da chegada dos europeus ao continente1492.

Em seguida, avaliaram como os números mudaram nas décadas seguintes, à medida que os continentes foram devastados por doenças (varíola, sarampo, etc.), guerras, escravidão e questões sociais.

Os cientistas estimam que 60 milhõespessoas viviam nas Américas no fim do século 15 (cerca10% da população total do mundo), e que este número foi reduzido a apenas cinco ou seis milhõescem anos.

Eles calcularam a quantidadeterra cultivada por povos indígenas que teria caídodesuso, e qual seria o impacto se essas terras fossem substituídas por florestas e savanas.

A áreaquestão teria cerca56 milhõeshectares, quase o mesmo tamanhoum país moderno como a França.

Acredita-se que esta escalarenovação do solo absorveu CO₂ suficiente do ar para a concentração do gás na atmosfera apresentar uma queda7-10ppm (isto é,7-10 moléculasCO₂ para cada um milhãomoléculas no ar).

"Para colocar isso no contexto moderno - basicamente queimamos (combustíveis fósseis) e produzimos cerca3 ppm por ano. Então, estamos falandouma grande quantidadecarbono que está sendo sugada da atmosfera", explica Mark Maslin, coautor do estudo.

"Há um resfriamento acentuado por volta dessa época (1500/1600) que é chamadaPequena Era do Gelo, e o interessante é que podemos observar processos naturais que resultamalgum resfriamento, mas a verdade é que para obter o resfriamento total - o dobro dos processos naturais - você tem que ter essa queda no CO₂ gerada pelo genocídio."

Núcleogelo

Crédito, Heidi Roop/NSF

Legenda da foto, A queda nos níveis globaisdióxidocarbono é registrada nas bolhasar presasamostrasnúcleosgelo

O que sustenta essa conexão?

A queda no CO₂ após o despovoamente no continente americano é evidenteamostras coletadasnúcleogelo da Antártida.

As bolhasar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentraçãodióxidocarbono nesse período.

A composição atômica do gás também sugere fortemente que o declínio é impulsionado por processos no soloalgum lugar do planeta.

Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com os registrosreservascarvão e pólen nas Américas.

Eles mostram o tipoefeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande crescimento da vegetação natural.

"Os cientistas entendem que a chamada Pequena Era do Gelo foi causada por vários fatores - uma queda nos níveisdióxidocarbono na atmosfera, uma sériegrandes erupções vulcânicas, mudanças no uso da terra e um declínio temporário da atividade solar", explica Ed Hawkins, professorciência do clima da UniversidadeReading, no Reino Unido, que não participou do estudo.

"Este novo estudo demonstra que a queda no CO₂ aconteceuparte devido à colonização das Américas e o consequente colapso da população indígena, que permitiu que a vegetação natural voltasse a crescer. Isso mostra que as atividades humanas afetaram o clima muito antes do início da revolução industrial", acrescenta.

Há lições para a política climática atual?

Ilustração da chegadaColombo à América

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Segundo pesquisadores do University CollegeLondres, há interações humanas que deixaram marca indelével no planeta bem antes da industrialização

Chris Brierley, coautor da pesquisa, acredita que haja, sim, lições a serem tiradas disso. Segundo ele, os efeitos da queda populacional abrupta e do reflorestamento das Américas ilustram o desafio inerente a algumas soluções para o aquecimento global.

"Há muita discussão sobre 'emissões negativas'carbono e plantioárvores para tirar CO₂ da atmosfera com o objetivomitigar a mudança climática", disse ele à BBC News.

"E o que vemos neste estudo é a escala do que é necessário, porque o despovoamento (das Américas) resultouuma área do tamanho da França sendo reflorestada e apenas alguns ppm. Isso mostra o que o reflorestamento é capaz. Mas, ao mesmo tempo, esse tiporedução talvez compense apenas dois anosemissõescombustíveis fósseis ao ritmo atual."

O estudo também tem um peso nas discussões sobre a criaçãoum novo rótulo para descrever o que seria a "era da humanidade" - e seus impactos - na Terra.

Conhecido como Antropoceno, este período seria caracterizado pelo impacto da ação humana na Terra, e há um intenso debate sobre como pode ser considerado uma nova era geológica.

Alguns cientistas dizem que ele seria mais evidente a partir da grande aceleração da atividade industrial a partir dos anos 1950.

Mas, segundo os pesquisadores da UCL, o genocídio nas Américas revela que há interações humanas significativas que deixaram uma marca profunda e permanente no planeta desde muito antes da metade do século 20.

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