O mistério da morteJohn Chau, o americano recebido a flechadas por aborígenes ao entrarilha proibida:
Um americano27 anos foi morto a flechadas nesta semana por uma tribo que vive isolada no arquipélago indianoAndaman e Nicobar, no Oceano Índico.
John Allen Chau foi recebido por um ataque com arco e flecha ao desembarcar na ilha Sentinela do Norte, que é proibida para visitantes, informaram os pescadores da região.
A imprensa local identificou o rapaz como um missionário cristão, que queria catequizar os aborígenes. Mas nas redes sociais euma entrevista, Chau se apresentava como um aventureiro.
"Eu adoro explorar", disse ele ao Outbound Collective, comunidade onlineviagensaventura, há quatro anos.
"Seja fazendo trilhas pelas densas florestas próximas ao rio Chilliwack (na fronteira dos EUA com o Canadá), buscando uma lendária cachoeira nas selvasAndaman, ou simplesmente vagando pela cidade para sentir a vibração, 'sou um exploradorcoração'. "
Segundo relatos, Chau teria subornado pescadores para levá-lo ilegalmente até a ilha.
O contato com várias tribos do arquipélago, que correm riscoextinção e vivem isoladas do mundo, é proibido com o intuitoprotegê-lasdoenças e preservar seu estilovida.
"A polícia disse que Chau já tinha visitado a ilha Sentinela do Norte cercaquatro ou cinco vezes com a ajudapescadores locais", contou o jornalista Subir Bhaumik, que cobre a região há anos, à BBC.
As autoridades dizem que os membros da tribo vivem isolados há quase 60 mil anos e, portanto, não têm imunidade para doenças comuns, como gripe e sarampo.
A organização Survival International, que atuadefesa dos direitos humanos, afirmou que, ao entrarcontato com a comunidade, Chau pode ter transmitido agentes patogênicos (como bactérias, fungos e protozoários) que têm o "potencialeliminar toda a tribo", formada por cerca50 a 150 pessoas.
Segundo a polícia, ele partiu com os pescadores contratados na calada da noite e remouum caiaque até desembarcarterra firme.
Ele teria levado presentes para os aborígenes, incluindo uma pequena bolafutebol, linhapesca e tesoura.
Missionário ou aventureiro?
Tanto autoridades locais quanto a organizaçãodefesa religiosa International Christian Concern identificaram Chau como um missionário americano.
Mas Dependra Pathak, diretor da políciaAndaman, disse ao sitenotícias indiano News Minute que isso pode ser apenas uma interpretação, uma vez que o rapaz expressou suas crenças religiosas na internet.
"As pessoas pensaram que ele era um missionário porque ele tinha mencionadoféDeus nas redes sociais. Masum sentido estrito, ele não era um missionário."
"Ele era um aventureiro. A intenção dele era conhecer os aborígenes."
No Instagram, @johnachau descreve a si mesmo como "um sobreviventepicadacobra" e um "paramédico da natureza selvagem" que está "seguindo seu caminho".
Na entrevista2014 ao Outbound Collective, ele disse que estava morandoVancouver, no Canadá, onde trabalhava como treinadorfutebol. E afirmou que havia encontrado inspiração para viajar ainda na infância:
"Meu irmão e eu (costumávamos) pintar os rostos com sucoamora silvestre e andar pelo quintal com arcos e lanças que fazíamos com pedaçospau", contou.
"Desde então, a natureza tem sido minha casa."
Ao site, Chau declarou ainda que Jesus e David Livingstone (1813-1873), explorador e missionário escocês, eramfonteinspiração.
E disse que seu próximo objetivo seria retornar às ilhas Andaman e Nicobar.
"Há muito para ver e fazer lá!"
No Instagram, um amigo disse que Chau foi "martirizado".
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Em postagens recentes na mesma rede social, ele tinha mencionado uma viagem para Diglipur, a maior cidadeAndaman.
E publicou uma fotouma cachoeira tropical, comentando que estava cheiasanguessugas.
Ao descrever a paisagem, ele usou a hashtag "#solideogloria", expressãolatim que quer dizer "Glória somente a Deus".
Resgate do corpo
Os pescadores que levaram Chau para a ilha Sentinela do Norte contaram que os membros da tribo abandonaram o corpo dele na praia logo após o ataque.
E,acordo com as autoridades indianas, pode levar "alguns dias" para que o corpo do jovem seja resgatado. Um helicóptero e uma embarcação vasculham a região para tentar identificar o local do incidente.
"Mantivemos uma distância da ilha e ainda não conseguimos identificar o corpo. Pode levar mais alguns dias e... (o reconhecimento) da área", disse Dependra Pathak à agêncianotícias AFP.
Segundo a polícia, sete pessoas, incluindo cinco pescadores, foram presas por ajudar o americano a chegar até a ilha.
Família perdoa tribo
A família do rapaz afirmou que perdoa aqueles que o mataram.
Em texto publicado no Instagram, eles disseram que John Chau "amava a Deus, a vida, ajudando os necessitados, e não tinha nada alémamor pelo povo da ilhaSentinela".
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O comunicado afirma ainda que ele foi para a ilha por "vontade própria".
"Também pedimos a libertação dos amigos que ele tinha nas Ilhas Andaman. Ele se aventurou por livre e espontânea vontade e seus contatos locais não precisam ser perseguidos por suas próprias ações", disse o comunicado.
Em 2006, dois pescadores indianos que pescavam ilegalmente na ilha Sentinela do Norte também foram mortos pela tribo.
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