As rochas que podem reescrever a história da chegada do homem às Américas:
Isso porque essa rota, formada com o baixo nível do mar na Era do Gelo há cerca15 mil anos, só teria se tornado viável para um processo imigratório há 12,6 mil anos – quando, segundo esse estudo, um ecossistema com plantas e animais já havia tomado contatal "ponte", fornecendo então alimentos para os humanos que vinham da Ásia para a América. Entretanto, a despeito dessa conclusão, há indíciosque os primeiros povos americanos já estavam por aqui há mais15 mil anos.
Essa interrogação pode ser explicada pela geologia. É o que aponta o trabalho desenvolvido pelos cientistasBuffalo.
"As pessoas são fascinadas por essas questões, querem saberonde vieram os primeiros povos e como chegaram lá. Nossa pesquisa contribui para o debate sobre como os seres humanos colonizaram o planeta", afirma Jason Briner, professorgeologia da UniversidadeBuffalo.
A verdade está nas pedras
Para fazerem a pesquisa, cinco cientistas da UniversidadeBuffalo e da UniversidadeDakota do Sul foramhelicóptero até as remotas ilhas. A primeira conclusão a que chegaram foique o arquipélago certamente tinha sido glacial, ou seja, coberto por gelo no passado.
De acordo com os geólogos, isso pode ser percebido porque as superfícies rochosas são lisas e riscadas – as ranhuras são resultado da fricção do gelo sobre as pedras. E justamente para identificar a época precisaque o gelo recuou na região é que foi efetuada uma coletaamostrasrochas das superfícies.
Para descobrir o período, os cientistas utilizaram um método chamado"surface exposure dating", que identifica justamente o tempoque as amostras recebem radiação cósmica – quando cobertas pelo gelo, elas estavam protegidastais efeitos. Os resultados apontaram para 17 mil anos atrás. Ou seja: quatro mil anos antes do EstreitoBering ter sido um trajeto viável, a costa do Pacífico já oferecia condições para uma migração ao sul.
O interessante é que os cientistas observaram ainda que,acordo com a geologia, essa rota costeira não foi simplesmente aberta na época – e permaneceu aberta assim. Mas foi um caminho que existiu somente naquele período, o degelo das rochas e o mar num nível ainda baixofunção da Era Glacial. O momento certo. A oportunidade para os primeiros americanos.
A descoberta recenteum esqueletofoca-aneladauma caverna da região, restos datados17 mil anos atrás, sugerem que o hoje arquipélago era um pontonatureza efervescente.
Hipóteses
A teoria mais aceita da ocupação da América, via EstreitoBering, foi proposta1590 pelo historiador e jesuíta espanhol JoséAcosto (1540-1600), no livro História Natural e Moral das Índias,1590. Cientificamente,hipótese só passou a ser aceita entre os anos 1928 e 1937, após escavações arqueológicas no Novo México, nos Estados Unidos, terem encontrado artefatos semelhantes aos da regiãoBering.
Há um consenso científicoque, durante a última Era Glacial, devido à grande quantidadegelo do planeta o nível dos oceanos recuoupelo menos 120 metros. Isso fez com que verdadeiras pontes naturais, conexões terrestres surgissemdiversos pontos da Terra – entre o Japão e a Coreia, entre as Filipinas e a Indonésia e, no casoBering, entre a Ásia e a América (atual extremo leste da Rússia e atual Alasca).
Trata-seum trechomar raso,30 a 50 metros. Com a descida do nível dos oceanos, um amplo território tornou-se terra.
Outra teoria, conhecida como Malaio-Polinésia, afirma que a ocupação americana ocorreu por meiocanoas. Esses aborígenes, oriundos da Oceania, teriam puladoilhailha, rumo ao leste, até chegarem à América.
O maior defensor dessa teoria foi o etnólogo francês Paul Rivet (1876-1958) – ele não negava o EstreitoBering, mas afirmava que a ocupação americana devia ter ocorrido por maisuma rota. Segundo os defensores dessa hipótese, teriam sido duas rotas migratórias por meiotais barcos. Uma primeira, 6 mil anos antes da realizada pelo EstreitoBering; e uma segunda, praticamente no mesmo período.
Colaboração brasileira
É do brasileiro Walter Neves, antropólogo e arqueólogo da UniversidadeSão Paulo, a polêmica teoria dos dois componentes biológicos.
Ao analisar morfologicamente fósseisHomo sapiens pré-colombianos, ele chegou à conclusãoque a América recebeu duas levas migratórias, uma anterior e que acabou extinta,indivíduos vindos da África e da Oceania; uma seguinte, que prosperou, vinda da Ásia.
Mas Neves não é o único brasileiro a colocar um ponto nessa históriapovoamento americano.
A arqueóloga Niède Guidon, do Parque Nacional da Serra da Capivara, defende que a América já era habitada por humanos há 58 mil anos – baseada elaresquícios arqueológicos. Sua teoria é bastante controvertida.
Em 2016, uma equipequinze arqueólogos, da UniversidadeSão Paulo e da empresa Zanettini Arqueologia, encontrou artefatospovos pré-colombianosum sítioSão Manuel, no interior do Estado. As estimativas sãoque os itens sejam11 mil anos atrás – antes do que se supunha para a ocupação da região.