Projetopoker clubmemorial inédito aos negros escravizados expõe tabu do passado colonialpoker clubPortugal:poker club
Para uma nação que glorifica seus exploradores e navegadores, examinar esse passado colonial não tem sido uma tarefa fácil e tem gerado polarizações.
Passados oito meses, o monumento ainda não saiu do papel.
Da escravidão ao racismo moderno
"Queremos que este monumento traga vida ao debatepoker clubtorno do racismo hoje", diz Beatriz Gomes Dias, presidente da Djass.
"Portugal precisa reconhecer que a escravidão não é algo que foi esclarecido no passado. Há uma linha clara entre a escravidão, o trabalho forçado que continuou depois e o racismo que está passando agora pela sociedade."
Muitos portugueses relutampoker clubaceitar que haja um "problemapoker clubracismo" no país.
"Qualquer um que tenha algum conhecimento da Europa tem que concordar conosco: Portugal é provavelmente, se não certamente, o país menos racista da Europa", escreveu no ano passado o acadêmico e fundador do Movimento Internacional Lusófono, Renato Epifânio.
O escritor e historiador João Pedro Marques diz que os descendentespoker clubafricanos têm o direitopoker clublembrar o sofrimento do seu povo, mas acha que ativistas estão exagerando quanto ao papelpoker clubPortugal no tráficopoker clubescravos e distorcendopoker clubhistória colonial para fins políticos.
"Eu acho que aqueles que estão fazendo campanha contra o racismo querem substituir uma visão tendenciosa dos eventos por uma ainda mais tendenciosa", disse ele.
'Orgulho no colonialismo'
Beatriz Gomes Dias diz que ativistas portugueses negros estão tentando "desafiar a narrativa dominante da identidade portuguesa".
"Não há lugar no imaginário português para os negros. As pessoaspoker cluborigem africana não são reconhecidas como parte da sociedade portuguesa", disse ela.
Ela vê como equivocada a exaltação, nas escolas, da "era dos descobrimentos"poker clubPortugal, que, para ela, fomenta um orgulho do colonialismo.
"Nós queremos confrontar essa ideiapoker clubdescoberta e ampliá-la para incluir as históriaspoker clubtodas as pessoas. Não podemos dizer que a violência, a opressão e o genocídio são uma coisa positiva. Precisamospoker clubum debate real sobre nosso passado comum", disse ela.
Erapoker clubopressão - e descoberta
Até a abolição do tráficopoker clubescravos,poker club1836, navios portugueses e brasileiros transportaram pertopoker clubseis milhõespoker clubescravos - por 400 anos -, quase metade do totalpoker clubnegros escravizados levadas através do Atlântico.
A maioria dos escravos foi capturada na África, mas entre eles também estavam chinesespoker clubMacau, antiga colônia portuguesa.
A controvérsia também atrasou os planospoker clubum museupoker clubLisboa dedicado ao períodopoker clubexpansão internacionalpoker clubPortugal. Batizado inicialmentepoker clubMuseu da Descoberta, trocoupoker clubnome algumas vezes, para Museu das Descobertas, da Interculturalidade e, mais recentemente, da Viagem.
Em junho, maispoker club100 ativistas e intelectuais negros apelaram ao governo para não confundir escravidão e invasão com descobertas ou expansão marítima.
De acordo com a lei portuguesa, é ilegal recolher informações relacionadas a raça, o que torna difícil obter dados sobre a dimensãopoker clubnegros e pardos na sociedade portuguesa epoker clubcolocação no estrato social do país.
Mas Cristina Roldão, socióloga da Universidadepoker clubLisboa, diz que cidadãos portugueses ou moradores negros não desfrutampoker clubigualdade.
Jovens negros com idades entre 18 e 25 anos têm apenas metade da probabilidadepoker clubportugueses brancospoker clubirem para a universidade,poker clubacordo com pesquisapoker clubque ela trabalhou. E a taxapoker clubencarceramentopoker clubPortugal é 15 vezes maior para pessoaspoker cluborigem africana.
Sendo negro e português
Nascidapoker clubpaispoker clubCabo Verde, antiga colôniapoker clubPortugal, Roldão, que tem cidadania portuguesa, cita como injusta uma leipoker club1981 que impede que alguns afrodescendentes sejam considerados portugueses, apesarpoker clubterem nascido no país.
"Portugal continua a ver as pessoas não brancas como separadas dapoker clubidentidade nacional", diz Mamadou Ba, da SOS Racismo Portugal, associação sem fins lucrativos que faz partepoker clubuma rede antirracista envolvendo vários países da Europa.
Ele nasceu no Senegal e morapoker clubPortugal há maispoker club20 anos. Ba diz que a lei significa que "crianças nascidaspoker clubPortugal são consideradas estrangeiraspoker clubseu próprio país".
"Ser negropoker clubPortugal significa vivenciar subordinação econômica, cultural, social e política. Ser negropoker clubPortugal é ser confrontado permanentemente com a violência simbólica e física na vida cotidiana", diz ele.
O escritor João Pedro Marques admite que existam pessoas racistaspoker clubPortugal, mas ele insiste que o país não tem um problema com racismo.
Ele diz que, enquanto figuras históricaspoker cluboposição à ditadurapoker clubAntoniopoker clubOliveira Salazar são vistas como "heróis sem defeitos ou marcas", agora, a "extrema-esquerda politicamente correta nos levou ao extremo oposto e nossos ancestrais se tornaram os piores do mundo".
A questão tornou-se um debate sobre muito mais que um monumento às vítimas da escravidão.
Para a ativista Beatriz Gomes Dias, é a provapoker clubque o monumento é necessário.
Ela e seus colegas ativistas estão agora procurando um artista que possa capturar o sofrimento histórico e as questõespoker clubraça no Portugalpoker clubhoje.