O estranho caso do mergulhador cujo corpo começou a inchar inexplicavelmente:prognóstico de futebol exato
As protuberâncias se fundem com seus ombros. Seu peitoral inflado cai sobre seu estômago – suas costas, cintura e coxas também têm um volume maior do que o normal. Ao fator estético, somam-se a dor nos ossos e o chiadoprognóstico de futebol exatoseu peito toda vez que respira.
Até a bexiga aguentar
Willy está convencidoprognóstico de futebol exatoque tudo isso são sequelasprognóstico de futebol exatoum acidenteprognóstico de futebol exatotrabalho no fimprognóstico de futebol exato2013, enquanto mergulhava a maisprognóstico de futebol exato30 metrosprognóstico de futebol exatoprofundidadeprognóstico de futebol exatobuscaprognóstico de futebol exatomexilhões presos a penhascos e barrancos submarinos.
Os mergulhadores como ele trabalhamprognóstico de futebol exatoforma artesanal e passam horas desprendendo e coletando os moluscos antesprognóstico de futebol exatovoltar à superfície. O tempo que passam submersosprognóstico de futebol exatomeio a frias correntes marítimas é determinado porprognóstico de futebol exato"necessidadeprognóstico de futebol exatourinar", como explicam vários profissionaisprognóstico de futebol exatoPisco, cidade pesqueira 230 km ao sul da capital peruana, Lima.
Willy diz que aguentava por até oito horas. "Subia para urinar às vezes, mas achava que era uma perdaprognóstico de futebol exatotempo", recorda-se. Esvaziar a bexiga a tal profundidade não é uma opção quando se usa um traje feito com câmarasprognóstico de futebol exatopneusprognóstico de futebol exatocaminhão.
Os mergulhadores mais jovens preferem usar roupasprognóstico de futebol exatoneoprene, que custamprognóstico de futebol exatomédia US$ 200 (R$ 650), mas, para um pescadorprognóstico de futebol exatomexilhões, elas não duram nem quatro meses, segundo Enrique Quino, um artesãoprognóstico de futebol exatoPisco que desmonta rodas para fabricar os trajesprognóstico de futebol exatoborracha, pelos quais cobra US$ 183 (R$ 596) e que, segundo ele, duram por três ou quatro anos.
O traje é composto por uma jaqueta e uma calça tão grandes que dentro cabem o pescador e várias outras camadasprognóstico de futebol exatoroupasprognóstico de futebol exatofrio. Inclui pésprognóstico de futebol exatopato, máscara e um cintoprognóstico de futebol exatochumbo que os ajuda a afundar.
O acidente
Assim estava vestido Willy quando, quase ao finalprognóstico de futebol exatosua jornadaprognóstico de futebol exatotrabalho, ele notou que a mangueira emprognóstico de futebol exatoboca havia começado a roubar seu arprognóstico de futebol exatoque vezprognóstico de futebol exatofornecê-lo. "Todo mergulhador sabe o que isso significa."
Um mergulhador nunca sai sozinho para pescar. Tripulantes vários metros acimaprognóstico de futebol exatosua cabeça se encarregamprognóstico de futebol exatoreceber o produto coletado e colocar gasolinaprognóstico de futebol exatouma máquina a cada 90 minutos.
O equipamento comprime o ar e o envia ao mergulhador por meioprognóstico de futebol exatouma mangueira. A maioria dos pescadoresprognóstico de futebol exatomarisco peruanos não usa reguladores, um acessório que garantiriaprognóstico de futebol exato10 a 15 minutosprognóstico de futebol exatooxigênioprognóstico de futebol exatocasoprognóstico de futebol exatoemergência.
Naquela tarde, uma lancha se aproximou demais da embarcaçãoprognóstico de futebol exatoWilly,prognóstico de futebol exatoque seu filho e um colega esperavam por ele. A hélice deste barco rompeu a mangueira e obrigou o mergulhador a subir 36 metrosprognóstico de futebol exatouma só vez. Um trajetoprognóstico de futebol exatopoucos minutos que podia ter lhe custado a vida.
O perigo do nitrogênio
"Quando mergulhamos, estamos a uma pressão maior, o que faz com que o ar e o oxigênio sofram mudanças físicas", explica Raúl Alejandro Aguado, médico subaquático do Centro Médico Naval.
O ar é 78% composto por um gás que o corpo humano não usa: o nitrogênio. A pressão no fundo do mar faz com que ele se dissolva e se abrigue no tecido adiposo. Mas, no retorno à superfície, o nitrogênio entra no sistema sanguíneo, onde começa a voltar a seu estado gasoso.
Por isso, um mergulhador deve subirprognóstico de futebol exatoetapas, com paradasprognóstico de futebol exatotemposprognóstico de futebol exatotempos. Uma subida rápida pode gerar bolhasprognóstico de futebol exatonitrogênio grandes demais, que podem obstruir a circulação sanguínea e gerar uma síndromeprognóstico de futebol exatodescompressão.
Porprognóstico de futebol exatovez, uma subida mais lenta dá ao gás tempo suficiente para viajar pelos vasos enquanto ainda tem pouco volume até chegar aos pulmões, por onde são expelidos do organismo. Há tabelas que indicam quantos minutos ou até mesmo horas que devem dedicar à subidaprognóstico de futebol exatofunção do tempo e da profundidade a que ficaram submersos.
Não seguir isso pode fazer com que o nitrogênio se expandaprognóstico de futebol exatolocais como os ossos, gerando necrose, a morteprognóstico de futebol exatoum tecido por faltaprognóstico de futebol exatoirrigação. Esse mal pode ser identificado por sintomas como inchaço, doresprognóstico de futebol exatocabeça e cansaço. Em casos mais graves, pode causar acidentes cardiovasculares que podem deixar uma pessoa paralisada e até matá-la.
42 metros abaixo d'água
Willy perdeu uma das pernas aos 30 anos, pouco depoisprognóstico de futebol exatoter decidido seguir os pais e trabalhar com a pesca submarina. "Mas isso é normal acontecer com mergulhadores", afirma.
Naquela época, seus colegas o chamavamprognóstico de futebol exatopampito, porque ele não se atrevia a ir muito fundo (os pescadores peruanos chamamprognóstico de futebol exatopampa a parte mais rasa). "Mas meu fiho mais velho era asmático. Respirava com dificuldade", conta.
Ele começou a ir mais fundo nas águasprognóstico de futebol exatoPisco para encontrar mais mexilhões e pagar pelo tratamento do menino, já que não tinha um planoprognóstico de futebol exatosaúde. "Na época do meu pai, todas as ilhasprognóstico de futebol exatoPisco tinham mexilhões. Não era preciso ir alémprognóstico de futebol exato14 metrosprognóstico de futebol exatoprofundidade. Agora, só os encontramos partir dos 25 metros", lamenta.
Mas, às vezes, é preciso ir mais fundo, chegando a 42 metros. "Temos que nos arriscar, senão não faturamos."
'Deformado', mas vivo
No dia do acidente, quando Willy por fim chegou à superfície, teveprognóstico de futebol exatorecorrer a uma manobraprognóstico de futebol exatoemergência: voltar a submergir à mesma profundidade e subir respeitando as paradasprognóstico de futebol exatosegurança. "É como retomar uma descompressão que não foi feita", explica Aguado. "Ajuda um pouco... mas não é algo muito seguro, porque, se o mergulhador ficar inconsciente na água, pode se afogar."
O pescador assumiu o risco e afundou novamente no mar com um compressor emprestado por um lancha próxima. Mas os tripulantes deste barco estavam impacientes. Haviam terminadoprognóstico de futebol exatojornadaprognóstico de futebol exatotrabalho e queriam ir ao porto venderprognóstico de futebol exatomercadoria.
A pressa falou mais alto que a solidariedade, e eles foram embora, deixando Willy sem um compressor. Assim, ele só pôde completar os primeiros 30 minutos das duas horas que, segundo as tabelasprognóstico de futebol exatodescompressão, deveria ter dedicado à subida.
Ele chegou ao hospitalprognóstico de futebol exatoPisco "inchado como uma batata", recorda-se. "Foi um milagre eu ter me salvado. Agradeço a Deus que, bem, fiquei deformado, mas estou vivo... Ainda que, às vezes, eu fique triste porque não queria estar nesta situação."
Um tratamento às cegas
Willy tentou buscar uma cura para seu inchaço nos primeiros meses após o acidente, mas não pôde pagar por ela por muito tempo. Os médicos nunca haviam visto um caso parecido e pediram que ele fizesse uma ressonância magnética para ver o que havia sob a grande massa que fez seu peso corporal aumentarprognóstico de futebol exato30 kg. Mas é um exame caro e que deve ser feitoprognóstico de futebol exatouma parte do corpo por vez.
Sóprognóstico de futebol exatoseu ombro, custaria ao menos US$ 150 (R$ 488), um valor muito alto para alguém que não tem renda. Mesmo com um emprego, ele teria dificuldades para pagar: como mergulhador, não ganhava mais do que US$ 30 (R$ 97) por dois diasprognóstico de futebol exatotrabalho.
Sem a ressonância, os médicos com que ele se consultou trabalharam às cegas e atribuíram a inflamação a problemasprognóstico de futebol exatodescompressão e receitaram o tratamento tradicional: a câmara hiperbárica.
Oxigênio como remédio
Mergulhadores sabem que a melhor arma contra a síndromeprognóstico de futebol exatodescompressão é uma cabine onde a pressão atmosférica é elevada e se respira oxigênio. Assim, o gás consegue alcançar as zonas afetadas aonde não podia chegarprognóstico de futebol exatoforma natural.
O Hospital San Juanprognóstico de futebol exatoDiosprognóstico de futebol exatoPisco tem duas câmaras doadas por um consórcioprognóstico de futebol exatoempresas para beneficiar os mergulhadores da região, mas o preço das sessõesprognóstico de futebol exatotratamento é um impeditivo para eles.
Pedro Espinoza Aguilar, um mergulhadorprognóstico de futebol exato58 anos que segue trabalhando mesmo após ter ficado com sequelasprognóstico de futebol exatouma síndromeprognóstico de futebol exatodescompressão, admite que a câmara traz um alívio momentâneo à dor nos ossos. "Mas é muito caro. E vivemos com o que ganhamos no dia. Se você trabalha, tem dinheiro. Se não trabalha, não tem."
A maioria dos mergulhadores pensa como ele, então, só recorrem à câmara hiperbáricaprognóstico de futebol exatocasosprognóstico de futebol exatoemergência. Willy, que já não pode trabalhar, diz que cobravam US$ 25 (R$ 81) por sessão. Seu médico convenceu o hospital a dar a eles sessões grátis, mas era uma tarefa difícil. "Nem por ser um caso inédito queriam me atender (gratuitamente)", queixa-se.
'Está horroroso'
Ainda que possa deixar sequelas, a síndromeprognóstico de futebol exatodescompressão nunca é algo crônico, afirma Aguado. O corpoprognóstico de futebol exatoWilly deveria ter voltado ao normal pouco tempo após o acidente. Ao ver que os médicos não sabiam o que se passava e que investigar sairia muito caro, ele começou a ficar desanimado.
Ele ficou ainda mais arrasado quando recebeu uma ligaçãoprognóstico de futebol exatouma antiga namorada: "Ei, vi você no hospital. Você está horroroso, o que aconteceu? Nossa, que pena". "A gente paga pelo que a gente faz, o mundo dá voltas", diz o mergulhador, que décadas antes planejava se casar com a mulher – até deixá-la por outra. "Ela deve estar feliz, porque eu agora estou assim..."
Sua ex-namorada havia visto fotosprognóstico de futebol exatoWilly expostas no corredor do hospital para explicar o que era a síndromeprognóstico de futebol exatodescompressão. Segundo ele, semprognóstico de futebol exatopermissão. A instituição não respondeu aos questionamentos sobre esse ponto.
Após a conversa, o mergulhador entrouprognóstico de futebol exatocrise e não quis mais sair na rua. "Por três anos, várias pessoas me ligaram para dizer que eu tinha virado um monstro, que estava deformado. Fiquei deprimido. As pessoas te chamamprognóstico de futebol exatocertas coisas, sentem pena... Passaram algumas ideias pela minha cabeça."
Descompressão ou tumor?
Willy só se deixava ser vistoprognóstico de futebol exatopúblico quando visitava seus irmãos ou ía à praia nas horas menos movimentadas para ver o mar. "Quase não saioprognóstico de futebol exatocasa, porque sinto vergonha quando as pessoas param para me olhar como se eu fosse um animal raro", disse eleprognóstico de futebol exatouma conversa por telefoneprognóstico de futebol exatosetembro passado.
Agora que médicos estudam seu caso, ele garante ter recebido uma "injeçãoprognóstico de futebol exatoânimo" e que a "psicose" passou. Sua apariçãoprognóstico de futebol exatoum programaprognóstico de futebol exatoTV peruano fez o Centro Médico Naval conhecerprognóstico de futebol exatosituação e oferecer tratamento gratuito.
Nas últimas semanas, Willy fez as ressonâncias magnéticas, ultrassons e examesprognóstico de futebol exatomedicina nuclearprognóstico de futebol exatoque tanto precisava. Ele está sendo tratado apenas para as dores por enquanto, porque os médicos não estão certosprognóstico de futebol exatoque seu problema foi causado pelo acidenteprognóstico de futebol exatomergulho e buscam um diagnóstico mais preciso.
Segundo os primeiros resultados, o que gera as deformações não seria o gás presoprognóstico de futebol exatoseu corpo, como se pensava até agora, mas a gordura que se desenvolve emprognóstico de futebol exatohipoderme, a camada mais profunda da pele, explica Aguado.
O médico acredita que seria "imprudente" adiantar conclusões, mas admite que pode se tratarprognóstico de futebol exatouma espécieprognóstico de futebol exatotumor no tecido adiposo. "Se for assim, pode ser uma enfermidade congênita que não havia se manifestado até o acidente, coincidentemente."
Outra possibilidade "mais remota", diz, é que seja uma "sequelaprognóstico de futebol exatomergulho nunca antes vista". Mas já se concluiu que o mergulhador precisaprognóstico de futebol exatouma cirurgiaprognóstico de futebol exatoseu quadril, porque a necrose dos ossos dessa região está muito avançada.
Ele será operado gratuitamente, mas precisa obter a prótese por conta própria. Willy tem esperança que uma ONG ou empresa façam uma doação ao saberprognóstico de futebol exatoseu caso.
O fimprognóstico de futebol exatouma carreira
Enquanto isso, o mergulhador aproveita os dias livres que os médicos lhe dãoprognóstico de futebol exatovezprognóstico de futebol exatoquando para ir a Pisco para ficar comprognóstico de futebol exatofamília e ir ao porto, onde relembra seus dias dentro do mar. Faz isso às segundas, quartas ou sextas-feiras, diasprognóstico de futebol exatoque pescadores vão ali vender suas mercadorias.
Entre caixas repletasprognóstico de futebol exatomexilhões, mariscos e caranguejos, é possível ver Willy caminhando com dificuldade, ainda que não seja o único nesta situação. À medida que a tarde avança, se reúnem ali mergulhadores aposentados que carregam sequelas da síndromeprognóstico de futebol exatodescompressão.
Vão ao porto mendigar dinheiro ou um poucoprognóstico de futebol exatofrutos do mar para vender e ter alguma renda, já queprognóstico de futebol exatoprofissão não confere a eles o direito a uma pensão ao se aposentar. "É assim que nós, mergulhadores, terminamos, porque o Estado não se preocupa com a gente", lamenta Willy.
Ele tem a sorteprognóstico de futebol exatopoder contar com seus irmãos, que o ajudam e o sustentam. Mas, ainda assim, ele sonhaprognóstico de futebol exatovoltar a mergulhar. "Quero continuar a fazer isso, porque, alémprognóstico de futebol exatoser minha fonteprognóstico de futebol exatorenda, era meu hobby. Amo mergulhar."