Como ficar '24hesporte e mídiaplantão' para responder mensagens no celular pode afetaresporte e mídiasaúde mental:esporte e mídia

Pessoa na cama tenta alcançar o celular

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Legenda da foto, Receber mensagens deixouesporte e mídiaser prazer e passou a causar irritabilidade, diz pesquisadora

Vício portátil

A possibilidadeesporte e mídiater conversasesporte e mídiatempo real pela internet já era conhecidaesporte e mídiafrequentadoresesporte e mídiagruposesporte e mídiachat, usuários do MSN Messenger, ou viciadosesporte e mídiaBlackberry nos idos dos anos 2000. Mas a ferramenta se tornou muito mais interessante quandoesporte e mídiarepente "todo mundo" tinha acesso a elaesporte e mídiaforma portátil, com a popularização dos smartphones e maior acesso a planosesporte e mídiadados ou Wi-Fi.

"O MSN funcionava no computador, então você tinha que estar paradoesporte e mídiaum lugar. Se você fosse um viciadoesporte e mídiatecnologia, ficavaesporte e mídiacasa preso no computador. Com o smartphone não, você passa a carregar esse vício para onde você vai. Fica logado 24 horas", diz a psicóloga Andréa Jotta, do Laboratórioesporte e mídiaEstudosesporte e mídiaPsicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação (Janus) da PUC-SP.

Menina no celular

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Legenda da foto, 'As pessoas não descansam, não têm um momentoesporte e mídiaparar. Isso gera estresse, que pode desencadear quadros como depressão e ansiedade', diz psiquiatra

Uma "conversa" pressupõe uma resposta imediata, "pá-pum". E os comunicadores instantâneosesporte e mídiafato permitem que as interações se sucedam quase como se os interlocutores estivessem face a face. Permitem até saber se uma resposta estáesporte e mídiaconstrução, com as reticências que aparecem quando outra pessoa está escrevendo, ou já foi lida, com as setinhas azuis que acendem no indicadoresporte e mídialeitura.

O problema é que os comunicadores são "instantâneos" para quem os manda, mas não necessariamente para quem os recebe, diz Jotta.

"As pessoas não estão disponíveis para você 100% do tempo. Mesmo que o aplicativo indique que esteja online, não necessariamente ela pode responder. E não dá para achar que aquela 'não resposta' é direcionada a você."

Mas é justamente o que acontece muitas vezes, com relatosesporte e mídiareaçõesesporte e mídiainsegurança, ciúme, ansiedade, "porque alguém leu a mensagem mas demorou para responder" - o que, dependendo da relação, pode gerar uma interpretação excessivaesporte e mídialacunasesporte e mídiasilêncio; ou da hesitação ao escrever e reescrever uma resposta, como se fossem gestos a se atribuírem significados.

Tanto a expectativaesporte e mídiaque o interlocutor responda instantaneamente quanto a vontadeesporte e mídiaresponder rapidamente a todas as mensagens que chegam alimentam a ansiedade, diz Jotta - ainda mais quando avisos sonoros estão ativos e o celular fica apitando, pedindo atenção.

Quem é ansioso para responder rapidamente fica com aquele pensamento ocupando a mente até conseguir. E quem é desorganizado e dado ao acúmuloesporte e mídiatarefas se sente ainda mais sobrecarregado. "Ficam na demanda constante, eu tenho que dar conta, eu tenho que dar conta", diz a psicóloga.

Homem dorme com o celular na mão

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Legenda da foto, Algumas pessoas se sentem pressionadas a dar contaesporte e mídiatodas as mensagens

Uso consciente

Grupo multidisciplinar criado para pesquisar a dependência da tecnologia, o Instituto Delete atende pessoas que sofrem do uso abusivoesporte e mídiatecnologias como redes sociais, telefones celulares e aplicativosesporte e mídiamensagens, recebendo pacientes todas as sextas-feiras, no campus da Universidade Federal do Rioesporte e mídiaJaneiro (UFRJ) na Praia Vermelha,esporte e mídiaBotafogo.

De acordo com o coordenador do Instituto, Eduardo Guedes, o uso abusivoesporte e mídiaaplicativosesporte e mídiamensagens é bastante comum, mas os casos mais preocupantes são os que configuram uma dependência, e estão associados a transtornos relacionados, como ansiedade, depressão, pânico ou transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

O instituto criou um questionário online para avaliar o uso do WhatsApp e ajudar o usuário a avaliar se seu caso chega a níveisesporte e mídiadependência.

"A tecnologia surgiu para encurtar distâncias, otimizar o tempo e nutrir relações humanas. O perigo é quando você começa a substituir a vida realesporte e mídiaprol das sensaçõesesporte e mídiaprazer geradas pela tecnologia", diz. "A gente estimula o uso consciente, para colocar a tecnologia no lugar e no propósito que ela deve ter."

As queixas são variadas, diz Guedes. Há pessoas que relatam desconforto com gruposesporte e mídiafamília, dizendo que têm vontadeesporte e mídiasair deles, mas não conseguem e, ao mesmo tempo, não sabem como se comportar ali; casosesporte e mídiaTOCesporte e mídiaque usuários ficam checando compulsivamente se outra pessoa está online; eesporte e mídiapessoas que relatam depender do app para sentirem acompanhadas, e por isso mandam mensagens mesmo quando estão dirigindo, apesar do grande risco que isso acarreta.

Entre as técnicas básicas para o uso comedido e consciente dos comunicadores, Guedes recomenda silenciar notificaçõesesporte e mídiamensagens, pararesporte e mídiausar os aplicativos duas horas antesesporte e mídiair dormir e, se possível, desabilitar os avisosesporte e mídiarecebimento eesporte e mídialeitura - "porque tem gente que não sabe lidar com isso."

Mulher usa WhatApp

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Legenda da foto, WhatsApp é o aplicativoesporte e mídiamensagem preferido por 89% dos brasileiros, segundo pesquisa

Sem limites entre lazer e trabalho

A dependência que os brasileiros têm do WhatsApp no dia a dia ficou evidente nos episódiosesporte e mídiaque o aplicativo foi temporariamente bloqueado pela Justiça, levando a revolta entre usuários e expondo o quanto o aplicativo é usado tanto para comunicações corriqueiras do dia a dia quanto no trabalho eesporte e mídiaserviços, como parte do ganha-pãoesporte e mídiamuitos brasileiros.

Mas a misturaesporte e mídiatrabalho e lazer e a faltaesporte e mídialimiteesporte e mídiahorários para uso colaboram que gerar um estadoesporte e mídiaatenção eesporte e mídiaprontidão constantes, diz Carlos Affonso Souza, diretor do Institutoesporte e mídiaTecnologia e Sociedade (ITS) e professoresporte e mídiaDireito da Universidade do Estado do Rioesporte e mídiaJaneiro (Uerj).

"Você confunde esferas daesporte e mídiavida que costumavam ser separadas. Antes, você falava com seus colegas no horárioesporte e mídiatrabalho, e com amigos e família nas horasesporte e mídialazer. Os aplicativosesporte e mídiamensagem misturam tudo e tornam o momentoesporte e mídiaatenção perene", considera.

"Isso envolve questões jurídicas, com a divisão entre lazer e trabalho se perdendo. Você já tem decisões judiciais considerando que um funcionário estavaesporte e mídiahorárioesporte e mídiatrabalho porque estava respondendo mensagens tarde da noite."

Se uma mensagemesporte e mídiatrabalho chega às 23h da noite, interfere na vida privada das pessoas e faz com queesporte e mídiarepente se vejam ligadas, como se estivessem sempreesporte e mídiaprontidão, diz a psicóloga Aline Restano.

"Estabelecer limites entre trabalho e lazer está cada vez mais difícil", diz Restano, pesquisadora do Grupoesporte e mídiaEstudos sobre Adições Tecnológicas (GEAT), grupoesporte e mídiapsicólogos e psiquiatras do Rio Grande do Sul que estuda dependênciaesporte e mídiatecnologia.

Para ela, a maniaesporte e mídiase criar grupos reunindo pessoas das origens mais variadas -esporte e mídiaamigos e familiares a paisesporte e mídiacrianças da escola, grupos da pelada ou do pedal, gruposesporte e mídiacolegasesporte e mídiatrabalho - contribuiu para que o entusiasmo inicial com o aplicativo fosse vencido por um cansaço com seus excessos.

"No início havia um prazeresporte e mídiareceber mensagens, mas hojeesporte e mídiadia os usuários costumam ter tantos grupos e o volume é tão grande que isso gera uma irritabilidade, com tantas pendências sempre para responder", diz a psicóloga.

Pessoas com celular

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Legenda da foto, Com smartphones, conseguimos 'transportar' nosso vício conosco

'Falta tempo para ficar a sós'

Restano diz que o uso prejudicialesporte e mídiacomunicadores instantâneos está aumentando, e que recebe relatosesporte e mídiaconflitos familiaresesporte e mídiapessoas que começam a deixaresporte e mídiafazer programas sociais para ficaresporte e mídiacasa se comunicando no celular.

Ela afirma que indivíduos mais ansiosos tendem a exacerbar essa característica no uso dos aplicativosesporte e mídiamensagem, achando que têm que responder imediatamente.

"Na cultura atual, há uma tolerância muito baixa à frustação. As pessoas estão acostumadas a ter acesso a tudo muito rápido, a informações, a respostas, e isso só reforça a ansiedade. Gente com temperamento mais saudável tende a se relacionar com o WhatsApp e outras mídiasesporte e mídiaforma mais saudável."

Para a psicóloga, o principal malefícioesporte e mídiase estar o tempo todo acessível é a "impossibilidadeesporte e mídiase ficar sozinho com os próprios pensamentos."

"A capacidadeesporte e mídiaestar só é muito importante para o nosso desenvolvimento emocional. É quando pensamos dos nossos sonhos, projetos, desejos, medos loucuras", considera. "Hoje estamos o tempo todo nos distraindo, pegando o celular, conferindo o WhatsApp ou outras redes. Não sabemos ainda que efeito isso pode gerar no nosso futuro,esporte e mídianão conseguir lidar com a nossa própria companhia."