O que são as terapiascbet sitegrupo para abusadores como a que Kevin Spacey deve frequentar:cbet site

Kevin Spacey

Crédito, AFP

Legenda da foto, Netflix demitiu o atorcbet siteuma série e cancelou um filme estrelado e produzido por ele

"Há um mitocbet siteque não se pode prevenir (o abuso). E isso perpetua o mitocbet siteque não se pode tratá-lo", diz à BBC Brasil o terapeuta Steven Sawyer, que há 30 anos atende pessoas que praticaram abusos sexuais e encara o problema como questãocbet sitesaúde mental.

"De forma compreensível, nossa cultura demoniza crimes sexuais. Então, quem tem estes desejos, mas ainda não teve coragemcbet sitecometê-los, normalmente tem medocbet sitedar um passo à frente e buscar ajuda. Assim,cbet sitesilêncio, o abuso acaba se concretizando", afirma.

'Gatilhos' e origens

Criadocbet site2006, o Escritóriocbet siteSentenças, Monitoramento, Apreensão, Registro e Rastreamentocbet siteInfratores Sexuais do governo dos EUA aponta quatro perfis para crimes desta natureza: abusadores sexuaiscbet sitecrianças, estupradores, mulheres que cometem abusos e infratores sexuais na internet.

O tratamento para quem foi condenado por crimescbet siteassédio ou estupro não substitui penas, mas pode ser indicado por um juiz para complementar períodoscbet siteencarceramento (que podem chegar a 20 anos, variandocbet siteacordo com o Estado).

Segundo o órgão, os homens são responsáveis pela imensa maioria dos casos (mulheres são condenadas por apenas 5% destes crimes) e as terapias mais bem aceitas,cbet siteacordo com uma retrospectivacbet site48 publicações científicas publicadas nos EUA desde os anos 1960, são as realizadascbet sitegrupo.

"Não é incomum que os atendidos criem uma hierarquia entre as ofensas sexuais", conta o terapeuta Sawyer sobre as dinâmicascbet sitegrupo.

"Alguns homens que dizem que nunca abusariamcbet siteuma criança acham que seus ataques contra mulheres adultas são menos piores que os dos pedófilos. Há pedófilos que, porcbet sitevez, se acham menos piores que aqueles que abusamcbet sitecrianças mais novas. E essa hierarquia é extremamente destrutiva."

Contra este padrão, Sawyer costuma montar grupos heterogêneos, com idades e históriascbet siteabusos distintas: desde homens que consomem pornografia infantil na internet aos que efetivamente abusaramcbet sitemulheres adultas ou crianças.

"A diversidade e a convivência com diferentes perfis os ajuda a entender sobre si a partir das histórias dos outros. Elas fazem com que eles identifiquem semelhanças entre seus comportamentos e os daqueles que julgam piores. Eles entendemcbet siteforma ampla o que fizeram", afirma.

O tratamento varia sempre - e o terapeuta ressalta que não é possível prever quais serão as dinâmicas aplicadas a Spacey ou Weinstein, porque não se conhece detalhes sobre seus casos.

Só nos Estados Unidos, há pelo menos 2 mil terapeutas dedicados a distúrbios sexuais.

Harvey Weinstein

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Produtorcbet siteHollywood Harvey Weinstein foi o pivôcbet sitepelo menos 80 denúncias

Técnicas terapêuticas

As sessões, geralmente, duram entre uma e duas horas. Podem ocorrer uma vez por semana ou todos os dias - quando os envolvidos estão internadoscbet siteclínicas - e têm duração entre 10 semanas e dez anos, podendo ou não incluir medicação.

Comocbet siteterapiascbet sitegrupo mais conhecidas, como os Alcóolicos ou Narcóticos Anônimos, parte do tratamento consistecbet siteidentificar "gatilhos" ou origens para o comportamento dos abusadores.

Entre os "mitos" relacionados a estes gatilhos, segundo o especialista, está a crençacbet siteque pessoas que foram abusadas sexualmente na infância tenderiam a abusarcbet sitealguém no futuro.

"Isso acontece para alguns, mas não é comum. Traumas infantis são comuns entre as origens do problema. Um estudo recente identificou que crianças que nasceramcbet sitelocais violentos tem mais chancecbet siteterem distúrbioscbet sitesaúde mental, o que pode ser parte da origem do problema", afirma.

Ele continua: "Mas os gatilhos variam. Há pacientes que foram expostos cedo à pornografia, e ela ficou tão banal que eles acabam migrando para a pornografia infantil. Para outros, o comportamento abusivo é ativado por alguma dependência química. Não dá para traçar um padrão e qualquer generalização é extremamente perigosa", afirma Sawyer.

No Havaí, que abriga um dos programas públicoscbet siteatendimento a abusadores mais bem-sucedidos do país, as atividades incluem expor abusadores às gravaçõescbet siteligações feitas por vítimas à polícia denunciando estupros.

O contato com a narrativa e o desespero das vítimas é uma formacbet siteestimular o arrependimento ou a empatia entre os condenados.

Outros gruposcbet sitegrandes metrópoles usam técnicas como a do "psicodrama" -cbet siteque os presentes assumem os papéiscbet sitemembros da família ou das vítimascbet siteum dos presentes e uma sériecbet siteepisódios importantes da vida do paciente são reconstruídos coletivamente.

"Interpretar" uma vítima ou "reviver" um abuso estimularia os envolvidos a identificar padrões ou eventos que os levariam aos crimes.

Sawyer conta a históriacbet siteum homem na casa dos 30 anos, que abusoucbet siteuma vizinhacbet site15, com quem convivia desde pequena.

"Ele foi condenado, preso e depois enviado ao tratamento", conta o terapeuta.

A partircbet sitedinâmicas que reconstruíram momentos importantescbet sitesua infânciacbet sitefamília e os principais eventos que o teriam levado a consumar os ataques, o homem contou que o pai havia abandonado a família muito cedo e que a mãe tinha um trabalho intenso, precário e instável.

"Percebeu-se que se aproximou dos vizinhos mais novos porque não tinha confiançacbet siteadultos. Seus pais não tiveram condiçõescbet siteajudá-lo a crescer com autoestima e ele só sentia 'seguro' com colegas bem mais jovens. Ele se aproximou da vizinha para conversar, brincar, e isso evoluiu para um terrível abuso sexual."

O processo terapêutico se desenrolou por dois anos. "Ele não tinha consciênciacbet sitenada disso. Com o tempo, aprendeu a ser mais determinado e seguro e entendeu o que o estimulava a se aproximarcbet sitemenores...e não voltou a cometer crimes."

Eficácia e reincidência

Segundo estatísticas divulgadas pelo governo americano, as taxascbet sitereincidênciacbet sitecrimes sexuais caemcbet sitemédia 40% após terapias contra abusoscbet siteadultos ou menores.

No Havaí, por exemplo,cbet site800 homens atendidos, 20 voltaram a cometer crimes sexuais.

Mas o departamentocbet siteJustiça americano alerta, no entanto, para o problema da subnotificação dos casos.

"Os registros oficiais subestimam a reincidência. Estudoscbet sitevítimascbet siteagressão sexual e delinquentescbet sitetratamento demonstram que as reais taxascbet siteofensas não são refletidas pelos registros oficiais", diz o órgão.

Aindacbet siteacordo com o governo, as taxascbet sitereincidênciacbet sitecriminosos sexuais são mais baixas que ascbet siteautorescbet siteoutros tiposcbet siteviolações - mas, assim como os demais, se tornam mais altas com o passar do tempo.

Em média, as taxascbet sitereincidência sexual entre delinquentes sexuais variamcbet sitecercacbet site5%, 3 anos após o crime, para cercacbet site24%, após 15 anos.

Para o terapeuta Sawyer, o melhor caminho para reduzir a frequência dos crimes e aumentar as notificações e acompanhamento policial e médicocbet sitesuspeitos está na prevenção dos crimes sexuais.

"Para muitos homens, é uma jornada terrível, torturante, e apenas crucificá-los não resolve o problema", diz. "É preciso estímulo e coragem para se perceber que há um problema e buscar ajuda. Os homens têm medo. Isso é muito forte na cultura dos Estados Unidos: espera-se que os homens sejam fortes, e expor fragilidades é sinônimocbet siteser fraco. Quando maior for o conhecimento sobre este tipocbet siteatendimento, mais homens buscarão tratamento."

Segundo Sawyer, defender o tratamento não é defender a impunidade.

"Os tratamentos são sérios, científicos, e amparados por uma estrutura legal. Os pacientes se comprometem com a Justiça a falar a verdade durante o tratamento e, se mentirem, sofrem consequências", afirma.

"Eles não amenizam a pena - ao contrário, obrigam estas pessoas a pararcbet sitenegar o problema e encarar seus demônios, evitando que novos crimes ocorram."

Protesto contra abuso sexualcbet siteLos Angeles

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Após denúncias contra Weinstein, muitos foram às ruas contra crimescbet siteassédio

Spacey e Weinstein

Informações não confirmadas e divulgadas pela imprensa americana apontam que o protagonistacbet siteHouse of Cards e o produtorcbet siteHollywood teriam se internado juntoscbet siteuma clínicacbet siteluxo no Arizona, onde um tratamentocbet site45 dias custaria US$ 58 mil.

Os escândaloscbet siteKevin Spacey surgiram a partircbet siteum depoimento do ator Anthony Rapp, que disse ao site Buzzfeed ter sido abusado pelo ator quando tinha apenas 14 anos.

A denúncia deu origem a depoimentoscbet siteoutros homens, incluindo funcionários da série House of Cards.

No processo, Spacey foi demitido porcbet siteagênciacbet siterelações públicas e perdeu seu contrato com a Netflix. Também foi criticado por anunciar oficialmente que é gay como uma suposta tentativacbet sitedesviar a atenção dos abusos.

Recentemente,cbet sitedecisão sem precedentes, a Sony Pictures e o diretor Ridley Scott decidiram apagar todas as cenascbet siteSpacey no filme All the Money in the World (Todo o Dinheiro do Mundo,cbet sitetradução livre), previsto para estrearcbet sitepoucas semanas nos cinemas americanos.

O ator será substituído pelo veterano Christopher Plummer.

Já Weinstein, alvocbet site80 denúncias, incluindo nomes como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Cara Delevingne, foi demitido da própria produtora e tornou-se persona non-gratacbet siteHollywood.

Informações sobre eventuais processos judiciais contra os dois ainda não foram divulgadas.