O dramajogo de aposta penaltymanter filhos vivosjogo de aposta penalty'sociedade que vê alergia alimentar como frescura':jogo de aposta penalty

Helena Colonelli e o filho João Pedro
Legenda da foto, Helena Colonelli narra episódiojogo de aposta penaltypânico por causa da alergiajogo de aposta penaltyJoão Pedro,jogo de aposta penaltysete anos | Foto: Gui Christ/BBC Brasil

Ligaram pela terceira vez. Eu conseguia ouvir que ele estava muito mal, ouvia o barulho que ele fazia, tentando respirar. 'Dá a adrenalina. Tal, tal e tal pessoas sabem aplicar', falei. 'Não tem ninguém aqui agora', responderam. O pessoal treinado por mim tinha ido embora.

No medicamento tem a instruçãojogo de aposta penaltyinglês, com figuras. A coordenadora começou a perguntar como fazia. Fechei o olho para tentar me concentrar, expliquei uma vez. Ela voltou a fazer perguntas. 'Não dá mais para responder, não dá mais tempo. Lê e aplica.' Desliguei o telefone e saí dirigindo. Cheguei na escola, não sabia o que ia encontrar. Ele estava sentado. Todo roxo, parecia que tinha se afogado.

Esboçou um choro. 'Não chora', pedi. Achava que ele não aguentaria, se chorasse.

No hospital, tevejogo de aposta penaltytomar outra injeçãojogo de aposta penaltyadrenalina. Tinham demorado muito para dar a primeira, quase não fez efeito. Se demorassem um pouco mais, ele poderia ter morrido.

Quando a reação acontece, você temjogo de aposta penaltyagir rápido. Se demora para medicar, a adrenalina não faz efeito."

jogo de aposta penalty Helena Colonelli, administradorajogo de aposta penaltyempresas, mãejogo de aposta penaltyJoão Pedro,jogo de aposta penaltysete anos.

Criança come amendoim

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Há crianças alérgicas aos mais diferentes tiposjogo de aposta penaltyalimentos

"Meu filho tem alergia grave a ovo e peixe. Está aprendendo a lidar, mas tem vergonhajogo de aposta penaltycontar para os colegas.

Nossa sociedade trata a alergia como frescura. Dizem: 'Agora está na moda alergia alimentar'. Pensam que é escolha não querer comer certo ingrediente. Mas o caso do meu filho é grave. Tem doença séria.

Sou privilegiada porque consigo comprar a adrenalinajogo de aposta penaltycaneta. O preço depende, entre R$ 1 mil e R$ 2 mil por unidade. Se ele tiver contato com o alergênico, precisa ser medicado dentrojogo de aposta penaltyminutos e levado para o hospital imediatamente.

A escola tinha políticajogo de aposta penaltynão aplicar medicamento nas crianças. Eu não podia correr o riscojogo de aposta penaltyum contato acidental. Então, na hora do almoço, ia para a porta da escola. Fiz isso durante dois anos, para protegê-lo. Exagero? Como não vou proteger meu filho?

Eu trabalhava, mas tivejogo de aposta penaltypedir licença médica no emprego. Tive uma depressão. Ficou muito estressante viver com essa sensaçãojogo de aposta penaltyque seu filho não está seguro."

jogo de aposta penalty Rebeca, mãe do adolescente Gustavo (os nomes são fictícios)

Os depoimentos acima revelam um pouco do que vivem famíliasjogo de aposta penaltycrianças com alergias alimentares no Brasil.

A situação é ainda pior na populaçãojogo de aposta penaltybaixa renda, com pouca instrução e sem acesso à informação. A legislação sobre o assunto é incipiente e oferece pouca proteção a alérgicos. E medicamentos que poderiam salvar vidas não estão à venda no mercado, segundo pessoas ouvidas pela BBC Brasil.

A alergia é uma resposta exagerada do sistema imunológico a uma substância estranha ao organismo. No caso da alimentar, as substâncias estranhas são certas proteínas presentes nos alimentos.

Há poucos estudos sobre o problema no Brasil, mas segundo dados da Associação Brasileirajogo de aposta penaltyAlergia e Imunologia (ASBAI), entre 6 e 8% das crianças e entre 2 e 3% dos adultos têm alergias alimentares.

No Reino Unido, país com populaçãojogo de aposta penalty65 milhões e meiojogo de aposta penaltypessoas, cercajogo de aposta penalty5 mil recebem tratamento no hospital por causajogo de aposta penaltyreações alérgicas graves a cada ano. Por voltajogo de aposta penaltydez morrem anualmente vítimasjogo de aposta penaltyreações alérgicas.

Dados coletados entre 1997 e 2007 pelos Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e Prevençãojogo de aposta penaltyDoenças) nos Estados Unidos revelaram um aumentojogo de aposta penalty18% nos casosjogo de aposta penaltyalergias alimentares entre menoresjogo de aposta penalty18 anos no país. O crescimento do númerojogo de aposta penaltyalérgicos, no entanto, é um fenômeno global, dizem especialistas.

Mulher rejeita copojogo de aposta penaltyleite

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Legenda da foto, Alergia à proteína do leitejogo de aposta penaltyvaca é uma das mais comuns no Brasil

"Na prática clínica vemos que a alergia está aumentandojogo de aposta penaltyfrequência, najogo de aposta penaltygravidade e na persistência", disse à BBC Brasil a médica Jackeline Motta, coordenadora do Núcleojogo de aposta penaltyAlergia Alimentar da Universidade Federaljogo de aposta penaltySergipe,jogo de aposta penaltyAracaju.

A razão para o aumento? "Não sabemos", diz a médica. "Mas há várias hipóteses."

Os especialistas suspeitamjogo de aposta penaltyque alergias sejam resultadojogo de aposta penaltyuma interação entre fatores genéticos e ambientais. Alguns sugerem que a carênciajogo de aposta penaltyvitamina D (que,jogo de aposta penaltyteoria, protegeria indivíduos contra as alergias) esteja na raiz desse aumento. Outros apontam, por exemplo, o uso excessivojogo de aposta penaltydetergentes. Ou o tipojogo de aposta penaltyparto da mãe (nascidosjogo de aposta penaltypartos cesarianos teriam mais tendência a desenvolver alergias).

A hereditariedade é um fator importante. Segundo a ASBAI, estudos indicam quejogo de aposta penalty50 a 70% dos pacientes com alergia alimentar possuem história familiarjogo de aposta penaltyalergia. Se o pai e a mãe apresentam alergia, a probabilidadejogo de aposta penaltyterem filhos alérgicos éjogo de aposta penalty75%.

Mecanismo da alergia

Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No Brasil, aquelas à proteína do leitejogo de aposta penaltyvaca, ao ovo, peixe e crustáceos estão entre as mais frequentes.

Falando à BBC Brasil, a médica alergista Renata Cocco, pesquisadora da Universidade Federaljogo de aposta penaltySão Paulo (Unifesp) explicou o mecanismo desencadeador da alergia à proteína do leite - cuja incidência vem crescendo entre crianças brasileiras.

"Ela começa na infância. No desmame, a mãe que volta a trabalhar passa a substituir o leite materno pelo da vaca. O sistema imunológico do bebê reconhece aquela proteína do leite da vaca como um inimigo. Na tentativajogo de aposta penaltyexpulsar esse inimigo, o organismo pode produzir sintomas variáveis, desde a presençajogo de aposta penaltydiarreia com sangue até urticária e vermelhidão generalizada, inchaçojogo de aposta penaltyboca e olhos, culminando,jogo de aposta penaltycasos mais graves, na anafilaxia", disse.

"A anafilaxia é o quadro mais grave que uma alergia alimentar produz. Nesse quadro, há comprometimentojogo de aposta penaltydois ou mais sistemas - respiratório (crisejogo de aposta penaltyfaltajogo de aposta penaltyar, espirros, rouquidão), gastrintestinal (diarreia ou vômitos imediatos) ou pele (coceira, vermelhidão, inchaço). Além disso, a presençajogo de aposta penaltysintomas cardiovasculares isoladamente (desmaio, arroxeamento dos lábios, queda da pressão arterial) também caracteriza uma reação anafilática. Se não for tratada, pode levar ao óbito."

Alguns dos alimentos que mais provocam alergias

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Legenda da foto, É muito difícil evitar que crianças tenham contato com alimentos como ovo, leite e peixe

Vidajogo de aposta penaltyestadojogo de aposta penaltyalerta

Diantejogo de aposta penaltyriscos como esse, como proteger crianças do contato acidental com alimentos tão onipresentes quanto leite, ovo e peixe?

Na Grã-Bretanha, por exemplo, a lei determina que restaurantes e estabelecimentos que vendem comida para viagem informem consumidores sobre a presençajogo de aposta penalty14 tiposjogo de aposta penaltyalérgenos (entre eles, castanhas, leite, glúten, soja e trigo) na comida. A regra também se aplica a comida pronta vendida por supermercados.

Nas escolas do país, crianças alérgicas devem ter sempre à mão a chamada "canetajogo de aposta penaltyadrenalina". A injeção,jogo de aposta penaltyfácil aplicação, contém a dose exata do medicamento necessária para retardar a reação alérgica até que a criança chegue ao hospital.

A caneta é oferecida gratuitamente pelo sistema nacionaljogo de aposta penaltysaúde britânico, o National Health Service (NHS).

Escolas também podem manter canetasjogo de aposta penaltyadrenalinajogo de aposta penaltyreserva,jogo de aposta penaltycasojogo de aposta penaltyemergência.

A lei inglesa ainda obriga escolas a terem pessoal treinado para aplicar o medicamento nas crianças.

Sem lei e sem remédio

A situação britânica contrasta bastante com a do Brasil, onde alérgicos têm pouco ou quase nenhum amparo da lei. E, crucialmente, a canetajogo de aposta penaltyadrenalina não está à venda no país. Pacientes ou famíliasjogo de aposta penaltypacientes alérgicos são obrigados a importar o produto, que pode custar até R$ 2 mil (no Reino Unido a caneta é vendida por cercajogo de aposta penaltytrinta libras - ou R$ 127).

Desde julhojogo de aposta penalty2016, uma nova lei obriga fabricantesjogo de aposta penaltyalimentos no Brasil a incluírem no rótulo informações sobre a presençajogo de aposta penaltyalergênicos.

"Houve progresso", disse à BBC Brasil a advogada Cecília Cury, mãejogo de aposta penaltycriança com alergia alimentar e coordenadora do movimento Põe no Rótulo, que oferece suporte e esclarecimentos a pessoas que vivem com alergias alimentares.

"Mas o país parece não ter acordado para a seriedade do problema", acrescenta.

Helena Colonelli e o filho João Pedro
Legenda da foto, Helena tevejogo de aposta penaltyorientar escola sobre como agir após João Pedro ter uma crise alérgica | Foto: Gui Christ/BBC Brasil

Em restaurantes, por exemplo, não existe a obrigatoriedade - nem conscientização, explica.

"Cardápios não têm informação sobre alergênicos, garçons e chefsjogo de aposta penaltycozinha não têm a menor ideia do que estamos falando. Comer fora no Brasil é uma roleta russa, não há segurança."

Escolas

Para criançasjogo de aposta penaltyidade escolar, no entanto, comer fora nem sempre é uma questãojogo de aposta penaltyescolha. E segundo Cury, para alunos com alergias alimentares o cenário nas escolas brasileiras não é bom.

"Nas escolas públicas, a lei é nova e obriga o acolhimentojogo de aposta penaltyalunos com necessidades alimentares especiais. Caso a escola não respeite a lei, cabe denúncia", disse Cury.

A lei,jogo de aposta penaltyvigor desde 2009, trata do repassejogo de aposta penaltyverbas públicas para a comprajogo de aposta penaltymerenda escolar. Ela exige que colégios públicos ofereçam cardápios alternativos com basejogo de aposta penaltyrecomendações médicas.

Já nas particulares, explica a advogada, "o assunto está mais cru. Aqui não há a coerção, a lei não obriga a escola a acolher as necessidades dessa criança".

"Algumas respeitam, oferecem o bolo sem o alérgeno para a criança alérgica. No entanto, no Dia da Criança, por exemplo, decidem comemorar com uma sorvetada, excluindo a criança com alergia", disse.

"Outras dizem: 'não temos vagas, não temos como atender às necessidades da criança'."

Crianças se alimentam na escola

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Legenda da foto, Pais afirmam que falta preparo das escolas para lidar com alergias

Emergência na Escola

Falta proteção tambémjogo de aposta penaltycasosjogo de aposta penaltycontato acidental com alérgenos - tantojogo de aposta penaltyescolas públicas quanto privadas.

Isso porque os colégios não são obrigados a receber a canetajogo de aposta penaltyadrenalina para medicar a criançajogo de aposta penaltycasojogo de aposta penaltyemergência (lembrando que o medicamento nem sequer está disponível para compra no Brasil).

"Mesmo quando os pais oferecem o medicamento, muitas escolas se recusam a guardar e ministrar medicamentos", diz Cury.

A advogada reconhece que falta no país uma lei que cuide do assunto.

"O caminho é fazer uma minutajogo de aposta penaltyprojetojogo de aposta penaltylei e batalhar, ou seja, fazer lobby, advocacy."

Analfabetismo

Enquanto isso, no outro canto do Brasil, a médica Jackeline Motta,jogo de aposta penaltyAracaju, enfrenta o problema da alergia alimentarjogo de aposta penaltycondições bem mais precárias.

"Coordeno o núcleojogo de aposta penaltyalergia alimentar, onde recebo mães que não sabem ler. Às vezes não é suficiente colocar (o alérgeno) no rótulo", diz Motta.

"Para pacientes que são filhosjogo de aposta penaltymães analfabetas, distribuímos às mães os rótulos dos produtos que o filho pode consumir."

No casojogo de aposta penaltyalguns pacientes alérgicos, no entanto, existe uma esperança, diz a médica.

"Para alguns alimentos, a evolução natural da alergia alimentar é no sentido da cura. É o caso da alergia ao leite e ao ovo. Mas para castanhas, amendoim, camarão e crustáceos, ela tende a ser persistente e durar o resto da vida."

A BBC Brasil perguntou ao Ministério da Saúde que medidas estavam sendo tomadas para a disponibilização da canetajogo de aposta penaltyadrenalina no país. a pasta informou que a incorporaçãojogo de aposta penaltytecnologias ao Sistema Únicojogo de aposta penaltySaúde (SUS) precisa ser analisada por uma comissão. Segundo a assessoriajogo de aposta penaltyimprensa, o ministério não recebeu pedidos para a incorporação desse produto.