Os países que podem se reaproximar do Brasil no governo Lula:estrela bet l

Lula e Macron

Crédito, Ricardo Stuckert

Legenda da foto, Lula foi recebido pelo presidente francês Emmanuel Macronestrela bet l2021, enquanto ainda se preparava para a campanha presidencial vencida neste ano

Também haverá representantesestrela bet lÁfrica do Sul, Arábia Saudita, Argélia, Azerbaijão, Camarões, China, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, El Salvador, França, Gabão, Guatemala, Guiné Equatorial, Haiti, Irã, Jamaica, Japão, Moçambique, Palestina, Panamá, México, Nicarágua, Palestina, Reino Unido, República Dominicana, Rússia, Sérvia, Ucrânia, Turquia e Zimbábue.

Alguns desses países tiveram divergências com o Brasil, algumas delas sérias,estrela bet lanos recentes.

Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, há oportunidades para restaurar as pontes danificadas seguindo o mote "credibilidade, previsibilidade e estabilidade", defendido por Lula para a diplomaciaestrela bet lseu próximo mandato.

Além da reaproximação com as potências mundiais China, EUA, França e Alemanha, há espaço para diálogos com países latino-americanos, vários deles hoje governados pela esquerda (casoestrela bet lArgentina, Chile, Colômbia e México) eestrela bet lafinidade histórica com o presidente eleito.

Existe também a possibilidadeestrela bet luma nova política diplomática Sul-Sul, ou seja, voltada para naçõesestrela bet ldesenvolvimento do Hemisfério Sul, o que representaria mais contatos com a África. Foi uma marca dos dois primeiros mandatosestrela bet lLula.

E mesmo a Rússia, que se acercouestrela bet lBolsonaro pouco antes do início da Guerra na Ucrânia, fez acenos ao novo governo. Lula tuitou na terça-feira (20/12) que conversou com o presidente Vladimir Putin e discutiu o "fortalecimento da relação". Foi anunciada a vindaestrela bet luma representante russa para a posseestrela bet lBrasília.

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O futuro ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira, anunciou que as primeiras viagens internacionaisestrela bet lLula serão para Argentina, Estados Unidos e China, possivelmente nos três primeiros mesesestrela bet l2023.

Mudançaestrela bet ltom

Vieira, experiente diplomataestrela bet l71 anos, retorna ao cargoestrela bet lchanceler após uma passagem durante o segundo mandatoestrela bet lDilma Rousseff (PT).

Seu anúncio causou bem menos ruído dentro da instituição do que o nomeestrela bet lErnesto Araújo — que nunca havia chefiado uma embaixada e foi alçado por Bolsonaro ao posto máximo das relações exteriores principalmente por suas ligações com o filósofo Olavoestrela bet lCarvalho (1947-2022).

Em seu período como chanceler, Ernesto Araújo se envolveuestrela bet ldiversas controvérsias.

Hostilizou abertamente a China (o maior parceiro comercial do Brasil), rompeu o caráter historicamente conciliador do Itamaraty durante votaçõesestrela bet lorganismos multilaterais e minimizou a crise climática num momentoestrela bet lque o tema ganhava importância a cada dia.

Pressionado, Araújo foi substituídoestrela bet lmarçoestrela bet l2021 pelo diplomataestrela bet lcarreira Carlos Alberto França,estrela bet latuação bem menos ruidosa à frente do cargo.

Mas mesmo quando o Itamaraty não estava envolvido, o governo Bolsonaro ocupou manchetes internacionaisestrela bet lsituações inesperadas.

O diplomata Mauro Vieira

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O diplomata Mauro Vieira foi o escolhido para comandar o Itamaraty neste início do novo governo Lula

No primeiro anoestrela bet lmandato, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ofendeu gratuitamente a primeira-dama francesa Brigitte Macron ao dizer que ela "é feia mesmo".

Guedes voltou a ser mencionado pela mídia francesa ao declarar que o país europeu (maior empregador estrangeiroestrela bet lterritório brasileiro) está "ficando irrelevante" para o Brasil e que o governo poderia "ligar o f...-se".

Assim, ainda pré-candidato à Presidência e sem um cargo oficial, Lula foi convidado pelo presidente francês Emmanuel Macron para um encontroestrela bet lpouco maisestrela bet luma horaestrela bet lParis,estrela bet lnovembroestrela bet l2021, com honrarias reservadas a altas personalidades.

Na mesma viagem ainda reuniu-se com Olaf Scholz, atual premiê alemão e então sucessorestrela bet lAngela Merkel, e o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez.

Agenda ambiental vai ser motorestrela bet lrelações internacionais

Com a vitóriaestrela bet lLula, a esperada reaproximação com França e Alemanha, os dois sócios mais poderosos da UE, deve se dar principalmente sob uma base: a questão ambientalestrela bet lmeio ao agravamento da crise climática, um dos principais motivosestrela bet lfricção com os europeus nos anos Bolsonaro.

"Acho que uma parte muito importante da cooperação do Brasil com o resto do mundo será na parte do meio ambiente, que se tornou um tema muito importante ao longo dos últimos anos. Essa é a grande diferença entre o cenário internacional dos dois primeiros governos Lula com o do próximo", diz Oliver Stuenkel, professorestrela bet lRelações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas)estrela bet lSão Paulo.

Adriana Abdenur, diretora da plataforma Cipó e parte da atual equipeestrela bet ltransição na áreaestrela bet lrelações exteriores, afirma que os temasestrela bet ldesenvolvimento sustentável, clima e meio ambiente servirãoestrela bet lpontes não só com países mais ricos.

"Eles podem representar parteestrela bet luma nova base para a integração regional, por meio da revitalizaçãoestrela bet lespaços como o Mercosul, a Organização do Tratadoestrela bet lCooperação da Amazônia, a Unasul [Uniãoestrela bet lNações Sul-Americanas,] assim como a Celac [Comunidadeestrela bet lEstados Latino-Americanos e Caribenhos]. E o Brasil jogandoestrela bet ldiversas agendas desses espaços pode, então, compor arranjos regionais".

Vicente Ferraro Jr., cientista político e pesquisador do Laboratórioestrela bet lEstudos da Ásia da Universidadeestrela bet lSão Paulo (USP), lembra que Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo (RDC) anunciaram o esboçoestrela bet lum acordo na última Conferência do Clima das Nações Unidas.

Os três países, que possuem 52%estrela bet ltodas as florestas tropicais remanescentes do planeta, pretendem atuar juntos com o objetivoestrela bet lnegociar um mecanismo internacionalestrela bet lincentivo financeiro para a preservação ambiental.

"Esse grupo é possivelmente parteestrela bet luma estratégiaestrela bet lagenda ambiental que a diplomacia brasileira pode vir a buscar, porque é prioritária para os países do Hemisfério Norte. Pode vir a ser um importante laço", diz Ferraro Jr.

"O Brasil havia investido e acumulado antes uma grande credibilidade, uma atuação muito propositivaestrela bet lvárias áreasestrela bet ldesenvolvimento sustentável, clima, meio ambiente, paz e segurança. A interrupção disso representou uma inversão do papel do Brasil, que causou grande alarme. E eu diria até perplexidade", analisa Abdenur.

Volta da ênfase no multilateralismo

Integrante da equipeestrela bet ltransição, Abdenur relata que "ao contrárioestrela bet loutros ministérios que foram realmente esvaziados, inclusive no sentidoestrela bet lestruturaestrela bet lpessoal, o Ministério das Relações Exteriores não foi desfalcado".

Mas ela diz que há problemas.

"Encontramos uma sérieestrela bet ldívidas para com organizações internacionais, inclusive órgãos-chave, como a Assembleia Geral das Nações Unidas. Muitas dessas dívidas põemestrela bet lxequeestrela bet luma forma muito imediata o poderestrela bet lvoto do Brasil. E isso traz repercussões para uma gama muito amplaestrela bet ldebates, discussões, mas tambémestrela bet lpolíticas públicas."

Contatado pela BBC News Brasil, o Itamaraty não respondeu sobre essa questão nem sobre outras críticas acercaestrela bet lsua atuação durante o governo Bolsonaro.

De qualquer forma, a tendência é que organizações multilaterais sejam o meio para o Brasil estimular diferentes formasestrela bet lintegração e coordenação, diz Ferraro Jr.

"É possível que haja um esforçoestrela bet lretomar a Unasul e outros fóruns regionais e um esforço para aprofundar as relações no âmbito do Mercosul."

Para isso, analisa o cientista político, será fundamental também superar disputas ideológicas no continente."A gente tem um cenárioestrela bet lque haverá governosestrela bet ldireita convivendo com outrosestrela bet lesquerda no continente. Esse projetoestrela bet lintegração sul-americano, latino-americano, não pode ter um entrave ideológico muito profundo porque inviabiliza o modelo."

Venezuela e Brics

Dilma, Lula, Raúl Castro e Nicolás Maduro durante o funeralestrela bet lFidelestrela bet lCuba

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Dilma, Lula, Raúl Castro e Nicolás Maduro durante o funeralestrela bet lFidelestrela bet lCuba

O futuro chanceler Mauro Vieira declarou que o restabelecimento das relações com a Venezuela, rompida por Bolsonaro, ocorrerá logo no início do governo.

Na visãoestrela bet lAbdenur, "a normalização com o governo Maduro e com outros governos que foram colocados para escanteio nos últimos anos é essencial. Não necessariamente porque o novo governo vá concordar com todos os posicionamentos desses países, mas porque o Brasil tem uma tradiçãoestrela bet luniversalismo através da qual ele dialoga com todos os países".

Fica a incógnitaestrela bet lcomo será a cooperação política no âmbito dos Brics, o blocoestrela bet lpaíses emergentes formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, observa Ferraro Jr.

"Haja vista que a Rússia é membro do Brics e a gente não sabe o quanto aparecer ao ladoestrela bet luma figura como Vladimir Putin pode ser prejudicial para Lula e para a política externa brasileira."

Brasil no meio da tensão e recessão mundiais

A voltaestrela bet lLula ao poder se dáestrela bet lum momento bem diferente do início dos anos 2000, quando começou seu primeiro mandato.

Havia entusiasmo pela globalização, e as tensões atuais entre Rússia x Europa Ocidental e Estados Unidos x China estavamestrela bet lum estágio embrionário.

Stuenkel, da FGV, diz que "no meio das tensões crescentes entre grandes potências, me parece que não haverá muita mudança. Como foi com Bolsonaro, Lula buscará manter uma certa neutralidade para não ter que escolher entre esses blocos".

Outro desafio será enfrentar a perspectivaestrela bet luma recessão econômica mundial. Uma parte importante da popularidadeestrela bet lLulaestrela bet lseus primeiros mandatos se deve aos bons números da economia, que foi ajudada na época por um boomestrela bet lcommodities.

"A expectativaestrela bet luma recessão internacional complica a recuperação do Brasil e diminui a chanceestrela bet luma pacificação social. Isso atrapalha claramente as chancesestrela bet lestabelecer uma cooperação mais ampla pela necessidadeestrela bet llidar com desafios internos", diz Stuenkel.

"Agora, a crise é crescente na geopolítica, seja na Ucrânia ou lá na frenteestrela bet lrelação a Taiwan. Também pode trazer algumas vantagens para a América Latina porque justamente alguns investidores podem preferir regiões que estão longe desse risco geopolítico. Mas,estrela bet lgeral, obviamente, a recessão sempre tende a aumentar a instabilidade política e dificultar a cooperação."

Este texto foi publicado originalmenteestrela bet lhttp://vesser.net/brasil-64032654