Candidato que não vê elo entre educação e economia não ajuda Brasil, diz diretor da OCDE:bônus aposta grátis

Crianças perto da entradabônus aposta grátisescola no Brasil

Crédito, Rovena Rosa/Agência Brasil

Legenda da foto, Já antes da pandemia, Brasil já tinha problemas no aprendizadobônus aposta grátismatemática, segundo o Programa Internacionalbônus aposta grátisAvaliaçãobônus aposta grátisEstudantes (Pisa)

Na última edição do Programa Internacionalbônus aposta grátisAvaliaçãobônus aposta grátisEstudantes (Pisa, na siglabônus aposta grátisinglês), realizadabônus aposta grátis2018, os dados trouxeram cenáriosbônus aposta grátispreocupação para o país: dois terços dos brasileirosbônus aposta grátis15 anos sabem menos que o básicobônus aposta grátismatemática e os alunos estagnarambônus aposta grátisleitura e compreensãobônus aposta grátistextos.

Veja abaixo trechos da entrevista com o diretor da OCDE:

bônus aposta grátis BBC News Brasil - A educação é mencionada aqui e ali nos debates e na corrida eleitoral, mas é difícil dizer que é a protagonista da atual campanha presidencial. Isso é um sinalbônus aposta grátisque o Brasil não dá a devida importância à área ou é compreensível que não tenha tanto espaço quanto a economia, por exemplo, dado que o país estábônus aposta grátiscrise?

bônus aposta grátis Andreas Schleicher - A educaçãobônus aposta grátishoje será a economiabônus aposta grátisamanhã. E se você tem desigualdades na educação, você vai ter desigualdades na sociedade. E com isso, desemprego. Dessa forma, qualquer candidato presidencial que não enxerga a ligação entre as duas coisas ou não acredita nisso, não está fazendo um favor ao futuro do país. Sim, existem muitos problemas urgentes, mas se você ignorar os desafiosbônus aposta grátisamanhã a situação será ainda mais difícil.

Na décadabônus aposta grátis2000, o Brasil avançou muito na educação. A educação era prioridade. Lembro quebônus aposta grátis2000, depoisbônus aposta grátissaírem os resultados do Pisa, surgiram muitas iniciativas no Brasil. O país tem todos os recursos e os meios para construir um sistema educacional melhor.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - Como você avalia esses quatro anosbônus aposta grátisgoverno Bolsonaro na educação?

bônus aposta grátis Schleicher - É difícil dizer porque os dados que temos do Pisa só vão até 2018. Então não temos uma boa avaliação do que aconteceu nos últimos anos, que também foram muito difíceis por causa da pandemia. O Brasil enfrentou um dos mais longos períodosbônus aposta grátisescolas fechadas no mundo. Acho que foi uma das coisas mais devastadoras que aconteceram. Na minha opinião foi desnecessariamente longo. Não no sentidobônus aposta grátisque se considerasse que as crianças fossem menos vulneráveis ao coronavírus, mas elas foram punidas pelas respostas das políticas públicas à pandemia.

Acho que o governo colocou foco na alfabetização, algo muito importante porque linguagem é essencial para acessar, gerenciar, integrar, avaliar, transmitir informações, ou seja, para viver na sociedadebônus aposta grátishoje. É bom ter o foco nisso, mas no geral, não tenho certeza que a educação tem sido uma grande prioridade no Brasil.

O alemão Andreas Schleicher, diretorbônus aposta grátiseducação e competências da OCDE

Crédito, OCDE

Legenda da foto, O alemão Andreas Schleicher, diretorbônus aposta grátiseducação e competências da OCDE

bônus aposta grátis BBC News Brasil - Quais são os principais desafios para o país considerando os efeitos da pandemia e o fatobônus aposta grátisque tivemos cinco ministros da Educação — quatro efetivamente —bônus aposta grátismenosbônus aposta grátisquatro anosbônus aposta grátisgoverno Bolsonaro?

bônus aposta grátis Schleicher - Olha, há diversos "Brasis". Se você olha para o quadro geral, talvez falte um poucobônus aposta grátisdinamismo. Mas os dados mostram que alguns Estados brasileiros observaram um enorme progresso embônus aposta grátiseducação. Se o Brasil soubesse mais sobre o que funciona na educaçãobônus aposta grátisalgumas partes do Brasil, vocês teriam um sistema educacional diferente.

Há muitos sinais promissores, mas várias coisas precisam acontecer. Uma delas é que, sem uma visão clara do que representa uma educaçãobônus aposta grátisqualidade, você não terá um bom sistema educacional. Quando eu examino os dados sobre Brasil que vêm dos resultados do Pisa, a conclusão é que os estudantes brasileiros aprendem muitas coisas, muito conteúdo, mas não são muito bonsbônus aposta grátisextrapolar o que adquiriram e assim aplicar seus conhecimentosbônus aposta grátisambientes reais.

O problema é que, no mundo moderno, você não é mais recompensado apenas pelo que você sabe. O Google já sabebônus aposta grátistudo. O mundo recompensa pelo que você consegue fazer com o que sabe. Você consegue realmente pensar fora da caixa? Pensar combônus aposta grátisprópria cabeça? Você consegue imaginar, construir, criar, resolver tensões e dilemas?

E isso só vai acontecer com um ambientebônus aposta grátisensino muito diferente, onde os professores não são apenas instrutores, mas se tornam bons coaches, mentores, facilitadores e, às vezes, bons assistentes sociais. Para isso é preciso valorizar a forçabônus aposta grátistrabalho educacional. Alémbônus aposta grátismelhorar os salários, é preciso tornar o ensino intelectualmente mais atraente, prestigiar o ensino como profissão e construir uma culturabônus aposta grátisensino mais colaborativa.

E acho que é importante alinhar melhor os recursos com as necessidades que o Brasil tem como país. O país gasta um dinheiro considerável com educação e os alunos passam longas horas na escola. Mas você sabe que esses recursos nem sempre são usadosbônus aposta grátisforma mais eficaz.

Se você vembônus aposta grátisuma família rica no Brasil, você sempre encontrará portas abertas, mesmo que não tenha um grande desempenho escolar. Mas se você vembônus aposta grátisuma família desfavorecida, só há uma única chance embônus aposta grátisvida, e é uma educaçãobônus aposta grátisqualidade. Se você perde esse trem, no Brasil não há uma segunda chance.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - No próximo ano a expectativa é que o governo encontre um quadro fiscal e econômico com dificuldades. Como é possível trabalhar com um orçamento mais limitado?

bônus aposta grátis Schleicher - Dinheiro é importante, mas não é tudo. Além da questãobônus aposta grátissaber como usar os recursos eu também acredito que é necessário repensar como eles são distribuídos entre os níveisbônus aposta grátisensino. O Brasil gasta cinco vezes mais para um graduado universitário do que para alguém na escola primária. Ou seja, para aqueles que sobrevivem até o fim do sistema escolar, você dá tudo. E para aqueles que não conseguem chegar lá sobra poucobônus aposta grátisapoio.

E, bom, se há recursos limitados, você tem que quebrar a cabeça sobre como gastá-los melhor. Eu gostaria que o Brasil investisse maisbônus aposta grátiseducação, mas não acho que mais dinheiro seja a resposta. Eu realmente acho que a resposta é reconfigurar espaço, tempo, pessoas, tecnologia, relacionamentos na educação. Não apenas para melhorar, mas para fazerbônus aposta grátisuma forma realmente diferente.

Estudantesbônus aposta grátisaula no interior do Pará

Crédito, Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket via Getty

Legenda da foto, Para Schleicher, investimentobônus aposta grátiseducação básica deve ser maior do quebônus aposta grátisoutras etapas do ensino

bônus aposta grátis BBC News Brasil - E por que o senhor acha que é mais importante privilegiar a educação básica do que a superior?

bônus aposta grátis Schleicher - É uma questão difícil. Minha resposta seria apenas que a sociedade deveria investir nas crianças mais novas por que é dessa forma que você lança as bases para todo o resto. Se você perder o trem nos primeiros anosbônus aposta grátiseducação, não há chancebônus aposta grátisvocê recuperar esse atraso mais tarde para a universidade. E eu não acho que o governo precisa pagar por tudo isso. Na verdade, acho que é possível fazer empréstimos aos alunos dependendo da renda e, mais tarde, quando você começa a ganhar dinheiro, paga issobônus aposta grátisvolta.

Acho que existem bons modelos para que nossa sociedade possa realmente compartilhar os custos e benefícios da educação universitáriabônus aposta grátisforma mais justa. Só não tenho certeza se tudo precisa estar nos ombros do governo. Mas quando se trata dos primeiros anos da educação primária, a construçãobônus aposta grátisuma base sólida, eu acho que é extremamente importante. E é claramente aí que o Brasil está subinvestido. Os gastos atuais são muito concentradosbônus aposta grátisuma fase posterior do ensino.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - O Brasil voltou a conviver com o problema da fome. E a escola representa muitas vezes a oportunidadebônus aposta grátisfazer uma ou duas refeições por dia para algumas crianças, ou seja essa é a principal razão para estar lá. Como isso deve ser considerado quando se pensabônus aposta grátiseducação no Brasil?

bônus aposta grátis Schleicher - Devemos olhar para as escolas como instituições sociais, não apenas como uma fábricabônus aposta grátisdiplomas. Devemos olhar para as necessidades das crianças: as cognitivas, sociais, físicas e emocionais. Saber lidar com a raiva que, por exemplo, uma criança está sentindo. Então, é preciso encarar as escolas mais como centros comunitários que realmente dão aos jovens um lar onde eles possam crescer fisicamente, intelectualmente, emocionalmente, principalmentebônus aposta grátisbairros desfavorecidos.

É por isso que acho importante reforçar nos professores a ideiabônus aposta grátisalguém que tem alguém que tenha um interesse genuínobônus aposta grátisse perguntar: quem são meus alunos? Quem eles querem se tornar? Como posso acompanhá-los embônus aposta grátisjornada ao invésbônus aposta grátisapenas ensinar o que está na cartilha?

Então eu acho que esse interesse dos professores pelos alunos, esse entendimentobônus aposta grátisque todo aluno pode aprender, que eles aprendembônus aposta grátisforma diferente, e que eu preciso encontrar é o futuro do ensino. A maior ameaça à educação não é apenasbônus aposta grátisineficiência, é a perdabônus aposta grátisrelevância. Muitos jovens hoje pensam que a educação não diz respeito a eles, à vida e ao futuro deles. E isso é muito, muito perigoso.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - Qual paísbônus aposta grátisdesenvolvimento, sem tantos recursos, que está indo numa direção correta embônus aposta grátisvisão?

bônus aposta grátis Schleicher - O Vietnã. Dez anos atrás o Vietnã poderia alcançar o Brasil só nos sonhos. Hoje os resultados são o que vemos na Europa, um forte conjuntobônus aposta grátisresultadosbônus aposta grátisaprendizagem. E eles não pensaram que a ideia era superar cada estágiobônus aposta grátisdesenvolvimento. Foibônus aposta grátistransformar radicalmente nosso ambientebônus aposta grátisaprendizado. Em vezbônus aposta grátisavaliar a formaçãobônus aposta grátisprofessores, eles mostram se estão aptos a ensinar e aí sim vão para a salabônus aposta grátisaula. Eles procuraram a pessoa mais inteligente da aldeia e ela se tornava a professora daquela comunidade. Vamos ter os melhores professores do país e ainda fazê-los professores ainda melhores

Os vietnamitas foram muito criativos, muito imaginativos, usaram recursosbônus aposta grátissua comunidade e fizeram da educação uma prioridade. Eu acho que isso também é muito, muito importante. Nenhum país terá um sistema educacionalbônus aposta grátisprimeira classe se isso não estiver no topo dabônus aposta grátisagenda.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - Quais desafios mais característicos do século 21 devem ser encarados?

bônus aposta grátis Schleicher - Não devemos pensar apenas no futuro da educação que mais provavelmente vai se materializar ou o futuro que desejamos. Na verdade, deveríamos ser muito melhoresbônus aposta grátisimaginar futuros diferentes para a educação. E sob as dificuldades atuais, há uma diferença entre reformar a educação e transformá-la. Reformar é mudar os instrumentos, os meios, as ferramentas para melhorar o quadro. Transformar é mudar os objetivos. É sobre reconfigurar espaço, tempo, pessoas, relacionamentosbônus aposta grátisnovas maneiras?

Nesse momentobônus aposta grátisgrandes dificuldades, temos que pensar no futuro ebônus aposta grátisum mundo mais bem integrado entre aprendizagem e o mundo do trabalho. Nós costumávamos aprender a trabalhar e,bônus aposta grátisrepente, aprender se tornou o trabalho. Basicamente, devemos pensar, como podemos tornar o aprendizado interessante, relevante?

É dar aos jovens do Brasil oportunidadesbônus aposta grátistrabalharbônus aposta grátisprojetosbônus aposta grátisverdade com pessoasbônus aposta grátisverdade. No Brasil educação vocacional, pensar o desenvolvimento dos estudantesbônus aposta grátisforma individual, é quase sempre o último recurso. Precisa ser mais a primeira escolha para ajudar as pessoas a terem um acesso melhor ao seu próprio futuro. Então não dá para simplesmente dizer "ah, vamos consertar o nosso sistema atual e aí sim começamos a pensar no século 21".

Vamos ter que usar esse espaço, esse momento, essa crise para reimaginar a educação. A mudança real geralmente nascebônus aposta grátisuma crise profunda.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - E há sempre a expectativa após a conclusão dos estudosbônus aposta grátisacessar o mercadobônus aposta grátistrabalho, uma área também que estábônus aposta grátisprofunda transformação atualmente.

bônus aposta grátis Schleicher - Nós devemos nos tornar melhores para antecipar quais são os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e os valores que importarão para o futuro. Na matemática, aprender fórmulas e equações pode ser menos importante hoje, mas ser capazbônus aposta grátispensar como um matemático e entender o conceitobônus aposta grátisprobabilidade ou risco são elementos que ajudarão a moldar o futuro.

A mesmo coisa na ciência: você pode ensinar física e química e conhecimento é muito importante, mas você não ensina os alunos a pensar como um cientista. A fazer experimentos e a distinguir questões quais questões podem ser exploradas cientificamente e questões que não são.

É assim que nós criamos o futuro. Não conseguimos saber ao certo quais são os empregos do futuro, mas temos que desenvolver as capacidades humanasbônus aposta grátiscomo é possível moldar o futuro.

E isso tem a ver com abônus aposta grátiscapacidadebônus aposta grátistransformar seu pensamento,bônus aposta grátisresolver problemas complexos, gerenciar tensões e resolver dilemas. O mundo não é mais preto e branco, e é possível desenvolver essas novas técnicas não apenasbônus aposta grátissalabônus aposta grátisaula, masbônus aposta grátisambientesbônus aposta grátisaprendizado autênticos, baseadosbônus aposta grátisproblemas, baseadosbônus aposta grátisprojeto ebônus aposta grátiscocriação entre alunos e professores.

bônus aposta grátis BBC News Brasil - Numa erabônus aposta grátisuma crisebônus aposta grátissaúde mental gigantesca, que atinge especialmente os jovens, como escola e professores podem ajudar?

bônus aposta grátis Schleicher - Os professores precisam ter tempo suficiente para trabalhar com os alunos como indivíduos. Para serem bons coaches, bons mentores, para passar tempo fora da salabônus aposta grátisaula com os alunos. A gente tem uma sociedade que foi organizada e divididabônus aposta grátisprofessores, assistentes sociais, psicólogos, mas precisamos criar um conjunto mais amplobônus aposta grátisresponsabilidades e habilidades para lidar com questões relacionadas ao bem-estar mental.

Se você como estudante não sente que é escutado, não sente significado no que você faz, é aí que a crise domina. Os professores precisam colocar esse tipobônus aposta grátiscoisabônus aposta grátisseu radar e que a responsabilidade não é apenasbônus aposta grátisensinar algo, masbônus aposta grátisentender quem são seus alunos e encontrar tempo e espaço para trabalhar com eles.

Há mais espaço para a escola cuidar da saúde mental e do bem-estar dos alunos. As escolas costumam dizer que não podemos resolver todos os problemas da sociedade, mas eu acho que a escola foi inventada para resolver os problemas da sociedade.

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