Eleições 2022: como polarização política se manifesta nos pátios das escolas:baixar vaidebet
Se as discórdias, fruto da polarização política no país, invadem o ambiente familiar e o círculobaixar vaidebetamizade entre os adultos, entre as crianças a situação não é diferente. Afinal, elas são uma verdadeira esponja e absorvem, ainda sem pleno entendimento, as opiniões dos pais, principalmente.
"A criança é uma esponja porque precisabaixar vaidebetum referencial. Quanto menor ela for, mais fácil a criança estar apenas repetindo aquilo o que foi falado porque ela precisa partirbaixar vaidebetalgum lugar", explica a psicanalista Sylvia Caram, especialistabaixar vaidebetEducação Infantil da PUC-Rio. É apenas a partir da adolescência que elas começam a se aproximarbaixar vaidebetuma opinião própria, mas, até lá, defendem como verdades absolutas o que ouvirambaixar vaidebetcasa.
A autonomiabaixar vaidebetopinião, no entanto, está cada vez mais precoce, acelerada pela maior exposição à internet durante a pandemia, como relata Sylvia. São criançasbaixar vaidebetaté oito anosbaixar vaidebetidade que deixarambaixar vaidebetter somente os pais como única referência, passando a escutar o que dizem influenciadores nas redes sociais, alémbaixar vaidebetabsorver o conteúdo dos inúmeros vídeos e memes que circulam pelas telas.
"Demonização do debate político"
O fato dessa trocabaixar vaidebetfarpas entre alunos estar acontecendo longe da moderação dos professores ocorre,baixar vaidebetparte, pelo receio que muitos docentes têmbaixar vaidebetpropor um debate políticobaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula e serem acusadosbaixar vaidebetum viés para esquerda ou direita.
É a "demonização do debate político", como descreve Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, que coordena o EducaMídia, um programabaixar vaidebeteducação midiática direcionado aos jovens e que tem parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Depois daquele movimento da 'Escola sem partido',baixar vaidebetque as escolas estavam sendo acusadasbaixar vaidebetdoutrinar os jovens com conteúdobaixar vaidebetdireita oubaixar vaidebetesquerda, principalmente, houve um processobaixar vaidebetcriminalizar o debate sobre política. O professor passou a se sentir desincentivado a tratar desse temabaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula", afirma Patrícia.
Ela cita a pesquisa Juventudes e Política, do instituto Ipec, publicada neste ano, a qual aponta que o jovem está interessadobaixar vaidebetquestões políticas, mas vem se informando e formandobaixar vaidebetopinião a partirbaixar vaidebetinfluenciadores que muitas vezes têm o mesmo nívelbaixar vaidebetconhecimento que elebaixar vaidebettais temas.
"Daí a importânciabaixar vaidebeta escola entrar nesse debate formando esse jovem para que ele possa ir atrásbaixar vaidebetinformações e construirbaixar vaidebetprópria opinião. Não podemos deixá-lo à margem e só convidá-lo a se manifestar na época da eleição. Temos que dar subsídios para que ele possa fazer uma escolha bem informada, que entenda quais são os critérios que deve levarbaixar vaidebetconta na horabaixar vaidebetdecidir o voto. Isso transcende a questão partidária", ressalta.
Na Escola Nova, no Riobaixar vaidebetJaneiro, desde o 4º ano do Ensino Fundamental há um exercício feito com regularidadebaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula para quebrar o engessamentobaixar vaidebetopiniões que geram brigas. A diretora Vera Affonseca conta que são escolhidos temas polêmicos. A sala é divididabaixar vaidebetgrupos que defendem um pontobaixar vaidebetvista e depois eles invertem as posições. "É uma prática que temos para que os alunos entendam como o outro pensa. Para que aquele que é contra um determinado assunto assuma um posicionamento a favor", conta. Para os mais velhos, já foram debatidos temas como demarcaçãobaixar vaidebetterras indígenas e portebaixar vaidebetarmas, e, com a proximidade das eleições, nomesbaixar vaidebetpré-candidatos.
"É uma brincadeira muito interessante porque eles precisam pensarbaixar vaidebetcomo defender aquilo que detonaram tanto, vivenciar os dois lados. Com política, fica mais acirrado. Então tem que ter o professor como mediador e regras. Saber discutir sem agredir. Eles aprendem a respeitar o pontobaixar vaidebetvista do outro", diz a educadora.
A organizaçãobaixar vaidebetsimuladosbaixar vaidebeteleições é outra forma que escolas encontram para incentivar o debate político construtivo. Foi o que fez, por exemplo, o Colégio Militarbaixar vaidebetParaíso do Tocantinsbaixar vaidebetparceria com a Escola Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral e o cartório local, que, juntos, desde 2018, promovem o projeto "Agentes da Democracia - Formaçãobaixar vaidebetEleitores e Políticos do Futuro". Participaram todos os alunos do Ensino Médio e muitos saíram do evento já com o título eleitoral encaminhado.
"O intuito era mostrar que a política não é um grande vilão. Eles fizeram um trabalho muito dinâmico, com uma rodabaixar vaidebetconversa. Falaram sobre diversos temas, como, por exemplo, a segurança da urna eletrônica. Inclusive eles trouxeram urnas, explicaram como elas funcionam", conta Jordana Marques, orientadora disciplinar do Colégio Militarbaixar vaidebetParaíso do Tocantins.
"Pão com salame por voto"
O conhecimentobaixar vaidebettodas as esferas do poder e o entendimento das funçõesbaixar vaidebetcada cargo político foram vitais para acabar com os conflitos na Escola Estadual José Ferreira Maia,baixar vaidebetTimóteo, Minas Gerais. Ébaixar vaidebetlá a professora Karina Letícia Pinto, vencedora do Prêmio Professor Transformador 2021 pelo trabalho que fez na construçãobaixar vaidebetvalores democráticos.
"O projeto surgiu por causa da intolerânciabaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula, havia uma polarização muito forte. A gente via a replicação da fala dos pais nos alunos. Dava muita confusão porque um não aceitava o que o outro falava e eram criançasbaixar vaidebetnove a dez anosbaixar vaidebetidade. A discussão terminava com um dizendo 'lá fora na saída vou te pegar'. Isso atrapalhava o convívio. Eu nunca tinha visto aquilobaixar vaidebet13 anosbaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula", lembra a docente.
Karina percebeu que as brigas ocorriam por motivos que as crianças nem entendiam direito. Foi aí que teve a ideiabaixar vaidebetfalar sobre o que é política. "Comecei explicando o que era o poder Legislativo, porque as crianças achavam que só o presidente mandava no país. Mas eles foram entendendo como surgem as leis, como são votadas e por quem, quando passam a valer e como interferembaixar vaidebetnossas vidas", relata. Depois seguiram as lições sobre os poderes Executivo e Judiciário.
"Ensinei tudobaixar vaidebetuma forma bem didática. Expliquei a independência dos três poderes, mas que os três precisam ser amigos, que nenhum faz uma coisa sem o outro, que eles colaboram com o outro. Foi a partir daí que o debatebaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula passou a ser mais construtivo. Os alunos expressavam suas ideias, mas sabendo que deveriam respeitar a ideia do colega", diz Karina.
O primeiro exercíciobaixar vaidebetdemocracia aconteceu na escolha do líderbaixar vaidebetsalabaixar vaidebetaula e a professora conta que o processo eleitoral teve até denúnciabaixar vaidebetcomprabaixar vaidebetvoto. "Alguns alunos vieram relatar, indignados, que teve gente querendo trocar a merenda, um pão com salame, por voto", contabaixar vaidebetmeio a risadas. "Mas eles tinham aprendido o que era corrupção e que aquilo era errado."
Os alunos também aprenderam sobre orçamento, entrevistaram o prefeitobaixar vaidebetTimóteo e chegaram a fazer uma sessão simulada no plenário da câmara municipal. Enquanto buscava mais ideiasbaixar vaidebetatividades, Karina descobriu o Plenarinho, uma iniciativa educacional da Câmara dos Deputados voltada às crianças.
"Vi que tinha um concurso nacional. As dez melhores redaçõesbaixar vaidebetprofessores sobre tolerância dentro da escola eram selecionadas para levar os alunos ao Congresso Nacional, onde seriam deputados mirins por um dia", conta. O textobaixar vaidebetKarina foi escolhido. Professora, alunos e pais foram para Brasília - depois de, com muito esforço, conseguirem juntar dinheiro para a viagem, já que a maioria não tinha recursos.
"Foi um impacto para toda a família. Muito interessante as crianças quando chegarambaixar vaidebetBrasília e explicaram para os pais o que era o Congresso Nacional. No STF, uma das alunas com dez anos explicou para a mãe o que representava aquela estátua com os olhos vendados. Eles captaram todas as lições", conta a docente. "Eu não tive mais briga, bate-boca. Essa experiência deixou bem claro que é pelo conhecimento que evitamos a escaladabaixar vaidebetconflitos destrutivos."
- Este texto foi publicado originalmentebaixar vaidebethttp://vesser.net/brasil-62440996
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