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Eleições 2022: pastores fazem pressão por voto e ameaçam fiéis com punição divina e medidas disciplinares:copa 2030
Milhomens ainda tem promovido um movimentocopa 2030oração e jejum nos dias que antecedem o segundo turno das eleições presidenciais. Em um guia divulgado no site do Conselho Apostólico Brasileira (CAB), os fiéis podem seguir um roteirocopa 2030orações, entre as quais há uma com o nomecopa 2030Jair Bolsonaro.
O programacopa 203021 dias vai até 29copa 2030outubro e tem sido divulgado nas redes sociais por diversos pastorescopa 2030diferentes denominações.
Já o pastor André Valadão é muito mais diretocopa 2030seus pronunciamentos. "Vamos para cima! A vitória do Bolsonaro nesse segundo turno tem que ser grande!", dizcopa 2030um dos vídeos postadoscopa 2030seu Instagram, onde acumula 5,3 milhõescopa 2030seguidores.
"Tem que votar certo, se não você não é crente não", afirmou tambémcopa 2030um vídeo gravado ao lado do atual presidente, usando o bordão que se popularizoucopa 2030suas redes sociais.
Valadão é fundador da Lagoinha Orlando Church, na Flórida, nos Estados Unidos, e cantor gospel. Em suas redes, responde com frequência perguntascopa 2030fiéis e seguidores sobre religião e política.
E tão comum quanto as postagens que exaltam Bolsonaro, são as que criticam a esquerda e,copa 2030especial, o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em uma postagem do dia 4copa 2030outubro, pouco após o primeiro turno das eleições, uma usuária mandou o seguinte comentário para o perfil do pastor: "Sou cristã e não votei no Bolsonaro #forabolsonaro".
Valadão respondeu: "Você pode até ser cristã, mas é desinformada. Ou talvez escolhe caminhar na ignorância, sem entender que tudo o que a esquerda oferece é tudo que é fora dos valores cristãos".
Em reação a outra pergunta, o religioso escreveu que crente que votacopa 2030Lula é "um absurdo".
Punição a membroscopa 2030esquerda
O discurso político combativo se repete entre outros pastores que possuem uma ampla gamacopa 2030seguidores, algumas vezes até com ameaças contra os fiéis que se recusam a seguir a orientaçãocopa 2030voto.
Um vídeocopa 2030que um pastor da Assembleiacopa 2030Deus afirma que os evangélicos que declararem votocopa 2030Lula serão proibidoscopa 2030tomar a Santa Ceia circulou nas redes sociaiscopa 2030agosto.
"Eu ouço crentes dizendo: vou votar no Lula. Você não merece tomar a ceia do Senhor se você continuar com esse sistema", diz o pastor Rúben Oliveira Lima, da Assembleiacopa 2030Deuscopa 2030Botucatu, interiorcopa 2030São Paulo.
Em outro momento do vídeo, ele afirma, se referindo ao ex-presidente Lula: "Se eu soubercopa 2030um crente membro dessa igreja que votou nesse infeliz, eu vou disciplinar". Ele não deixa claro o que quer dizer com disciplinar.
Um documento discutidocopa 2030plenário durante uma assembleiacopa 20304copa 2030outubro da Convenção Fraternal das Assembleiascopa 2030Deus do Estadocopa 2030São Paulo (Confradesp), um dos braços mais fortes da Assembleiacopa 2030Deus, falacopa 2030"aplicaçãocopa 2030medidas disciplinares" contra membros que adotem filosofias que, segundo eles, entramcopa 2030choque com os princípios cristãos.
O texto a que a BBC News Brasil teve acesso afirma que a Convenção não aceitarácopa 2030seus quadros ministros que defendam, pratiquem ou apoiem, por quaisquer meios, ideologias contrárias aos princípios morais e éticos defendidos por ela. O documento cita um posicionamento contrário à "Desconstrução da Família Tradicional, Erotização das Crianças, Ampla Liberação do Aborto" e outros.
"Os Ministros que comprovadamente defenderem pautascopa 2030esquerda, dentro da cosmovisão marxista, serão passíveiscopa 2030representação perante o Conselhocopa 2030Ética e Disciplina, assegurado o contraditório e a ampla defesa", diz a carta.
A resolução foi aprovada pouco depoiscopa 2030o presidente Jair Bolsonaro participarcopa 2030um culto para os fiéis presentes à assembleia, na Assembleiacopa 2030Deus Ministério do Belém, na zona lestecopa 2030São Paulo.
Durante esse mesmo culto, diversos líderes religiosos falaram a favor do presidente e a primeira-dama Michelle Bolsonaro cobrou das igrejas evangélicas um posicionamento no segundo turno das eleiçõescopa 20302022.
"A gente queria vitória, sim, no primeiro turno. Mas a gente entendeu, irmãos, que se a gente tivesse recebido a vitória no primeiro turno, talvez a igreja não estivesse preparada para isso. A gente precisa se voltar ao Senhor. A igreja precisa se posicionar, a igreja precisa aprender", disse ela.
A Confradesp é liderada por José Wellington Bezerra da Costa, um dos pastores mais influentes do Brasil. Seu filho, o também pastor e líder da Convenção Geral das Assembleiascopa 2030Deus no Brasil (CGADB) José Wellington Costa Junior, dissecopa 2030um culto no iníciocopa 2030maio que o ex-presidente Lula não deve ser recebido nas igrejas que ele comanda.
"O inferno não tem como entrarcopa 2030lugar santo. Aqui é lugar santo", disse,copa 2030referência ao PT e a Lula. "É bom que nos conscientizemos disso. Você, pastor, vai ser procurado sorrateiramente [por petistas], dizendo que é só uma visita. É um laço do Diabo!".
'Não vamos impor nossa vontade a ninguém'
Outro líder religioso que declarou seu apoio à candidaturacopa 2030Bolsonaro foi o apóstolo Estevam Hernandes, pastor da Renascercopa 2030Cristo e idealizador da Marcha para Jesus. Ele é hoje um dos principais cabos eleitorais do atual presidente.
O apóstolo, que é dono do canalcopa 2030televisão Rede Gospel e apresenta um programacopa 2030rádio e televisão na emissora, utiliza frequentemente as cores verde e amarelo durante cultos e nas fotos e vídeos que posta nas redes sociais.
Emcopa 2030página no Instagram, que tem 1 milhãocopa 2030seguidores, o líder religioso utiliza uma fotocopa 2030perfilcopa 2030que aparece ao ladocopa 2030Bolsonaro. Ele também compartilha com frequência cliques ao ladocopa 2030outros candidatos, entre eles o aspirante a governadorcopa 2030São Paulo, Tarcísiocopa 2030Freitas (Republicanos).
Em suas participações na televisão, o apóstolo não cita nominalmente nenhum candidato, mas falacopa 2030temas como a "destruição da família" e o "apoia ao aborto". Ele também costuma divulgar eventos com a participaçãocopa 2030outras lideranças religiosascopa 2030que se discute política e o apoio a Bolsonaro.
À BBC News Brasil, Hernandes afirmou que ele ecopa 2030igreja defendem "os valores cristãos, mas não vamos impor nossa vontade a ninguém". "Acredito que ele defende os mesmos valores que nós cristãos, da importância da família, e contra o aborto, por exemplo", disse sobre o atual presidente.
"Eu acredito que temos o direitocopa 2030defender os candidatos que representam os valores e demandas da igreja, mascopa 2030maneira nenhuma fazemos disso uma imposição. Da mesma forma, tenho o direitocopa 2030me posicionarcopa 2030minhas redes sociais sobre o que acredito. Mas não estamos impondo nada a ninguém e nem usando o púlpito para isso", afirmou o fundador e líder da Igreja Renascercopa 2030Cristocopa 2030respostas enviadas por escrito à reportagem.
Assim como a ministra Valnice Milhomens, o apóstolo tem divulgado o programacopa 2030jejum e oração para o período que antecede o segundo turno das eleições. O líder religioso afirma quecopa 2030igreja realiza jejuns com frequência desde acopa 2030fundação.
"O objetivo do jejum é ter um período especialcopa 2030consagraçãocopa 2030que buscamos orar e estar ainda mais próximoscopa 2030Deus. Neste jejum,copa 2030especial, estaremos orando também pelo país e pelas próximas eleições, mas, como falei, jejuamos sempre."
'Falso cristão'
Bolsonaro não é o único que recebeu apoiocopa 2030lideranças religiosas. O ex-presidente Lula também tenta reunir votos do eleitorado cristão por meiocopa 2030pastores e padres. O petista também vem tentando reforçarcopa 2030imagem como cristãoscopa 2030suas campanhas e redes sociais, rebatendo algumas das críticas e acusações feitas contra ele.
Mas enquanto o atual presidente recebeu apoiocopa 2030grandes igrejas e denominações ecopa 2030pastores midiáticos com uma ampla redecopa 2030seguidores, Lula é apoiado principalmente por quadros dissidentes e igrejas menores.
O petista tem ao seu lado, por exemplo, Paulo Marcelo Schallenberger, que se identificacopa 2030suas mídias como "o pastor solitáriocopa 2030Lula".
O religioso faz parte da Assembleiacopa 2030Deus, mas afirma ter sido afastado dos cultos formais na igreja por contacopa 2030seus posicionamentos. Hoje se dedica principalmente a palestrascopa 2030outras igrejas. "Passei a me posicionar primeiro contra o governo Bolsonaro, só depois me aliei publicamente ao Lula. Mas sempre votei nele e na ex-presidente Dilma [Rousseff]", disse à BBC Brasil.
Alémcopa 2030pastor, Schallenberger concorreu a deputado federal neste ano pelo Solidariedade, mas não foi eleito.
Ele afirma guardar as discussõescopa 2030políticas e suas opiniões pessoais para discussões após o culto ou fora da igreja. "Há um exagero na discussãocopa 2030política dentro das igrejas, especialmente entre aqueles que cultivam uma certa idolatriacopa 2030relação ao Bolsonaro."
O pastor também usa as redes sociais com frequência para falar da corrida eleitoral. Em uma postagem compartilhada no Instagram após o primeiro turno das eleições, Bolsonaro é classificado como "falso cristão". O post cita a relação do atual presidente com a Arábia Saudita e o príncipe Mohammad bin Salman.
"Um cristão não pode se comportar da forma que ele se comporta, seja na formacopa 2030falar ou na vida", diz. "Não tem como se dizer cristão e não sentir empatia, se solidarizar ou derramar uma lágrima sequer por quem morreu na pandemia."
Há cercacopa 2030duas semanas, o pastor também publicoucopa 2030suas redes sociais um vídeo adulteradocopa 2030que o atual presidente afirma que a primeira-dama cumpriu três anoscopa 2030prisão por tráficocopa 2030drogas. Trata-secopa 2030um áudio falso, manipulado a partircopa 2030uma declaração dadacopa 20302019. Na realidade, Bolsonaro comentava sobre a avócopa 2030sua esposa.
Questionado pela reportagem sobre o post, o líder religioso afirmou que não sabia que se tratavacopa 2030uma fake news quando postou, mas que foi avisado posteriormente. "Já apaguei do meu Twitter, mas alguém da minha equipe deve ter esquecidocopa 2030deletar do Instagram. Vou verificar", disse. O vídeo foi apagado posteriormente.
Outra liderança religiosa que declarou seu votocopa 2030Lula foi o bispo Romualdo Panceiro, ex-número 2 da Universal e atual líder da Igreja das Nações do Reinocopa 2030Deus.
A Aliançacopa 2030Batistas do Brasil, uma organização que prega a "livre interpretação da Bíblia", a "liberdade congregacional" e a "liberdade religiosa" para todas as pessoas, também se posicionou a favor do petista, afirmando ser contra o "governo perverso e mau que está no poder".
Lei proíbe propaganda eleitoralcopa 2030igrejas
Segundo a lei eleitoral, é proibido veicular propaganda eleitoralcopa 2030qualquer naturezacopa 2030templos religiosos. Esses espaços são definidos como "benscopa 2030uso comum", assim como clubes, lojas, ginásios e estádios.
"Falar bemcopa 2030um determinado candidato não é propaganda eleitoral, mas comparar dois nomes e dizer, por exemplo, que um representa o bem e o outro o mal, pode ser considerado propaganda", explica o advogado eleitoral Alberto Rollo.
A Lei das Eleições,copa 20301997, estabelece como propaganda eleitoral não apenas declarações, mas também exposiçãocopa 2030placas, faixas, cavaletes, pinturas ou pichações. O mesmo vale para ataques a outros candidatos - a chamada campanha negativa.
O descumprimento da lei pode gerar multacopa 2030R$ 2 mil a R$ 8 mil. "A multa é aplicada para quem fez a propaganda ou para o candidato beneficiado", diz Rollo.
O especialista explica ainda que igrejas são consideradas pessoas jurídicas e, pela lei, nenhum candidato pode ser financiado por empresas. Transgressões são consideradas abusocopa 2030poder econômico e podem levar ao cancelamento do registro da candidatura ou à perda do cargo.
Veículos ou meioscopa 2030comunicação social, incluindo os religiosos, também não podem atuarcopa 2030benefíciocopa 2030candidato oucopa 2030partido político.
Segundo Rollo, porém, declarações feitas nas redes sociais pessoaiscopa 2030líderes religiosos não se enquadram na regra. "Os pastores são cidadãos e pessoas físicas, não jurídicas, portanto aquilo que dizemcopa 2030suas redes sociais pessoais não está sujeito a essa lei. Mas essas declarações não podem acontecer nas redes sociais da própria igreja, por exemplo."
Há também, no Código Eleitoral, um artigo que proíbe o usocopa 2030ameaças para coagir alguém a votar, ou não votar,copa 2030determinado candidato ou partido, sob penacopa 2030reclusãocopa 2030até quatro anos e pagamentocopa 2030multa.
'Não vamos votar no novo papa'
Pastores moderados e lideranças religiosas criticam o uso da religião e do palanquecopa 2030igrejas para fazer campanha e coagir fiéis a darem seus votos para determinados candidatos.
A pastora Romi Bencke, secretária-geral do Conselho Nacionalcopa 2030Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), ressalta que para alémcopa 2030qualquer proibição da lei eleitoral brasileira, fazer uso da posiçãocopa 2030autoridade,copa 2030celebrações oucopa 2030canaiscopa 2030televisão religiosos para esse fim não é ético.
"Não creio que seja correto que lideranças religiosas se utilizemcopa 2030sua autoridade perante os fiéis para estimular votoscopa 2030candidatos específicos", diz. "As lideranças religiosas são respeitadas, escutadas e têm uma legitimidadecopa 2030suas comunidades."
Para Valdinei Ferreira, professorcopa 2030teologia e pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana Independentecopa 2030São Paulo, há uma linha muito tênue que separa as convicções pessoaiscopa 2030pastores e outros religiososcopa 2030seu papel público. "Mas devemos evitar cruzar essa linha e usar a autoridade religiosa para respaldar ou legitimar nossa opção político partidária", afirma.
"Eu me sinto tentado a me pronunciarcopa 2030alguns momentos, mas resisto a fazer isso na condiçãocopa 2030pastor e mais ainda usando o púlpito e o culto."
Ferreira critica ainda o usocopa 2030discursos camuflados para apoiar determinadas ideologias políticas a partircopa 2030preceitos religiosos. "Há valores tanto da direita quanto da esquerda que são compatíveis com o evangelho. Dizer que cristão não votacopa 2030candidatoscopa 2030uma determinada ideologia é manipulação", afirma.
"No dia 30copa 2030outubro [dia do segundo turno], não vamos votar no presidentecopa 2030uma igreja ou no novo papa, mas no presidente do Brasil. As mobilizações precisam ser laicas, até porque a pessoa eleita vai governar ao longocopa 2030quatro anos um Brasil que é pluralcopa 2030termoscopa 2030religião", completa Romi Bencke.
- Este texto foi publicadocopa 2030http://vesser.net/brasil-63209750
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