O movimento contra o feminismo que divide evangélicas:xbet cadastro
xbet cadastro Conforme o feminismo avançava pelo Brasil nas últimas décadas, um grupoxbet cadastrofiéis evangélicas organizou uma reação.
Baseando-sexbet cadastrointerpretações bíblicas sobre o papel da mulher no casamento e sobre o aborto, essas mulheres passaram a abraçar um movimento contrário, o antifeminismo, e a difundir suas ideiasxbet cadastroigrejas, congressos e redes sociais.
Mas essa contra-ofensiva já vive fissuras dentro do próprio universo cristão, conforme jovens evangélicas passam a contestar essas interpretações da Bíblia e a demonstrar afinidade com algumas bandeiras feministas.
Esse embate é o tema do quarto episódioxbet cadastroBrasil Partido, um podcast da BBC News Brasil, veiculado nesta quarta-feira (12/10) no site da BBC, no canal da emissora no YouTube exbet cadastroplataformasxbet cadastroáudio como Spotify e Apple Podcasts.
Apresentado pelo repórter João Fellet, o podcast aborda como pessoasxbet cadastrodiferentes grupos sociais — como agricultores, executivos do mercado financeiro e brasileiros que se identificam como pardos — se posicionam diantexbet cadastroconflitos políticos atuais.
O podcast busca ainda entender como os brasileiros chegaram ao atual grauxbet cadastrodivisão na política e se há possibilidadexbet cadastrodiálogo entre grupos divergentes.
Cristã, conservadora, pró-Bolsonaro
Muitas das brasileiras que militam contra o feminismo nas redes sociais — algumas delas com centenasxbet cadastromilharesxbet cadastroseguidores — costumam se classificarxbet cadastroseus perfis também como cristãs, conservadoras e apoiadorasxbet cadastroJair Bolsonaro.
Uma delas é a donaxbet cadastrocasa Ingrid Lobato,xbet cadastro28 anos. Ela diz ao podcast Brasil Partido que passou a militar contra o feminismoxbet cadastro2016, quando houve o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
"Ali foi levantada muito forte uma narrativa do feminismo que dizia que a presidente estava sendo impichada por ser mulher, quando, na verdade, não, é porque ela era incompetente mesmo", afirma.
Em julhoxbet cadastro2022, Lobato foi uma das palestrantes do 1º Fórum Antifeminista do Rio Grande do Norte, um evento que atraiu 60 mulheres a um hotel da capital potiguar.
Ela se casou aos 18 anos e é mãexbet cadastrodois meninos. Frequenta igrejas evangélicas desde criança e teve os primeiros contatos com o feminismo quando fazia faculdadexbet cadastrociências contábeis.
Lobato diz que se opôs ao movimento desde o início por conta da posiçãoxbet cadastrofeministas sobre o aborto. Uma das principais bandeiras do feminismo é que mulheres devem ter o direitoxbet cadastroabortar.
"Eu não sou a favor do abortoxbet cadastrocircunstância alguma, a não ser que você tenha que escolher ali entre a mãe e o bebê", diz Lobato.
Outra questão que fez Lobato se afastar do feminismo é pessoal. Filhaxbet cadastropais separados e criada pelo pai , ela diz se sentir incomodada quando feministas apontam os homens como vilões.
"Eu conheço muitos homens bem casados que dão a vida pelas suas famílias. E meu pai, ele não foi um pai perfeito, mas ele assumiu ali a responsabilidade. Ele enfrentou coisas que a minha mãe, por alguma razão, não fez."
Lobato trataxbet cadastrooutra questão crucial que divide feministas e antifeministas: uma passagem bíblica que diz como as mulheres devem se comportar no casamento.
O texto está nas Cartasxbet cadastroPaulo aos Efésios e defende que "as mulheres submetam-se aos seus maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher".
Para Lobato, o trecho é "mal compreendido" e não postula que a mulher seja escrava do marido.
"Você está sendo ali submissaxbet cadastroum lar e naxbet cadastrofamília para o seu esposo, porque na verdade você está recebendo algoxbet cadastrotroca", ela diz.
Para explicar a posição, Lobato cita outro trecho bíblico, segundo o qual o homem deve amarxbet cadastroesposa assim como Cristo amou a igreja.
"Então você ser submissa a este tipoxbet cadastrohomem é um privilégio, não é uma coisa ruim, porque você está com um homem que está ali disposto a dar a vida por você e pelaxbet cadastrofamília", afirma.
Para Lobato, o antifeminismo é um escudo contra ideias que, na visão dela, buscam fragilizar a família e doutrinar mulheres para que votemxbet cadastropartidosxbet cadastroesquerda.
Segundo ela, mulheres são expostas a essas teorias desde que entram na escola — como a teoriaxbet cadastroque ser mulher não é uma questão biológica, mas sim uma construção social.
Lobato diz que conceitos como esse levam mulheres a abrir mãoxbet cadastroserem esposas e mães — e que, quando elas deixamxbet cadastroassumir esses papéis, ficam vulneráveis à manipulação política.
"A mulher, hoje ela está sendo recrutada pelo feminismo, inseridaxbet cadastropartidos políticos com ideologiasxbet cadastroesquerda, para, no final, serem manobrados por esses interesses", afirma.
Anti-antifeministas
Mas nem todas as mulheres religiosas acham que cristianismo e feminismo são inconciliáveis.
Com 22 anos e maisxbet cadastro30 mil seguidores no TikTok, a evangélica Thaís Cerqueira era tão dedicada à igreja que foi convidada a dar aulas sobre a Bíblia para fiéis mais jovens.
Mas ela tinha um desconforto. Ao mesmo tempoxbet cadastroque considerava o Cristianismo o nortexbet cadastrosua vida, ela se incomodava quando pastores minimizavam comentários que ela fazia sobre a opressão às mulheres na sociedade.
"Se alguém tentasse falar sobre isso, era automaticamente tachadoxbet cadastrofeminista, então não existia uma posição muito sóbria", afirma.
Conforme o desconforto crescia, Cerqueira passou a buscar teólogos evangélicos americanos que tinham outras visões sobre o lugar da mulher no cristianismo.
Como muitas dessas teorias jamais foram traduzidas para o português, ela passou a lerxbet cadastroinglês mesmo — e foi aprendendo a língua inglesa por conta própria, enquanto estudava os escritos.
Cerqueira começou a divulgar nas redes sociais interpretações bíblicas que destoavam das que ouvia na igreja — como a ideiaxbet cadastroque homens deviam ser os "provedores" da família.
Mas logo as postagens chamaram a atenção dos líderes da igreja.
"O meu pastor me chamou e falou para mim que eu tinha duas opções: eu tinha a opçãoxbet cadastropararxbet cadastrofalar ou sair. E aí eu falei: 'Tá, então eu saio'."
Cerqueira prefere não revelar o nome da igreja — diz apenas que era uma denominação pentecostal.
Após a ruptura, ela aprofundou os estudos sobre as mulheres no Cristianismo e passou a contestar a noçãoxbet cadastroque as esposas devem ser submissas aos maridos.
Cerqueira afirma que várias Igrejas, inclusive a Católica, já deixaramxbet cadastrointerpretar literalmente aquele trecho das Cartasxbet cadastroPaulo.
Para ela, quando Paulo diz que as mulheres devem ser submissas, ele está sugerindo a cristãos como ele que seguissem os códigos impostos pelo Império Romano para evitar serem perseguidos pelo regime.
Afinal, ela afirma que, no Império Romano, mulheres não podiam ter cargosxbet cadastroliderança.
Outra crítica da Thaís às antifeministas trata da posição delasxbet cadastrorelação ao aborto, ainda que ela seja pessoalmente contra a prática.
"Existe um problema muito grande, principalmente porque a grande parte dessas mulheres que chegam a realizar um aborto são, emxbet cadastrogrande maioria, pobres. E eu não consigo, como cristã, também dizer: 'Não, elas precisam ser presas'", afirma.
Para Cerqueira, o tema do aborto é o grande obstáculo à aproximação entre religiosas e feministas hoje.
Ela diz que cristãs simpáticas ao feminismo que expressem ressalvas ao aborto são duramente reprimidas por feministas.
"Eu acho que precisaria um pouco maisxbet cadastrocompreensão do lado feminista, porque a gente é formada com basexbet cadastroprincípios um pouco diferentes", afirma.
Para Cerqueira, "o feminismo hoje está dialogando com uma certa elite".
Ela própria não se considera plenamente feminista. "Eu gostoxbet cadastroter opiniões livres sobre os assuntos, mas eu consigo compreender plenamente a ideia do feminismo".
Sobre a disputa eleitoral, diz que "Bolsonaro tenta passar a imagemxbet cadastroque ele é cristão, mas ele na verdade não é".
"Ele encontrou no meio cristão uma formaxbet cadastroangariar pessoasxbet cadastroforma muito maldosa", afirma, citando as frequentes mençõesxbet cadastroBolsonaro a trechos bíblicos.
Sobre Lula, Cerqueira diz discordarxbet cadastrosuas "pautas morais", mas que "para o momento político do Brasil, ele seria uma opção mais viável".
Feminismo é elitista?
Para a escritora feminista Ruth Manus, o feminismo ainda é um movimento elitizado — algo que muitas mulheres têm tentado combater.
"É muito fácil se sentir excluído do movimento, sobretudo quando ele é liderado por mulheres brancas e muitas vezes por mulheres negras que também são professoras doutoras, o que é ótimo, mas não torna o debate inclusivo", afirma.
"Acho que o feminismo tem que estar aberto a essas críticas e tem que estar aberto a ouvir essas pessoas, porque são realidades que a gente não conhece", diz.
Apesar das falhas que Manus vê no feminismo, ela contesta a noçãoxbet cadastroque o movimento é incompatível com o Cristianismo. Para ela, é possível até a existênciaxbet cadastroum "feminismo evangélico", desde que o grupo busque aprimorar a situação das mulheres na sociedade.
Até mesmo a oposição das evangélicas ao aborto, segundo Manus, não deveria ser um impeditivo para que pertençam ao movimento.
"Eu acho que é possível, sim, se considerar uma feminista, mas que tenha uma ressalvaxbet cadastrorelação a um assunto. Mulheres que são contra o aborto, mas que, mesmo assim, elas acreditam na liberdade da mulher,xbet cadastroescolha,xbet cadastromuitos outros assuntos", diz.
Ainda assim, para ela, mulheres que se opõem ao aborto por razões religiosas não deveriam obrigar "uma sociedade inteira a estar sujeita à mesma Bíblia que você e ao mesmo Deus no qual você crê".
Segundo Manus, feministas e religiosos têm muitas bandeiras comuns.
"Existe na verdadeira alma cristã que residexbet cadastromuitos católicos exbet cadastromuitos evangélicos, existe um denominador que luta por igualdade, que luta por combater a marginalização. Então, se a gente não fizer essas pontes, a gente às vezes está lutando até por uma coisa comum que a gente não consegue enxergar", afirma.
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