O estudanteexbetMedicina que já estampou outdoor e hoje luta para se manter no curso:exbet

Janiel Sacramento

Crédito, Arquivo pessoal/Janiel Sacramento

Legenda da foto, Janiel Sacramento conseguiu passarexbetMedicinaexbetuniversidade estadual, mas tem dependidoexbetdoações para se manter estudando

Prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ao mesmo tempoexbetque cursou o ano final do ensino médio e tirou nota boa o suficiente para entrar na listaexbetespera da UESC, na cotaexbetestudante quilombola. A boa notícia veioexbetabril, quando Janiel pôde começar as aulasexbetMedicina.

"A escola pública muda vidas", diz o outdoor com a fotoexbetJaniel, comemorandoexbetaprovação - e que conhecidos dele já encontraramexbetcidades grandes da Bahia, como Salvador, Itabuna e FeiraexbetSantana.

"É gratificante que várias pessoas estejam vendo (o outdoor). Fiquei mais feliz ainda pelo motivo, que é incentivar os alunos das escolas públicas do Estado, dar um ânimo a alunos que possam estar pensandoexbetdesistir, que não estejam vendo a educação como transformadora", diz Janiel.

Outdoor com fotoexbetJaniel Sacramento

Crédito, Arquivo pessoal/Janiel Sacramento

Legenda da foto, SucessoexbetJaniel no Enem foi estampadoexbetoutdoor no seu Estado, a Bahia

O problema é que os desafios do jovem não pararam na aprovação, mesmo se tratandoexbetuma universidade pública.

Para cursar a UESC, Janiel precisou sair da casa da família e se mudar para Ilhéus. Sem dinheiro para custear por conta própria alimentação, materiais e o aluguelexbetR$ 600, o estudante diz que tem dependidoexbetdoações para continuar estudando.

"Estou sendo mantido por ajuda. Fiz uma vaquinha online, que não deu muito certo, mas teve gente que entrouexbetcontato comigo pedindo meu Pix e me ajudou", relata. "A gente luta tanto para conseguir a aprovação, e não imagina que o tormento vai continuar depois, mas continua — até mesmo piora."

Sem previsãoexbetreceber auxílio

Sem saber até quando as doações continuarão vindo, Janiel se inscreveu nos programasexbetauxílio financeiro da universidade e do governo do Estado. Os pedidos, diz ele, foram homologados, mas ele não sabe quando vai começar a receber o dinheiro. "Pela experiência dos veteranos, sai no segundo semestre", conta.

O casoexbetJaniel ilustra um problema que, segundo especialistas, é antigo, mas tem se tornado mais comum: a dificuldade crescenteexbetjovensexbetbaixa rendaexbetse manter no ensino superior, tanto público quanto privado,exbetum momentoexbetcrise tanto para famílias quanto universidades.

A crise é mais aguda nas instituições federais. Em sessão na Câmara dos Deputadosexbetjunho, dirigentes dessas instituições disseram que seu orçamentoexbet2022 está R$ 1 bilhão menor (sem contar a variação da inflação) do que antes da pandemia,exbet2019.

Além disso, enfrentarão um corteexbetsuas despesas discricionárias (não obrigatórias)exbet7,2% anunciado pelo governo federal.

Dados compilados por Gregório Grisa, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, no sistema Siga Brasil, sistemaexbetinformações sobre o orçamento público federal, mostram que a execuçãoexbetassistência estudantil nas instituições federais está no nível mais baixo desde 2013,exbetdecorrência da quedaexbetrepasses do Ministério da Educação.

As universidades estaduais, como a que cursa Janiel Sacramento, dependemexbetrecursosexbetcada Estado. "Mas há uma tendênciaexbetcerto enxugamento ou estagnaçãoexbetrecursos para assistência a estudantes", afirma Grisa, que pesquisa políticas educacionais e financiamento estudantil.

Enquanto isso, a renda média dos brasileiros é a menorexbetdez anos, segundo o Instituto BrasileiroexbetGeografia e Estatística (IBGE), com efeito mais significativo sobre as famílias mais pobres.

"Para a populaçãoexbetbaixa renda, é uma corda bamba entre comer e consumir ou ficar na faculdade", explica à BBC News Brasil Wilson Mesquita, pesquisadorexbetpolíticasexbetacesso e permanência no ensino superior e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).

Risco maiorexbetevasão

Vaquinha feita por Janiel

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Janiel fez uma vaquinha para se manter estudando enquanto não recebe auxílio estudantil

A tendência, nesse cenário, é que mais jovens desistam do ensino superior, seja porque não conseguem custearexbetpermanência ou porque precisam trabalhar.

É o casoexbetmuitos dos jovens acompanhados pelo projeto Salvaguarda, que ajuda alunosexbetbaixa renda no processoexbetvestibular e entrada no ensino superior.

"Sinto que aumentou entre os jovens, nos últimos anos, a necessidadeexbettrabalhar não porque querem ter uma renda extra, mas sim para compor a renda básicaexbetsubsistênciaexbetsuas famílias", diz ViníciusexbetAndrade, criador do Salvaguarda.

Nas universidades privadas, isso tem se traduzido, nos dois últimos anos, na maior taxaexbetevasão - 36% - da série histórica, segundo o Semesp, que reúne instituições do setor. Em números absolutos, o Semesp estima que quase 3,5 milhõesexbetestudantes tenham desistidoexbetseus cursosexbetuniversidades particularesexbet2021.

Os dados das universidades públicas virão à luz nos censosexbeteducação superior dos próximos anos. Mas,exbetum contextoexbetpandemia, crise econômica e mais restrições ao auxílio estudantil, a expectativa é tambémexbetalta na evasão, mesmo queexbetníveis mais baixos do que nas instituições privadas, diz Grisa.

"A literatura mostraexbetforma clara que o auxílio está muito ligado tanto à permanência (dos estudantesexbetbaixa renda) como também à melhoria do aprendizado", afirma o pesquisador. "Porque a ausência do auxílio gera ansiedade, insegurança - e,exbetcursos complexos, como Medicina, isso se intensifica. Infelizmente, nesse caminho atual, teremos, proporcionalmente, mais problemasexbetinclusão."

estudante

Crédito, AG BRASILIA

Legenda da foto, Com renda das famíliasexbetqueda e orçamento mais enxuto das universidades, previsão éexbetaumento na evasãoexbetestudantes

Para Wilson Mesquita, o risco é que o contexto atual faça retroceder o esforçoexbetdécadasexbetpolíticas públicas — como cotas raciais e programasexbetfinanciamento — para incluir jovens negros eexbetbaixa renda no Enem e na educação superior brasileira.

"Quando você dá acesso para o jovemexbetbaixa renda ao ensino superior, acontece uma revolução: ele muda a perspectiva da família, tantoexbetgeraçãoexbetrenda futura quanto no imaginário das pessoas ao seu redor", explica Mesquita.

Da mesma forma, "se esse aluno desistir do ensino superior, o efeito é desastroso — para o sonho do aluno e para todo o esforço da famíliaexbetmanter ele estudando. Isso frustra socialmente".

'Você precisaexbetalguma coisa?'

Janiel Sacramento, enquanto isso, diz que a satisfaçãoexbetestampar um outdoor e ser apontado como exemplo se mistura com a desilusão das dificuldades financeiras.

"Isso mexe, traz uma certa frustração. Eles (governo baiano) pediram permissão para usar minha imagem, mas não tentaram saber: 'beleza, você foi aprovado, sabemos do seu histórico, você precisaexbetalguma coisa?'", diz.

"Sei que é difícil, o governo não vai fazer isso para uma pessoa só. Mas não só pra mim, porque não sou só eu nessa situação. A insegurança financeira inviabiliza (a universidade) para muitas pessoas, porque você não vai ficar sem se alimentar, sem suprir suas necessidades básicas."

A SecretariaexbetEducação baiana informou à BBC News Brasil que desenvolve políticasexbetassistência e permanência para ajudar financeiramente os jovens que precisemexbetajuda.

Segundo a nota, o programa Mais Futuro já beneficiou maisexbet18 mil estudantes com bolsasexbetR$ 600 e R$ 300 desde 2017, e um novo edital estáexbetfaseexbetconclusão. Outro programa, Partiu Estágio, contratou maisexbet15 mil universitários,exbetacordo com a secretaria estadual.

No entanto, a assessoriaexbetimprensa do órgão não esclareceu quando é que jovens que tiveram seu benefício aprovado recentemente, como é o casoexbetJaniel, começarão a receber a ajuda. Nem esclareceu se os recursosexbetauxílio estudantil tiveramexbetser enxugados.

"Quase todas as universidades públicas têm auxílio para jovens, mas o problema é o intervalo entre o início do curso e o pagamento dos auxílios. Isso é cruel para quem éexbetbaixa renda. Porque qual jovem vai ter reserva financeira ou poupança para se manter nesse período?", questiona ViniciusexbetAndrade, do projeto Salvaguarda.

Apesarexbetestar vivendo com o dinheiro contado, mês a mês, a depender da chegada das doações, Janiel faz planos para a carreira que escolheu.

"Minha comunidade é muito carente, e acho que tenho muito a entregar. Acredito muito no potencial humanitário da Medicinaexbetimpactar a vida das pessoas positivamente. É o meu projetoexbetcarreira principal", diz ele.

- Texto originalmente publicadoexbethttp://vesser.net/brasil-62222214

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