Anos Rebeldes: os 30 anos da série que inspirou caras-pintadas e gerou reação do Exército:novibet cnpj

Cássio Gabus Mendes e Mallu Mader

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Legenda da foto, Cássio Gabus Mendes e Malu Mader protagonizaram a minissérie

"Sempre brincava com os meus colegas que tem personagemnovibet cnpjremar e outrosnovibet cnpjsurfar. Uns que parece que você vai entrar numa onda - não que sejam fáceis, mas fluem mais. E outros que temnovibet cnpjir buscar, laçar", explica.

"E a Maria Lúcia tinha um sentimentonovibet cnpjser muito individualistanovibet cnpjuma épocanovibet cnpjque era bacana você pensar no coletivo, no todo. Então, eu tinhanovibet cnpjcompreendê-la, ter empatia para poder fazê-la e gerar empatia nas pessoas. Remar um pouquinho."

Naquele anonovibet cnpj1992, Malu já era um dos maiores nomes da TV brasileira, tendo estrelado as novelas Fera Radical (1988) e Top Model (1989), enovibet cnpjescalação como a mocinhanovibet cnpjAnos Rebeldes não causou surpresa.

No programa da Globo, que colocaria o período da ditadura, a repressão dos governos militares à oposição e a guerrilha urbana no centro das ações, ela faria uma jovem que buscava segurança, contrária a arroubos políticos e apaixonada justamente por um militante do movimento estudantil, João Alfredo, interpretado por Cássio Gabus Mendes.

André Pimentel, Pedro Cardoso e Claudia Abreu

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Legenda da foto, André Pimentel, Pedro Cardoso e Claudia Abreunovibet cnpjcenanovibet cnpj'Anos Rebeldes'

O papelnovibet cnpjdestaque na minissérie remetia a outro folhetim do mesmo formato exibido pela emissora,novibet cnpjrepetiçãonovibet cnpjuma antiga parcerianovibet cnpjsucesso com Gilberto Braga.

Em Anos Dourados, exibidanovibet cnpjmaionovibet cnpj1986, levando às telas o Rionovibet cnpjJaneiro da décadanovibet cnpj1950, com seus bailesnovibet cnpjgala, preconceitos e repressões sexuais, a atriz interpretava Lurdinha. Principal personagem feminina da narrativa, ela era a normalista do Institutonovibet cnpjEducação que se envolvia com Marcos (Felipe Camargo), aluno do Colégio Militar.

Rejeitada pela famílianovibet cnpjLurdinha na trama, que não queria saber da garota namorar um "filhonovibet cnpjpais separados", a histórianovibet cnpjamor proibido do casal ganhou o público. Contadanovibet cnpj20 capítulos, alcançou segundo pesquisa do Ibope, uma audiência médianovibet cnpj38,3% dos domicílios sintonizados no programa no Rionovibet cnpjJaneiro enovibet cnpj35,3%novibet cnpjSão Paulo no horário das 22h.

Tal êxito rendeu a Braga uma proposta que o deixou intrigado. Como o autor contanovibet cnpjseu livro Anos Rebeldes - Os bastidores da criaçãonovibet cnpjuma minissérie (Rocco, 2010), os telespectadores passaram a lhe pedir uma continuação, desta vez situada nos anos 1960. "Sugeriam até o título da minissérie, Anosnovibet cnpjChumbo ou Anos Rebeldes."

A ideia pegounovibet cnpjvez emnovibet cnpjcabeça quando notou que ela poderia ser o elo finalnovibet cnpjuma trilogia começandonovibet cnpjAnos Dourados e terminando na novela Vale Tudo, outro arrasa-quarteirãonovibet cnpjsua lavra, apresentado pela Globonovibet cnpjjunhonovibet cnpj1988 a janeironovibet cnpj1989 como um painel do país no período logo após a redemocratização.

Como Braga também havia gostado do nome Anos Rebeldes foi, "ainda sem compromisso algum", atrásnovibet cnpjO que é isso, companheiro?, livronovibet cnpj1979 escrito pelo político e ex-guerrilheiro Fernando Gabeira, no qual ele conta suas experiências na luta contra a ditadura. Adorou a leitura e, aconselhado pelo psicanalista, partiu para a próxima. Era a veznovibet cnpjOs Carbonários,novibet cnpj1980 e autorianovibet cnpjoutro ex-militante da luta armada, Alfredo Sirkis (1950-2020).

Descortinava-se assim um novo mundo para Gilberto Braga,novibet cnpjsuas próprias palavras, um "alienado" do pontonovibet cnpjvista político nos anos 1960, alguém que à época "estava dentronovibet cnpjuma sala escura assistindo a um filme por dia".

Já com grande vontadenovibet cnpjescrever uma história passada no períodonovibet cnpjque o Brasil fora governado por militares, procurou o então vice-presidentenovibet cnpjoperações da Rede Globo e responsável pela direção da emissora, José Bonifácionovibet cnpjOliveira Sobrinho, o Boni, para saber o que achava da ideianovibet cnpjele trabalhar com o tema da ditadura.

Boni gostou e disse a Braga para prosseguir.

Os atores Gianfrancesco Guarnieri, Emílionovibet cnpjMello, Marcelo Serradonovibet cnpjcena da novela

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Legenda da foto, Os atores Gianfrancesco Guarnieri, Emílionovibet cnpjMello, Marcelo Serradonovibet cnpjcena da série

Se o projeto poderia ser visto como uma continuaçãonovibet cnpjAnos Dourados, o autor tinha na ponta da língua a diferença entre as duas.

"Anos Dourados é uma história contra a hipocrisia. Anos Rebeldes é contra o autoritarismo e a intolerância, exemplificados pela ditadura militar", disse elenovibet cnpjentrevista ao repórter Luís Antônio Giron, publicadanovibet cnpj14novibet cnpjjulhonovibet cnpj1992, dia da estreia do programa, no jornal Folhanovibet cnpjS.Paulo.

A ditadura e a perseguição política na TV

No livro sobre Anos Rebeldes, que contém o roteiro integral da minissérie, uma listanovibet cnpjcenários e locações e até pequenos perfis dos personagens, alémnovibet cnpjdepoimento do autor, Gilberto Braga comenta que Boni teria dado o aval por saber que ele não era nada politizado.

"Não acredito que ele desse sinal verde, por exemplo, para Dias Gomes [1922-1999]", escreve Braga, citando o dramaturgonovibet cnpjformação comunista e responsável por tramas como O Bem-Amado, O Pagadornovibet cnpjPromessas e Roque Santeiro, esta proibidanovibet cnpjestrear na Globo pela ditadura,novibet cnpj1975, já com 36 capítulos gravados e editados.

"Creio que com Dias ele teria medo. Comigo, ele deve ter pensado que a possibilidadenovibet cnpjhaver problemas seria menor."

O regime militar tinha chegado ao fim com a eleição do civil Tancredo Neves (1910-1985) para a Presidência da República e a posterior possenovibet cnpjJosé Sarney, e a TV começava a abordar a ditaduranovibet cnpjforma mais aberta.

Antes de Anos Rebeldes, por exemplo, a novela Rodanovibet cnpjFogo (1986) tivera entre seus personagens uma ex-guerrilheira e perseguida política chamada Maura Garcez, interpretada por Eva Wilma (1933-2021), e o secretárionovibet cnpjum advogado, Jacinto (papelnovibet cnpjCláudio Curi), que fora um torturador. No folhetimnovibet cnpjLauro César Muniz exibido pela Globo, no entanto, os anosnovibet cnpjchumbo não estavam no centro do principal conflito narrativo.

Mila Moreira, Cássio Gabus Mendes, Bete Mendes, Malu Mader

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Legenda da foto, Mila Moreira, Cássio Gabus Mendes, Bete Mendes e Malu Mader integram o elenco

O professor do programanovibet cnpjpós-graduaçãonovibet cnpjComunicação e Cultura da Universidade Federal do Rionovibet cnpjJaneiro (UFRJ) e autornovibet cnpjlivros como Dias Gomes: Um intelectual comunista nas tramas comunicacionais (Pedro & João Editores, 2015) Igor Sacramento lembra aindanovibet cnpjMandala (1987), novelanovibet cnpjautoria do escritor baiano que foi ao ar também na Globo.

"A personagemnovibet cnpjJocasta, na primeira fase interpretada por Giulia Gam, é estudantenovibet cnpjSociologia muito envolvida com o movimento estudantil e filhanovibet cnpjum militante comunista [vivido por Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006)]. Há [na trama], alémnovibet cnpjimagens da ditadura, certo conflitonovibet cnpjgeração entre formasnovibet cnpjesquerda", diz ele à BBC News Brasil.

Mas, no novo projetonovibet cnpjGilberto Braga, a situação política da época retratada estava exposta.

Produzida após a promulgação da Constituiçãonovibet cnpj1988, que garantia a liberdadenovibet cnpjexpressão "da atividade intelectual, artística, científica enovibet cnpjcomunicação, independentementenovibet cnpjcensura ou licença", a minissérie já começava com uma cenanovibet cnpjassalto a banco, típica dos tempos da guerrilha urbana.

Para contar essa história, Braga decidiu convocar o amigo e roteirista Sérgio Marques, ex-alunonovibet cnpjDireito da UFRJ e militante do movimento estudantil nos anos 1960.

Os dois a escreveram entre 1990 e 1992, para o horário das 22h30. Em 20 capítulos, com direção geralnovibet cnpjDennis Carvalho, o programa cobriria o turbulento período do Brasil que vainovibet cnpj1964, ano do golpe militar, a 1979, quando foi assinada a Lei da Anistia.

Nos créditos da atração havia ainda o documentarista Silvio Tendler, encarregadonovibet cnpjfazer os clipes filmadosnovibet cnpjpelículanovibet cnpj16mm,novibet cnpjpreto e branco, e que mesclavam sequências dos personagens com imagensnovibet cnpjarquivo da época, uma mistura da ficção com a história.

Nestes painéis, acompanhados por músicas daquele momento, apareciam registros como a eleiçãonovibet cnpjEmílio Garrastazu Médici (1905-1985) para a Presidência da República e a morte do líder da organização Ação Libertadora Nacional, Carlos Marighella (1911-1969).

Em entrevista aos pesquisadores Eduardo Morettin e Mônica Almeida Kornis, para o projeto "Cinema e História no Brasil: estratégias discursivas do documentário na construçãonovibet cnpjuma memória sobre o regime militar",novibet cnpj2015, o cineasta conta quenovibet cnpjentrada na equipe se deu graças a um encontro casual com Dennis Carvalho, a quem já conhecia, emum cafénovibet cnpjCopacabana, no Rionovibet cnpjJaneiro.

"Ele devia estar saindo do psicanalista, completamente encucado. Eu: 'E aí, Denis, tudo bom?'. Ele: 'Tudo bom'. Me tratou como um transeunte puxando o saconovibet cnpjuma estrelanovibet cnpjTV. Fiquei na minha, e aí ele virou e disse: "Silvio Tendler?! Rapaz, eu estava precisando falar contigo! A gente vai fazer uma minissérie e quer trabalhar contigo!"

Era o começo dos anos 1990, ainda assim Gilberto Braga tevenovibet cnpjlidar com interferências internas na Globo. Ele mesmo admitiunovibet cnpjentrevistas, na época, que reescrevera partesnovibet cnpjalguns capítulos. No livro sobre Anos Rebeldes, ele detalhou o processo.

Escalado por Roberto Marinho (1904-2003) para ler o roteiro, o jornalista e então assessor da presidência da Globo Cláudio Mello e Souza (1935-2011) havia dado um parecer que, do décimo ao décimo quarto capítulo, os autores estavam carregando nas tintas políticas.

Braga, então, negociou com Boni e fez ajustesnovibet cnpjpassagens da trama. Em uma delas, que o autor lamenta ter cortado, a personagem Maria Lúcia era paradanovibet cnpjuma blitz e, na abordagem, um policial erguia um pouconovibet cnpjsua saia com o cassetete quase até a calcinha.

De modo geral, porém, Gilberto Braga não considerava grandes as alterações. "O que mudamos não prejudicou o programanovibet cnpjnada."

Sessãonovibet cnpjfilmes e depoimentonovibet cnpjBete Mendes

Bete Medes e Malu Mader

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Legenda da foto, A atriz Bete Mendes (à esquerda) participou da organização VAR-Palmares, que lutava contra a ditadura, e viveu Carmen na série, a mãenovibet cnpjMaria Lúcia

Anos Rebeldes não se inspirou só nos livrosnovibet cnpjFernando Gabeira,novibet cnpjAlfredo Sirkis enovibet cnpj1968: O Ano que não terminou (Objetiva, 1988), do jornalista Zuenir Ventura.

Gilberto Braga recorreu também ao cinema,novibet cnpjgrande paixão desde a infância.

Um dos filmes era Desaparecido: Um Grande Mistério (com o título originalnovibet cnpjMissing),novibet cnpj1982, dirigido por Costa-Gavras e que contava a história da busca por um escritor americano que sumianovibet cnpjmeio ao golpenovibet cnpjEstado no Chile,novibet cnpj1973.

O outro era dos preferidosnovibet cnpjMalu Mader. "Parece Sessão da Tarde, mas é uma graça, com Barbra Streisand e Robert Redford, chamado Nosso Amornovibet cnpjOntem, [de 1973, direçãonovibet cnpjSidney Pollack (1934-2008)]", conta à BBC News Brasil.

"Era exatamente um casal que se ama loucamente, mas um era mais individualista, e ela, mais ativista. Aquilo virava um conflito intransponível", diz, comparando as divergências que os personagens Maria Lúcia e João Alfredo também tinham.

Ela destaca ainda uma reunião ocorrida na casanovibet cnpjDennis Carvalho,novibet cnpjque Bete Mendes falou a respeitonovibet cnpjsua militância política na época retratada no folhetim. A atriz havia integrado a organização VAR-Palmares e, na minissérie, viveu Carmen, a mãenovibet cnpjMaria Lúcia.

"Sempre amei a Bete Mendes. Sabia que ela tinha participado do combate à ditadura, que tinha sido presa, torturada, mas nunca tinha escutado ela contando", recorda-se Malu.

A conversa marcou Cássio Gabus Mendes. "A Bete passou um inferno e se dispôs a fazer um depoimento para um gruponovibet cnpjpessoas. Foi impressionante", relembra o atornovibet cnpjentrevista à BBC News Brasil. "Quando você se aproxima dessas pessoas e elas se dispõem a isso, aquela história toda volta na cabeça dela. Então, ela tem uma emoção e uma dor impressionantes."

Heloísa, a personagem redonda

Em 14novibet cnpjjulhonovibet cnpj1992, uma terça-feira, o primeiro capítulo entrou no ar, acompanhando quatro alunos do colégio Pedro 2º, onde o próprio Gilberto Braga havia estudado.

Os amigos João Alfredo, Edgar (Marcelo Serrado), Waldir (André Pimentel) e Galeno (Pedro Cardoso) sonhavam com o cinema, uma vida melhor, o homem na Lua, a estabilidade econômica e a revolução, cada um ànovibet cnpjmaneira, conforme a trama avançava.

A abertura era acompanhadanovibet cnpjAlegria, Alegria,novibet cnpjCaetano Veloso, e o programa ainda tocava clássicos como Monday, Monday, da banda The Mama's & The Papa's, e Call Me, cantada por Chris Montez.

Sem contar a incursãonovibet cnpjfaixasnovibet cnpjalguns momentos específicos da trama, caso de Como Nossos Pais,novibet cnpjBelchior (1946-2017), na voznovibet cnpjElis Regina (1945-1982).

"A trilha sonora é fundamental, porque ambientaliza a ação no tempo e no espaço, e cria o clima perfeito para as cenas", afirma o críticonovibet cnpjTV Nilson Xavier à BBC News Brasil.

Para a professora da Escolanovibet cnpjComunicações e Artes, da Universidadenovibet cnpjSão Paulo (ECA-USP), Maria Cristina Mungioli, Anos Rebeldes fez partenovibet cnpj"um momentonovibet cnpjouro da televisão brasileira". Nem por isso ganha o rótulonovibet cnpjdatado.

"Acho que a atualidade da minissérie estánovibet cnpjmanter vivo aquele períodonovibet cnpjcontestação,novibet cnpjluta armada diantenovibet cnpjum governo opressor", diz à BBC News Brasil. "Refresca a nossa mente e nos faz perceber que muitas formasnovibet cnpjconduzir a política se mantêm."

Cláudia Abreu como Heloísa

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Legenda da foto, Cláudia Abreu viveu Heloísa, uma das personagens mais emblemáticas da série

Autoranovibet cnpjuma tesenovibet cnpjdoutoradonovibet cnpjCiências da Comunicação a respeitonovibet cnpjoutro folhetimnovibet cnpjmesmo formato, Grande Sertão: Veredas, exibido pela Globonovibet cnpj1985, a professora assistia a Anos Rebeldes de olho nas aventurasnovibet cnpjuma personagemnovibet cnpjespecial. "Ficava querendo saber muito mais o que estava acontecendo com a Heloísa."

A moça interpretada por Cláudia Abreu era uma personagem "redonda", nas palavrasnovibet cnpjMungioli.

"Ela tinha um apelo muito forte por esse fatornovibet cnpjtransformação. Tinha uma vidanovibet cnpjglamour, andava com roupa da moda e, então, começa a se despir desse figurino", diz a professora. "E a minissérie mostra a transformação dela. De talvez um pouco individualista para a aquisiçãonovibet cnpjconsciência do momento históriconovibet cnpjque vive."

A guerrilheira sofreu tortura ao ser presa e não teve final feliz. A cenanovibet cnpjque abre a camisa e mostra os seios com queimadurasnovibet cnpjcigarro a seu pai, o empresário Fábio, financiador do golpe militar - vivido por José Wilker (1946-2014) - foi uma das mais marcantes da atração.

Em artigo publicado na ediçãonovibet cnpj24novibet cnpjagostonovibet cnpj1992 da Folhanovibet cnpjS.Paulo, Cláudia Abreu discorreu sobre como criou a heroína que ganhou o coraçãonovibet cnpjboa parte da audiência que,novibet cnpjacordo com o Ibope, tinha médianovibet cnpj24 pontos na Grande São Paulo (cada um dos pontos correspondendo a 39.790 domicílios à época).

"Quis fazer uma Heloísa alto astral para mostrar que ninguém é uma coisa só. Ela pode ser engajada, passar por altas barras, mas sem perder a alegrianovibet cnpjviver. Pode virar militante sem perder o humor, sem ficar amarga", explicou a atriz.

Assinado por ela e sob o título "Minha geração está mostrando anovibet cnpjcara", o texto também trouxenovibet cnpjvisãonovibet cnpjrelação aos protestosnovibet cnpjestudantes que pediram a saídanovibet cnpjFernando Collor do Planalto e sacudiram as capitais brasileirasnovibet cnpjmeio ao avanço da CPI que investigou o presidente.

Cláudia escreveu estar "arrepiada" e "honrada" com as manifestações, sem pretensãonovibet cnpjachar que havia causado a movimentação. "Podemos até ter contribuídonovibet cnpjalguma forma. Mas quem provocou isso tudo foi o momento político e moral do país. Foi ele quem levou as pessoas às ruas."

Pelo papel, Cláudia Abreu recebeu o troféu da Associação Paulistanovibet cnpjCríticosnovibet cnpjArte (APCA), na categoria Televisão,novibet cnpj1992,novibet cnpjmelhor atriz.

Das telas para as ruas

Ficou famosa uma imagem feita pela fotógrafa Luciana Whitakernovibet cnpjprotesto no dia 14novibet cnpjagostonovibet cnpj1992, na avenida Rio Branco, no Rionovibet cnpjJaneiro. Em meio aos manifestantes, havia uma faixa com a inscrição "Anos Rebeldes, Próximo Capítulo: Fora Collor! Impeachment já!"

Aquela sexta-feira era o último dianovibet cnpjexibição da minissérie e, na quinta-feira anterior,novibet cnpjsolenidade no Palácio do Planalto, o presidente Fernando Collor havia conclamado a população a vestir no domingo "alguma peçanovibet cnpjroupa numa das cores da nossa bandeira" para apoiá-lo.

Collor acabou afastado do cargo pela Câmara com o placarnovibet cnpj441 votos a 38,novibet cnpj29novibet cnpjsetembro,novibet cnpjmeio às denúncias e pressão cada vez maior das manifestações nas ruas.

Naquele clima, apesarnovibet cnpjter sido convidado para um dos protestos, Cássio Gabus Mendes não aceitou. "Eu falei 'olha, desculpa. Primeiro, estou trabalhando para caramba, não tenho como fazer isso. E segundo, que tem uma confusão aí, né?'", conta ele.

Cássio Gabus Mendes e Malu Mader

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Legenda da foto, Minissérie marcou as carreirasnovibet cnpjCássio Gabus Mendes e Malu Mader

"Eu era absolutamente a favor do movimento, sem dúvida nenhuma. Mas, na minha posição, ficava uma coisa quase ficcional. Eu não podia realmente participar. Podia até não ser produtivo pra esse movimento. 'Ô, fulano, olha o João Alfredo aí'. Sabe?", recorda-se.

O ator vê a exibição da minissérie casada à explosãonovibet cnpjprotestos como uma coincidência. Afirma, contudo, perguntar-se até hoje da real influência do programa. "Será que isso pode ter colaborado um pouco? Acredito que sim, mas acho que ali a consciência das pessoas era mais forte do que isso."

Para Malu Mader, foi um momentonovibet cnpjsurpresa e satisfação. "Acho que nós não fomos os responsáveis por essa mudança, por esse pedidonovibet cnpjimpeachment. Mas,novibet cnpjalguma forma, contribuímos", diz. "Aquilo deu uma sensação tão boa como artista, como atriznovibet cnpjtelevisão."

Questionada se também foi convidada a ir às ruas, ela afirma não se lembrar, não sem antes brincar com a famanovibet cnpjindividualistanovibet cnpjMaria Lúcia, seu papel na atração. "Eu não podia estar na passeata. Não merecia", diz, aos risos.

Engana-se, porém, quem imagina que os caras-pintadas foram os únicos a utilizar o programanovibet cnpjforma política. Em 17novibet cnpjjulho, apenas três dias depois da estreia da minissérie, os militares soltaram uma nota com o título "A história que não foi contada".

Ainda que não fizesse qualquer referência ao nome da minissérie, o texto do Centronovibet cnpjComunicação Social do Exército criticava os "revisionistasnovibet cnpjplantão" e defendia a "Revolução Democráticanovibet cnpj1964" como um "movimento que, cumpre enfatizar, foi deflagrado pelo clamor popular". De acordo com as Forças Armadas, tais momentos vinham sendo "reescritos segundo ótica deturpada, porquanto tendenciosa".

No livro sobrer Anos Rebeldes, Gilberto Braga escreveu a respeito das reclamações do Exército. "Embora não seja panfletário, tende nitidamente para o lado da antiga esquerda, ou seja, contamos uma história a partir do pontonovibet cnpjvista dos esquerdistas, e não me envergonho disso. Era a primeira vez que uma emissoranovibet cnpjTV se dispunha a levar ao ar, na dramaturgia, uma abordagem séria sobre a ditadura militar brasileira. Não seria eu a dar a versão da direita, que até hoje chama o golpenovibet cnpj'revolução'."

No último capítulo, a personagem Heloísa foi metralhada por um militar ao tentar passar por uma blitz e se identificar,novibet cnpjmeio ao movimentonovibet cnpjbuscar um documento na bolsa.

O episódio final emociona Malu Mader até hoje. "Acho um acerto no alvo. E ainda tem aquele desfecho da Maria Lúcia com o João Alfredo", relembra.

"Ele fala 'numa coisa eu acho que você tinha razão', e ela se enchenovibet cnpjanimação pra falar 'puxa, ele vai me dar razão ao menos uma vez'. E ele fala Sabiá [cançãonovibet cnpjChico Buarque e Tom Jobim (1927-1994), que ganhou o Festival Internacional da Cançãonovibet cnpj1968] era mais bonita [do que Pra Não Dizer que Não Falei das Flores,novibet cnpjGeraldo Vandré]".

Na visão dela, era o ponto alto da trama. "Ali, o Gilberto resume a minissérie inteira. Na última fala do João Alfredo. Esse era o conflito deles. Não era só ético, era estético também."

- Texto originalmente publicadonovibet cnpjhttp://bbc.co.ukhttp://vesser.net/brasil-62157595

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