'Meu marido me proibiucasino rodadas gratisfazer laqueadura, mesmo após 5ª gestação':casino rodadas gratis

Monica teve mais um filho, totalizando três homens e três mulheres.

A Câmara dos Deputados aprovoucasino rodadas gratismarço, e o Senado no dia 10casino rodadas gratisagosto, um projetocasino rodadas gratislei que derruba a obrigaçãocasino rodadas gratisconsentimento entre marido e mulher para a realizaçãocasino rodadas gratislaqueadura, no caso delas, e da vasectomia, no caso dos homens.

O texto também prevê a permissão da laqueadura durante o parto, para juntar os dois procedimentos, minimizando sequelas decorrentes das cirurgias.

O projeto também prevê a diminuiçãocasino rodadas gratis25 para 21 anos a idade mínima para fazer o procedimento. Para virar lei, ele ainda precisa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Caso essa lei já tivesse sido aprovada há algumas décadas, Monica, hoje com 43 anos, acredita que teria feito outras escolhas.

"Vivemoscasino rodadas gratistempos diferentes. Mas se eu pudesse olhar no espelho, eu diria para mim mesma: 'vai estudar e buscar uma profissão. Vai se amar mais ainda, se valorizar'. Eu também não teria me casado tão cedo. Teria cuidado maiscasino rodadas gratismim mesma", afirmou.

Monica conta que o casal discutiu diversas vezes por conta das constantes negativas do maridocasino rodadas gratispermitir a laqueadura. Ela lembra que, depoiscasino rodadas gratismuitas brigas, ele finalmente aceitou receber atendimento médico para fazer uma vasectomia. Mas, sem conseguir agendar uma consulta no sistema públicocasino rodadas gratissaúde, o procedimento não foi realizado "e o sexto filho veio".

Deixavacasino rodadas gratiscomer para dar leite aos filhos

Moradoracasino rodadas gratisuma favelacasino rodadas gratisSão Paulo, Monica diz que a família enfrentou dificuldade financeira e chegou a "faltar alimento".

"A gente passou por muita dificuldade financeira. Com tanta criançacasino rodadas gratiscasa na época, só o meu marido, que é porteiro, podia trabalhar. A gente teve mais filhos e a situação começou a apertar. Passamos a ter que escolher: a gente comia ou alimentava os filhos", afirmou.

Na época, o maridocasino rodadas gratisMonica começou a trabalharcasino rodadas gratisdois empregos para complementar a renda. Mesmo assim, enquanto a favela se desenvolvia e a maior parte dos moradores passou a erguer casascasino rodadas gratisalvenaria, a família continuou vivendo num barracocasino rodadas gratismadeira.

"Imagine não ter leite para dar aos filhos. A gente usava só roupas doadas. As contas apertaram a pontocasino rodadas gratisfaltar alimento. Algumas vezes, fomos à casa da minha cunhada para encher a mamadeira com leite para dar aos nossos filhos com fome", lembrou a cuidadora.

Depois do quarto filho, contou Monica, começaram as primeiras discussões com o marido por conta da ideiacasino rodadas gratisfazer uma laqueadura. Ele ficou desempregado e o que salvou a famíliacasino rodadas gratisuma situação ainda mais desesperadoracasino rodadas gratisfome foi a renda que o filho mais velho conseguiu, após ser contratado como atendentecasino rodadas gratisuma bancacasino rodadas gratisjornal.

"Ele (filho) praticamente sustentou a nossa casa. Meu marido passou a usar o carro que a gente tinha para fazer carreto e eu fiz bicos faxinando e cuidandocasino rodadas gratiscrianças. Fiz o que pude pelos meus filhos."

Hoje, ela conta que a família está numa situação bem melhor, com a maior parte dos filhos trabalhando.

Ela acredita que esse projeto para realizar a laqueadura sem a permissão do marido é apenas um passocasino rodadas gratisbenefício das mulheres.

'Portacasino rodadas gratisentrada'

Lílian Leandro, diretora-executiva do Instituto Planejamento Familiar, afirmou que a dificuldadecasino rodadas gratisacesso à laqueadura causa um impacto profundo na vida das mulheres mais pobres.

"Isso é uma portacasino rodadas gratisentrada para diversos outros problemas, como aumento da pobreza, criminalidade e violência doméstica. Gravidez na adolescência, por exemplo, faz garotas deixarem a escola. Essa evasão faz com que a gente tenha um graucasino rodadas gratisescolaridade menor e mais gastos públicos. Nós temos um custo anualcasino rodadas gratisR$ 4,1 bilhões por conta da gravidez não planejada,casino rodadas gratisacordo com estudo publicado na National Library of Medicine, nos Estados Unidos."

Para Lílian, a possível sanção do presidente traz avanços, mas ainda não resolve o problema do planejamento familiar no Brasil.

"Precisamoscasino rodadas gratisinformações sistematizadas ecasino rodadas gratisagilidade nesses processos. Recebemos muitos relatoscasino rodadas gratisdificuldadecasino rodadas gratisagendamento e até na realização do procedimento. O que tem que prevalecer é a vontade e o direitocasino rodadas gratisescolha que definirão o futuro da mulher. Quando e quantos filhos ela quer ter", argumentou Lílian.

Mudanças no corpo e problemascasino rodadas gratissaúde

Além dos problemas financeiros ecasino rodadas gratisplanejamento familiar, Monica conta que as gestações também causaram diversos problemascasino rodadas gratissaúde.

"O corpo sente as mudanças. Com elas, surgem os problemascasino rodadas gratissaúde. Depois do meu quarto filho, o médico disse que eu morreria se passasse por mais um parto. Isso também me trouxe consequências emocionais. Precisei ter jogocasino rodadas gratiscintura para cuidarcasino rodadas gratiscasa, filhos, marido e igreja. Você fica sempre por último porque a prioridade são eles", disse a donacasino rodadas gratiscasa.

Ela disse que, depoiscasino rodadas gratistantas gestações, sentiu o corpo "desmontar".

"Os órgãos não aguentam. Dói tudo. É uma pessoa crescendo dentrocasino rodadas gratisvocê, então isso mexe com tudo, fora e dentro", conta ela.

Monica disse ter passado a "viver", depoiscasino rodadas gratister completado 40 anos, quando a maior parte dos filhos chegou à idade adulta. Ela conta que se casou com 18 anos, quando estava grávida do primeiro filho. Seis anos depois, ela já tinha quatro. Mas, na época, o casal nem cogitava fazer uma laqueadura.

"Quando a gente casou, não podíamos fazer uma operação ou usar outro métodocasino rodadas gratisevitar filhos. Conforme fomos nos envolvendo na nossa igreja, a Assembleiacasino rodadas gratisDeus, essas regras entraram na cabeça do meu marido e na minha. Só depois do sexto filho, a gente caiu na real. Mas aí já era tarde", disse.

A donacasino rodadas gratiscasa disse que essa doutrinacasino rodadas gratisproibir contraceptivos definitivos foi derrubada, e que hoje é seguida apenas por poucas pessoas que frequentam a mesma igreja que ela.

"Mas ainda tem pessoas com isso na cabeça. Pensam que a mulher foi feita para ter filhos e encher a casa. Muitos evangélicos ainda têm essa mentalidade."

A especialistacasino rodadas gratisplanejamento familiar Lílian Leandro explica que, atualmente, para conseguir fazer laqueadura depoiscasino rodadas gratisum partocasino rodadas gratisrisco, a mulher precisacasino rodadas gratisum laudo assinado por dois médicos para validar que ela pode morrer, caso tenha mais um filho.

"Eles vão colocando obstáculos e muitas vezes a mulher desiste. Muitas não têm dinheiro para condução ou com quem deixar o filho. Quando aprovam, ainda pedem 30 diascasino rodadas gratisprazo para realizar o procedimento. A intenção é que a paciente tenha mais tempo para refletir, por se tratarcasino rodadas gratisum procedimento irreversível. Falam isso para uma pessoa com maiscasino rodadas gratis25 anos e pelo menos 2 filhos", afirmou Lílian.

Ela vê esse processo como uma faltacasino rodadas gratisrespeito à decisão da mulher, principalmente as mais pobres.

"A gente não vê casos assim nas classes A e B. As dificuldades que as mulheres menos favorecidas têmcasino rodadas gratisacesso à Leicasino rodadas gratisPlanejamento Familiar é muito grande. As mulheres que têm condições vão para o hospital e fazem o parto, pelo planocasino rodadas gratissaúde ou rede particular, e já fazem a laqueadura junto com a cesária quando a indicação clínica da mãe evolui para isso", afirmou.

Já as mães mais pobres, explica ela, precisam voltar para a fila do SUS após o parto para fazer um novo procedimento. Lílian conta que, muitas vezes, elas já estão grávidas novamente quando a laqueadura é finalmente agendada.

'Não me arrependo'

Ao comentar o passado e refletir se tomaria outras decisões caso tivesse a mentalidade que possui hoje, Monica disse que gostariacasino rodadas gratister apenas dois filhos.

"Eu não teria tantos filhos. Os mais velhos passaram aperto mesmo. Como temos essa lei, ou ele (marido) assinaria para permitir a laqueadura ou casaria com outra pessoa. Isso acontece por culpa dos maridos e da sociedade. Vivemoscasino rodadas gratisum mundo machista no qual a mulher tem que parir e estar sempre disponível", afirmou.

A donacasino rodadas gratiscasa faz questãocasino rodadas gratisdeixar clara a felicidadecasino rodadas gratister cada umcasino rodadas gratisseus filhos.

"Eu não me arrependocasino rodadas gratister os meus filhos. Eles são tudo o que eu tenho. A maternidade é o momento mais especialcasino rodadas gratisuma mulher. É quando uma pessoa saicasino rodadas gratisdentrocasino rodadas gratisvocê, cria asas e voa. Mas isso me fez pararcasino rodadas gratisestudar e nessa parte me arrependo. Meus filhos foram um impedimento na minha vida. Com as condições que a gente tinha, precisei pararcasino rodadas gratistrabalhar para cuidar deles e deixar meu marido trabalhar para tentar sustentá-los", afirmou.

Ela conta que não quer que as três filhas passem pela mesma situação e diz que as orienta com frequência. A mais velha teve o primeiro filho com 21 anos,casino rodadas gratis2021. A mãe aconselha para que ela tenha, no máximo, mais um.

"Não quero me meter na vida delas, mas elas precisam ser independentes. Ser diferentecasino rodadas gratismim. Quero que elas estudem, trabalhem e tenham profissão", afirmou.

A deputada autora do projeto, Carmen Zanotto (Cidadania-SC), dissecasino rodadas gratisentrevista à BBC News Brasil que acredita na sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela apresentou o projetocasino rodadas gratis2014.

A deputada afirmou que, após a aprovação, os maiores desafios serão fazer com que a população tenha conhecimentocasino rodadas gratisseus direitos e os reivindiquem nos serviçoscasino rodadas gratissaúde - e que o governo os cumpra.

"O SUS tem capacidade para atender a todos esses casos. Só será necessário priorizar os mais urgentes. As pessoas precisam conhecer e cobrar os seus direitos."

Carmen afirma que esse projeto é um grande avanço para a vida dessas mulheres. "Quantas 'Monicas' como a que você entrevistou nós temos? São mulheres que gostariamcasino rodadas gratister direitocasino rodadas gratisescolha e tomadacasino rodadas gratisdecisão. Isso não é controlecasino rodadas gratisnatalidade. É dar o mesmo direito a todos".

*A BBC News Brasil optou por ocultar o identidade da entrevistada

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