Por que a Caatinga vive explosãocassino com ngmnúmerocassino com ngmqueimadas:cassino com ngm

Incêndio na Caatinga

Crédito, SSPDS-CE

Legenda da foto, Bombeiros apagam incêndio na Caatinga no Ceará

Entre 1985 e 2019, o tamanho da área desmatada na Caatinga cresceu 27,4%.

Hoje, há ainda 46,5% da vegetação nativa original do bioma, segundo o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil.

Fogo e desertificação

Comocassino com ngmoutros biomas, o fogo é geralmente usado na Caatinga para "limpar" uma área antes do plantio.

O problema é que as chamas acabam intensificando a degradação do solo do bioma, que já é naturalmente pobre. E isso limitacassino com ngmvida útil para a agricultura e estimula a busca por novas áreas quando ele se esgota. Além disso, muitas vezes o fogo foge do controle.

Segundo o Laboratóriocassino com ngmAnálise e Processamentocassino com ngmImagenscassino com ngmSatélite da Universidade Federalcassino com ngmAlagoas (Ufal), 13% da Caatinga estácassino com ngmprocesso avançadocassino com ngmdesertificação. E as queimadas são uma das principais causas dessa desertificação, ao lado do desmatamento, do pastoreio intenso e das mudanças climáticas.

A Caatinga é o quarto maior bioma brasileiro, abarcando 11% do território nacional e parte dos seguintes Estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.

A região tem clima semiárido e vegetação adaptada a a secas intensas.

Em 2021, o Piauí foi o Estado com mais focoscassino com ngmincêndio na Caatinga (32,3%), seguido pela Bahia (26,1%), Ceará (16,8%), Pernambuco (8%), Rio Grande do Norte (6,8%), Paraíba (3,9%), Sergipe (2,2%), Alagoas (2,1%), Minas Gerais (1,4%) e Maranhão (1,1%).

Entre os dez municípios com mais focos, seis ficam no Piauí. O primeiro da lista, Floriano (PI), responde por um quartocassino com ngmtodas as queimadas ocorridas na Caatingacassino com ngm2021.

Convivendo com o Semiárido

Caatinga preservada

Crédito, Fundação Joaquim Nabuco

Legenda da foto, Área preservadacassino com ngmCaatingacassino com ngmSão Raimundo Nonato, no Piauí

João Evangelista Santos Oliveira é o coordenador no Piauí da ASA (Articulação do Semiárido Brasileiro), uma redecassino com ngmassociações rurais que pregam a convivência com o Semiáridocassino com ngmoposição ao conceitocassino com ngm"combate à seca", que por décadas norteou as políticas públicas para a região.

Segundo ele, o período chuvoso deste ano se encerrou mais cedo que o normal, o que tem facilitado a ocorrênciacassino com ngmqueimadas.

Oliveira diz que o fogo costuma ser ateadocassino com ngmforma intencional para preparar a terra para o plantio.

As queimadas, segundo ele, são provocadas tanto por pequenos agricultores, que seguem métodos tradicionais, quanto por grandes proprietários, que buscam expandir cultivos mecanizadoscassino com ngmcommodities agrícolas, como soja, milho e algodão.

Mas muitas vezes as chamas fogem do controle e atingem áreas vizinhas. Os incêndios são alimentados pela grande quantidadecassino com ngmfolhas secas na vegetação nativa nesta época do ano.

Oliveira afirma que pequenos agricultores têm sido orientados a substituir os métodos tradicionais que empregam queimadas por técnicas agroecológicas.

"Estamos tentando desconstruir o mitocassino com ngmque, com as queimadas, os solos ficam férteis", diz Oliveira, que é também o representante no Piauí da Cáritas, um braço da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Nas técnicas agroecológicas, a matéria orgânica não é queimada, e sim deixada sobre o solo, o que ajuda a mantê-lo úmido e ampliacassino com ngmfertilidade.

Já o combate às queimadas ligadas à expansão da fronteira agrícola exige maior empenho dos órgãoscassino com ngmfiscalização, defende Oliveira.

Avanço do agronegócio no Piauí

Imagenscassino com ngmsatélite mostram o avanço do agronegócio rumo ao interior do Piauí. No sudoeste do Estado, boa parte do Cerrado original já deu lugar a grandes plantaçõescassino com ngmsoja, milho e algodão.

Oliveira diz que, quando as áreascassino com ngmCerrado disponíveis no Estado começaram a rarear, grandes proprietários rurais passaram a comprar terras mais a leste, na transição entre o Cerrado e a Caatinga.

"Agora, já começamos a ver soja na Caatinga", ele diz.

Floriano (PI), município que lidera o rankingcassino com ngmqueimadas na Caatingacassino com ngm2021, fica nessa faixacassino com ngmtransição.

Banhado pelo rio Parnaíba e com um subsolo ricocassino com ngmágua, o municípiocassino com ngmtese teria condiçõescassino com ngmabrigar a agricultura mecanizada que já se difundiu pelo sul do Piauí.

Do alto, ainda não se veem na paisagem do município as grandes manchas delimitadas por linhas retas que sinalizam a agricultura mecanizadacassino com ngmlarga escala.

As manchas mais próximas ficam na regiãocassino com ngmBertolínia (PI), a 150 km a oestecassino com ngmFloriano.

Mas o grande númerocassino com ngmqueimadascassino com ngmFloriano pode ser um indíciocassino com ngmque o agronegócio está chegando: o fogo pode estar sendo usado para "limpar" terras a serem ocupadas pelas grandes lavouras, diz Oliveira.

Embora alguns associem esse modelo apenas a progresso e desenvolvimento, ele diz que a chegada do agronegócio tende a acirrar conflitos por água, concentrar terrascassino com ngmpoucas mãos e contaminar solos e rios com agrotóxicos.

Pequenos focoscassino com ngmgrande quantidade

plantaçãocassino com ngmpalma

Crédito, IMA-AL

Legenda da foto, Plantaçãocassino com ngmpalmacassino com ngmárea recém-queimadacassino com ngmAlagoas

O desmatamento e as queimadas na Caatinga foram temacassino com ngmuma audiência na Câmara dos Deputados,cassino com ngm13cassino com ngmmaiocassino com ngm2021.

O evento teve a presença do geólogo Washington Franca Rocha, professor do Programacassino com ngmPós-Graduaçãocassino com ngmModelagemcassino com ngmCiências da Terra e do Ambiente na Universidade Estadualcassino com ngmFeiracassino com ngmSantana (Uefs), na Bahia.

Rocha coordena um sistemacassino com ngmmonitoramentocassino com ngmdesmatamento e queimadas na Caatinga desenvolvidocassino com ngmparceria com a organização MapBiomas.

Segundo ele, 80,2% dos focoscassino com ngmqueimada na Caatinga entre 2000 e 2019 ocorreramcassino com ngm"formações savânicas", tipocassino com ngmvegetação semelhante à do Cerrado.

Rocha afirma que, diferentemente dos incêndios na Amazônia e no Pantanal, as queimadas na Caatinga costumam ocorrercassino com ngmpequenos focos, mascassino com ngmgrande quantidade — o que pode refletir o menor tamanho médio das propriedades rurais no bioma.

Ele disse que as queimadas contribuem com o processocassino com ngmdesertificação na Caatinga.

"Quando falamoscassino com ngmdesertificação, nos vem a imagemcassino com ngmmontescassino com ngmareia, mas o processocassino com ngmdesertificação é invisível", diz ele.

"É uma quebracassino com ngmprodutividade ecológica, na qual o solo não consegue mais sustentar a vida. Aquele cenário da areia é o estado mais avançado, onde a desertificação já é irreversível", afirma.

Normalmente, diz ele, o processocassino com ngmdesertificação na Caatinga segue o seguinte caminho:

1 - A vegetação nativa é desmatada;

2 - Ateia-se fogo para preparar a área para o plantiocassino com ngmcapim;

3 - A área é usada como pastagem para bois, que a pisoteiam intensamente;

4 - Com o solo bastante compactado pelos animais, nem mesmo o capim consegue se desenvolver mais, e a área é abandonada.

Rocha afirma que as mudanças climáticas estão deixando o bioma mais quente e seco, o que deve "ampliar a desertificação e criar megaincêndios".

Ele diz que as mudanças já estão alterando a fauna da região: espéciescassino com ngmaves que antes viviam somente na Caatinga estão se deslocando para o Cerrado.

Outra participante da audiência na Câmara foi Francisca Soarescassino com ngmAraújo, professoracassino com ngmBiologia na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Araújo disse que, com as mudanças climáticas, prevê-se o aumento da temperatura média e uma reduçãocassino com ngm30% no volumecassino com ngmchuvas no Semiárido — fenômenos que já estãocassino com ngmcurso, segundo ela.

A bióloga diz que as mudanças exigem o abandonocassino com ngmatividades econômicas dependentescassino com ngmágua.

Segundo Araújo, técnicas agrícolas podem até ser adaptadas para produzir num cenáriocassino com ngmescassez e garantir alguma ofertacassino com ngmalimento aos moradores, mas não se pode esperar que a agricultura ou a pecuária sustentem a região.

Ela diz que o insucesso do modelo econômico atual tem feito com que muitos homens busquem trabalhocassino com ngmoutras partes do país.

"Hoje na zona rural, predominam mulheres e idosos que vivemcassino com ngmsubsídios governamentais, porque não há recursos naturais suficientes."

Araújo defende mudanças na legislação para que as famílias que vivem na região possam vender energia solar produzidacassino com ngmsuas propriedades.

"Enquanto os governantes não pensaremcassino com ngmalternativas fora do pensamento tradicional, o Semiárido caminhará cada vez mais para a degradação", diz.

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