'Cenário desolador e frustrante': 25 imagens que ilustram tragédia no Pantanal:betmotion nao paga
Em meio ao avanço do fogo, os animais lutam para sobreviver, enquanto a vegetação é devastada. Pessoas que moram na região enfrentam problemasbetmotion nao pagasaúdebetmotion nao pagameio à fumaça intensa, que piora problemas respiratórios diante do duro cenário da pandemia do coronavírus.
Imagens feitas por fotógrafos e voluntários, entre agosto e os primeiros diasbetmotion nao pagasetembro, ilustram a tragédia enfrentada pelo Pantanal. Ao longo desta reportagem, 25 fotografias cedidas à BBC News Brasil mostram a atual situação do bioma.
O fotógrafo José Medeiros classifica a atual paisagem do Pantanal como um "cenáriobetmotion nao pagaguerra". Ele relata que avistou diversos animais, como jacarés e cobras, carbonizados. "Dei o títulobetmotion nao paga'O grito' a uma fotobetmotion nao pagaum jacaré morto com a boca aberta. Parece um gritobetmotion nao pagasocorro. As pessoas não estão entendendo o que está acontecendo ali. É uma situação muito séria", diz Medeiros.
A jornalista e fotógrafa Bruna Obadowski define a situação do Pantanal como assustadora. "É um cenário apocalíptico. Quando você se aproxima (do bioma), a fumaça toma proporção inexplicável. O cheirobetmotion nao pagaqueimada é muito forte. É uma coisa frustrante", relata à BBC News Brasil. "É desolador ver o Pantanal agonizar daquela maneira", lamenta o fotógrafo Ahmad Jarrah.
O fogo no Pantanal
O Pantanal, maior área úmida continental do planeta, enfrenta uma sériebetmotion nao pagaproblemas que, segundo especialistas, favoreceram o rápido avanço do fogo neste ano.
Entre outubro e março — considerada época chuvosa —, o bioma, localizado na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP), teve volumebetmotion nao pagachuva 40% menor que a média do mesmo períodobetmotion nao pagaanos anteriores, conforme dados da Empresa Brasileirabetmotion nao pagaPesquisa Agropecuária (Embrapa).
A situação fez com que o rio Paraguai, principal formador do Pantanal, registrasse o menor nível das últimas décadas. Em junho, quando o rio costuma registrar o seu pico ao longo do ano, o nível da água chegou a 2,10 metros. Trata-se da menor marca dos últimos 47 anos, segundo a Embrapa. A média, nesse período, ébetmotion nao paga5,6 metros.
Pesquisadores ainda avaliam as causas da pouca quantidadebetmotion nao pagachuva no bioma desde o começobetmotion nao paga2020. Mas acreditam que possa estar relacionado a fenômenos climáticos.
Alguns estudiosos acreditam que uma das explicações para a baixa quantidadebetmotion nao pagachuva no Pantanal é o fenômeno conhecido como "rios voadores", no qual a correntebetmotion nao pagaumidade que surge na Amazônia origina uma grande colunabetmotion nao pagaágua, que é transportada pelo ar a vastas regiões da América do Sul. Diante do desmatamento da Floresta Amazônica, que também sofre duramente com as queimadas, esse fenômeno perde parte da capacidadebetmotion nao pagalevar água a outras regiões.
"Não são apenas questões climáticas que culminaram na atual situação das queimadas no Pantanal. É uma combinaçãobetmotion nao pagafatores", ressalta o engenheiro florestal Júlio Sampaio, líder da Iniciativa Pantanal do WWF.
Um dos fatores que colabora para a propagação das queimadas é o crescente desmatamento — ação que tem o fogo como forte aliado. De acordo com o Inpe, 24.915 km² do Pantanal foram desmatados até o ano passado. O número equivale, por exemplo, a pouco maisbetmotion nao pagaquatro vezes a áreabetmotion nao pagaBrasília.
Um levantamento do Ministério Públicobetmotion nao pagaMato Grosso do Sul apontou que cercabetmotion nao paga40% do desmatamento na área do Pantanal do Estado podem ter ocorridobetmotion nao pagaforma ilegal, pois não foram identificadas autorizações ambientais.
Uma perícia feita recentemente pelo Centro Integrado Multiagênciasbetmotion nao pagaCoordenação Operacional (Ciman-MT) apontou que o fogo que atinge o biomabetmotion nao pagaMato Grosso é causado por ações humanas,betmotion nao pagasituações como queimabetmotion nao pagapasto, fogobetmotion nao pagaraízesbetmotion nao pagaárvores para a retiradabetmotion nao pagamel e incêndiosbetmotion nao pagaequipamentos agrícolas. A Delegaciabetmotion nao pagaMeio Ambiente (Dema-MT) apura a situação.
A imensa maioria dos incêndios, segundo especialistas, começabetmotion nao pagapropriedades privadas — maisbetmotion nao paga95% das áreas do bioma são particulares. "O fogo no Pantanal não surge naturalmente, principalmentebetmotion nao pagaum período sem raios. Esse incêndio precisa ser provocado pela ação humana", relata Sampaio.
"O fogo está presente nas práticasbetmotion nao pagamanejo dos pantaneiros e ribeirinhos, para a limpeza e preservaçãobetmotion nao pagaárea. Mas quando acontece queimadabetmotion nao pagauma situação como a atual,betmotion nao pagaextrema seca, o fogo, que antes era controlado, pode fugir do controle e avançar para diversas regiões, como tem acontecido", pontua o engenheiro florestal.
O especialista salienta que, por haver muita vegetação, um pequeno incêndio no Pantanal logo atinge grandes proporçõesbetmotion nao pagaum cenáriobetmotion nao pagaseca. "No ano passado, já havia sido uma situação bastante difícil. Masbetmotion nao paga2020 foi muito pior", declara Sampaio.
Em 2019, segundo o Inpe, foram registrados 3.165 focosbetmotion nao pagacalor entre janeiro e agosto. No mesmo período deste ano, os registros foram mais que o triplo: 10,1 mil focos.
As consequências do fogo
O fogo deve causar grande desequilíbrio à fauna e à flora do Pantanal, considerado santuáriobetmotion nao pagabiodiversidade. O bioma possui, segundo levantamentosbetmotion nao pagapesquisadores da região, 2 mil tiposbetmotion nao pagaplantas e abriga diversas espéciesbetmotion nao pagaaves (582), mamíferos (132), répteis (113) e anfíbios (41).
"Esses incêndios vão causar, por exemplo, perdabetmotion nao pagabancosbetmotion nao pagasementes e mortalidadesbetmotion nao pagaárvores da região. Deverá haver regeneraçãobetmotion nao pagaalgum tempo, mas os prejuízos serão sentidos nos próximos anos", pontua Júlio Sampaio.
"É uma situação terrível. Nunca vivi um período assim. É uma sensaçãobetmotion nao pagaque não temos controlebetmotion nao paganada", diz o consultor ambiental Laércio Machado, que vive no Pantanal há quase três décadas. "O bioma é resiliente. Toda essa flora pode ser recomposta daqui a 10 anos, por exemplo. Mas é uma perda muito grande neste momento. Todo o trabalhobetmotion nao pagapreservação feito nos últimos anos está sendo perdido", diz à BBC News Brasil.
Enquanto a fauna é atingida, os animais buscam formasbetmotion nao pagafugir do habitat tomado pelo fogo.
Espécies como as araras-azuis foram duramente afetadas. Elas têm seus ninhos naturaisbetmotion nao pagacavidades existentes do tronco do manduvi (Sterculia apetala), árvore que pode alcançar 35 metrosbetmotion nao pagaaltura. O avanço do fogo colocoubetmotion nao pagarisco um dos maiores abrigos da espécie no país, a fazenda São Franciscobetmotion nao pagaPerigara, no municípiobetmotion nao pagaBarãobetmotion nao pagaMelgaço,betmotion nao pagaMato Grosso — a propriedade teve mais da metadebetmotion nao pagasua área atingida pelas chamas.
O Parque Estadual Encontro das Águas, na regiãobetmotion nao pagaPorto Jofre, na cidadebetmotion nao pagaPoconé (MT), também foi afetado pelas queimadas. A reserva possui a maior concentraçãobetmotion nao pagaonças-pintadas do mundo. Dos 108 mil hectares do local, 65 mil foram atingidos pelas chamas até o momento.
No atual cenáriobetmotion nao pagaintensa destruição do bioma, é comum avistar corposbetmotion nao pagaanimais carbonizados. Há registrosbetmotion nao pagajacarés, cobras e outras espécies que foram vítimas do fogo.
A situação também traz problemas às pessoas que moram na região e nas proximidades, comobetmotion nao pagacidadesbetmotion nao pagaMato Grosso do Sul e Mato Grosso, Estados brasileiros nos quais o Pantanal está localizado — também há parte do bioma na Bolívia e no Paraguai.
Há relatosbetmotion nao pagamoradores da região com dificuldades para respirar. Alguns tiverambetmotion nao pagadeixar suas casas,betmotion nao pagarazão do avanço do fogo.
"A população mais afastada, que mora no Pantanal, sofre muito com tudo isso. Não são raras as imagensbetmotion nao pagapessoas afugentadas pelo fogo. É um fator crítico para a saúde, principalmente no atual contexto da pandemia", diz Júlio Sampaio.
A fuligem e a fumaça, oriundas dos incêndios, são fatores que podem acarretar problemas respiratórios. Cidades próximas ao Pantanal, como Corumbá (MS), Poconé (MT) e Cuiabá (MT), tiveram as paisagens ofuscadas pelas fumaças oriundas do bioma.
Sampaio frisa que o fogo no bioma colabora intensamente para o aquecimento global. "Esses incêndios aumentam a emissãobetmotion nao pagagás carbônico na atmosfera. Isso é extremamente prejudicial. Com a área do Pantanal que queimou neste ano, a quantidadebetmotion nao pagaCO2 lançada na atmosfera é enorme."
Combate às chamas
Em meadosbetmotion nao pagajulho, o governo federal publicou um decretobetmotion nao pagaque proibiu queimadasbetmotion nao pagatodo o território nacional por 120 dias. Especialistas apontam que a medida é ineficaz, caso não haja intensa fiscalização.
Diante do avanço do fogo no bioma, o Ministério da Defesa enviou,betmotion nao paga25betmotion nao pagajulho, equipes das Forças Armadas para auxiliar no combate aos incêndios.
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que o Governo Federal demorou a tomar uma atitude sobre o bioma, que desde os primeiros mesesbetmotion nao paga2020 sofre com a faltabetmotion nao pagachuva e números elevadosbetmotion nao pagaincêndios.
"Quando se trata a questão ambientalbetmotion nao pagaforma tão irresponsável, como o governo federal tem feito, o Brasil acaba passando uma imagem negativa para todo o mundo. Essa questão precisa ser priorizada. Até o momento, não há sensobetmotion nao pagaresponsabilidade sobre a gestão desses incêndios", declara Júlio Sampaio.
O Ministério da Defesa informou que há, atualmente, 14 aeronaves, entre helicópteros e aviões, no combate ao fogo no Pantanal. A pasta afirma ainda que também são utilizadas diariamente 40 viaturas e duas embarcações para enfrentar o fogo.
"Em média, estão engajados nas atividades 200 militares e 230 agentesbetmotion nao pagaórgãos como Corpobetmotion nao pagaBombeiros Militarbetmotion nao pagaMT e MS, Secretariabetmotion nao pagaEstadobetmotion nao pagaSegurança Pública, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendesbetmotion nao pagaConservação da Biodiversidade (ICMBio)", diz comunicado do Ministério da Defesa.
A pasta estima que o fogo diminuiubetmotion nao pagadiversos pontos do Pantanal, diante do combate das últimas semanas.
Para pesquisadores, um dos motivos que levaram à atual situação do Pantanal é a condutabetmotion nao pagaentes públicos. Um dos pontos mais prejudiciais, segundo especialistas, é o desmontebetmotion nao pagaórgãosbetmotion nao pagafiscalização ambiental durante o governo Jair Bolsonaro. Estudiosos apontam também que falta uma legislação referente ao Pantanal — um Projetobetmotion nao pagaLei que trata sobre o bioma está arquivado no Senado Federal — que possa colaborar com o controle do bioma.
O biólogo André Luiz Siqueira, diretor da ONG Ecoa - Ecologia & Ação, frisa que apesar das ações feitas atualmente no combate aos incêndios, há diversas particularidades que dificultam o controle do fogo no Pantanal.
"Em um território do tamanho do Pantanal, dificilmente há equipamentos e pessoas suficientes para combater o fogo. Existem características imprevisíveis, como mudanças,betmotion nao pagasegundos,betmotion nao pagaventosbetmotion nao pagagrandes velocidades. Além disso, há áreas com difícil acesso e existe muita vegetação acumulada (o que ajuda na rápida propagação do fogo)" declara.
"Se não fossem as mínimas chuvas atrasadas, como agorabetmotion nao pagaagosto, a situação estaria ainda pior", afirma. Segundo o biólogo, o fogo no Pantanal somente deve amenizar após intensas chuvas — que podem acontecer a partir do dia 20betmotion nao pagasetembro, conforme estimativa da Secretariabetmotion nao pagaMeio Ambientebetmotion nao pagaMato Grosso do Sul.
Siqueira afirma que o atual período deve ser usado como lição para que as autoridades entendam a importânciabetmotion nao pagaconscientizar as pessoas da região sobre os impactos do fogo. "É preciso moldar os hábitos e os comportamentos do uso do fogo no Pantanal. Se não houver discussões sobre o assunto e uma melhor fiscalização, terãobetmotion nao pagaficar apagando fogo durante a vida toda."
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