'Prefiro a vida da minha mãe que um trabalho': os brasileiros que abriram mão do emprego por medo da covid-19:bet367

Quatro meses depoisbet367ter deixado o trabalho, o que pesa é o lado financeiro — "tá bem complicado", diz.

Mesmo sem conseguir receber o auxílio emergencial por ainda constar como empregada no sistema do governo, Jessica continua segura da decisão e diz que, no atual cenário, não pensabet367procurar outro trabalho.

"Só saio para o necessário mesmo, e até isso é perigoso — banco ou mercado — porque tem contato muito grande", diz. "Mas a primeira coisa que vou fazer quando essa vacina sair é ir atrásbet367um emprego."

Por enquanto, ela afirma que está apertando as contas e que a família tem contado com a aposentadoria da mãe e a ajudabet367uma ex-patroa da mãe.

Fora da forçabet367trabalho

Nas estatísticasbet367emprego, as pessoas que não estão trabalhando e que também não estão procurando um emprego são classificadas como fora da forçabet367trabalho. Houve um aumentobet3679 milhõesbet367brasileiros nessa situação na comparaçãobet367março a maio deste ano com o trimestre anterior.

A população fora da forçabet367trabalho totalizava 76,8 milhõesbet367pessoas no iníciobet367julho, segundo o dado mais recente da pesquisa Pnad Covid, divulgada pelo Instituto Brasileirobet367Geografia e Estatística (IBGE).

Desse total, maisbet36728 milhões disseram que gostariambet367trabalhar. Segundo o IBGE, "cercabet36719,4 milhõesbet367pessoas fora da força que gostariambet367trabalhar e não procuraram trabalho, não o fizeram por causa da pandemia ou por não encontrarem uma ocupação na localidadebet367que moravam".

E por que o desemprego não cresceu muito?

Quem está numa situação parecida com abet367Jessica não é considerado desempregado exatamente porque não estábet367buscabet367um emprego.

Para ser enquadrado como desempregada, a pessoa precisa estar desocupada e procurando ativamente um trabalho.

É exatamente por isso, segundo especialistas, que a taxabet367desemprego não aumentou tanto durante a pandemia.

"Passamos por um período atípico que acabou fazendo com que a estatística da taxabet367desemprego perdesse um pouco da funçãobet367captar quanto o mercadobet367trabalho está sendo afetado por uma crise ou não", disse economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV. "O que observamos foi muita perdabet367emprego, mas aumento tímido do desemprego."

No trimestre que vaibet367março a maio, a taxa desemprego ficoubet36712,9%, ou 1,2 ponto percentual acima da taxabet36711,6% registrada no trimestrebet367dezembrobet3672019 a fevereirobet3672020.

O IBGE informaria a taxabet367desemprego do segundo trimestrebet3672020 nesta quarta-feira (29), mas adiou a divulgação da pesquisa, que vem sendo feita por telefone, para 6bet367agosto.

Bruno Ottoni projeta que essa taxabet367desemprego do segundo trimestre vai subir para 13,7%. Ele acredita que, com medidasbet367isolamento sendo relaxadasbet367diferentes regiões do país, muitas pessoas que estavam desocupadas e sem procurar emprego vão passar a procurar emprego.

"Mas achamos que a taxabet367desemprego também não vai subir muito mais que isso porque ainda vai ter gente que não vai procurar — como pessoas mais velhas e com comorbidades, que podem preferir esperar —, e algumas pessoas também vão conseguir emprego, com reabertura do comércio."

Propostas recusadas

A biomédica Fernanda Oliveira,bet36730 anos, não faz planosbet367voltar ao trabalhobet367laboratórios antesbet367uma vacina contra a covid-19.

Em março, quando o coronavírus começou a se espalhar com mais força no Brasil, ela trabalhava como coordenadorabet367um laboratóriobet367análises clínicasbet367Brasília.

"Já naquela época,bet367cincobet367cinco minutos entrava paciente perguntando se a gente fazia exame para detectar o coronavírus."

Foi quando o médico dela orientou que se afastasse do trabalho, por fazer parte do grupobet367risco. Ela fez uma cirurgia para retirar o baço (que integra o sistema imunológico) aos 14 anos e tem infecções respiratóriasbet367repetição.

Nesse contexto, Fernanda Oliveira foi demitida do trabalho. E diz que, se não tivesse sido demitida, teria ela mesma pedido demissão.

A maior preocupação: o filho, Rafael,bet3672 anos.

"Claro que eu não queria precisar sair, mas também não queria correr o riscobet367pegar coronavírus, trazer para a minha casa, precisarbet367outras pessoas para ficar com meu filho", diz. "Hoje eu me sintobet367uma sinucabet367bico, porque é complicado financeiramente. Mas é melhor ficarbet367casa e sem emprego do que no hospital."

O marido, fisioterapeuta, continuou a trabalhar, com todos os cuidados possíveis, ela diz.

"Está difícil porque saímosbet367uma renda mensal confortável para um cenáriobet367não saber quando vamos voltar a isso, mas eu me sinto muito privilegiada, porque ainda temos nossas famílias, que podem ajudar."

Fernanda diz que não imaginava que haveria propostasbet367emprego no meio da pandemia, mas já apareceram duas oportunidades.

"Só vou ter coragembet367voltar com a cabeça tranquila quando tiver vacina", diz. "Eu trabalhava pensando que quero dar para o meu filho as oportunidades que eu tive. E agora tive que abrir mão do trabalho também pensando no meu filho. Não quero correr o riscobet367faltar para ele."

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