Covid-19 ameaça aldeias yanomamis vizinhas a garimpo:palpites conference league
Com área equivalente àpalpites conference leaguePortugal, a Terra Indígena Yanomami abriga cercapalpites conference league27.398 membros dos povos yanomami e ye'kwana, espalhados por 331 aldeias.
O território ocupa porções do Amazonas epalpites conference leagueRoraima e se estende por boa parte da fronteira do Brasil com a Venezuela.
Ricapalpites conference leaguedepósitospalpites conference leagueouro, a área é alvopalpites conference leaguegarimpeiros desde pelo menos a décadapalpites conference league1980 — atividade que não foi suspensa nem mesmo após a demarcação da terra indígena,palpites conference league1992.
No iníciopalpites conference leagueabril, quando a pandemia ainda não havia chegado à região, a BBC News Brasil publicou uma reportagem sobre o avançopalpites conference leaguegarimpeirospalpites conference leagueuma área habitada por uma comunidade yanomami que vivepalpites conference leagueisolamento voluntário.
'Bibliotecas vivas'
O estudo da UFMG e do ISA alerta para as consequências que a disseminação da covid-19 poderá ter entre idosos da etnia.
"O desaparecimento repentino dos mais velhos, conhecidos como 'bibliotecas vivas', pode impactar na reprodução social dos yanomami e implicapalpites conference leagueconsequências irreversíveis para a sobrevivência do patrimônio cultural do povo yanomami e ye'kwana", diz o estudo.
Para chegar às conclusões, os autores usaram modelos matemáticos baseadospalpites conference leaguedados das populações indígenas brasileiras, os índicespalpites conference leaguemortalidade por covid-19palpites conference leaguecada Estado e informações sobre o atendimento médico nas regiões habitadas pelas etnias, como o númeropalpites conference leagueleitospalpites conference leagueUTI epalpites conference leaguerespiradores.
Um dos indicadores usados no cálculo mede a vulnerabilidade dos polos base (postospalpites conference leaguesaúde) das comunidades, considerando informações como a capacidadepalpites conference leaguetransportepalpites conference leaguedoentes, a ofertapalpites conference leagueágua encanada e a expectativapalpites conference leaguevida ao nascer.
Todos os 37 postos do território yanomami obtiveram a pior nota dentre os 172 estudados: 0,7. O índice vaipalpites conference league0 a 1, sendo 1 a pior nota.
Trânsitopalpites conference leaguegarimpeiros
No levantamento, foram considerados os 13,9 mil indígenas (50,7% da população do território yanomami) que vivem a até cinco quilômetrospalpites conference leagueáreaspalpites conference leaguegarimpo.
Essas comunidades são vistas como mais vulneráveis ao contágio por conta da circulação dos garimpeiros entre cidades e o território. Muitos garimpeiros recorrem às aldeias para trocar alimentos ou aliciar trabalhadores indígenas.
Segundo a pesquisa, estudos anteriores já mostraram que o garimpo está associado à maior incidênciapalpites conference leaguedoenças infecciosas na Amazônia, como a malária.
Os autores simularam vários cenários para estimar quantas pessoas seriam infectadas a partirpalpites conference leagueum único paciente com covid-19 que tivesse contato com as comunidades.
Em um cenáriopalpites conference leaguetransmissão menos intensa,palpites conference leagueque a taxapalpites conference leaguecontágio (R0) fosse 2 (o que significa que cada infectado transmitiria a doença para outras duas pessoas), 2.131 pessoas seriam infectadaspalpites conference league120 dias.
No pior cenário, adotando a taxapalpites conference leaguecontágio (R0)palpites conference leaguevalor 4, um único caso na região resultariapalpites conference league5.603 infectados após 120 dias — ou 40,3% da população abarcada pelo levantamento.
Os autores dizem que os yanomami, assim como outros povos indígenas, são altamente suscetíveis a doenças contagiosas por contapalpites conference leaguealguns hábitos culturais. Membros do grupo costumam compartilhar utensílios domésticos, como cuias, e viverpalpites conference leaguecasas que agregam várias famílias.
Mesmo antes da covid-19, doenças respiratórias já eram a principal causapalpites conference leaguemortes para a etnia.
"Se uma doença altamente contagiosa como a covid-19 entrar na comunidade, é muito difícil impedir apalpites conference leaguetransmissão", diz o estudo.
Caso a letalidade da doença entre os indígenas seja duas vezes maior do que a que atinge a população geralpalpites conference leagueRoraima e do Amazonas — o que os autores consideram provável por conta da assistência médica deficiente nas comunidades —, haveria até 896 óbitos no grupo.
Nesse cenário, as comunidades que vivem perto das frentespalpites conference leaguegarimpo perderiam 6,5%palpites conference leagueseus integrantespalpites conference leagueapenas quatro meses.
Mesmo considerando-se as comunidades yanomami mais afastadas que não seriam afetadas pela doença, o índicepalpites conference leaguemortalidade para toda a etnia seria cercapalpites conference league50 vezes maior do que o da Espanha, país com a mais alta taxapalpites conference leaguemortes por covid-19 por habitante do mundo.
Até a última segunda-feira (01/06), havia 55 casos confirmadospalpites conference leaguecovid-19 entre os povos yanomami e ye'kwana e três mortes, segundo a Rede Pró-Yanomami e Ye'kwana, que abarca pesquisadores e apoiadores dos grupos.
A primeira morte ocorreupalpites conference league19palpites conference leagueabril e vitimou um jovempalpites conference league15 anos.
Prioridades para combater a doença
Para o engenheiro agrônomo Antonio Oviedo, pesquisador do ISA que participou do estudo, o governo deveria priorizar duas ações para impedir o avanço da covid-19 no território.
Uma seria expulsar imediatamente os garimpeiros, o que limitaria a possibilidadepalpites conference leaguenovos contatos e infecções nas aldeias.
A outra seria "fazer a busca ativapalpites conference leaguecasos" no território para testar e isolar pacientes o quanto antes. Hoje, os serviçospalpites conference leaguesaúde só agem quando procurados pelas comunidades.
Segundo Oviedo, doentes têm passado vários diaspalpites conference leaguecontato com parentes até serem diagnosticados — isso quando são atendidos.
O pesquisador afirma que, embora a covid-19 seja uma doença nova, já há informações suficientes sobre formaspalpites conference leaguelimitar seu impacto. "A partir do momentopalpites conference leagueque o governo não embasa suas ações nos conhecimentos já existentes, ele está sendo negligente com as mortes que possam vir a ocorrer", afirma.
Origempalpites conference leagueepidemias
Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, principal organização indígena da etnia, Dario Kopenawa diz à BBC News Brasil que as comunidades estão tentando se isolar e evitando idas à cidade, mas que o trânsitopalpites conference leaguegarimpeiros compromete a eficácia da estratégia.
Segundo ele, as infecções entre os yanomami ocorridas até agora têm relação com os garimpeiros.
Kopenawa afirma que, na filosofia da etnia, a cobiça humana por riquezas subterrâneas é associada ao surgimentopalpites conference leaguevárias epidemias mortíferas como a covid-19. Na língua yanomami, essas doenças são conhecidas como xawara.
"Nosso criador, Omama, colocou as xawara embaixo da terra. Quando alguém fura o solo atráspalpites conference leagueminérios, petróleo e gás, elas podem sairpalpites conference leaguelá e se espalhar entre humanos", diz ele.
Kopenawa é filho do xamã Davi Kopenawa, presidente da Hutukara e um dos mais conhecidos líderes indígenas do Brasil.
Ele afirma que o pai está isolado empalpites conference leaguecomunidade e, a exemplopalpites conference leagueoutros xamãs da etnia, tem trabalhado intensamente para "enfraquecer os efeitos da doença e para que ela volte ao lugarpalpites conference leagueonde saiu".
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