Comparações descabidas com nazismo desvalorizam memória do Holocausto, diz historiador:bet365 fazer cadastro

"Há aqui uma coisa perigosa do uso e abuso da memória do Holocausto, da história geral e anti-judaicabet365 fazer cadastroparticular, para qualquer coisa."

A falabet365 fazer cadastroWeintraub também foi criticada por entidades judaicas brasileiras e, indiretamente, pela Embaixadabet365 fazer cadastroIsrael, que pediu,bet365 fazer cadastronota, "que a questão do Holocausto como também o povo judeu ou judaísmo fiquem à margem do diálogo político cotidiano e as disputas entre os lados no jogo ideológico".

A reportagem voltou a conversar com Milgram para perguntar a respeito da declaração atribuída pela Folhabet365 fazer cadastroS.Paulo ao ministro Celsobet365 fazer cadastroMello, comparando o Brasil atual ao período que antecedeu a ascensãobet365 fazer cadastroHitler, para saber se a mesma avaliação do historiador se aplicava à declaração do decano do STF.

Milgram vê muitas diferenças entre as circunstâncias históricas, embora acredite que haja, no Brasil, um riscobet365 fazer cadastrorecaída maior ao autoritarismo.

No Museu do Holocausto, Milgram coordenou múltiplos estudos e editou a Enciclopédia dos Justos Entre as Nações (em referência aos não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus na época do Holocausto). Fez bacharelado, mestrado e doutorado na Universidade Hebraica e publicou, no Brasil ebet365 fazer cadastroPortugal, livros sobre a história judaica.

Em entrevista à BBC News Brasil, ele fala da importância histórica da Noite dos Cristais dentro do processobet365 fazer cadastroperseguição dos judeus pelo regime nazista e do "prejuízo" causado por comparações equivocadas - feitas por todos os lados do espectro político - com esse período histórico.

Veja os principais trechos da conversa:

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - O ministro da Educação, Abraham Weintraub, comparou a Noite dos Cristais com uma operação da Polícia Federal. Como isso costuma ser visto por pessoas que viveram o Holocausto e por pessoas que o estudam?

bet365 fazer cadastro Avraham Milgram - Essa declaração é totalmente absurda e inconsequente do pontobet365 fazer cadastrovista histórico e da memória do Holocausto. Essa projeção da Noite dos Cristais,bet365 fazer cadastro1938, para o que o ocorreu (na operação autorizada pelo) Supremo Federal Tribunal e o Bolsonaro é totalmente descabida.

Esse assunto não teve repercussão aquibet365 fazer cadastroIsrael, porque o coronavírus toma a atenção praticamentebet365 fazer cadastrotudo e porque o país está mais orientado aos EUA do que à América Latina. (...)

Masbet365 fazer cadastroreferência à Noite dos Cristais: foi o pogrom - evento violentobet365 fazer cadastromassas contra judeus que acabava com mortes e depredações. Ocorreubet365 fazer cadastro9 a 10bet365 fazer cadastronovembrobet365 fazer cadastro1938bet365 fazer cadastrotoda a Alemanha e foi um ato organizado pelo Partido Nacional Socialista, o único que havia, o partidobet365 fazer cadastroHitler.

Foi algo coordenado a tal ponto quebet365 fazer cadastrotoda a Alemanha, na Áustria e nos Sudetos Tchecos (região montanhosa entre República Tcheca, Alemanha e Polônia), já anexados, quase todas as sinagogas da maioria absoluta das comunidades foram queimadas,bet365 fazer cadastroum ato criminosobet365 fazer cadastrocaráter racial antissemita.

E no dia seguinte 30 mil judeus foram levados para camposbet365 fazer cadastroconcentração.

Os negóciosbet365 fazer cadastrojudeus foram depredados e quebrados. Da quantidadebet365 fazer cadastrovidros que se encontrava nas calçadas vem o nomebet365 fazer cadastroNoite dos Cristais Quebrados.

Foi um evento impressionante nabet365 fazer cadastromagnitude, porque ocorreubet365 fazer cadastrotodo o Grande Reich (Alemanha, Áustria e Sudetos) ao mesmo tempo, e era impossível que alguém não soubesse o que ocorria.

Sóbet365 fazer cadastroBerlim foram queimadas 28 sinagogas, edifícios grandes, imponentes, e todo o mundo via a fumaça. Foi uma tragédia muito grande. (...) Mesmo para judeus liberais, as sinagogas eram o símbolo da identidade judaica.

Os judeus, a partir desse pogrom, esse episódio violento e trágico, entenderam que não havia mais o que fazer na Alemanha. Mesmo os judeus que tinham alguma esperançabet365 fazer cadastroencontrar seu lugar nessa nova ordem fascista-nazista se desiludiram e buscaram abandonar a Alemanha e eventualmente a Europa, e tentar vistobet365 fazer cadastroimigração para qualquer lugar do mundo.

Foi um evento que marcou a memória dos judeus, mas também dos alemães. Veja só:bet365 fazer cadastrotodos os países se comemora uma vez ao ano a memória do Holocaustobet365 fazer cadastro27bet365 fazer cadastrojaneiro, data da libertaçãobet365 fazer cadastroAuschwitz. Na Alemanha, o dia 9bet365 fazer cadastronovembro é o dia mais simbólico da tragédia dos judeus alemães, devido às consequências e resultados da Noite dos Cristais Quebrados, alémbet365 fazer cadastroser também o diabet365 fazer cadastroque Hitler tentou conquistar o poder, dia da rendição da Alemanha (na Primeira Guerra,bet365 fazer cadastro1918) e da queda do Murobet365 fazer cadastroBerlim. Uma concentraçãobet365 fazer cadastroefemérides.

A associação descabida do ministro da Educação é, na minha opinião, uma grande ignorância e porque ele buscou um símbolo muito forte para associar a instituição que ele queria desacreditar aos nazistas, que são o pior que havia e o pior que houve, e até hoje nenhum crime superou o dos nazistas - digo agora não apenasbet365 fazer cadastrorelação à Noite dos Cristais, mas do processobet365 fazer cadastro1933 a 1945, com o assassinato da maioria dos judeus da Europa.

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - O quão perigoso é se fazer comparações do tipo para a memória do Holocausto?

bet365 fazer cadastro Milgram - É perigoso no sentidobet365 fazer cadastrodesvalorizar a memória do Holocausto, desvirtua a essência do que houvebet365 fazer cadastrotermosbet365 fazer cadastroatos anti-judaicos da Alemanha naquela época. E, por outro lado, engrandece e aumentabet365 fazer cadastroforma exponencial um atobet365 fazer cadastrocaráter político local (brasileiro) destituídobet365 fazer cadastroessência racial, étnica, nacional e outras particularidades que há nas tendências genocidas nazistas.

É perigoso no sentido da faltabet365 fazer cadastroproporção,bet365 fazer cadastroconscientização ebet365 fazer cadastrohonestidade intelectual,bet365 fazer cadastrocomparar duas coisas incomparáveis sob qualquer pontobet365 fazer cadastrovista.

Há aqui uma coisa perigosa, já que você usou o termo perigoso, do uso e abuso da memória do Holocausto, da história geral e anti-judaicabet365 fazer cadastroparticular, para qualquer coisa.

Não digo que essa questão política não seja importante,bet365 fazer cadastrojeito nenhum. (...) Esse debate é importante na política brasileira. Respeito tudo isso. (O problema é) o uso, e principalmente o abuso pelo ministro da Educação - que precisa ser educado -,bet365 fazer cadastrofalar uma aberração desse tamanho.

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - À medida que o tempo passa e nos distanciamos do Holocaustobet365 fazer cadastrosi, e a memória está menos nas pessoas e maisbet365 fazer cadastrocomo os eventos são contados, o quanto isso interfere na percepção histórica e nos erros históricos sobre esse período?

bet365 fazer cadastro Milgram - Apesarbet365 fazer cadastroterem passado quase 90 anos desde o início do Holocausto, a memória continua não só viva, como tem uma presença muito grande na cultura ocidentalbet365 fazer cadastrogeral,bet365 fazer cadastroespecial nos países europeus. (...)

(Na época da Segunda Guerra), havia setores das sociedades europeias que colaboraram com o fascismo local, como na França, na Hungria, na Eslováquia, na Croácia ebet365 fazer cadastrooutros lugares. Até hoje há polêmicas e discussõesbet365 fazer cadastrorelação abet365 fazer cadastroque nível os franceses colaboraram com os alemães.

Houve paísesbet365 fazer cadastroque quem fez todo o trabalhobet365 fazer cadastroimplementar a políticabet365 fazer cadastrodiscriminação racial foram os locais. Isso correu na Hungria, na Ucrânia. É um problema central na história e na memória desses países.

Mas (sobre o distanciamento histórico) estou percebendo algo na esfera pública brasileira: que tanto a direita quanto a esquerda têm usado motivos e imagens do Terceiro Reich e da Alemanha para atacar e criticar o campo oposto. E o que faleibet365 fazer cadastrorelação ao Abraham Weintraub critico também e recriminobet365 fazer cadastrorelação à esquerda. Nisso quero ser justo e ter o bom sensobet365 fazer cadastrodizer a ambos que, por favor, deixem as vítimasbet365 fazer cadastropaz e não façam comparações macabras com a única razãobet365 fazer cadastrodesacreditar o campo oposto e inimigo.

Vejo muita ignorância nas opiniões e nas polêmicas. Não se trata tanto da memória aqui, mas da politização da memória.

A memória é fundamental para aprender do Holocausto e não repetir fenômenos que ocorreram na Europa nos anos 1930 e 40, contra a minoria judaica e outras vítimas - os judeus foram a principal, mas não foram as únicas vítimas.

As principais lições, esses políticos que estão usando e abusando da história, eles não aprenderam: a importânciabet365 fazer cadastrouma sociedade civil,bet365 fazer cadastrodireitos humanos, da democracia, da dignidade humana e da decência. E tomar cuidado com ofender o oponente e qualquer um.

Nisso acho que o uso do Holocausto não é o principal que está ocorrendo no Brasil, mas sim a incapacidade - ou faltabet365 fazer cadastrovontade -bet365 fazer cadastroaprender o necessário desse capítulo histórico para melhorar a vida civil e coletiva.

Associações como a feita por Weintraub (significam) que ele não aprendeu nada, pelo contrário. É simplesmente o que ocorreu na Alemanha contra judeus: desvirtuar a verdade, faltabet365 fazer cadastrocivismo,bet365 fazer cadastrorespeito.

Você falou antesbet365 fazer cadastroperigoso, mas acho que o usobet365 fazer cadastroabuso da história é mais do que tudo prejudicial.

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - Em nossa entrevista anterior bet365 fazer cadastro , um ano atrás, o senhor falava da diferença entre o populismo e o fascismo, e das comparações feitas atualmente com o período fascista. Isso também é uma incorreção histórica?

bet365 fazer cadastro Milgram - Acho que hojebet365 fazer cadastrodia se fala maisbet365 fazer cadastropopulismo do quebet365 fazer cadastrofascismo. Em geral a esquerda tem uma tendência maiorbet365 fazer cadastrousar a palavra fascismo; a sensibilidade salta e (comparam) com o fascismo.

Mas o fenômenobet365 fazer cadastrohojebet365 fazer cadastrodia é mais populista do que fascista. Porque para o fascismo era fundamental destruir o sistema parlamentar, republicano, democrático e civil.

O sistema populista convive com todas essas instituições que mencionei. Convive, se baseia nele e o explora para objetivos que são antidemocráticos e anticivis, como o culto à personalidade, culto ao líder, concentraçãobet365 fazer cadastropoder, e ao mesmo tempo mantendo as instituições, mas desarmando-as e descaracterizando-as, sem eliminá-las.

O fascismo foi mais direto. Substituiu uma ordem por outra.

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - A Folhabet365 fazer cadastroS.Paulo noticiou que o ministro Celsobet365 fazer cadastroMello, do STF, escreveu mensagem a colegas da Corte comparando o Brasil atual ao da ascensãobet365 fazer cadastroHitler: "Guardadas as devidas proporções, o 'ovo da serpente', à semelhança do que ocorreu na Repúblicabet365 fazer cadastroWeimar (1919-33), parece estar prestes a eclodir no Brasil. É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na Repúblicabet365 fazer cadastroWeimar quando Hitler, após eleito pelo voto popular e posteriormente nomeado (...) chanceler da Alemanha, não hesitoubet365 fazer cadastroromper e nulificar a progressista, democrática e inovadora Constituiçãobet365 fazer cadastroWeimar, impondo ao país um sistema totalitáriobet365 fazer cadastropoder". É possível traçar paralelo entre o Brasilbet365 fazer cadastrohoje e aquele período?

bet365 fazer cadastro Milgram - (...) Sobre o enfraquecimento das instituições democráticas e a criaçãobet365 fazer cadastroum climabet365 fazer cadastroque a exceção, a força e o autoritarismo imperam e essa erosão da sociedade civil, há uma grande diferença entre Weimar e Brasil. Porque Weimar (como era conhecida a República alemã entre 1919 e 33) foi corroída por grupos tanto da direita quanto da esquerda que não estavam no poder e queriam atingir o poder.

No Brasil - e não só no Brasil, mas nos EUA, Israel, Hungria, Polônia, ou seja, onde há tendências políticas populistas -, a democracia, a sociedade civil e as defesas civis estão sendo corroídas não por gruposbet365 fazer cadastrooposição que querem tomar o poder, mas pelos grupos que estão no poder, foram eleitos democraticamente e tendem a corroer e enfraquecer as instituições democráticas.

Na Repúblicabet365 fazer cadastroWeimar, isso era feito para desacreditar o governo,bet365 fazer cadastrobaixo para cima, enquanto no Brasil ébet365 fazer cadastrocima para baixo.

Se há algo que posso entender da declaração do ministro Celso é um alarme ao enfraquecimento, à corrosão e ao perigo da diminuição da sociedade civil e instituições democráticas, com a grande diferença que a Repúblicabet365 fazer cadastroWeimar ebet365 fazer cadastroConstituição eram contestadas tanto pela direita quanto pela esquerda.

No Brasil, não há isso, as instituições democráticas estão sendo contestadas pelo próprio presidente e pessoas embet365 fazer cadastrovolta. (...) No Brasil e nos países que eu mencionei, a incitação vem do próprio corpo governamental contra minorias (imigrantes, por exemplo) ou contra inimigos reais ou virtuais, que são chamadosbet365 fazer cadastroesquerda ou comunista.

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - A despeito das diferenças que o senhor está mencionando, acha que há o riscobet365 fazer cadastrocorrosão das instituições, como foi na Repúblicabet365 fazer cadastroWeimar, ou vê certo exagero nessa comparação?

bet365 fazer cadastro Milgram - Não acompanho diariamente o que acontece no Brasil, mas as ameaças e o discursobet365 fazer cadastrolouvar a ditadura ebet365 fazer cadastrovoltar à ditadura parece um anúnciobet365 fazer cadastrouma vontadebet365 fazer cadastroirbet365 fazer cadastrodireção a isso. Nisso, o Brasil é um pouco diferentebet365 fazer cadastrotodos os outros países (de governantes populistas) que eu mencionei.

Como mencionei, nos regimes populistas, à diferença do fascismo, não é necessário fazer golpes para instituir ditaduras, porque o sistema autoritário coexiste dentrobet365 fazer cadastroum formato democrático. Mas no Brasil me refiro apenas a essa músicabet365 fazer cadastrofundo - que às vezes não ébet365 fazer cadastrofundo, está na frente do palco, uma vez que o presidente é alguém que apoiou a ditadura e na época do impeachmentbet365 fazer cadastroDilma (Rousseff) elogiou o torturador (coronel Ustra). Nesse sentido, acho que o Brasil é uma exceção nos regimes populistas antiliberais e antidemocratasbet365 fazer cadastrohojebet365 fazer cadastrodia.

bet365 fazer cadastro BBC News Brasil - Com um risco maiorbet365 fazer cadastrorecaída antidemocrática?

bet365 fazer cadastro Milgram - Sim, considerando a grande crise que o Brasil está passando, na economia,bet365 fazer cadastrodiferenças políticas entre blocosbet365 fazer cadastroesquerda e direita e,bet365 fazer cadastrocima disso, o problema do coronavírus. São problemas que podem ser explorados para constituir essa volta ao que era nos anos 1960, 70 e início dos 80.